12 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 11-24, Jul.-Dez., 2022
SOUZA, J. M. I.; FONSECA, M. P. S.
e que são imperceptíveis para aqueles e aquelas que não se percebem como aliados da luta
anticapacitista.
Segundo a Lei Brasileira de inclusão (BRASIL, 2015), a denição de pessoa com
deciência é a “que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (art.2). Ou seja, em acordo
com o modelo social da deciência, em contraponto ao modelo médico, Diniz (2007) dene a
deciência como um conceito amplo e relacional, uma condição, uma característica da pessoa, e as
barreiras não estão circunscritas a ela e sim ao ambiente, ao contexto, a estrutura que ainda é pouco
acessível e inclusiva.
Mantoan (2003), Sassaki (2012) e Santos (2000) em seus estudos abordaram momentos
históricos pelos quais passaram pessoas com deciência e como foram percebidos pela sociedade ao
longo dos tempos. Entendemos que os paradigmas exclusão, segregação, integração e inclusão não
foram sendo substituídos linearmente uns pelos outros e coexistem na sociedade contemporânea, de
alguma maneira. Apesar dos notórios avanços no campo social, político e educacional, especialmente
quando lembramos que pessoas com deciência eram assassinadas ou encarceradas (SANTOS,
2000), há ainda muito o que desconstruir sobre preconceitos e exclusões enraizadas no convívio
social.
Considerando essas reexões, nos embasamos em um conceito de inclusão amplo,
processual, inndável e dialético (SAWAIA, 2017; BOOTH; AINSCOW, 2012; SANTOS
FONSECA; MELO, 2009), considerando diversos marcadores sociais da diferença e problematizando
as exclusões geradas a partir de questões envolvendo a deciência, mas também de gênero,
sexualidade, racialidade, etnia, classe social, aspectos geracionais e outras interseccionalidades.
A partir disso, entendemos as diferenças como vantagem pedagógica e não como sinônimo de
desigualdades (CANDAU, 2020), de modo a potencializar as singularidades e reconhecer as
necessidades especícas de cada pessoa.
Assim, compreendemos como parte signicativa do processo inclusivo visibilizar histórias
que compartilham trajetórias pessoais-acadêmicas-prossionais a m de desconstruir determinações
xas que engessam possibilidades e obstam oportunidades. Por isso, o presente artigo tem como
objetivo apresentar as reexões de um professor de Educação Física em (constante) formação negro,
albino e com baixa visão acerca de suas experiências e trajetórias formativas a partir de uma narrativa
(auto)biográca.
Reconhecer-se negro, se identicar albino, ser pessoa com deciência visual (baixa visão),
ser professor em constante formação é parte do processo inclusivo/excludente que aqui será narrado.
Nesse sentido, a problematização de uma formação docente na e para a perspectiva inclusiva
(FONSECA, 2021) se faz necessária para ressignicar as trajetórias formativas.
A expressão ‘formação na e para perspectiva inclusiva’ justica-se para armar que a
preocupação não é só perceber se os estudantes estão sendo formados para lidar com
as diferenças em suas ações prossionais futuras, mas também se eles, enquanto seres
singulares, são considerados na formação. Nesse sentido, o ‘na perspectiva inclusiva’
signica reetir sobre como se dá a formação dos estudantes com relação aos processos
inclusivos e/ou excludentes que permeiam tal curso, considerando necessariamente
suas próprias demandas e questões. O ‘para perspectiva inclusiva’ signica perceber o
reexo dessa formação inicial nas futuras ações docentes desse estudante em formação
(FONSECA, 2021, p. 47-48, grifo da autora)