8 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 07-10, Jul.-Dez., 2022
O artigo que abre o dossiê, “Narrativas autobiográcas de um professor em (constante)
formação, negro, albino e com baixa visão: trajetórias, experiências e reexões”, escrito por João Marcos
e Michele Fonseca, é um texto que expressa a voz e a identidade de um homem negro, albino e com
baixa visão, que vive o dia a dia com as barreiras impostas à pessoa com deciência. Vozes que são
silenciadas e corpos que são invisibilizados nos cotidianos de escolas cada vez mais padronizadas
por políticas neoliberais e de controle. Os autores nos trazem uma narrativa rica de detalhes, de
sentidos, que expressa e nos remete emoções que irão contribuir signicativamente para práticas
inclusivas e conscientes, desde o ensino básico ao ensino superior.
Também apresentando a trajetória de formação de dois estudantes com DV, por meio
da história oral, José Ricardo e Cleonice Almeida escrevem o texto “Trajetórias formativas na
escolarização de dois estudantes com deciência visual”. Nessa rica conversa e resgate das memórias dos
estudantes, os autores abordam questões importantes aos professores, pesquisadores e prossionais
da educação, como a estrutura e o preparo das instituições para receberem os estudantes com DV, o
contexto da escola especializada e o da escola regular na percepção dos estudantes, a formação dos
professores, dentre outras questões. Lembranças do percurso formativo acadêmico de estudantes
com DV, passando pela escola regular, pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e
pelo ensino médio técnico. Um texto que visibiliza a voz dos estudantes e, a partir de suas percepções
e trajetórias, fazem-nos (des)construir conhecimentos em prol de uma escola justa e inclusiva.
No texto seguinte, de minha autoria, “A Orientação e Mobilidade nas aulas de Educação
Física: saberes de experiência (des)construídos no Instituto Benjamin Constant”, busco apresentar, por
meio de narrativa autobiográca (PASSEGGI, 2020), como a Orientação e Mobilidade pode ser
desenvolvida nas aulas de Educação Física. A partir de meus saberes de experiência (LARROSA,
2020) (des)construídos em um cotidiano singular junto aos meus alunos, em uma instituição
especializada, escrevo com intuito de compartilhar conhecimentos que podem ressoar em outras
práticas, em outros cotidianos, contribuindo para inclusão escolar de estudantes com DV.
Na sequência, a professora Luisa de Souza e os professores Jairo Maurano e Leonardo
Santos escrevem um rico ensaio sobre a utilização do cão-guia no Ensino Superior. O texto “Cães-
guia em contextos educacionais: acessibilidade atitudinal e informacional na perspectiva dos disability
studies” apresenta informações importantes sobre a quantidade de cães-guia em atuação por região,
além do processo de seleção e preparação desses animais, o treinamento do cão e de seu usuário, as
instituições que se responsabilizam por tais questões, e a aposentadoria do cão-guia. Enm, uma
série de informações relevantes e necessárias para disseminar tal saber tão necessário à sociedade e
suas instituições, contribuindo para acessibilidade e autonomia de pessoas com DV.
Em “Ver com (outros olhos) no Instituto Benjamin Constant: modos como vamos nos formando
professoras”, as autoras Daiana Pilar e Leidiane dos Santos nos fazem pensar em outras formas de ver para
além do que já conhecemos e somos condicionados em uma cultura socialmente e majoritariamente
visual. Ver para além da visão de um órgão humano, de uma compreensão médica.
A partir de suas experiências no Instituto Benjamin Constant (IBC) – centro de referência
nacional em deciência visual – as autoras nos mostram como a prática pedagógica e os encontros
singulares e coletivos do cotidiano são ricos e potentes para a formação dos professores. Um saber
de experiência (LARROSA, 2020) de quem está aberto ao afeto e ao envolvimento com o outro.
Um texto potente para nos fazer reetir e compreender que o ver e as formas de enxergar a realidade
também são construções sociais, permeadas de tensões, de desejos, de afetos, de signicados e de
sentidos. E que nos mostra que há conhecimentos que só são (des)construídos na prática pedagógica,
na experiência cotidiana, junto aos estudantes com DV.