Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 11
https://doi.org/10.36311/2358-8845.2023.v10n1.p11-26
is is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
AltAs hAbilidAdes/superdotAção no brAsil: umA revisão de literAturA
no período de 2012 A 2022
HigH abilities/giftedness in brazil: a literature review from 2012 to 2022
Juliana Andreatta FABER
1
Adriana Gomes ALVES
2
RESUMO: segundo estudos recentes, as primeiras abordagens sobre o tema altas habilidades/superdotação no Brasil ocorreram
há mais de 90 anos. Apesar das crescentes pesquisas, o tema ainda é desconhecido para a maioria das pessoas, inclusive para os
diversos educadores que não sabem lidar em sala de aula com alunos que apresentam um nível superior, dicultando assim um
atendimento de qualidade. Mesmo com o avanço das políticas públicas no decorrer desses anos, as mesmas são pouco conhecidas,
comentadas ou discutidas, inibindo assim as ações estabelecidas pela legislação. O presente artigo se congura como uma pesquisa
de revisão de literatura e objetiva investigar as atualidades referentes ao tema, suas principais discussões, teóricas e metodológicas
utilizadas atualmente para incluir e atender estes alunos, realizando um levantamento dos estudos nos últimos dez anos. A pes-
quisa resultou em 37 produções que após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão resultaram em 13 publicações analisadas,
distribuídas entre as seguintes categorias: Políticas Públicas, Prática Inclusivas e Atendimento Educacional. Concluiu-se que muito
se avançou neste período, no entanto, há um longo caminho a ser percorrido; devido a desinformação, mitos e crenças sobre AH/
SD ainda permeiam o pensamento de muitos prossionais envolvidos na educação, dicultando a identicação destes indivíduos
e principalmente a oferta de um atendimento adequado que possibilite o pleno desenvolvimento de seus potenciais. Diante disso,
ca claro a relevância de trabalhos voltados a esta área, uma vez que pesquisas relacionadas a este público ainda são escassas, e se
trata de uma temática de importância não apenas acadêmica, mas também social.
PALAVRASCHAVE: Altas Habilidades/Superdotação. Revisão de Literatura. Práticas inclusivas. Políticas Públicas. Atendimento
Educacional.
ABSTRACT: according to recent studies, the rst approaches to the subject of high abilities/giftedness in Brazil occurred more
than 90 years ago. Despite growing research, the topic is still unknown to most people, including many educators who do not
know how to deal with students who have a higher level in the classroom, thus making it dicult to provide quality care. Even
with the advancement of public policies over the years, they are little known, commented on or remained, thus inhibiting actions
protected by legislation. is article is congured as a literature review and objective investigation regarding the current situation
regarding the theme, its main theoretical and methodological discussions currently used to include and assist these students,
completing a survey of studies in the last ten years. e research resulted in 37 productions that, after applying the inclusion
and exclusion criteria, resulted in 13 entries, distributed among the following categories: Public Policies, Inclusive Practice and
Educational Service. It was concluded that much progress has been made in this period, however, there is a long way to go; due to
misinformation, myths and beliefs about AH/SD still permeate the thinking of many professionals involved in education, making
it dicult to identify these individuals and especially to oer adequate care that enables the full development of their potential. In
view of this, it is clear that works aimed at this area are loved, since research related to this public is still scarce, and it is a topic of
not only academic importance, but also social importance.
KEYWORDS: High Abilities/Giftedness. Literature review. Inclusive practices. Public policy. Educational Service.
Mestre em Educação. Integrante do grupo de pesquisa Observatório de Políticas educacionais do Programa de pós-graduação em
Educação da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E- mail:juliana_faber@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-4405-7848
Doutora em Educação. Professora do Programa de pós-graduação em Educação, da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).E-
mail: adriana.alves@univali.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8960-6006
12 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
introdução
Buscando superar toda uma história de segregação, discriminação e preconceito, a
inclusão educacional deve proporcionar a todos os alunos o pleno desenvolvimento, para que esses
possam exercer seus direitos de cidadania por meio de uma educação de qualidade. Na Perspectiva
da Educação Inclusiva, a educação especial passa a fazer parte da proposta pedagógica do ensino
regular promovendo atendimento educacional especializado aos alunos com deciência, transtorno
Global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, considerando suas necessidades
especícas e assegurado o atendimento educacional especializado diferenciado (BRASIL,
2008). A mesma política dene os estudantes com altas habilidades/superdotação aqueles que:
“Demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas:
intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade,
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse.” (BRASIL, 2008).
Esta denição baseou-se na denição trazida no relatório de Marland em 1972, trazendo alguns
tópicos da conceituação apresentado por Joseph Renzulli (1986), quando dene comportamentos
superdotados como aqueles que:
Reetem uma interação entre três agrupamentos básicos de traços humanos – sendo
esses agrupamentos habilidades gerais e/ou especícas acima da média, altos níveis de
comprometimento com a tarefa e altos níveis de criatividade. Crianças superdotadas e
talentosas são aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver esse conjunto composto de
características e aplicá-las a qualquer área potencialmente valiosa do desempenho humano.
As crianças que manifestam ou são capazes de desenvolver uma interação entre os três grupos
requerem uma ampla variedade de oportunidades e serviços educacionais que normalmente
não são fornecidos por meio de programas educacionais regulares. (Renzulli, 1986, p. 11-12)
Torna-se relevante destacar que a SEESP/MEC apresenta em suas publicações a teoria
de Renzulli desde 1995, por meio das diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos
portadores de altas habilidades/superdotação e talentos (BRASIL, 1995 apud PÉREZ, 2021, p.182).
Nesse sentido, Virgolim (2007) ressalta que:
As pessoas com altas habilidades formam um grupo heterogêneo, com características diferentes
e habilidades diversicadas; diferem uns dos outros também por seus interesses, estilos
de aprendizagem, níveis de motivação e de autoconceito, características de personalidade e
principalmente por suas necessidades educacionais. Entendemos que é tarefa dos educadores,
sejam eles professores ou pais, compreender a superdotação em seus aspectos mais básicos e
assim se tornarem agentes na promoção do desenvolvimento dos potenciais, de forma a poder
atender as necessidades especiais desta população. (VIRGOLIM. 2007, p. 11)
Embora os educadores compreendem sua responsabilidade em ser agentes no
desenvolvimento de seus alunos ou lhos, o desconhecimento prejudica estas ações. Mesmo este
assunto não sendo recente, todo o processo de identicação e o atendimento educacional a esses
alunos ainda é visto com complexidade pelos educadores em geral, carregados de barreiras e mitos
que contribuem para a exclusão desse público. Independente do crescimento simultâneo nos
últimos anos, relacionado às pesquisas referentes ao tema altas habilidades/superdotação, os debates
acerca desta temática ainda são desaadores na área da Educação.
Já se passaram mais de 90 anos desde a primeira abordagem sobre o tema altas habilidades/
superdotação no Brasil. Delou (2007) aponta que, os primeiros livros sobre a temática publicados
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 13
no país datam da década de 1930, iniciando pesquisas e eventos na área; sendo que o primeiro
seminário nacional sobre superdotados foi realizado somente em 1971, pela Universidade de Brasília
(FREITAS; PÉREZ, 2009). Em 1994, a Declaração de Salamanca, utilizando a nomenclatura super-
dotados, já incluía os alunos com AHSD como alunos com necessidades educacionais especiais. Ao
longo da história esses alunos foram confundidos com alunos prodígios, alunos precoces ou até
mesmo vistos como gênios; foram considerados seres incomuns e autossucientes.
A frequente associação equivocada das AH/SD ao desempenho escolar extraordinário, à
criatividade, à precocidade, ou à genialidade, de forma isolada, provoca muita confusão na
identicação e banaliza o conceito teórico que deve ser denido, esclarecido e explicitado nos
documentos educacionais (PÉREZ; FREITAS, 2014, p.635).
Estes mitos e preconceitos, perpassam gerações e dicultam o olhar para as necessidades
destes alunos e para um atendimento de qualidade. Na realidade das escolas a falta de conhecimento
e amparo aos educadores dicultam a prática pedagógica, cando nítido o longo caminho a ser
percorrido, para se alcançar o que está previsto na legislação a estes alunos.
Os estudos acadêmico-cientícos indicam diferentes percentuais quando se trata de
assumir uma estimativa quanto ao número de alunos com AHSD. Segundo Renzulli (1986, p. 9),
tradicionalmente se assume o percentual de 3 a 5% para a entrada em programas de atendimento
especial a superdotados. Segundo Renzulli, na entrevista concedida a Perez (2022, p.102), existem
certas armadilhas inevitáveis nas quais estamos fadados a tropeçar se aceitarmos a crença de que a
superdotação pode ser denida por 3 a 5% da população, assim estaríamos aceitando “o mito de
3 a 5%, então aceitaremos implícita e operacionalmente também o mito igualmente insustentável
de que superdotação e QI são a mesma coisa” (Renzulli, 1986, p. 27). Em sequência Renzulli
(2022) arma que quando se trata de superdotação criativo-produtivo, “simplesmente não sabemos
quantas pessoas se enquadram nessa categoria, o que sabemos é que as pessoas nessa categoria são
aquelas que zeram contribuições signicativas para qualquer área de estudo ou trabalho em que
estejam envolvidas” (PEREZ; RENZULLI, 2022, p. 105). Apesar disso, Renzulli (2004) aponta
que a maioria dos alunos das melhores universidades vem dos 20% mais destacados da população
geral; um forte indicativo de altas habilidades/superdotação. Referente a este assunto, Virgolim
ressalta que:
As modernas teorias da inteligência não percebem que a habilidade superior possa ser medida
apenas por testes psicométricos (VIRGOLIM, 2009), já que estes abarcam apenas 1 a 3% da
população. Quando incluímos outros aspectos à avaliação de superdotados, como, por exemplo,
liderança, criatividade, competências psicomotoras e artísticas, as estatísticas sobre altas
habilidades aumentam signicativamente, chegando a abarcar uma porcentagem de 15 a 30%
da população. Assim, torna-se essencial a utilização de técnicas mais apuradas de identicação,
instrumentos mais amplos e precisos de diagnóstico e bons programas de desenvolvimento e
estimulação do potencial destas crianças (VIRGOLIM, 2014, p. 589).
Conforme publicado no censo escolar apresentado pelo INEP em 2022, o total de
estudantes matriculados na educação infantil e ensino fundamental no Brasil, em 2021, é de
29.932.811. Especicamente, pensando nos alunos com AHSD pode-se perceber uma disparidade
no número estimado de estudantes com AHSD e no número de matrículas especícas registradas.
Levando em consideração os dados do INEP e a maior estimativa percentual tradicional de 5 %
apontada nos capítulos anterior, o número de estudantes chegaria a quase 1,5 milhões, ao passo
14 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
que, se considerarmos a média estimativa de 20% apresentada por Virgolim (2014) aos alunos com
indicadores de AHSD ou por Renzulli (2004) aos alunos que se destacam, o número de estudantes
com AHSD poderia chegar a quase 6 milhões, em todo o território nacional. Em contraste, o
número cadastrado de matrículas desses estudantes, em 2021 (INEP, 2021) é de apenas 23.758 no
Brasil inteiro, um número que representa a ínma parcela de 0,08 % do total de alunos matriculados.
Fica claro que a invisibilidade dos alunos com AHSD ainda é um fato atual que precisa
ser revertido, estes alunos precisam ser identicados e cadastrados como alunos com AHSD,
para que haja mais discussão sobre a temática e investimento no atendimento educacional. A
falta do reconhecimento deste aluno e sua essencial necessidade de um atendimento educacional
especializado, nos faz presenciar uma educação apenas preocupada em sanar as diculdades de
quem está abaixo da média e homogeneizar os demais, desestimulando assim, quem está acima da
média geral.
A mais de 20 anos se reete sobre a equidade na educação. Alencar e Fleith (2001)
destacam a importância de se buscar uma equidade na educação para se estabelecer um ensino de
qualidade, ressaltando que este ensino não signica uma educação igual para todos. É fundamental
que o sistema educacional saiba que uma educação voltada apenas para estudantes medianos ou
abaixo da média, pode signicar a falta de identicação e de estímulo do talento dos mais capazes,
e como efeito, o não aproveitamento de suas habilidades. As mesmas autoras ressaltam que nos
vinte anos anteriores a sua publicação, observam-se avanços signicativos nos estudos sobre diversos
aspectos relacionados às AHSD, sobretudo nas áreas de currículo, desenvolvimento socioemocional,
aconselhamento psicológico e propostas educacionais. Por outro lado, nota-se que a resistência
à implementação de programas e serviços a esse grupo continuam presentes em um grande
número de educadores, como consequência, os alunos com AHSD são pouco compreendidos e
completamente negligenciados pelo contexto escolar. As autoras complementam que para esses
alunos, a escola pode se tornar um ambiente desfavorável, sem desaos e pouco receptivo às suas
ideias criativas, produzindo baixa motivação e, muitas vezes, um rendimento acadêmico aquém de
suas potencialidades.
Segundo Virgolim (2007), a construção do conhecimento a respeito desse público com
altas habilidades/superdotação ainda é regada, em nosso país, por muitos desaos, tais como: (a) falta
de especialista para atender as demandas desta população; (b) materiais adequados às necessidades do
grupo; (c) currículo e programas adaptados aos diferentes níveis em escolas públicas e particulares;
(d) cursos de graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras especícos para área; (e) mais
recursos governamentais para programas voltados para o desenvolvimento da superdotação em todo
país; (f) técnicas mais modernas de identicação; (g) mais literatura especializada em nosso idioma,
e principalmente; (h) maior número de pesquisas sobre essa população na realidade brasileira.
Muitos são os desaos encontrados no campo educacional para atender estes alunos de
forma adequada. Freitas e Pérez destacam que:
O pouco conhecimento e mesmo o desconhecimento da legislação educacional pelos professores,
gestores e pelas próprias famílias dos estudantes com AHSD é uma constatação muito frequente,
especialmente dos dispositivos que determinam os seus direitos. A obrigatoriedade do AEE para
estes estudantes não raramente é uma surpresa para as administrações escolares... O mesmo
ocorre com as reais diculdades e necessidades dos estudantes com AHSD (PÉREZ; FREITAS,
2014, p. 634).
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 15
Analisando as revisões de literatura realizadas nos últimos dez anos, encontraram-se três
artigos. Nakano e Siqueira (2012) que analisaram as publicações brasileiras sobre superdotação
entre os anos de 2002 e 2009, encontrando 19 artigos que abordam diversos temas relacionados ao
tema e concluíram um recente interesse pela temática, à época, justicando notáveis diculdades
encontradas, tais como divergências na denição do conceito e a falta de instrumentos especícos
validados e normatizados. Chacon e Martins (2014) realizaram um levantamento com base de dados
nas teses e dissertações brasileiras sobre AH/SD, demonstrando o crescimento de pesquisas sobre
esse tema com predomínio de publicações na área da Educação. Pederro et al (2017) publicaram
uma revisão de produções cientícas sobre altas habilidades/superdotação no Brasil no período de
2011 a 2015, objetivando caracterizar os principais assuntos debatidos e demonstrar os avanços na
área das Altas Habilidades/ Superdotação. Nesta revisão concluiu-se que é necessário realizar mais
estudos de intervenção, pois grande parte dos artigos baseia-se em estudos teóricos, dessa forma,
poderão ser construídas propostas de identicação e atendimento adequadas à realidade brasileira.
Diante disso, este artigo apresenta uma revisão da literatura correspondente à inclusão
dos alunos com altas habilidades/superdotação, com foco na análise de pesquisas que permeiam
o atendimento educacional ofertado a estes alunos nos últimos 10 anos, objetivando investigar
as atualidades referentes ao tema, suas principais discussões, teóricas e metodológicas utilizadas
atualmente para incluir e atender estes alunos.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
Este estudo se congura com uma pesquisa de revisão de literatura. As buscas foram
realizadas por meio da pesquisa simultânea que comtempla as bases: Portal CAPES, EBSCO, Scielo
Livros, Scielo Periódicos, Biblioteca A, Saraiva, Vlex, Portal de Periódicos Univali, Acervo Univali,
Diretórios de Acesso Aberto. As publicações selecionadas estão datados entre os anos de 2012 e
2022 e a busca se às bases se deu em abril de 2022. Com a Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da educação inclusiva de 2008, ainda em vigor devido a revogação do Decreto n°
10.502/20, novos olhares se abriram para a temática das altas habilidades/superdotação, de 2009
a 2011 criaram-se legislações e diretrizes voltadas para o atendimento a este público e a partir
daí, estudos mais aprofundados começaram a surgir neste sentido, sendo assim, considerou-se
importante incluir na revisão estudos a partir do ano de 2012 até os dias atuais.
Para renar os resultados, realizou-se a busca avançada, além da delimitação do período;
acrescentaram-se artigos nacionais, analisados por especialistas e voltados para a educação, com
os descritores: altas habilidades OR superdotação AND atendimento educacional; nesta busca
foram encontradas 37 publicações, entre artigos, teses e dissertações referentes ao tema de estudo.
Todos as publicações foram importadas para o software Mendeley que me auxiliou na busca do
texto completo, possibilitando a leitura, destaques e anotações no próprio texto, facilitando assim a
organização e o gerenciamento.
As publicações foram selecionadas com critérios de inclusão e exclusão, tendo como
critérios de inclusão: 1. Textos completos que incluíam o tema altas habilidades/superdotação, 2.
Publicações com relatos da inclusão dos alunos com altas habilidades/superdotação, assim como
suas políticas. 3. Artigos com experiências do atendimento educacional ou práticas educacionais
oferecidas aos alunos com altas habilidades/superdotação. Como critérios de exclusão foram
denidos: 1. Estudos referentes ao atendimento realizados apenas nas salas de recursos ou sala
multifuncional, 2. Estudos referentes à identicação e avaliação desses alunos, 3. Estudos duplicados,
16 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
4. Estudos voltados ao atendimento de alunos com AHSD que não fazem parte da educação básica,
5. Publicações voltadas a questões emocionais ou comportamentais, entre outros temas das AHSD.
Após leitura e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, evidenciou-se que:
3 artigos referiam-se a estudos voltados ao atendimento de alunos com AHSD que não fazem
parte da educação básica; 4 voltam-se à identicação e avaliação desses alunos; 4 relacionava-se ao
atendimento de alunos com outra condição; 5 publicações eram voltadas a questões emocionais,
comportamentais entre outros temas das AHSD; 3 referiam-se ao atendimento realizado apenas nas
salas de recursos ou sala multifuncional e 5 artigos eram duplicados. Restando 13 publicações para
análise, que foram categorizadas, representado na gura 1.
Figura 1- Modelo do Processo de Revisão de Literatura
Fonte: As autoras.
Em razão dos alunos com AH/SD serem integrantes da Educação Especial, a primeira
categoria abrange as políticas públicas voltadas a esta população, a segunda categoria, denominada
prática inclusivas, encontram-se as publicações que descrevem as práticas realizadas, as especicidades
deste trabalho, enquanto que a terceira aborda o atendimento educacional dirigido a este público.
A gura 2 apresenta o quantitativo de publicações por categoria, no qual observa-se a prevalência
nos estudos sobre o atendimento educacional, com pouca diferença para os estudos das políticas.
Figura 2 - Quantidade de artigos por categoria
Fonte: As autoras.
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 17
O quadro 1 representa as categorias representadas por cores para melhor visualização e
revisão e o conjunto de publicações analisadas considerando título, autor, palavra-chave, referências/
ano e fonte de acesso.
Quadro 1- Publicações selecionadas para revisão de literatura
CATEGORIAS:
(representadas por cores)
POLÍTICAS
PÚBLICAS
PRÁTICAS
INCLUSIVAS
ATENDIMENTO
EDUCACIONAL
TÍTULO AUTOR(A) PALAVRAS-CHAVE
REFERÊNCIAS/ANO
LINK DE ACESSO
Desaos do atendimento
educacional especializado
a estudantes com altas
habilidades/superdotação em
artes visuais. (Artigo)
érese Hofmann Gatti
Rodrigues da Costa;Fábio
Travassos de Araújo.
Educação Especial.
Superdotação.
Artes Visuais.
GATTI RODRIGUES DA
COSTA; DE ARAÚJO,
2021.COSTA,érese
Hofmann Gatti Rodrigues
Da; ARAÚJO Fábio
Travassos De. Desaos Do
Atendimento Educacional
Especializado a Estudantes
Com Altas Habilidades/
Superdotação Em Artes
Visuais.Revista da
Fundarte,[s. l.], v. 47, n.
47, 2021.
https://seer.fundarte.
rs.gov.br/index.php/
RevistadaFundarte/article/
view/936
O atendimento educacional
especializado para altas
habilidades/superdotação:
das políticas à prática.
(Dissertação)
Maria Lídia Sica Szymanski;
Sandra Mara Maciel Vieira
Altas
Habilidades/Superdotação.
Atendimento Educacional.
Especializado.
Educação Especial. Políticas
públicas.
SICA SZYMANSKI,
Maria Lídia Sica; MACIEL
VIEIRA, Sandra Mara
Maciel. O Atendimento
Educacional Especializado
para Altas Habilidades/
Superdotação: das políticas
à prática.Revista Diálogo
Educacional,[s. l.], v. 21, n.
71, 2021.
https://periodicos.pucpr.br/
dialogoeducacional/article/
view/27788
Conhecendo os alunos
com altas habilidades e
superdotação como condição
para uma efetiva inclusão
escolar. (Artigo)
Camila Dias Andrade
Wenzel;
Jacqueline Wanderley
Marques Dantas
Altas Habilidades/
Superdotação (AHSD).
Inclusão escolar. Lei Federal
nº 12.796/2013.
WENZEL, Camila Dias
Andrade; DANTAS,
Jacqueline Wanderley
Marques. Conhecendo
Os Alunos Com Altas
Habilidades E Superdotação
Como Condição Para
Uma Efetiva Inclusão
Escolar.Cadernos
Cajuína,[s. l.], v. 4, n. 1, p.
58–70, 2019.
https://cadernoscajuina.
pro.br/revistas/index.php/
cadcajuina/article/view/257
18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
Políticas públicas para as altas
habilidades/superdotação:
incluir ainda é preciso.
(Artigo)
Susana Graciela Pérez Barrera
Pérez;
*Soraia Napoleão Freitas
Altas Habilidades/
Superdotação. Políticas
públicas.
Inclusão.
PÉREZ, Susana Graciela
Pérez Barrera; FREITAS,
Soraia Napoleão.
Políticas públicas para
as Altas Habilidades/
Superdotação: incluir ainda
é preciso.Revista Educação
Especial,[s. l.], v. 27, n. 50,
p. 627–640, 2014.
https://periodicos.ufsm.br/
educacaoespecial/article/
view/14274
As contribuições da educação
especial para promoção
da educação inclusiva nas
normativas brasileiras.
(Artigo)
Sandra Eli Sartoreto de
Oliveira Martins;,
Lucía Pereira Leite
Educação Especial. Educação
Inclusiva.
Políticas Públicas. Psicologia
da Educação.
(SARTORETOMARTINS;
LEITE, (2014).
https://www.colibri.
udelar.edu.uy/jspui/bitstre-
am/20.500.12008/28865/1/
207-1352-1-PB.pdf
Atividade de situações
problema em matemática:
uma proposta metodológica
aplicada no centro de
atividades e desenvolvimento
em altas habilidades/
superdotação. (Dissertação)
Virginia Florêncio Ferreira de
Alencar Nascimento;
Oscar Tintorer Delgado;
PatriciaPatrícia Florencio
Ferreira de Alencar;
Jardel Souza Leite.
Situações Problema,
AtendimentoProblema.
Atendimento Educacional
Especializado,
AltasEspecializado.
Altas Habilidades/
Superdotação. Operações
Fundamentais.
NASCIMENTO, Virginia
Florêncio Ferreira De
Alencaret al.Atividade De
Situações Problema Em
Matemática: Uma Proposta
Metodológica Aplicada
No Centro De Atividades
E Desenvolvimento
Em Altas Habilidades/
Superdotação.Revista
REAMEC,[s. l.], v. 7, n. 1, ;
et al, 2019.
https://periodicoscienticos.
ufmt.br/ojs/index.php/
reamec/article/view/7872
Diálogos entre Boaventura
de Sousa Santos, educação
especial e currículo.
(Artigo)
Alexandro Braga Vieira;
Ines de Oliveira Ramos
Educação Especial.
Currículo.
Atendimento Educacional
Especializado.
VIEIRA; RAMOS, 2018
VIEIRA, Alexandro Braga;
RAMOS, Ines de Olivei-
ra. de O. Diálogos entre
Boaventura de Sousa Santos,
Educação Especial e Cur-
rículo / Dialogues between
Boaventura de Sousa Santos,
Special Education and
Curriculum.Educação &
Realidade,[s. l.], v. 43, n. 1,
p. 131–151, 2018.
https://www.scielo.br/j/edre-
al/a/zMbNbtGxpvLyyxL98b-
mz4wz/?lang=pt
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 19
O aluno com altas
habilidades/superdotação
em escola ribeirinha na
Amazônia. (Tese)
José Adnilton Oliveira
Ferreira;
Relma Urel Carbone
Carneiro
Inclusão escolar.
Altas habilidades/
superdotação. Amazônia
amapaense. Educação
ribeirinha.
FERREIRA, José Adnilton
Oliveira; CARNEIRO,
Relma Urel Carbone.
O aluno com altas
habilidades/superdotação
em escola ribeirinha na
Amazônia.Política e Gestão
Educacional,[s. l.], v. 24, n.
1, 2020.
https://periodicos.fclar.unesp.
br/rpge/article/view/13421
O funcionamento do
programa de atendimento
a alunos com altas
habilida-des/superdotação
(PAAAHSD-RJ). (Artigo)
Cristina Maria Carvalho
Delou
Altas Habilidades/
Superdotação;
Enriquecimento escolar;
Inclusão.
DELOU, Cristina
Maria Carvalho. O
Funcionamento do Programa
de Atendimento a Alunos
com Altas Habilida-des/
Superdotação (PAAAH/
SD-RJ).Revista Educação
Especial,[s. l.], v. 27, n. 50,
p. 675–688, 2014.
https://periodicos.ufsm.br/
educacaoespecial/article/
view/14323
Alunos com altas
habilidades/superdotação e
o atendimento educacional
especializado. (Artigo)
Vitória de Araujo Zanchetti;
Solange Franci Raimundo
Yaegash;
Sharmilla Tassiana de Souza
Educação Especial. Altas
Habilidades/Superdotação.
Atendimento Educacional
Especializado
ZANCHETTI, Vitória
De Araujo; YAEGASHI,
Solange Franci Raimundo;
SOUZA, Sharmilla Tassiana
De. Alunos com Altas
Habilidades/Superdotação e
o Atendimento Educacional
Especializado.Olhar de
Professor,[s. l.], v. 24, 2021.
https://revistas2.uepg.br/
index.php/olhardeprofessor/
article/view/18288
Atendimento educacional
especializado ao superdotado
em escola pública americana
e contribuições para o
contexto brasileiro. (Artigo)
Carina Alexandra Rondini;
Nielsen Pereira
Atendimento Educacional
Especializado. Altas
Habilidades/Superdotação.
Escola Pública. USA. Brasil.
ALEXANDRA RONDINI,
Carina; PEREIRA,
Nielsen. Atendimento
Educacional Especializado
Ao Superdotado Em
Escola Pública Americana
E Contribuições Para O
Contexto Brasileiro.Revista
Educação: Teoria e
Prática,[s. l.], v. 26, n. 53, p.
466–483, 2016.
http://www.periodicos.
rc.biblioteca.unesp.br/
index.php/educacao/article/
view/11483
20 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
O atendimento educacional
especializado na constituição
do autoconceito de pessoa
superdotada. (Artigo)
Christianne Rocio Storrer
Oliveira;
Maria de Fatima Joaquim
Minetto
Altas Habilidades/
Superdotação,
Atendimento Educacional
Especializado, Habilidades
Socioemocionais.
OLIVEIRA, Christianne
Rocio Storrer; MINETTO,
Maria De Fatima Joaquim.
O atendimento educacional
especializado na constituição
do autoconceito de pessoa
superdotada.Revista
Educação Especial,[s. l.], v.
34, p. 1–22, 2021.
https://periodicos.ufsm.br/
educacaoespecial/article/
view/67141
O habitus professoral e a
educação especial: percepção
dos professores de classe
comum e sala de recursos
multifuncional. (Artigo)
Norberto Kuhn Junior;,
Helena Venites Sardagna;,
Valdir Pedde;,
Fatima Liliane Oliveski Roth
Inclusão escolar.
Sala de recursos
multifuncional.
Habitus Professoral
KUHN JUNIOR;, N. K.et
al.O Habitus Professoral E a
Educação Especial: Percepção
Dos Professores De Classe
Comum E Sala De Recursos
Multifuncional.Revista
Ibero-Americana de
Estudos em Educação,[s.
l.], v. 11, n. 3, p. 1198–
1220, 2016.SARDAGNA;
PEDDE; ROTH, 2016.
http://seer.fclar.unesp.br/
iberoamericana/article/
view/7297/5905
Fonte: As autoras
Do conjunto de artigos analisados, observou-se que houve mais publicações relacionadas
a este tema no ano de 2021, demonstrando o crescente interesse pelo tema atualmente, os demais
foram publicados entre os anos de 2014 e 2021, conforme apresentado no gráco da gura 3:
Figura 3 -Número de artigos conforme ano de publicação
Fonte: As autoras.
As publicações analisadas abordam a inclusão dos alunos com AHSD, aprofundando
discussões sobre os direitos adquiridos por este público, assim como o atendimento educacional
especializado e as práticas pedagógicas garantidas por lei. Cinco artigos se enquadraram na categoria
de políticas públicas. Pérez e Freitas (2014) analisam as políticas públicas brasileiras para alunos
com AHSD, alertando a necessidade da formação de professores e gestores, além do apoio técnico,
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 21
nanceiro e a scalização das atividades desenvolvidas pelos NAAH/S, apontando a necessidade
do reconhecimento e registro no Censo Escolar, concluindo que o atendimento educacional
especializado é oferecido de forma precária, pois devido a preconceitos e mitos, essa demanda ainda
não é aferida corretamente nas escolas.
Por se tratar de um tema ainda não aprofundado na Educação Especial, geralmente não
associado a ela, e povoado de mitos e crenças populares, as AHSD não são incluídas nos cursos
de formação inicial nem continuada; não se considera a possibilidade de atendimento nas Salas
de Recursos Multifuncionais às quais são encaminhados apenas os alunos com deciência.
(FREITAS; PÉREZ, 2014).
Szymanski e Vieira (2021) analisam as condições históricas e pedagógicas do
atendimento educacional especializado, tanto nas salas de aula regulares como nas salas
de recursos multifuncionais e apontam a diculdade na identicação e no trabalho a ser
desenvolvido com esses alunos; aspectos como a precariedade na formação inicial e continuada
dos docentes, as fragilidades nos critérios para contratação de prossionais preparados e a falta
de investimento nas salas de recursos os principais obstáculos. Costa e AraujoCosta e Araújo,
(2021) seguem os mesmos preceitos, defendendo a importância da formação dos professores
que atuam no ensino regular, apontando a necessidade de pesquisas voltadas para as habilidades
e comportamentos dos alunos com potenciais artísticos. Salientando a urgência com que este
tema necessita adentrar os espaços educativos, ampliar as discussões, tendendo romper com
representações equivocadas sobre esses alunos, fazendo com que os mesmos sejam melhor
compreendidos, não somente em suas habilidades acadêmicas, como nos demais contextos.
O artigo de Wenzel e Dantas (2019) dá destaque à lei federal número 12.796/13,
revisão da LDB nº 9.394/96 que enquadra os estudantes com AHSD na educação inclusiva,
enfatizando também a escassa informação entre os educadores e a própria escola no que se refere
ao reconhecimento desses alunos e a melhor forma de ensiná-los. Por m, MartinsSartoreto e
Leite (2014) que apresentam reexões pontuais sobre as normativas brasileiras que orientam a
escolarização dos alunos na educação especial, na perspectiva da educação inclusiva. Assim como
os demais artigos, salientam diversas leis que garantem a inclusão destes alunos por meio de um
atendimento de qualidade, visando seu desenvolvimento pleno, entre elas evidencia o PNEEPEI
(2008), a Lei n° 9.394/96 e a resolução CNE/CEB nº 2/2001. Destaca-se aqui o artigo 7º e 8°
desta resolução, no art7° arma que, os alunos com necessidades educacionais especiais devem
receber atendimento especializado dentro de sala de aula, com currículo adaptado e professores
capacitados. O Atendimento Educacional Especializado aos alunos com AH/SD, se fundamenta
no suporte às necessidades especícas desses alunos. Este atendimento se justica pela necessidade
de aprimorar áreas de interesses, habilidades e formas diversicadas de aprendizagem. E no artigo
8º, inciso IX, realça que os alunos com AH/SD, têm direito ao enriquecimento curricular e ao
atendimento suplementar no contraturno das suas aulas regulares com o objetivo de aprofundar
seus interesses, bem como suas habilidades. Entretanto, tal atendimento não deve ser direcionado
somente para as habilidades curriculares, devendo contemplar também o desenvolvimento
emocional e o autoconhecimento, a m de que o aluno obtenha uma percepção mais apurada do
próprio desenvolvimento e se sinta estimulado.
Amparada nas reexões realizadas nas publicações desta categoria, ca claro que, mesmo
com o avanço das políticas públicas no decorrer desses anos, estas são pouco comentadas ou
discutidas, inibindo assim as ações estabelecidas pela legislação. Infelizmente, os temas relacionados
22 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
às AHSD não são inclusos na maioria dos cursos de formação inicial ou continuada; em muitos
lugares, não se considera o atendimento nas salas de recursos multifuncionais, pois não conseguem
enxergar a necessidade deste público, isso quando os percebem como público-alvo da educação
especial; quando identicados, acreditam erroneamente que eles podem se virar sozinhos ou que
os alunos com deciência precisam ser priorizados, por não nascerem com algo que os benecie.
Na categoria de práticas inclusivas foram encontradas duas publicações, demonstrando
a escassez dos estudos relacionados às práticas a serem realizadas com estes alunos. Vieira e Ramos
(2018) trazem as ideias centrais de Boaventura de Sousa Santos que podem ser introduzidas na
Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar, apresentando reexões críticas das implicações
dos currículos escolares na escolarização de alunos apoiados pela Educação Especial. Na mesma
categoria, Nascimento et al Nascimento et al. (2019) trazem atividades de situações problemas
matemáticos, que evidenciam questões a serem solucionadas por meio de prática mediadora,
para um melhor desenvolvimento do potencial do aluno, revelando a importância da reexão e
da prática docente no processo de ensino e aprendizagem, destacando que os alunos com altas
habilidades/superdotação precisam vivenciar novas práticas pedagógicas que despertem suas
capacidades mentais. Ambos os artigos manifestam que o atendimento educacional especializado
deve ser efetuado mediante práticas diferenciadas, que permitam a estes alunos o desenvolvimento
do seu potencial, de forma desaadora, fazendo com que se sintam integrados à escola.
Estas perspectivas caminham em direção à proposta da educação inclusiva que se
fundamenta nos preceitos de uma escola com práticas pedagógicas que possibilitem o aprendizado
para todos, atendendo às especialidades de cada aluno, criando estratégias que contribuam
com a interação entre os diferentes, em todos os espaços escolares, onde as habilidades sejam
compartilhadas, onde todos possam aprender juntos, respeitando os anseios e limites de cada
indivíduo. Para que uma educação de qualidade aconteça é necessário realizar ações concretas,
propagar práticas inclusivas que contribuam para o desenvolvimento do potencial, tanto intelectual
como emocional, destes alunos e de todos os demais inseridos em sala de aula.
Na terceira categoria, atendimento educacional, Oliveira e Minetto(2021) analisaram
as vantagens do acesso do estudante superdotado ao atendimento educacional especializado na
construção da identidade do indivíduo superdotado. Os resultados indicaram que o atendimento
educacional especializado se constitui como um elemento fundamental para que sejam descobertas
as potencialidades do estudante, principalmente por meio do acesso a atividades extra ao contexto
escolar, não só para o desempenho acadêmico como para ajustamento na vida, se analisar os
resultados a longo prazo.
As entrevistas semiestruturadas trouxeram respostas, que evidenciaram a importância
da participação da criança superdotada no atendimento educacional especializado, com
a nalidade de conhecimento de suas habilidades cognitivas e emocionais, com ns de
organização de sua identidade enquanto pessoa superdotada. Com isso, promove-se a melhor
evolução de suas habilidades socioemocionais. O relato dos participantes que frequentaram o
atendimento educacional especializado trouxe pontos de pertencimento a um grupo, pois era
no atendimento, interagindo com outros superdotados, que percebiam que não eram únicos,
peculiares, diferentes. Percebiam que existiam outros como eles. (OLIVEIRA; E MINETTO,
2021 p.18)
Junior et alKuhn Junior et al (2016), apresentam os fatores associados à educação inclusiva,
a partir do Atendimento Educacional Especializado (AEE), com foco na percepção dos professores
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 23
de sala de aula comum e das salas de recursos multifuncionais, apontando que as diculdades
encontradas pelos professores na atuação com os alunos público-alvo da educação especial estão
diretamente ligados ao seus “habitus”, seus pensamentos e visões construídas socialmente.
Ainda inserido nesta questão, o estudo de Zanchetti, Yaegashi e Souza et al (2021)
objetivou vericar o estado do conhecimento acerca do atendimento educacional especializado
ofertado para os alunos com AHSD, por meio de teses e dissertações produzidas no Brasil. Os
resultados revelam que o trabalho desenvolvido no AEE enfrenta muitos desaos, como: diculdades
na identicação desses discentes, o não cumprimento das políticas públicas, infraestrutura precária
e formação decitária dos prossionais que atuam com este público. Concluindo que apesar das
diculdades, este atendimento se mostra de suma importância a este alunado.
Seguindo Rondini e Pereira (2016) promovem reexões sobre a possibilidade de se
adequar o serviço de enriquecimento ofertado em escolas públicas americanas do Estado de Indiana
ao contexto das escolas brasileiras, respeitando as diferentes realidades e as leis de diretrizes que
orientam o atendimento desses estudantes em ambos os países. Entre as reexões evidencia-se que o
Brasil se aproxima em muitos aspectos do programa americano, porém, por não possuir clareza em
suas diretrizes, ca em desvantagem com relação à implementação e efetivação das leis. A pesquisa
ressalta que o enriquecimento ofertado nas escolas brasileiras aos estudantes com a AHSD está mais
focado na complementação, enquanto que, nas escolas Americanas investem em modos diferentes
de agrupamentos, adotando métodos pedagógicos desde o jardim de infância que possibilitam a
identicação destes alunos no programa das escolas regulares, priorizando a potencialidade de cada
aluno e suas necessidades individuais por meio de grupos de acordo com a área de destaque de cada
aluno e programas de atendimento no contraturno, O High Ability Program está distribuído em
quatro níveis: a) programa para estudantes do jardim de infância ao quarto ano (elementary
school); b) os programas Excel e Desao, para os 5º e 6º anos (intermediate school) e para
os 7º e 8º anos (junior high school), e c) o programa de ensino médio (high school).
Em outro artigo, Delou (2014) apresenta o funcionamento do Programa de Atendimento
a Alunos com Altas Habilidades/Superdotação (PAAAHSD), realizado na cidade do Rio de
Janeiro. O programa realiza identicação, orientação à família e à escola, atendimento educacional
especializado, aceleração de estudos, formação docente e pesquisa.
Por m, Ferreira e Carneiro (2020) investigam a inclusão de um aluno com altas
habilidades/superdotação em escola ribeirinha na Amazônia Amapaense, apontando como
resultados as diculdades existentes no processo de inclusão deste público, desde a infraestrutura,
organização das salas e principalmente a falta de formação de professores e de toda equipe escolar
para trabalhar com esta demanda; ressaltando a importância de pesquisas neste universo para o
fortalecimento de questões teórico-práticas relativas à inclusão deste público.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das pesquisas apresentadas, percebe-se que muito se avançou neste período,
no entanto, a desinformação, os mitos e as crenças sobre AHSD ainda permeiam o pensamento
de muitos prossionais envolvidos na educação, dicultando a identicação destes indivíduos e
principalmente a oferta de um atendimento adequado que possibilite o pleno desenvolvimento de
seus potenciais. Diante disso, ca claro a relevância de pesquisas voltadas a esta área, uma vez que
24 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
pesquisas relacionadas a este público ainda são escassas, e se trata de uma temática de importância
não apenas acadêmica, mas também social.
É através da pesquisa que novas discussões são levantadas, novos questionamentos são
trazidos acerca desta temática aos envolvidos no processo educacional desses alunos; é por meio de
novas discussões que o conhecimento é ampliado e é por meio do conhecimento que possibilitamos
a esses alunos um atendimento diferenciado, que estimule suas áreas do conhecimento, desenvolva
suas habilidades, respeitando sua forma de aprender, seus limites e anseios, proporcionando assim
um atendimento educacional especializado de qualidade.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Eunice Soriano de; FLEITH, Denise de Souza. Superdotados: determinantes, educação e
ajustamento. 2. ed. São Paulo: EPU, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Política Nacional da Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008
CHACON, Miguel Claudio Moriel; MARTINS, Barbara Amaral. A produção acadêmico-cientíca
do Brasil na área das altas habilidades/superdotação no período de 1987 a 2011.Revista Educação
Especial, p. 353-372, 2014.
DELOU, Cristina Maria Carvalho. Educação do Aluno com Altas Habilidades/ Superdotação:
legislação e políticas educacionais para a inclusão. In: FLEITH, Denise de Souza. A construção
de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: volume 1: orientação a
professores. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007. Cap. 2. p. 25-40.
DELOU, Cristina Maria Carvalho. O Funcionamento do Programa de Atendimento a Alunos com
Altas Habilidades/Superdotação (PAAAHSD-RJ).Revista Educação Especial,[s. l.], v. 27, n. 50, p.
675–688, 2014
GATTI RODRIGUES DA COSTA, érèse Hofmann; DE ARAÚJO, Fábio Travassos. Desaos do
Atendimento Educacional Especializado a estudantes com Altas Habilidades/Superdotação Em Artes
VISUAIS.Revista da FUNDARTE,[S. l.], v. 47, n. 47, 2021. DOI: 10.19179/rdf.v47i47.936.
FERREIRA, José Adnilton Oliveira; CARNEIRO, Relma Urel Carbone. O aluno com altas
habilidades/superdotação em escola ribeirinha na Amazônia.Revista online de Política e Gestão
Educacional, Araraquara, v. 24, n. 1, p. 247–269, 2020.
FREITAS, Soraia Napoleão; PÉREZ, Susana Graziela Pérez Barrera. Estado do conhecimento na área
de Altas Habilidades/Superdotação no Brasil: uma análise das últimas décadas. Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, v. 32, 2009.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinopse Estatística
da Educação Básica 2020. Brasília: INEP, 2021. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/
sinopses-estatisticas-da-educacao-basica. Acesso em: 11 set 2021.
KUHN JUNIOR, Noberto. K.et al.O Habitus Professoral E a Educação Especial: Percepção Dos
Professores De Classe Comum E Sala De Recursos Multifuncional.Revista Ibero-Americana de
Estudos em Educação,[s. l.], v. 11, n. 3, p. 1198–1220, 2016.
MARTINS, Sandra Eli Sartoreto Oliveira; LEITE, Lucia pereira. As contribuições da Educação
Especial para promoção da educação inclusiva nas normativas brasileiras.Psicologia, Conocimiento y
Sociedad,[s. l.], v. 4, n. 2, p. 189–210, 2014.
Altas habilidades/superdotação no Brasil Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023 25
NAKANO, Tatiane de Cassia; SIQUEIRA, Luciana Gurgel Guida. Revisão de publicações periódicas
brasileiras sobre superdotação. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 25, n. 43, p. 249-266,
maio./ago. 2012.
NASCIMENTO, Virginia Florêncio Ferreira De Alencaret al.Atividade De Situações Problema Em
Matemática: Uma Proposta Metodológica Aplicada No Centro De Atividades E Desenvolvimento Em
Altas Habilidades/Superdotação.Revista REAMEC- Rede Amazônica de Educação em Ciências e
Matemática, [S. l.], v. 7, n. 1, p. 106-124, 2019.
PEDERRO, Mariana de Freitas Pereira et al. Revisão das produções cientícas sobre altas habilidades/
superdotação no Brasil no período de 2011 a 2015.Revista Educação Especial, v. 30, n. 58, p. 499-
514, 2017.
PÉREZ, Suzana Graciela Barrera. A Identicação das altas habilidades sob uma perspectiva
multidimensional. Revista Educação Especial v. 22, n. 35, p. 299-328, set./dez. 2009.
PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera; FREITAS, Soraia Napoleão. Políticas Públicas para as Altas
Habilidades/Superdotação: incluir ainda é preciso. Revista Educação Especial, v. 27, n. 50, p. 627-
640, set./dez. 2014.
PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera; RENZULLI, Joseph S. From a Primary Source: Interview
with Dr. Joseph Renzulli. RSEUS Revista Sudamericana de Educación, Universidad y Sociedad,
Montevideo, vol.10, n.1, 96-109, mar., 2022.
RENZULLI, Joseph S. Myth: e gifted constitutes 3-5% of the population. Dear Mr. and Mrs.
Copernicus: We regret to inform you... In: S. M. REIS (Org. Serie) & J. S. RENZULLI (Org. Vol.),
Essential Reading in Gifted Education: Identication of students for gifted and talented programs,
Vol. 2., p. 63-70. ousand Oaks, CA: Corwin Press & e National Association for Gifted Children.
2004.
RENZULLI, Joseph S.. e ree-ring conception of giftedness: A Developmental Model for
Creative Productivity. In: RENZULLI, J. S.; REIS, S. M. (Eds). e Triad Reader. Connecticut:
Creative Learning Press, 1986.
RONDINI, Carina Alexandra; PEREIRA, Nielsen. Atendimento Educacional Especializado ao
Superdotado em Escola Pública Americana e Contribuições para o contexto Brasileiro.Educação:
Teoria e Prática, v. 26, n. 53, p. 466-483, 12 dez. 2016.
SICA SZYMANSKI, Maria Lídia; MACIEL VIEIRA, Sandra Mara. O Atendimento Educacional
Especializado para Altas Habilidades/Superdotação: das políticas à prática.Revista Diálogo
Educacional,[S. l.], v. 21, n. 71, 2021.
VIEIRA, Alexandro Braga; RAMOS, Ines de Oliveira. de O. Diálogos entre Boaventura de Sousa
Santos, Educação Especial e Currículo / Dialogues between Boaventura de Sousa Santos, Special
Education and Curriculum.Educação & Realidade,[s. l.], v. 43, n. 1, p. 131–151, 2018.
VIRGOLIM, Ângela Magda Rodrigues. A contribuição dos instrumentos de investigação de Joseph
Renzulli para a identicação de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação. Revista Educação
Especial, v. 27, n. 50, set./dez. 2014.
VIRGOLIM, Ângela Magda Rodrigues. Altas habilidades/superdotação: Encorajando potenciais.
Ministério da Educação, 2007.
WENZEL, Camila Dias Andrade; DANTAS, Jacqueline Wanderley Marques. Conhecendo Os Alunos
Com Altas Habilidades E Superdotação Como Condição Para Uma Efetiva Inclusão Escolar.Cadernos
Cajuína,[s. l.], v. 4, n. 1, p. 58–70, 2019.
26 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 11-26, Jan.-Jun., 2023
FABER, J. A.; ALVES, A. G.
ZANCHETTI, Vitória De Araujo; YAEGASHI, Solange Franci Raimundo; SOUZA, Sharmilla
Tassiana De. Alunos com Altas Habilidades/Superdotação e o Atendimento Educacional
Especializado.Olhar de Professor,[s. l.], v. 24, p.1-22, 2021.