34 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 25-38, Jul.-Dez., 2022
RAMOS, J. R. S.; SILVA, C. A.
“vontade política”, com a liberação de recurso para aquisição de material didático não é determinante.
Porém, a proscrição desse entrave político só se torna possível a partir da mudança da concepção
cultural homogênea para a qual dene o sujeito como diferente, a do olhar inclusivo, e permite
compreender as necessidades das pessoas com deciência, incluindo o estudante com DV: plural,
sujeito de direito, único, dentro de um contexto social para todos.
Nesse sentido, no atual contexto das unidades educativas, torna-se importante o
desenvolvimento de exercício de “vontade política” entre os diferentes atores sociais dentro da
escola. Com essa experiência de olhar o outro com suas especicidades, como ser singular e também
plural, trocar experiências, e conhecer sua trajetória de vida, as barreiras atitudinais impeditivas
do exercício de direitos, consequentemente, serão suprimidas ou minimizadas, dando início ao
processo de inclusão.
Dois estudantes com DV marcaram essa “vontade política” na Escola Agrotécnica
Instituto Federal do Ceará no Campus Crato na área prossionalizante como os primeiros alunos
com comprometimento da visão matriculados no Curso Técnico em Agropecuária Integrado,
fazendo com que a instituição se adaptasse a uma nova realidade, já há muito tempo atribuída por
lei. Esse momento histórico aconteceu no ano de 2018, no aniversário de 50 anos de existência do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
Esses estudantes começaram a criar novas experiências que, aos poucos, passaram a
incorporar outros hábitos ao cotidiano da comunidade escolar. A forma como se organizavam para
se locomover dentro do Campus, as maneiras de vivenciar cada disciplina curricular, os diferentes
modos de interação com os professores, os esforços diários para aprender os conteúdos, causaram
uma série de transformações na vida dos educandos, assim como da própria instituição, pois antes
da chegada desses dois estudantes com DV, o Campus não tinha conhecimento nem experiência na
área para atender suas necessidades.
Diante desse novo panorama com esses dois alunos com DV, outros contextos pedagógicos
se evidenciaram, como outras estratégias de ensino/aprendizagem no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará, em que cada agente escolar envolvido no processo de escolarização
assumiu uma determinada posição no que se refere à inclusão/exclusão de pessoas com deciência.
Nesse sentido, ampliaram-se as expectativas pedagógicas inexistentes, voltadas para o público com
DV. De um lado, estudantes lutando por acesso ao conhecimento, de outro, professores e gestores
tendo a oportunidade de aprender a conviver com as demandas de ensino e aprendizagem de um
curso de Ensino Médio prossionalizante em Agropecuário calcado na heterogeneidade:
Passei por momentos de angústia e ansiedade, já com os problemas referentes ao material
didático, que foram chegando aos poucos. Depois de mais ou menos resolvido, e já tendo
uma pessoa para preparar esse material e fazer a ponte entre os professores das disciplinas da
base comum e da área técnica, eu comecei a me concentrar mais nos estudos, e descansar com
relação às constantes lutas por materiais e professor brailista. Eu vi que eu ia conseguir o meu
objetivo e assim as conquistas foram vindo, mas na luta. Só em você conseguir estudar já era
uma conquista. Contei com ajuda de alguns professores solidários com a nossa causa. Isso me
entusiasmou (BÁRBARA, trecho da entrevista concedida em 16 jun. 2018).
Para Bárbara, o olhar colaborativo de alguns professores criou a promoção do
desenvolvimento escolar deles. Os professores de algumas disciplinas técnicas se sentiram motivados
para encarar esse desao de educar o estudante com DV. Desse modo, esses professores dedicaram
parte de sua atenção a eles, proporcionando apoio sem segregar, excluir, isolar e sem criar guetos