Análise da literatura Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 113-126, Jul.-Dez., 2022 113
https://doi.org/10.36311/2358-8845.2022.v9n2.p113-126
is is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
Análise dA literAturA: desenvolvimento de estrAtégiAs de ensino pArA
estudAntes com deficiênciA visuAl nAs AulAs de educAção físicA
Literature review: deveLopment of teaching strategies for students with
visuaL impairments
Milena PEDRO DE MORAIS
1
José Pedro FERREIRA
2
Resumo: o desenvolvimento de estratégias de ensino para a prática pedagógica com estudantes com deciência visual representa
um grande desao para os professores de Educação Física, sobretudo considerando as questões de acessibilidade e adaptação neces-
sária ao equipamento de aula. Nesse contexto, analisamos a produção acadêmica no período de 2012 a 2022, com o objetivo de
identicar na literatura as possibilidades e o desenvolvimento de estratégias de ensino para estudantes com deciência visual nas
aulas de Educação Física. Esta é uma pesquisa qualitativa que se caracteriza como um estudo de revisão de literatura. A coleta de
informações ocorreu no mês de Junho de 2022 através das bases de dados ERIC, EBSCO, SportsDiscus, Scielo - Scientic Electronic
Library Online, Lilacs e Scopus com os termos deciência visual AND educação física AND estratégias de ensino; visual impairment
AND physical education AND teaching strategies com periodo de 2012 a 2022. Foram encontrados no total 260 artigos, sendo que
230 artigos foram excluídos por não atenderem os critérios de inclusão, 10 artigos foram excluídos por duplicidade, cando 20
artigos analisados. Concluindo que a literatura mostra-se incipiente para subsidiar a formação docente ressaltando - se a distância
ainda existente entre o conhecimento acadêmico e a realidade do contexto escolar além dos desaos vivenciados pelos professores
e professoras, o que diculta a elaboração e efetivação de ações pedagógicas equitativas.
Palavras-Chave: Estratégias de ensino. Deciência visual.Educação física.
Abstract: the development of teaching strategies for pedagogical practice with visually impaired students represents a great challen-
ge for Physical Education teachers, especially considering the issues of accessibility and necessary adaptation to the classroom equi-
pment. In this context, we analyzed the academic production from 2012 to 2022, with the objective of identifying in the literature
the possibilities and the development of teaching strategies for students with visual impairment in Physical Education classes. is
is qualitative research that is characterized as a literature review study. Data collection took place in June 2022 through the ERIC,
EBSCO, SportsDiscus, Scielo - Scientic Electronic Library Online, Lilacs and Scopus databases with the terms visual impairment
AND physical education AND teaching strategies; visual impairment AND physical education AND teaching strategies from
2012 to 2022. A total of 260 articles were found, of which 230 articles were excluded for not meeting the inclusion criteria, 10
articles were excluded due to duplicity, leaving 20 articles analyzed. Concluding that the literature is incipient to support teacher
training, highlighting the distance between academic knowledge and the reality of the school context, in addition to the challenges
experienced by teachers, which makes it dicult to develop and implement equitable pedagogical actions .
Keywords: Teaching strategies. Visual Impairment. Physical education.
Doutora em Educação Física. Prefeitura Municipal de Itanhaém (SP - Brasil) Email: milena.educacaosica@gmail.com Orcid:
https://orcid.org/0000-0003-3821-4306
2
Doutor em Ciências da Saúde e do Exercício. Universidade de Coimbra Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física:
Coimbra (Coimbra, Portugal). Email: jpferreira@fcdef.uc.pt Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4427-3276
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PEDRO DE MORAIS, M.; FERREIRA, J. P.
1 introdução
O desenvolvimento de estratégias de ensino para a prática pedagógica com estudantes com
deciência visual representa um grande desao para os professores de Educação Física, sobretudo
considerando as questões de acessibilidade e adaptação necessária ao equipamento de aula.
Haegele e colaboradores (2019) ressaltam que a Educação Física tem sido questionada
se é efetivamente inclusiva, isto porque muitas vezes os estudantes com deciência visual estão
apenas presentes no contexto escolar e integrados aos demais estudantes. Contudo, sem acesso ao
conhecimento pela falta de adaptações curriculares, adequações nas estratégias de ensino e falhas
formativas no processo de formação prossional docente. Neste contexto, não se caracteriza o
processo de ensino inclusivo, pois o estudante com deciência visual não tem o suporte necessário
para participar das aulas.
As ações formativas na perspectiva inclusiva são um caminho essencial que urge ser
reestruturado para atender às necessidades e demandas dos professores de Educação Física atuantes
na Educação Básica, os quais relatam sentimentos de insegurança e a percepção de baixos níveis
de autoecácia docente para a atuação em contexto inclusivo conforme apontam Fernandes e
colaboradores (2019).
Nesse contexto, um conjunto de fatores interfere de forma negativa no desenvolvimento
de ações pedagógicas inclusivas e equitativas, apesar do esforço empreendido pelos professores de
Educação Física em atuar como agentes transformadores dessa realidade ( Morais et al., 2019).
Considerando todo este complexo cenário do contexto escolar, analisamos a produção
acadêmica no período de 2012 a 2022, com o objetivo de identicar na literatura as possibilidades
e o desenvolvimento de estratégias de ensino para estudantes com deciência visual nas aulas de
Educação Física.
2 método
Esta é uma pesquisa qualitativa que se caracteriza como um estudo de Revisão de Literatura
(TURATO, 2005; FLICK, 2009). Foram considerados estudos que abordavam como participantes
crianças e adolescentes com deciência visual com idade entre 5 e 14 anos e estudantes da Educação
Básica e/ ou professores de Educação Física escolar em processo de formação continuada que atuam
com estes estudantes.
A coleta de informações aconteceu no mês de Junho de 2022, sendo utilizadas oito
bases de dados: ERIC, EBSCO, Scielo - Scientic Electronic Library Online, Lilacs, Scopus, PubMed,
Science Direct, Clarivate. Estas bases foram escolhidas pela especicidade da temática abordada e
por serem bases de dados indexadas, todas estas informações foram organizadas em um quadro para
a visualização e posterior análise do conteúdo conforme Gomes e De Oliveira Caminha (2014).
A busca dos artigos foi realizada com os termos deciência visual AND Educação Física
AND estratégias de ensino; visual impairment AND physical education AND teaching strategies com
período de 2012 a 2022 nos idiomas “ Inglês, Espanhol e Português”. Sendo utilizado o resumo
para a primeira triagem na busca de palavras-chave nas bases de dados.
Como critérios de inclusão foram considerados artigos que exploravam estudos realizados
no âmbito do desenvolvimento de estratégias de ensino para estudantes com deciência visual
Análise da literatura Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 113-126, Jul.-Dez., 2022 115
em aulas de Educação Física escolar, estudos desenvolvidos no contexto escolar sob a perspectiva
inclusiva e estudos que abordem a formação de professores considerando-se a ação docente na
Educação Básica.
Como critérios de exclusão foram considerados estudos que exploravam ação pedagógica
no contexto da Educação Especial e/ou atendimento educacional especializado, estudos que
discutiam ações educacionais desenvolvidas no contexto da reabilitação e o desenvolvimento de
estratégias para o treinamento paralímpico e/ou paradesportivo; estudos duplicados.
3 resultAdos e discussão
Na primeira fase da busca nas bases de dados foram encontrados 260 artigos sendo: Lilacs
(0) ; Scielo (1) ; Scopus (8); ERIC (18) ; EBSCO (3) ; PubMed (45); Science Direct (178); Clarivate
(9) .
Na segunda fase foi realizada a leitura dos resumos de cada um dos artigos encontrados
e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, sendo que nessa fase foram excluídos 230 artigos
pelos critérios de exclusão e 10 artigos por duplicidade. Pelos critérios de inclusão foram incluídos
20 artigos, os quais foram lidos na íntegra e analisados conforme os seguintes itens: idioma e local
de publicação do estudo; ano de publicação; objetivo; método; participantes da pesquisa; resultados
e conclusão.
Neste sentido, os resultados encontrados foram organizados em três categorias, “ Olhar
sobre as características metodológicas; Processo de formação docente na perspectiva inclusiva;
Estratégias de ensino e Adaptações curriculares e pedagógicas na aula de Educação Física.
Olhar sobre as características metodológicas
Nesta primeira categoria, discutimos as características metodológicas dos estudos
analisados como o ano de publicação, os objetivos almejados pelos autores e autoras e o método de
coleta e análise de informações utilizados.
Desta forma, ao analisar o item “ano de publicação”, observamos que nos anos de 2014
e 2021 houve a publicação de apenas 1 artigo com a referida temática e no ano de 2018 não houve
publicações, revelando um decréscimo na produção de conhecimento cientíco para a Educação
Física na perspectiva inclusiva, fato também observado por Silva e colaboradores (2022).
Em relação ao “local de publicação”, dos 20 artigos analisados, 13 foram publicados por
autores ligados às universidades norte-americanas . No ano de 2012 foram publicados dois artigos,
sendo um no Reino Unido e um na África do Sul; no ano de 2013 também foram publicados dois
artigos sendo um em universidade norte-americana e um no Brasil; no ano de 2014 foi publicado
apenas um artigo como supracitado; no ano de 2015 foram publicados três artigos, sendo um em
universidade norte-americana e dois artigos em parceria do Brasil e da Grécia com universidades
norte-americanas, respectivamente; nos anos de 2016 e 2017 foram publicados dois artigos em
cada ano igualmente em universidades norte-americanas; no ano de 2018 não houve publicação;
no ano de 2019 foram publicados três artigos sendo que dois destes foram em universidades norte-
americanas e um artigo na Espanha; no ano de 2020 temos o mesmo cenário de 2016 e 2017; no
ano de 2021 foi publicado um artigo na África do Sul e no ano de 2022 até o mês de junho foram
publicados dois artigos, sendo um no Reino Unido e outro na Turquia. Todas estas informações
podem ser visualizadas no gráco 1.
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PEDRO DE MORAIS, M.; FERREIRA, J. P.
Gráco 1 - Local e quantidade de publicações dos artigos analisados
Fonte: Elaboração própria.
Em relação aos objetivos pretendidos pelos estudos analisados, observamos a frequente
preocupação em buscar compreender, descrever e analisar os processos formativos e as percepções
sobre este, de professores de Educação Física, professores especialistas no atendimento aos estudantes
com deciência visual e/ou estudante com deciência, familiares e os próprios estudantes. Além do
planejamento de estratégias de ensino, desenvolvimento de adaptações curriculares, realização de
intervenções formativas a m de possibilitar a efetivação de processos pedagógicos mais equitativos
e participação dos estudantes com deciência visual em jogos, brincadeiras e sessões de atividade
física.
Considerando a perspectiva pedagógica presente nos objetivos supracitados, visualizamos
que o processo formativo inicial e continuado tem sido abordado como um caminho essencial para
o desenvolvimento de atitudes positivas a m de facilitar o processo de aprendizagem do estudante
com deciência através da adaptação de estratégias de ensino priorizando a participação deste aluno
durante as atividades propostas.
Sobre o Método para coleta e análise de informações observamos que quatro estudos
realizaram a aplicação de questionários com questões fechadas com a participação de professores
de Educação Física; dois estudos realizaram revisões sistemáticas e sete pesquisas realizaram revisões
de literatura a m de fornecer e analisar uma síntese da literatura acerca de estudos que envolvam
a Educação Física e os estudantes com deciência visual, desta forma as diferenças entre estes dois
tipos de revisão se estabelece pelo processo metodológico percorrido segundo Gomes e De Oliveira
Caminha (2014); dois estudos realizaram pesquisa documental utilizando propostas pedagógicas,
documentos curriculares e sistemas de informação de Educação; um estudo realizou uma ação de
planejamento colaborativo com os professores de Educação Especial e Educação Física; um estudo
foi caracterizado como estudo de caso; um estudo utilizou grupo experimental com intervenção e
grupo controle e dois estudos realizaram a coleta de informações através de entrevistas individuais
e/ou grupo focal de forma semiestruturada.
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PROCESSO DE FORMAÇÃO DOCENTE NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
Na segunda categoria, apresentamos os resultados de estudos que mantiveram o foco na
discussão sobre o processo de formação de professores de Educação Física para a atuação no contexto
escolar inclusivo, considerando as demandas e necessidades formativas relativas aos estudantes com
deciência visual.
Lieberman e Conroy (2013) aplicaram um questionário com questões abertas e fechadas
para 143 paraeducadores
3
e familiares de estudantes com deciência visual com o objetivo de
determinar as práticas atuais de formação para estes prossionais atuantes em sala de aula e descrever
as necessidades formativas necessárias para este processo, considerando que os paraeducatores
acompanham também as aulas de Educação Física.
Os autores observaram que apenas 11% dos paraeducadores participantes da pesquisa
vivenciaram processos formativos em Educação Física. Desta forma, recomendam que esta
formação urge abranger práticas de segurança para a realização das atividades e para a adaptação
de materiais de aulas, técnicas de mobilidade e orientação, elaboração de estratégias de ensino,
informações especícas sobre características da deciência visual, além da adaptação curricular
(LIEBERMAN;CONROY, 2013).
Concluindo que este processo formativo, na visão dos autores, pode ser facilitado através
da participação de crianças com deciência visual na formação docente para que os paraeducadores
tenham contato e experiência na atuação com estes estudantes (LIEBERMAN;CONROY, 2013).
A necessidade e importância do contato de estudantes de Educação Física com pessoas
com deciência durante o processo de formação prossional é uma temática que tem sido discutida
pela literatura, no sentido de propiciar a vivência nos desaos da prática docente antecipadamente
ao ingresso destes professores no contexto escolar ( MORAIS, 2021).
Ainda sobre as necessidades formativas de professores de Educação Física e as adaptações
curriculares para o processo de ensino e aprendizagem com estudantes com deciência visual,
Fiorini, Deliberato e Manzini (2013) realizaram um estudo com o objetivo de planejar estratégias
de ensino e adaptações de recursos com foco na inclusão educacional do aluno com deciência
visual fundamentando-se nas atividades contidas na Proposta Curricular do Estado de São Paulo.
Para tanto, os autores organizaram este processo de análise em três etapas a partir da
análise da Proposta Curricular e cada etapa considerou um objetivo especíco diferenciado como
explicitado a seguir: Etapa 1- identicar os temas propostos para cada bimestre; Etapa 2- analisar o
caderno do professor” em termos de situações de aprendizagem e o desenvolvimento de cada uma
delas e Etapa 3- planejar estratégias de ensino e adaptações de recursos. Dez estratégias de ensino
foram planejadas, quatro novos recursos foram indicados e duas adaptações de recursos pedagógicos
foram sugeridas para as aulas (FIORINI; DELIBERATO; MANZINI, 2013).
Os resultados apontaram que as atividades do tema 1 permitiram um planejamento
de estratégias de ensino voltado à participação do aluno com deciência visual juntamente aos
alunos sem deciência, destacando-se o planejamento de 10 estratégias de ensino diferentes para
Paraeducadores são professores auxiliares ao professor de turma e atuam com o objetivo de auxiliar na implementação de
estratégias de ensino especícas a determinado estudante com deciência conforme o Plano de Ensino Individualizado ( PILETIC;
DAVIS; ASCHEMEIER, 2005).
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PEDRO DE MORAIS, M.; FERREIRA, J. P.
organizações pedagógicas nas aulas de Educação Física (FIORINI; DELIBERATO; MANZINI,
2013).
Estas estratégias referem-se à comunicação como a utilização da dica verbal para
explicações e vericar a linguagem utilizada, sendo claro e objetivo, evitando uso de coordenadas
espaço-temporais; ao uso de material em Braille; ao auxílio e técnicas de treinamento do colega
tutor; ao uso de objetos reais para explicar a atividade; à descrição de guras; ao método de ensino
todo-parte-todo; à modicação das regras do jogo; à orientação do trajeto a ser percorrido pelo
aluno: auditivamente, por exemplo, bater palmas ou usar chocalhos, ou então, com colchonetes;
à exploração do ambiente de aula e ao uso da corda-guia para atividades de corrida (FIORINI;
DELIBERATO; MANZINI, 2013).
Com relação aos equipamentos de aula, os autores sugerem materiais que não são considerados
pela Proposta Curricular, como colchonetes, ta adesiva amarela, guizos, papel celofane e sacos plásticos.
Estes materiais podem ser utilizados para adaptações como, por exemplo, no uso da bola, no sentido de
torná-la perceptível auditivamente, seja envolvendo-a em papel celofane e/ou sacos plásticos, ou então,
colocando guizos em seu interior e ao cone, que pode ser colorido ou encapado com cores vibrantes
(FIORINI; DELIBERATO; MANZINI, 2013).
Cabe ressaltar que as adaptações nas estratégias de ensino, assim como as adaptações
curriculares podem ser modicadas a qualquer momento, concluindo que estas adaptações
permitiram um planejamento pedagógico voltado à participação do aluno com deciência visual
juntamente com alunos sem deciência (FIORINI; DELIBERATO; MANZINI, 2013).
Reina e colaboradores (2019) realizaram a aplicação do questionário Self-Ecacy Scale for
Physical Education Teacher Education Majors towards Children with Disabilities, o qual foi traduzido
e validado para a língua portuguesa por Campos e colaboradores ( 2022), com a denominação
Escala de Autoecácia na Educação Física Inclusiva ( EAE - EFI).
Este questionário foi aplicado por Reina e colaboradores (2022) antes e após a intervenção
formativa e o estudo contou com a participação de 229 professores de Educação Física atuantes na
Espanha e 40 professores no grupo controle, com o objetivo de avaliar o efeito de um programa
de treinamento chamado Incluye-T sobre a autoecácia de professores de Educação Física para a
inclusão de estudantes com deciência nas aulas, em comparação com um grupo controle.
Os autores explicitaram que existem melhorias signicativas na autoecácia docente em
relação ao grupo controle de todas as subescalas da escala de autoecácia: deciências intelectuais,
físicas e visuais (p < 0,01 para tamanhos de efeitos de grande porte). Todas as subescalas de
autoecácia dos professores melhoraram independentemente de suas congurações de ensino,
como por exemplo, atuação em escolas primárias ou secundárias e sexo. Concluíram que existem
implicações para a futura provisão de desenvolvimento prossional formativo em contexto inclusivo,
incluindo as estratégias formativas, materiais ou a duração da intervenção (REINA et al., 2019).
Kasap e Bahçalı (2022) realizaram uma pesquisa descritiva com nove professores de duas
universidades diferentes na Turquia que tinham experiência no ensino de alunos com deciência (e/
ou transtornos globais do desenvolvimento) e para a coleta de informações foi aplicada a entrevista
semiestruturada.
Os autores almejaram como objetivo examinar as percepções e experiências dos
docentes em relação aos seus alunos com deciência, sobretudo estudantes com deciência visual,
e observaram que os docentes não são informados das características da deciência e necessidades
Análise da literatura Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 113-126, Jul.-Dez., 2022 119
pedagógicas destes alunos, para que possam planejar a ação educativa. Essa situação pode afetar a
qualidade da aula e das atividades propostas (KASAP; BAHÇALI, 2022).
Neste contexto, os professores enfatizaram a importância da socialização dos estudantes
com deciência visual com seus pares durante as aulas, insistiram na necessidade de usar a tecnologia
e relataram desconhecerem os centros de recursos ofertados pelas universidades ressaltando a
importância da aproximação entre a universidade e a escola para que o processo colaborativo seja
mais efetivo (KASAP; BAHÇALI, 2022).
Le Fanu, Schmidt e Virendrakumar (2022) realizaram uma pesquisa com objetivo de
discutir a oferta de educação para crianças com deciência visual na África Subsaariana. A coleta de
informações aconteceu através da análise de dados quantitativos coletados através dos Sistemas de
Informação de Gestão da Educação (EMISs) de 11 países sendo Camarões, Gana, Quênia, Libéria,
Malawi, Mali, Nigéria, Senegal, Sierra Leone, Uganda e Zâmbia.
Os autores explicitaram que é importante adotar uma abordagem centrada na pessoa
e sensível ao contexto, que defenda o desenvolvimento educacional e a cultura, entendendo
a Educação Inclusiva como um direito de todos. Além disso, os professores precisam se engajar
criticamente com as modalidades de desenvolvimento que reforcem a exclusão dos atores locais,
especialmente as pessoas com deciência, dos processos de desenvolvimento, o que requer
mudanças estruturais para sanar desigualdades de acesso ao conhecimento e a recursos (LE FANU;
SCHMIDT; VIRENDRAKUMAR, 2022).
Concluindo que os diferentes contextos sociais tornaram-se cada vez mais desaadores
na África subsaariana, à medida que os governos percebem-se sobrecarregados e têm buscado
atender às necessidades de um número crescente de estudantes enquanto lidam com o impacto
do aquecimento global e da pandemia Covid-19 sobre os sistemas educacionais (LE FANU;
SCHMIDT; VIRENDRAKUMAR, 2022).
Desaos estes que devem ser enfrentados pela comunidade internacional para que
as crianças com deciência visual na África Subsaariana, juntamente com outras crianças com
deciência, possam desfrutar de uma educação inclusiva de boa qualidade, como prometido
pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deciência (LE FANU; SCHMIDT;
VIRENDRAKUMAR, 2022).
ESTRATÉGIAS DE ENSINO, ADAPTAÇÕES CURRICULARES E
PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Na terceira categoria, discutimos os resultados de pesquisas com ênfase no
desenvolvimento de estratégias de ensino, adaptações curriculares e pedagógicas para o processo de
ensino e aprendizagem destes estudantes.
McLinden (2012) realizou uma revisão de literatura a m de fornecer uma síntese do
conhecimento relativa ao desenvolvimento de estratégias exploratórias em crianças com deciência
visual e intelectual. O estudo ressalta a importância em se considerar o papel do colega que é par
tutor e/ou parceiro de aprendizagem da criança ao atribuir signicado na ação educativa através do
compartilhamento e mediação de informações e estratégias de ensino para atender às necessidades
individuais da criança.
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PEDRO DE MORAIS, M.; FERREIRA, J. P.
McLinden (2012) concluiu que existem inúmeras implicações para o desenvolvimento
de abordagens pedagógicas e elaboração de estratégias de intervenção adequadas ao processo de
desenvolvimento pedagógico. Desta forma, é essencial o papel do parceiro adulto, professor ou
familiar, da criança na mediação de experiências de aprendizagem para garantir que elas sejam
adequadamente estruturadas e progressivas (MCLINDEN, 2012).
Habulezi e Phasha (2012) abordaram a natureza do apoio à aprendizagem fornecido aos
alunos com deciência visual em Botsuana. Para isso, os autores realizaram observações durante
três meses de sessões presenciais e entrevistas individuais com oito alunos com deciência visual;
5 professores especialistas; Brailist, Assistente de Professor, 2 membros da equipe de gestão,
3 professores comuns e funcionários do centro de recursos, 3 funcionários do Fundo de
Reabilitação e Desenvolvimento e 3 pais de alunos com deciência visual.
A pesquisa apontou quatro temas essenciais, os quais inuenciam e são inuenciados
pelo processo de ensino e aprendizagem sendo a categoria “a” os ajustes físicos na ação motora
e nos equipamentos de aula utilizados pelos estudantes com deciência visual; na categoria “b
consideram-se os ajustes curriculares como a exibilização do processo de ensino e elaboração de
estratégias; na categoria “c” se discute sobre a complexidade, planejamento e efetivação de práticas
pedagógicas e na categoria “d” ressalta-se a importância do apoio comunitário (HABULEZI;
PHASHA, 2012).
Lieberman e colaboradores (2014) realizaram uma revisão de literatura a m de fornecer
sugestões a administradores, professores de alunos com deciência visual, instrutores de orientação
e mobilidade e professores de Educação Física sobre o planejamento colaborativo considerando as
adaptações curriculares necessárias ao estudante com deciência visual. Concluem que este processo
pode facilitar a participação deste estudante nas aulas, além das possibilidades de ampliação do
currículo e otimização do potencial de aprendizagem inerente à cada estudante.
Haegele (2015) apresentou uma revisão de literatura com o objetivo de descrever como
os educadores podem utilizar estratégias de generalização para promover a atividade física no lazer
de pessoas com deciência visual. O autor explicita que esta generalização refere-se à aquisição de
habilidades, competências e comportamentos para a prática de atividade física com autonomia
fora do ambiente escolar, como por exemplo, ensinar aos alunos habilidades de autogestão e como
usar pedômetros falantes e equipamentos que podem contribuir para a mobilidade e orientação.
Desta forma, ampliam-se as possibilidades de este estudante participar de atividades de lazer fora do
contexto escolar, efetivando-se a perspectiva inclusiva.
Também em relação à promoção da atividade física para pessoas com deciência visual,
Da Cunha Furtado e colaboradores (2015) realizaram uma revisão de literatura com o objetivo de
sintetizar o conhecimento disponível sobre intervenções relacionadas à atividade física para crianças
e jovens com deciência visual.
Neste estudo, os autores observaram que, após a avaliação inicial de 2.495 publicações,
foram encontrados 18 estudos originais de texto completo publicados em inglês. Destes, oito estudos
referem-se ao treinamento de exercícios que produziram efeito positivo geral nos resultados físico-
tness e de habilidade motora; cinco intervenções de lazer-atividade física e cinco intervenções de
estratégia instrucional também foram encontradas com propostas promissoras para engajar e instruir
crianças e jovens com DV a levar um estilo de vida ativo. Para os autores há muitas limitações na
produção de pesquisas com alta qualidade sobre a intervenção de atividade física para crianças e
jovens com deciência visual ( DA CUNHA FURTADO et al., 2015).
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Strogilos e Stefanidis (2015) realizaram um estudo com o objetivo de analisar se as
atitudes dos participantes em relação à ecácia do coensino para estudantes com deciência estão
relacionadas às suas preferências em relação às modicações do currículo, à participação de alunos
com deciência em grupos de habilidades mistas e ao envolvimento ativo dos professores de ensino
integral em alunos codocentes com deciência. Para tanto, os autores aplicaram um questionário
para explorar as atitudes de 400 coprofessores em relação à ecácia do coensino, dentre estes 13
prossionais que atuam com estudantes com deciência visual. Concluindo que o coensino é
uma prática em expansão e que atravessa fronteiras culturais e países, contribuindo muito para
o desenvolvimento do coensino internacional, além de beneciar outros sistemas de ensino mais
avançados.
Whinery, Whinery e Eddins (2016) descreveram uma estratégia de instrução para o
ensino de habilidades motoras funcionais dentro de atividades de Educação Física com estudantes
com deciências múltiplas incluindo as deciência intelectual, deciência visual e a deciência
física. Para tanto, foram participantes da pesquisa professores de Educação Física e terapeutas, os
quais realizaram um processo de planejamento colaborativo para desenvolver atividades para a
prática de habilidades prioritárias no sentido da participação ativa em atividades de vida diária.
Os autores observaram que os professores são desaados a organizar a gestão da aula para
as estratégias de instrução no sentido de atender às variadas necessidades dos alunos com deciência.
Concluem que os professores de alunos com deciências graves e múltiplas, incluindo deciências
físicas, enfrentam maiores desaos, pois grande parte do período de aula é dedicado às tarefas
como transições físicas, posicionamento em equipamentos adaptativos e terapias educacionais
(WHINERY; WHINERY; EDDINS, 2016).
Com o objetivo de obter um panorama das experiências atuais de professores de Educação
Física em escolas para estudantes cegos nos Estados Unidos, Haegele e Lieberman (2016) aplicaram
um questionário para 51 professores de Educação Física atuantes em 35 escolas para pessoas com
deciência visual. Este questionário era constituído com perguntas abertas e fechadas e de resposta
curta abordando quatro temáticas como: as características do professor, as práticas de ensino, as
populações estudantis atendidas e as instalações físicas disponíveis.
Os resultados desta pesquisa indicaram que a maioria dos professores de Educação Física
relatou que suas respectivas escolas empregam professores certicados, utilizam currículos vinculados
aos padrões estaduais ou nacionais e possuem uma variedade muito grande de equipamentos para os
alunos com deciência visual utilizarem nas aulas.
Nesse contexto, estes professores conseguem oferecer grande variedade de esportes,
concluindo que fatores negativos como a falta de sistemas de avaliação pedagógica especíca para
a Educação Física Adaptada e a necessidade de formação adicional para professores relacionados
a crianças surdas e estudantes com deciência visual e transtorno do espectro autista podem
representar desaos para a prática docente (HAEGELE; LIEBERMAN, 2016).
Mowling, Fittipaldi-Wert e Favoretto (2017) realizaram uma revisão de literatura
apresentando estratégias de ensino para Soundball com os objetivos de fornecer informações sobre
as modicações de regras para o jogo de tênis; oferecer estratégias de ensino para a adaptação de
equipamentos apropriados para atender às necessidades de alunos com deciência visual e fornecer
modicações para incorporar o Soundball na Educação Física.
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Os autores explicitam que o Soundball é uma adaptação ao tênis bastante eciente e
pode ser facilmente implementado no currículo de Educação Física. Desta forma, o Soundball
promove um ambiente inclusivo onde todos os alunos podem melhorar suas habilidades motoras,
participar de jogos e socializar com os colegas de turma. Os autores concluem ser importante que os
professores se sintam conantes ao fazer modicações nos equipamentos e atividades. Em relação
ao equipamento, é necessário ressaltar o fato de que o sucesso da bola com som depende muito do
meio ambiente. Nesse contexto, é fundamental que os alunos reconheçam a necessidade de silêncio
durante os treinos, atividades e jogos, ao mesmo tempo em que comemoram e vibram com a chance
de marcar pontos. Assim, a prática do Soundball pode colaborar para que estudantes cegos ou com
baixa visão tenham maior acesso às oportunidades para a prática de atividade física ao longo da vida
(MOWLING; FITTIPALDI-WERT; FAVORETTO, 2017).
Coleman (2017) realizou uma revisão de literatura com o objetivo de fornecer evidências
e exemplos de atividades musicais que possam promover o movimento com autonomia para
alunos com deciência visual. A pesquisa explicita que os alunos recebem feedback de várias fontes
diferentes dentro de seu ambiente de aula. Desta forma, os resultados demonstraram que o feedback
mais efetivo para os alunos é imediato e auditivo, com base no que zeram ou não. Para o autor, os
alunos têm a oportunidade de praticar atividades de movimento em múltiplos contextos com maior
possibilidades de ação, como na sala de aula de música, as habilidades são mais propensas a serem
apreciadas e a transição para ambientes fora da sala de aula.
Stribing e colaboradores (2019) desenvolveram uma revisão de literatura almejando dar
subsídios e aportes para apoiar os professores de Educação Física ao ensinar habilidades de manejo
e controle de objetos a alunos com deciência visual nas aulas de Educação Física. Os autores
concluíram que os estudantes com deciência visual podem seguir o mesmo currículo que seus
pares, desde que tenham o suporte para a realização das aulas.
Nesse sentido, as três principais habilidades de controle de objetos estudados foram
rolar, bater e chutar, além de diversas estratégias pedagógicas utilizadas para ensinar alunos com
deciência visual como a modelagem tátil, a orientação física e o método completo. Assim, para
que os alunos com deciência visual possam praticar esportes e participar das atividades propostas
eles devem ser incluídos em progressões apropriadas ao processo de desenvolvimento (STRIBING
et al., 2019).
Lieberman e colaboradores (2019) desenvolveram uma revisão de literatura com o
objetivo de fornecer algumas estratégias básicas para a inclusão de crianças com deciência visual
nas aulas de Educação Física e avançar em direção à participação plena no ambiente escolar.
Nesse estudo, os autores explicitam que as crianças com deciência visual podem se
destacar em esportes e atividades físicas quando recebem as ferramentas adequadas para experimentar,
aprender e praticar as atividades e habilidades propostas. Concluindo que os professores podem
implementar modicações em suas aulas para que estes estudantes tenham a oportunidade de
fazer amigos, atuarem como agentes ativos do processo de ensino e aprendizagem e ainda compor
equipes esportivas.
Miyauchi (2020) realizou revisão de literatura considerando o período entre 1980 a
2020, com o objetivo de compreender dois dos temas mais abordados pela literatura em relação
à perspectiva inclusiva para estudantes com deciência visual, sendo analisadas as percepções dos
professores na Educação em geral, inclusive professores de Educação Física e os desaos enfrentados
pelos alunos com deciência visual no acesso a disciplinas acadêmicas.
Análise da literatura Artigos
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 113-126, Jul.-Dez., 2022 123
O estudo apontou que as atitudes dos professores em relação à inclusão de alunos
com deciência visual apresentam aspectos positivos e negativos e são inuenciadas por fatores
relacionados ao professor, ao aluno e ao meio ambiente. Desta forma, a percepção de sentir-se
despreparado é um dos principais fatores relacionados ao aspecto “professor” e em relação ao
acesso às disciplinas acadêmicas, os aspectos mais discutidos relacionam-se à Matemática, Ciências
e Educação Física. Concluindo que, apesar dos alunos com deciência visual estarem estudando
integrados dentro do nível de série, é aparente a exclusão na participação em atividades em sala
de aula, conforme também citado por Haegele e colaboradores (2019). Estando os desaos da
prática docente centrados no desenvolvimento de estratégias pedagógicas ecazes, nas ferramentas
de ensino-aprendizagem, na falta do apoio externo e nas necessidades formativas para atuação em
contexto escolar inclusivo (MIYAUCHI, 2020).
Brian e colaboradores (2020) com grupo de intervenção e grupo controle com 94
participantes divididos em quatro grupos, tiveram como objetivo examinar a inuência de estratégias
de intervenção por 6 semanas, implementadas pelos pais ou professores de Educação Física sobre
as habilidades locomotoras de crianças com deciência visual, com idade variando de 5 a 18 anos.
Os autores observaram que as crianças com deciência visual frequentemente apresentam
níveis extremamente baixos de prática de atividade física e atrasos de desenvolvimento motor. Nesse
contexto, os pais e professores de Educação Física são agentes críticos nas escolhas das atividades
propostas, as quais conduzem e apoiam o desenvolvimento destas habilidades (BRIAN et al., 2020).
Concluindo que independentemente de sexo ou nível acadêmico escolar, o
desenvolvimento motor de nenhum participante atendeu às expectativas de idade. Contudo, a
intervenção realizada apresenta efeito positivo, sendo necessária a replicação do estudo para
aprofundar a compreensão destes resultados apresentados (BRIAN et al., 2020).
Ralejoe (2021) investigou as percepções sobre educação inclusiva no que se refere
aos alunos com deciência visual. Participaram 8 alunos com idade entre 16 e 23 anos que são
estudantes em uma escola secundária no distrito de Maseru, no Lesoto. Para tanto, foi realizado um
estudo de caso com dois grupos focais. O estudo explicita que os alunos com e sem deciência visual
apresentaram opiniões mistas sobre a integração dos alunos com deciência visual em sua escola,
apontando recursos inadequados e a infraestrutura, que na visão dos estudantes é pouco acolhedora
e diculta essa integração. Por sua vez, os estudantes com deciência visual também apontaram
a exclusão das atividades esportivas por seus pares, o uso ocasional da linguagem excludente por
alguns de seus professores, os quais por vezes falam que as escolas especiais eram melhores lugares
para eles (RALEJOE, 2021).
Cabe ressaltar que todos os alunos armaram alguns dos benefícios de incluir alunos
com deciência visual em sua escola. Assim, estes alunos armam que a inclusão melhorou sua vida
social e permitiu novas formas de conviver com outras pessoas (RALEJOE, 2021).
4 considerAçÕes finAis
Identicamos nos 20 estudos encontrados e analisados que há uma quantidade
signicativa de ações formativas realizadas no sentido de contribuir para que o professor de Educação
Física e outros prossionais constituintes ao processo de ensino e aprendizagem se sintam seguros e
capacitados para lecionar para estudantes com deciência visual.
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Neste contexto, estratégias formativas como a participação de pessoas com deciência
visual na formação docente, o desenvolvimento do planejamento colaborativo com a participação
de familiares dos estudantes e equipes multidisciplinares, a realização de formações continuadas
a distância e o uso do aporte tecnológico buscam aproximar o conhecimento acadêmico às
necessidades e demandas formativas sentidas pelos professores de Educação Física.
Contudo, estes estudos apontam a diculdade sentida pelos docentes em relação à falta
de acessibilidade e infraestrutura nos espaços escolares, além da carência de recursos humanos e
materiais para a adaptação curricular e das estratégias de ensino para que o acesso ao conhecimento
aconteça de forma equitativa.
Em relação ao desenvolvimento das estratégias de ensino e adaptações curriculares ressalta-
se a preocupação em propiciar a participação dos estudantes com deciência visual nas atividades
propostas com a adaptação de Jogos e Brincadeiras como o Soundball, através da realização de ações
pedagógicas com o par tutor, além da participação de paraeducadores e coprofessores nas aulas,
iniciando o processo de planejamento das aulas pelo feedback destes estudantes sobre os desaos e
percepções visualizadas como armam Lieberman e colaboradores (2014).
Considerando o objetivo inicialmente almejado de identicar na literatura as
possibilidades e o desenvolvimento de estratégias de ensino para estudantes com deciência visual
nas aulas de Educação Física, observamos a pequena quantidade de pesquisas publicadas no período
de dez anos (2012 a 2022) com professores de Educação Física, atuantes na Educação Básica com
estudantes com deciência visual.
Desta forma, a literatura mostra-se incipiente para subsidiar a formação docente
ressaltando - se a distância ainda existente entre o conhecimento acadêmico e a realidade do contexto
escolar além dos desaos vivenciados pelos professores e professoras, o que diculta a elaboração e
efetivação de ações pedagógicas equitativas.
Por m, recomendamos a realização de estudos aprofundados com intervenção na
formação continuada de professores de Educação Física atuantes na Educação Básica considerando
todos estes desaos pedagógicos, características do processo de ensino e fatores estruturais
supracitados.
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