Dupla excepcionalidade Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 41-58, Jan.-Jun., 2023 41
https://doi.org/10.36311/2358-8845.2023.v10n1.p41-58
is is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
Dupla excepcionaliDaDe: Definição e eviDências Da proDução científica
brasileira
Twice excepTionaliTy: definiTion and evidences of brazilian scienTific
producTion
Josilene Domingues Santos PEREIRA
1
Rosemeire de Araújo RANGNI
2
RESUMO: os objetivos desta investigação foram identicar as denições do termo dupla excepcionalidade na literatura interna-
cional e caracterizar a produção cientíca brasileira no recorte temporal de 2000 a 2020. Realizou-se pesquisa bibliográca e os
resultados apontaram que: i) a produção cientica brasileira é escassa; ii) há implicações na tradução do termo dupla excepciona-
lidade para a pesquisa no Brasil; iii) há utuações terminológicas, além de fragilidades teóricas e iv) há ausência do termo e de sua
denição nas produções em que a dupla excepcionalidade é o objeto de estudo. Conclui-se que as investigações sobre esse tema
ainda são emergentes no Brasil e que é necessário construir uma denição compatível com os estudos internacionais.
PALAVRASCHAVE: Educação Especial. Dupla Excepcionalidade. Altas habilidades ou Superdotação. Produção Cientíca.
ABSTRACT: the aims of this study were to identify the denitions of the term twice exceptionality in international literature and
to characterize Brazilian scientic production from 2000 to 2020. Based on bibliographic research, the results showed that: i) Bra-
zilian scientic production is scarce; ii) there are implications of the translation of the term twice exceptionality to the research in
Brazil; iii) there are terminological uctuations, in addition to theoretical weaknesses and iv) there is an absence of the term twice
exceptionality and its denition in productions in which it is the object of study. It is possible to conclude that the investigations
on this theme are still emerging in Brazil and that it is necessary to elaborate a compatible denition with international studies.
KEYWORDS: Special Education. Twice Exceptionality. Giftedness. Scientic Production.
introDução
Nas últimas três décadas, uma população especial de estudantes com altas habilidades ou
superdotação tem chamado a atenção de vários pesquisadores e educadores (FUGATE; BEHRENS;
BOSWELL, 2020). Reconhecidos como estudantes duplamente excepcionais, eles apresentam
duas excepcionalidades paradoxais concomitantemente. Uma, que revela seu alto potencial, as
capacidades elevadas em uma área ou mais (intelectual, artística, psicomotora, liderança, acadêmica,
criatividade); e a outra, que demonstra suas diculdades e desaos, em razão de uma deciência,
Doutora em Educação Especial. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), campus
Vitória da Conquista, Bahia. E-mail: josilenesantos@ifba.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5392-9006.
Doutora em Educação Especial. Docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus São Carlos, São Paulo.
E-mail: rose.rangni@ufscar.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8752-9745.
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
um transtorno ou uma síndrome (COLEMAN; HARRADINE; KING, 2005; PFEIFER, 2015;
PRIOR, 2013; REIS; BAUM; BURKE, 2014).
Na literatura cientíca da área, há referências aos estudantes duplamente excepcionais
desde 1923, com o trabalho pioneiro da psicóloga, educadora e pesquisadora Leta Hollingworth
(Special Talents and Defects: their signicance for education), cuja obra descreve estudantes que
se destacavam por seu potencial superior e apresentavam, ao mesmo tempo, décits em leitura,
aritmética, caligraa e ortograa (BALDWIN et al., 2015; BAUM; SCHADER; OWEN, 2017;
KAUFMAN, 2018). No entanto, foi somente, em 1975, que James Gallagher cunhou o termo -
dupla excepcionalidade - pela primeira vez (COLEMAN; HARRADINE; KING, 2005; PRIOR,
2013).
No contexto norte-americano, os estudos sobre a dupla excepcionalidade surgiram
da fusão de duas áreas de investigação: a Educação Especial e a Educação de estudantes com altas
habilidades ou superdotação. Nos últimos 50 anos, pesquisadores dessas áreas têm construído uma
base teórica sólida sobre esse fenômeno e vêm auxiliando os professores a desenvolverem abordagens
que têm ajudado os estudantes duplamente excepcionais em suas necessidades socioemocionais e
educacionais (BALDWIN et al., 2015).
Apesar dessa consolidação teórica nos estudos sobre a dupla excepcionalidade na
história da educação norte-americana, vários problemas têm sido apontados pelos estudiosos desse
fenômeno, tais como a falta de prossionais bem informados e de serviços de apoio para crianças
e jovens duplamente excepcionais, além da ausência de divulgação de informação conável e de
qualidade.
Além disso, esse quadro ainda se caracteriza severamente complexo, quando se leva
em consideração os imigrantes, aqueles com baixa escolarização e/ou com famílias em situação de
vulnerabilidade ou risco psicossocial, que são afetados não só pela falta de informação sobre a
dupla excepcionalidade, mas também pela falta de recursos e serviços de atendimento (BAUM;
SHADER ; OWEN, 2017).
Além desses problemas, alguns pesquisadores (BALDWIN et al., 2015; FOLEY-
NICPON et al., 2011; RONKSLEY-PAVIA, 2015) ressaltam também a ausência de consenso entre
os estudiosos que investigam essa temática no que diz respeito à denição de dupla excepcionalidade,
o que tem promovido concepções inadequadas e divergências na compreensão desse fenômeno
no âmbito educacional, impactando, por sua vez, a identicação dos estudantes duplamente
excepcionais e as propostas de atendimento a esse público. Ronksley-Pavia (2015) arma que
esse problema central precisa ser enfrentado e pode ser estar relacionado à falta de consenso nas
denições dos termos deciência e altas habilidades ou superdotação.
O termo - dupla excepcionalidade -, para alguns autores, vem sendo utilizado para
designar apenas indivíduos com altas habilidades ou superdotação e com desordens emocionais
e comportamentais, como argumentam Ourono e Fleith (2005); para outros, no entanto, já
seria apenas a combinação de alto potencial com transtornos especícos de aprendizagem. Em
contrapartida, para alguns estudiosos, esse fenômeno se aplica tanto às deciências de ordem
sensorial, cognitiva, física quanto aos transtornos psiquiátricos (TAUCEI; STOLTZ, 2018).
também estudiosos que têm usado essa terminologia para se referir a crianças com duas deciências,
por exemplo, deciências física e auditiva (RONKSLEY-PAVIA, 2015).
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Esse termo, além disso, tem sido também denido como a presença de comorbidade
em um único indivíduo (PFEIFER, 2015). Esse autor refere-se à dupla excepcionalidade como
se o termo tivesse sido emprestado da medicina, o qual indicaria a presença de duas ou mais
doenças. Referir-se à dupla excepcionalidade como se fosse uma comorbidade consiste, de fato, em
uma inadequação conceitual, considerando que as altas habilidades ou superdotação indicam um
potencial superior e não uma deciência e tampouco um transtorno mental (WEBB et al., 2016).
Vale lembrar também que a condição de altas habilidades ou superdotação não tem registro em
Classicação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), o que, seguramente,
inviabiliza essa concepção.
Nesse sentido, estudiosos como Baldwin et al. (2015), Reis, Baum e Burke (2014) e
Ronksley-Pavia (2015) apontam que a falta de clareza na compreensão da dupla excepcionalidade
tem, inclusive, impedido a ampliação de pesquisas em torno dessa temática. Além disso, Reis,
Baum e Burke (2014) também defendem a necessidade de elaborar uma denição, principalmente
visando à disseminação de conhecimentos que possam reverter esse quadro de confusão e
críticas, especialmente veiculadas fora da área de altas habilidades ou superdotação, pois há ainda
prossionais que consideram, impossível e, até incompatível, o comportamento de altas habilidades
ou superdotação em pessoas com deciência ou com transtornos mentais.
Neste estudo, adota-se a denição de que o termo é “uma designação que corresponde
a um conceito em uma linguagem de especialidade ... criada a partir de uma combinação única
de características” (LARA, 2004, p. 92). De acordo com Marcuschi (2007, p. 109), o ato de
denir “constitui um problema de capital importância na construção linguística de qualquer
sistema cientíco ou losóco, merecendo, assim, acurada atenção”. A linguagem cientíca é, pois,
formulada a partir de uma operação de denição do termo que se deseja esclarecer em uma área de
especialidade delimitada.
Parte-se do pressuposto que denir um termo, em uma área de conhecimento especíca,
representa a construção de “um enunciado que descreve um conceito, permitindo diferenciá-lo de
outros conceitos associados”, tal como arma Lara (2004, p. 93). Assim, a denição terminológica
descreve, delimita e distingue os conceitos ou noções. Por essa razão, deve expor características que
auxiliam a classicação, a hierarquização, a estruturação e a relação com a coisa e não com a palavra,
pois o que se busca é a compreensão do conceito e não do signicado do signo linguístico, tal como
ocorre na denição lexicográca (LARA, 2004).
Considerando essa problemática em torno da denição do termo dupla excepcionalidade,
justica-se, pois, a realização de um levantamento bibliográco para identicar as denições
propostas por vários pesquisadores em produções cientícas internacionais e nacionais, com
o intuito de responder às seguintes questões: Quais denições adotadas para o termo - dupla
excepcionalidade - nas produções cientícas internacionais e quais as implicações na tradução dessa
denição para a pesquisa desse tema no Brasil? Como se caracteriza a produção cientíca brasileira
no que se refere à denição e aos tipos de dupla excepcionalidade?
Diante do exposto, os objetivos deste estudo foram identicar as denições do termo
dupla excepcionalidade na literatura cientíca internacional e caracterizar a produção cientíca
brasileira no que se refere às denições e aos tipos de dupla excepcionalidade investigados no recorte
temporal de 2000 a 2020.
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MÉtoDo
Realizou-se uma pesquisa bibliográca como procedimento metodológico, tendo em
vista que este tipo de delineamento, de acordo com Boccato (2006, p. 266), “busca a resolução de
um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as
várias contribuições cientícas”, o que permite ainda a sistematização de dados dispersos em várias
publicações.
A estratégia utilizada para recuperação da informação foi a busca avançada, com recorte
temporal de 2000 a 2020. O processo de busca foi dividido em dois momentos. No primeiro,
foram utilizados dois termos isoladamente: dupla excepcionalidade e dupla necessidade educacional
especial e as traduções para o inglês (twice exceptionality, twice-exceptional, dual exceptionality). No
segundo, a m de expandir a busca, os termos - altas habilidades, superdotação, talento e dotação
- foram combinados com as palavras deciência, transtorno e síndrome por meio do operador
booleano AND. Em seguida, os respectivos termos em inglês foram utilizados no processo de busca
avançada (high ability, giftedness, talent, disability).
Na seleção dos dados, foram escolhidas fontes primárias (Teses, Dissertações, Trabalhos
de Conclusão de Curso e artigos cientícos) que foram obtidas nas seguintes bases de dados: Banco
de Teses e Dissertações Brasileiras (BDTD), Catálogo de Teses e Dissertações CAPES, Periódicos
CAPES, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e a Biblioteca Digital de Trabalhos de Conclusão de
Curso (TCC) da Universidade Federal de Santa Maria (BD-UFMS). Além dessas fontes, coletaram-
se dados de livros obtidos em bibliotecas e livrarias.
Os critérios de inclusão das produções cientícas foram: disponibilidade integral dos
artigos, teses, dissertações e TCC; artigos revisados por pares; produções publicadas entre 2000 e
2020. Para exclusão das produções, foram adotados os seguintes critérios: produções acadêmicas
repetidas; não disponibilidade integral das produções cientícas; não adequadas ao escopo da pesquisa
e nem aquelas publicadas em período não correspondente ao recorte temporal estipulado (Figura 1).
A análise dos dados consistiu em aplicar as seguintes técnicas: i.leitura de reconhecimento
do material bibliográco (leitura que tem como objetivos localizar e selecionar o material que
apresenta informações e/ou dados sobre o tema); ii. leitura exploratória (o objetivo é vericar se
as informações coletadas na leitura de reconhecimento são de fato necessárias para o estudo); iii.
leitura seletiva (esta técnica permite estabelecer qual material do levantamento bibliográco está
relacionado diretamente com os objetivos da pesquisa); iv. leitura crítica ou reexiva (consiste em
cotejar o material bibliográco, a partir de critérios determinados, para compreender as ideias e
armações do autor, visando à ordenação e à sumarização das informações disponíveis no texto);
v. leitura interpretativa (implica em uma interpretação das ideias dos autores, relacionando-as,
tecendo comparações e avaliações a partir dos objetivos da pesquisa) (SALVADOR, 1982).
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Figura 1- Fluxograma do percurso metodológico da pesquisa bibliográca
Fonte: Elaboração das autoras.
resultaDos e Discussão
Com base na aplicação das técnicas de leitura, foi possível identicar e classicar alguns
temas e explorá-los a partir das questões de pesquisa. Desse modo, estabeleceram-se algumas
categorias para a sistematização dos dados: i. denição do termo – dupla excepcionalidade - na
literatura cientíca internacional; ii; tradução da denição e implicações para as investigações no
Brasil; iii. denições desse termo na produção cientíca nacional; iv. análise das denições propostas
pelos pesquisadores brasileiros e os tipos de dupla excepcionalidade investigados no Brasil,
considerando o recorte temporal de 2000 a 2020.
DefiniçÕes De Dupla excepcionaliDaDe: o cenÁrio
internacional
No cenário norte-americano, no início do século XX, mudanças signicativas foram
realizadas no sistema educacional que promoveram importantes contribuições para os estudos
sobre a dupla excepcionalidade. Pela primeira vez, foram destinados recursos nanceiros para a
identicação e o atendimento aos estudantes duplamente excepcionais. Assim, um caminho para
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
identicar pessoas com altas habilidades ou superdotação e com deciência no sistema educacional
norte- americano foi delineado, o que corroborou para o reconhecimento da existência de estudantes
duplamente excepcionais (BALDWIN et al., 2015; BAUM; SHADER; OWEN, 2017).
Mesmo com essas conquistas, Baldwin et al. (2015) apontaram que um dos problemas
a ser enfrentado resultava ainda da falta de uma denição do termo e de uma linguagem comum que
fosse compartilhada entre os pesquisadores, prossionais e educadores e que fornecesse claramente
um perl das necessidades educacionais desses estudantes.
A busca por uma denição de dupla excepcionalidade, conforme citam Baldwin et al.
(2015), já vinha sendo uma questão bem debatida entre os estudiosos da área de altas habilidades ou
superdotação. Baseando-se em evidências cientícas, Reis, Baum e Burke (2014) publicaram uma
primeira denição para o termo duplamente excepcional, que, segundo as autoras, foi classicada
como operacional, visando, dessa forma, ao estabelecimento de uma relação direta entre o conceito
e a sua aplicação, com o objetivo de identicar os estudantes duplamente excepcionais e propor
serviços compatíveis com as necessidades educacionais dessa população escolar.
Nota-se, pois, na denição apresentada no Quadro 1, que as autoras respondem a quatro
questões programáticas que implicam na prática educacional. Esse tipo de denição tem a nalidade
de esclarecer o conceito mediante a descrição operacional de sua utilidade ou aplicação, como
ressalta Marcuschi (2007). O fundamental para esse tipo de denição é poder interpretar a teoria
de forma aplicada e ainda reconhecer, desse modo, informações necessárias sobre como o conceito
deve ser aplicado dentro de um conjunto especíco de circunstâncias, dentre elas, a capacitação de
prossionais para identicar os estudantes e elaborar programas educacionais para esse público de
escolares.
Quadro 1 - Denição operacional proposta por Reis, Baum e Burke (2014)
Questões Denição Operacional
Quem são? Demonstram desempenho superior ou uma produção criativa em
uma ou mais áreas (matemática, ciências, tecnologia, artes, liderança,
espacial e outras áreas da produção humana) e que manifestam uma
ou mais deciências de acordo com os critérios de elegibilidade de leis
federais e estaduais. Essas deciências incluem transtornos especícos
de aprendizagem, transtornos de linguagem e comunicação, deciências
físicas, transtorno do espectro autista ou outros problemas de saúde como
transtorno de décit de atenção/hiperatividade (TDAH). Essas deciências
e as altas capacidades combinadas produzem uma população única de
estudantes que podem apresentar diculdades em demonstrar tanto o
desempenho acadêmico elevado quanto as áreas decitárias. Seu potencial
superior pode mascarar sua deciência quanto sua deciência pode
mascarar seu alto potencial.
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Como identicar? A identicação de estudantes duplamente excepcional exige uma avaliação
abrangente em ambas as condições (superdotação e deciência), de modo
que uma não impeça a outra. A identicação, quando possível, deve ser
conduzida por prossionais tanto da área de superdotação quanto da
Educação Especial e, quando possível, por aqueles com conhecimento sobre
a dupla excepcionalidade, a m de traçar o impacto da coexistência dessas
duas condições na avaliação para os requisitos de elegibilidade dos serviços
educacionais.
Quais os tipos de
serviço?
Os serviços educacionais devem identicar e atender tanto as
necessidades requeridas pel o potencial elevado quanto pelos décits
socioemocionais e acadêmicos dessa população de estudantes.
Quais as
necessidades
educacionais?
Os estudantes duplamente excepcionais precisam de instrução diferenciada,
acomodações e/ou adaptações curriculares, orientação especializada, opções
de aceleração e oportunidades para o desenvolvimento do potencial elevado
que considerem os efeitos da combinação das duas excepcionalidades.
Necessitam também de um Plano Educacional Individualizado (PEI) com
metas e estratégias que os capacitem a ter um desempenho em um nível
compatível com seu potencial superior. Neste plano educacional, devem ser
incluídas metas para o desenvolvimento das capacidades elevadas, assim
como estratégias de intervenção que visem à melhoria das diculdades
acadêmicas e socioemocionais.
Fonte: Elaboração das autoras com base em Reis, Baum e Burke (2014, p. 222-223).
Observa-se, nessa denição, uma questão referente à aplicação do conceito: a restrição
do contexto geográco e sociocultural. Nota-se que a denição especica condições consideradas
como deciência nos Estados Unidos da América (EUA), ou seja, ela especica o público que seria
elegível para o atendimento pela Educação Especial nesse país. Assim, esse conceito não se aplica a
outros contextos geográcos e socioculturais, o que, no mínimo, restringe o uso dessa denição e
problematiza a sua utilização em pesquisas realizadas em outros países.
No Brasil, por exemplo, estudantes que apresentam transtorno especíco de aprendizagem
ou décit de atenção/hiperatividade, dentre outras condições, não são elegíveis como público da
Educação Especial e, portanto, não podem participar de Atendimento Educacional Especializado
em sala de Recursos Multifuncionais (BRASIL, 2011).
De acordo com Kaufman (2018) e Baldwin et al. (2015), essa proposta de denição foi
reformulada, renada e alcançou consenso de vinte e seis organizações que apoiam a pesquisa e os
serviços direcionados às necessidades educacionais de estudantes com dupla excepcionalidade nos
EUA:
Estudantes duplamente excepcionais demonstram capacidade excepcional e, ao
mesmo tempo, possuem uma deciência ou um transtorno ou uma síndrome.
Essa capacidade excepcional pode sobressair escondendo a deciência/transtorno/
síndrome ou a deciência/transtorno/síndrome pode sobrepujar-se, mascarando o
potencial elevado; cada uma pode mascarar a outra de modo que nenhuma das duas
condições paradoxais é reconhecida. Estudantes 2e podem ter um desempenho abaixo,
igual ou acima da média e precisam de: a) métodos especializados de identicação
que considerem a possibilidade de interação entre as duas condições paradoxais;
b) oportunidades educacionais de enriquecimento curricular que desenvolvam os
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
interesses do estudante, seus potenciais elevados enquanto também procure intervir
nos décits e nas diculdades de aprendizagem e c) apoios simultâneos que assegurem
o sucesso acadêmico e o bem-estar socioemocional do estudante, tais como: adaptações
curriculares, intervenções psicoeducacionais e serviço educacional especializado
(BALDWIN et al., 2015, pp. 212-213, tradução nossa).
Essa denição consensual que contou com a colaboração de vários pesquisadores e
prossionais constituiu, nos EUA, como o primeiro passo em direção a um trabalho colaborativo a ser
realizado pelo Comitê Nacional de Desenvolvimento de Práticas Educacionais para estudantes com
Dupla Excepcionalidade (2e CoP) e representa, entre os estudiosos desse tema, indubitavelmente,
um avanço em direção à compreensão das necessidades educacionais desses alunos (BALDWIN et
al., 2015).
Em comparação à denição anterior, nota-se que, além de mais sintética, esta última
também é mais generalizável, já que pode ser utilizada em diversos contextos geográcos e
socioculturais para o desenvolvimento de pesquisas e a atividade pedagógica na escola. Ao mencionar
as necessidades educacionais desse público, também assume como característica a operacionalidade
do conceito, visto que aproxima a descrição desses estudantes com os tipos de serviço a serem
ofertados pela escola.
No levantamento bibliográco realizado, identicaram-se ainda dois modelos teóricos
que propõem duas denições para o termo dupla excepcionalidade. O primeiro, proposto por
Ronksley-Pavia (2015), baseia-se no Modelo Diferenciado de Dotação e Talento (DMGT 2.0)
de Françoys Gagné e na abordagem social da concepção de deciência; o segundo, elaborado por
Baum, Shader e Owen (2017), baseia-se na Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner
e na teoria de superdotação, conhecida como O Modelo dos Três Anéis, de Joseph Renzulli.
No primeiro modelo, a pesquisadora australiana Ronksley-Pavia (2015) arma que a
confusão produzida, no meio cientíco, em torno da denição de dupla excepcionalidade, está
intimamente relacionada à falta de uma noção clara das denições de deciência e de altas habilidades
ou superdotação. A autora salienta que a palavra excepcional é geralmente utilizada como referência
tanto para a deciência quanto para indicar o potencial elevado e que, por essa razão, ter-se-iam
duas excepcionalidades concomitantemente. Dessa forma, a autora propõe como denição de dupla
excepcionalidade a “intersecção entre a deciência, o meio cultural e social e as altas capacidades
(RONKSLEY-PAVIA, 2015, p. 329).
Ronksley-Pavia (2015) defende que a dupla excepcionalidade deve ser entendida dentro de
uma estrutura sociocultural. A autora argumenta que o meio determina o que deve ser enquadrado
na categoria de altas habilidades ou superdotação, de deciência ou de dupla excepcionalidade, pois
a concepção de altas habilidades ou superdotação pode diferir completamente de uma cultura para
outra, assim como a denição de deciência, o que, certamente, levará a práticas de identicação
e serviços de apoio e atendimento diferenciados.
No segundo modelo, Baum, Shader e Owen (2017) denem a dupla excepcionalidade
como um fenômeno complexo e paradoxal que resulta de um amálgama entre o potencial elevado
e a deciência. Para esses autores, a dupla excepcionalidade é assim denida:
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O cruzamento entre capacidades avançadas e deciências- ambas são excepcionalidades-
daí o termo dupla excepcionalidade, o qual cria uma relação paradoxal, muitas vezes
conituosa, e ainda, às vezes, simbiótica dentro do indivíduo. Entender o que ocorre
quando se trabalha com a combinação dessas excepcionalidades é crucial para encontrar
as necessidades emocionais e educacionais de estudantes duplamente excepcionais
(BAUM; SHADER; OWEN, 2017, p. 17).
Segundo essa concepção, o amálgama paradoxal de combinações de duas excepcionalidades
compõe uma variedade admirável de características e um perl, além de bastante heterogêneo,
muito diferente do grupo de estudantes com apenas altas habilidades ou superdotação e daqueles
alunos com deciência (BAUM; SHADER, 2018). Nesse sentido, pode- se deduzir que estudantes
duplamente excepcionais são estudantes com características únicas, pois apresentam indicadores
de comportamentos de altas habilidades ou superdotação juntamente com os traços/sintomas de
alguma deciência ou transtorno ou síndrome (TRAIL, 2011).
De acordo com Baum, Schader e Owen (2017), há uma vasta gama de possibilidades
de deciência quando se considera os estudantes com dupla excepcionalidade. Nota-se ainda que
vários pesquisadores (BAUM; SCHADER; OWEN, 2017; COLEMAN; HARRADINE; KING,
2005; FLINT, 2001; FOLEY- NICPON et al., 2011; MONTGOMERY; 2003; NEIHART, 2008;
PFEIFER, 2015; REIS; BAUM; BURKE, 2014), utilizam a palavra disability para remeter tanto
a deciências de ordem cognitiva, física ou sensorial quanto aos transtornos mentais, tais como
transtornos especícos de aprendizagem, transtorno do décit de atenção e hiperatividade, transtorno
de ansiedade, transtorno do espectro autista etc., aos distúrbios (distúrbio do processamento
auditivo central e outros) e às síndromes (síndrome de Tourette, síndrome de Down dentre outras).
Na comparação das denições dos dois modelos, infere-se que há diferenças conceituais e
algumas semelhanças que precisam ser delineadas:
I. No segundo modelo teórico, percebe-se, pela denição, a ênfase no indivíduo para
determinar a deciência, diferentemente do primeiro, que ressalta as inuências do contexto
sociocultural tanto no desenvolvimento das capacidades elevadas quanto na representação da
deciência no âmbito social e identitário.
II. Reconhece-se, ainda, no segundo modelo teórico, que a combinação concomitante
de uma deciência, transtorno ou síndrome com as altas habilidades ou superdotação resultará em
um amálgama paradoxal de características que se manifestam diferentemente em cada estudante,
devido à heterogeneidade de comportamentos de altas habilidades ou superdotação e também
devido às características da própria deciência ou do transtorno ou da síndrome. Isso implica em
diferentes práticas de avaliação para identicar os estudantes e implementar programas de acordo
com as necessidades educacionais;
III. No primeiro modelo, percebe-se que, apesar de a autora considerar que são
combinações de duas excepcionalidades paradoxais, o perl do estudante duplamente excepcional
é caracterizado pela combinação das duas condições, como se fosse apenas uma fusão do elevado
potencial combinado com a deciência ou transtorno ou síndrome. Não há, nesta concepção, a
compreensão de que esse estudante apresenta características únicas que se diferenciam das duas
excepcionalidades isoladamente; e
IV. Outra semelhança entre as denições consiste na análise da noção de altas habilidades
ou superdotação. Mesmo baseando em teorias diferentes, pode-se armar que ambos os modelos
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
adotam uma visão multidimensional da inteligência, em que fatores biológicos, sociais e culturais
atuam conjuntamente e constituem a concepção de altas habilidades ou superdotação.
A parr da análise dessas duas propostas de denição na produção cien-
ca internacional, deduz-se que o termo deciência se refere tanto às deciências
(intelectual, sica, sensorial) quanto aos quadros de transtornos/distúrbios psiquiátricos
e às síndromes, o que, sem dúvida, interfere no conceito de dupla excepcionalidade, am-
pliando as possibilidades de pesquisa no cenário brasileiro.
priMeira iMplicação: a traDução De DisabilitY e learninG
DisabilitY
Na Língua Portuguesa, a palavra disability é traduzida apenas como incapacidade ou
deciência, sendo incomum sua utilização para designar transtornos ou síndromes. Conforme
vericado nas produções cientícas internacionais sobre a dupla excepcionalidade, esse termo
refere-se às deciências - de ordem física, sensorial e/ou cognitiva, aos transtornos e às as síndromes.
Nota-se, pois, que investigações sobre essa população especial de estudantes com altas
habilidades ou superdotação adotam um único termo - disability – que, na tradução para a Língua
Portuguesa, corresponde a três condições e termos distintos: deciência, transtorno e síndrome
(Figura 2).
Fonte: Elaboração das autoras.
Verica-se, por isso, que nas investigações realizadas por estudiosos da dupla
excepcionalidade, tais como Baum, Schader e Owen (2017), Foley-Nicpon et al. (2011), Foley-
Nicpon, Assouline e Colangelo (2013), Fugate, Behrens e Boswell (2020), Montgomery (2003),
Neihart (2008), Reis, Baum, Burke (2014) e Ronksley-Pavia (2015), o termo disability ora é usado
para designar uma deciência sensorial, ora um transtorno ora uma síndrome. Logo, para o nosso
idioma, a dupla excepcionalidade consiste na combinação concomitante de altas habilidades ou
superdotação com uma deciência ou um transtorno ou uma síndrome.
Além dessa ampliação na conceituação, deve-se também considerar a relevância do
contexto social e cultural na denição do termo deciência, posto que ela pode se acentuar devido à
interação do indivíduo com uma ou mais barreiras que o impedem de participar plena e efetivamente
Dupla excepcionalidade Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 41-58, Jan.-Jun., 2023 51
na interação social em igualdade de condições, tal como proposto na Lei Brasileira de Inclusão
(BRASIL, 2015).
Considerar o contexto sociocultural na denição do termo dupla excepcionalidade tem
sido apontado como uma questão crucial, pois a dupla excepcionalidade precisa ser esclarecida dentro
de uma estrutura social e cultural” (RONKSLEY-PAVIA, 2015, p. 334). A autora ainda argumenta
que é preciso haver mudanças na sociedade para compreender que a deciência e as altas habilidades
ou superdotação podem coexistir, resultando, assim, em uma dupla excepcionalidade.
Além dessa tradução, sabe-se ainda que o termo learning disability também tem
recebido duas traduções que indicam condições diferentes. Na Língua Portuguesa, empregam-
se, indiscriminadamente, os termos diculdade de aprendizagem e transtorno de aprendizagem;
no entanto, como se sabe, há diferenças conceituais signicativas entre diculdade e transtorno de
aprendizagem (OHLWEILER, 2006).
A utilização da expressão - diculdade de aprendizagem - na tradução do termo learning
disability é imprópria, tendo em vista que esse termo, nos estudos da dupla excepcionalidade
(BAUM; SCHADER; OWEN, 2017; MONTGOMERY, 2003; NEIHART, 2008; TRAIL, 2011),
vem sendo utilizado para designar os Transtornos Especícos de Aprendizagem, tais como: dislexia,
discalculia, disgraa (APA, 2014).
De acordo com Ohlweiler (2006), as diculdades que as crianças e/ou os adolescentes
enfrentam em fase escolar podem ter vários motivos, tais como: problemas familiares, proposta
pedagógica inadequada, falta de capacitação docente, décits cognitivos etc., sendo, desse modo,
consideradas questões que envolvem a criança/ o adolescente durante o percurso de sua escolaridade
advindas do meio ambiente (escola, família) ou de problemas psicológicos (falta de motivação, baixa
autoestima) ou ainda serem secundárias, quando são causadas por doenças crônicas, deciência
intelectual, paralisia cerebral etc..
Dessa forma, sugere-se adotar, nas produções cientícas nacionais, o termo Transtornos
Especícos de Aprendizagem. Trata-se de uma condição neurobiológica que afeta a capacidade
do cérebro de perceber e processar as informações. São diculdades persistentes para aprender as
habilidades acadêmicas, tais como a leitura, a escrita e a aritmética (APA, 2014).
Ademais, como asseveram Baum, Schader e Owen (2017), muitos indivíduos com
algum transtorno especíco de aprendizagem possuem uma inteligência média ou acima da média,
apesar de haver uma discrepância entre o potencial e o desempenho. Assim, o estudante com dupla
excepcionalidade, decorrente da paradoxal associação entre altas habilidades ou superdotação e algum
quadro de deciência ou transtorno ou síndrome, pode enfrentar diculdades de aprendizagem
em razão da presença de um desses quadros quer seja uma deciência ou um transtorno ou uma
síndrome.
seGunDa iMplicação: o uso Das palavras excepcional e
excepcionaliDaDe na eDucação especial
Na Língua Portuguesa, o vocábulo excepcionalidade signica a qualidade do que é
excepcional. Dessa forma, a palavra excepcional pode ser utilizada para referir-se aquilo que está ou
é incomum, que se difere do padrão, algo ou alguém extraordinário. Nesse sentido, convive-se com
a ambiguidade da palavra excepcional/excepcionalidade que pode designar tanto alguém com mais
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
capacidade (potencial elevado) quanto com menor capacidade cognitiva (MASSUDA; RANGNI,
2017).
Os vocábulos excepcional e excepcionalidade, há pouco mais de três décadas, não
aparecem nas políticas públicas da educação brasileira, o que pode estar corroborando a ausência de
referências explícitas à dupla excepcionalidade nos documentos legislativos da Educação Especial no
nosso país (MASSUDA; RANGNI, 2017).
De acordo com essas autoras (2017), o uso do termo genérico Público-Alvo da Educação
Especial (PAEE) para se referir aos estudantes atendidos por essa modalidade de educação não
consegue abarcar a natureza paradoxal (potencial elevado associado com alguma deciência ou
transtorno ou síndrome) retratada em indivíduos com dupla excepcionalidade e nem as várias
possibilidades de manifestação desse fenômeno, o que, consequentemente, leva à falta de
identicação e de atendimento das necessidades educacionais desses estudantes.
Em produções cientícas nacionais sobre essa temática, verica-se claramente a falta
de consenso em relação ao emprego desses termos. Pereira e Rangni (2021) identicaram, por
meio de uma análise bibliométrica, no recorte temporal de 2014 a 2018, utuações terminológicas
nas produções cientícas nacionais (dupla necessidade especial, dupla condição, duplicidade de
necessidades educacionais especiais) e ainda ausência do termo mesmo em investigações cujo objeto
de estudo era a dupla excepcionalidade.
Uma hipótese que pode ser levantada para explicar essa utuação terminológica
na produção cientíca brasileira é o desuso das palavras excepcional e excepcionalidade em
documentos legislativos da Educação Especial no Brasil (MASSUDA; RANGNI, 2017). Isso pode,
por conseguinte, gerar equívocos, tais como aqueles expostos por Ronksley-Pavia (2015): uso do
termo dupla excepcionalidade para indicar dois tipos de deciência ou ainda para designar apenas a
coexistência de altas habilidades com os transtornos especícos de aprendizagem.
Nota-se que, pelo próprio signicado dessas palavras, o termo que melhor expressa
o fenômeno, isto é, aquele que descreve o conceito e permite diferenciá-lo de outros conceitos
associados (LARA, 2004) é o termo dupla excepcionalidade, já que indica não apenas duas condições,
mas duas condições paradoxais. É, pois, neste sentido, que se sugere não utilizar a expressão dupla
condição como um termo técnico e sinônimo de dupla excepcionalidade na investigação sobre
esse fenômeno na área de altas habilidades ou superdotação, justamente porque não abarca a
questão central do conceito de dupla excepcionalidade: o fato de as duas excepcionalidades serem
paradoxais. Como ressaltam Baum, Shader e Owen (2017, p. 17), o aspecto fundamental não é a
quantidade em si, mas sim “ [...] a relação paradoxal, muitas vezes, conituosa, e ainda, às vezes,
simbiótica que caracteriza a dupla excepcionalidade”.
No que se refere aos termos - dupla necessidade especial e duplicidade de necessidades
educacionais especiais –, nota-se que eles remetem aos tipos de atendimento que esses estudantes
necessitam. São, pois, atributos utilizados com a nalidade de descrever e caracterizar os dois tipos de
serviços que devem ser ofertados em programas educacionais para os estudantes assim identicados:
oportunidades educacionais de enriquecimento curricular que desenvolvam os interesses do
estudante, seus potenciais e apoios simultâneos, tais como: adaptações curriculares, intervenções
psicoeducacionais, serviço educacional especializado, visando ao bem-estar socioemocional e ao
sucesso acadêmico desses alunos (BALDWIN et al., 2015).
Dupla excepcionalidade Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 41-58, Jan.-Jun., 2023 53
Dupla excepcionaliDaDe: o cenÁrio Da pesQuisa no brasil
Ao longo do recorte temporal de vinte e um anos (n=21), foram encontradas, no total,
trinta e oito (n=38) produções cientícas que estavam sendo disponibilizadas na íntegra nos bancos
de dados. Nota-se que o cenário da produção cientíca sobre a dupla excepcionalidade no Brasil se
caracteriza, principalmente, pela escassez de estudos.
Essa escassez assumiu, ao longo do tempo, algumas peculiaridades: de 2000 a 2004, houve
uma ausência de estudos; de 2005 a 2010, a produção caracteriza-se pela falta de continuidade, com
esparsas iniciativas isoladas; de 2011 a 2016, nota-se um aumento das pesquisas, que, apesar de
pequeno, indicam um uxo regular. Nos anos de 2017 e 2018, verica-se uma acentuada queda
no número de investigações sobre esse tema. Em 2019 e 2020, novas pesquisas sobre a temática,
em nível de Pós-Graduação strictu sensu, são realizadas, o que pode ter corroborado, inclusive, o
aumento no número de artigos publicados em 2020.
Figura 3- Distribuição absoluta de produções cientícas sobre dupla excepcionalidade
Fonte: Elaboração das autoras.
Os dados levantados conrmam que o tema, no Brasil, ainda é pouco pesquisado
(TAUCEI; STOLTZ, 2018). Trata-se, conforme ressaltam as referidas autoras, de um tema
desconhecido no meio cientíco e pouco investigado no contexto brasileiro. Apesar dessa escassez
de pesquisas, verica-se claramente que alguns estudos vêm sendo realizados, indicando que alguns
tipos de dupla excepcionalidade estão sendo estudados.
Verica-se, por exemplo, que, em termos quantitativos, a produção de Teses (n=3)
representa 7,9% do total de trabalhos cientícos ao longo dos vinte anos. As produções acadêmicas
com números quantitativos expressivos foram as dissertações (n=15) e os artigos (n=17),
respectivamente com 39,5% e 44,7%. Os trabalhos de conclusão de curso (n=3), com 7,9%, da
produção do período indicam o menor número de produções, o que pode ser justicado pela busca
em apenas uma base de dados.
Na exclusão dos estudos de caráter teórico e de revisão (n=6), os tipos de dupla
excepcionalidade mais investigados no Brasil, no intervalo temporal de 2000 a 2020, foram
a coexistência de altas habilidades ou superdotação com o transtorno do espectro autista,
abrangendo 31,2% do total das investigações. Em seguida, as investigações sobre altas habilidades
ou superdotação com o transtorno de décit de atenção/hiperatividade (25%) e com a deciência
auditiva e/ou surdez (15,6%).
Ao longo desse período, as pesquisas sobre a coexistência de altas habilidades ou
superdotação com a dislexia e com a deciência visual e/ou cegueira constituíram cada uma 9,4% do
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
total. Os tipos de dupla excepcionalidade menos pesquisados, nesse período, perfazendo 3,1% do
total cada uma, foram a coexistência de altas habilidades ou superdotação com transtorno desaador
opositor, com o transtorno obsessivo compulsivo e com o transtorno mental.
No que se refere às denições de dupla excepcionalidade encontradas nas produções
cientícas brasileiras, conrmou-se a análise realizada por Pereira e Rangni (2021), que classicaram
as denições em três categorias:
I) Denição tipológica: a dupla excepcionalidade foi denida como combinação de altas
habilidades ou superdotação com um quadro especíco de deciência ou transtorno ou síndrome
(associação de superdotação com dislexia). Neste caso, a dupla excepcionalidade foi denida
pela junção dessas condições, isto é, os autores apontaram como denição um tipo de dupla
excepcionalidade e não a denição do fenômeno em si.
II) Denição sem especicação clara das condições: nesta categoria, a dupla
excepcionalidade foi denida por noções genéricas - condições incompatíveis- ou por palavras
cujo sentido não denota clareza conceitual, tais como incapacidade educacional, desordem
educacional, física e sensorial, condições que limitam. Nota-se que as denições esboçadas,
nesta categoria, apresentam um sério comprometimento para a compreensão do conceito de dupla
excepcionalidade.
III) Denição segundo as investigações internacionais: a dupla excepcionalidade foi
denida seguindo as pesquisas internacionais, as quais consideram esse fenômeno como uma
combinação de duas condições paradoxais, sendo uma delas as altas habilidades ou superdotação e
a outra uma deciência ou um transtorno/uma síndrome.
IV) Foi possível constatar ainda a ausência de denição e da terminologia em algumas
produções cientícas (n=9), mesmo sendo o objeto de estudo da pesquisa. Na Tabela 1, encontram-
se dados sobre o ano e o tipo de denição encontrados nas produções cientícas brasileiras.
Tabela 1 - Tipos de denição por categoria, ano e quantidade das produções cientícas
Categorias Ano
Quantidade
I 2005, 2006, 2008, 2012, 2013, 2014, 2015 2016, 2020 19
II
2009,2011, 2013, 2015, 2016, 2019, 2020 08
III
2016, 2019 02
Sem o termo
2005, 2006, 2007, 2009, 2013, 2014, 2017 09
Total de produções 38
Fonte: Elaboração das autoras.
Os dados da Tabela 1 indicam que a maioria das pesquisas brasileiras apresenta como
denição o tipo de dupla excepcionalidade, que foi o objeto de estudo da investigação, como,
por exemplo, a coexistência de altas habilidades ou superdotação com deciência visual. Ademais,
chama a atenção para a quantidade das produções cientícas que não abordaram o tema e nem
utilizaram o termo, embora este tenha sido objeto de estudo da pesquisa.
Os oito trabalhos elencados na categoria II, em que foi possível detectar a falta de clareza
na denição da dupla excepcionalidade, não expõem e nem conseguem veicular claramente em que
condições a dupla excepcionalidade pode ser identicada, o que, por sua vez, produz problemas
Dupla excepcionalidade Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 41-58, Jan.-Jun., 2023 55
de interpretação para a compreensão do fenômeno em âmbito educacional e para a comunicação
técnico-cientíca. Notou-se ainda que apenas dois trabalhos apresentaram como denição a tradução
de produções cientícas internacionais, em que o fenômeno da dupla excepcionalidade é denido
como uma combinação paradoxal de duas excepcionalidades, sendo uma delas as altas habilidades
ou a superdotação, e a outra, que pode ser uma deciência ou um transtorno ou uma síndrome
(BAUM; SHADER; OWEN, 2017; KAUFMAN, 2018; FOLEY-NICPON et al., 2011; TRAIL,
2011).
Infere-se, pois, que além de escassez de investigações sobre essa temática, a maioria das
denições ou a ausência delas nas produções cientícas brasileiras, aliada às utuações terminológicas,
indicam fragilidades teóricas na abordagem desse tema, o que caracteriza a emergência do assunto
no cenário brasileiro (OUROFINO, 2007). Conforme ressaltam Pereira e Rangni (2021), para
permitir o avanço nas pesquisas, torna-se necessário não só uma padronização no emprego do termo-
dupla excepcionalidade- na produção cientíca brasileira, mas também a elaboração de uma tradução
da denição de dupla excepcionalidade compatível com os estudos internacionais, principalmente
considerando os avanços cientícos que já foram alcançados sobre esse tema internacionalmente.
consiDeraçÕes finais
Na análise da literatura cientíca internacional, identicou-se que o termo - dupla
excepcionalidade - tem sido utilizado pelos estudiosos da área de altas habilidades ou superdotação
para referir à condição p a r a d o x a l de pessoas que apresentam concomitantemente
comportamentos superdotados com uma deciência ou um transtorno ou uma síndrome.
Notou-se, também, que há implicações na tradução da denição desse termo para
a Língua Portuguesa que devem ser consideradas: i) a tradução da palavra disability deve, pois,
designar, neste contexto, uma deciência ou transtorno ou síndrome; ii) o termo learning
disability deve ser traduzido por transtornos especícos de aprendizagem e não por diculdade de
aprendizagem e iii) as palavras excepcional e excepcionalidade são as que melhor caracterizam o
fenômeno e as que permitem distingui-lo de outros conceitos associados, sendo, pois, recomendável
o uso do termo – dupla excepcionalidade - na área da Educação Especial, mesmo que não esteja
sendo mais usado em textos das políticas públicas da educação brasileira.
Na análise da literatura cientíca nacional, pode-se armar que ela se caracteriza ainda
pela escassez de estudos, indicando a emergência da temática no cenário da pesquisa no Brasil.
Dentre os tipos de dupla excepcionalidade mais estudados no Brasil, encontram-se as investigações
sobre a coexistência de altas habilidades ou superdotação com o Transtorno do Espectro Autista e
com o Transtorno do Décit de Atenção/Hiperatividade.
Deve-se destacar também que a maioria das denições do termo dupla excepcionalidade
ou a ausência delas nas produções cientícas brasileiras, aliada às utuações terminológicas,
indicam fragilidades teóricas na abordagem desse tema, que podem estar associadas às implicações
demonstradas na tradução da denição do termo - dupla excepcionalidade - para a Língua
Portuguesa.
Diante do exposto, sugere-se como caminho, para permitir avanços na pesquisa sobre essa
temática no Brasil, a padronização do termo na produção cientíca brasileira e o uso da denição de
dupla excepcionalidade compatível com os estudos internacionais, visto que tais investigações têm
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PEREIRA, J. D. S.; RANGNI, R. A.
demonstrado avanços relevantes sobre esse tema e sobre as práticas de identicação e atendimento
aos estudantes duplamente excepcionais.
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