74 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 2, p. 71-84, Jul.-Dez., 2022
SILVA, D. P. A. F.; MACAMBIRA, L. S. A.
portanto, uma transformação de si. Nesse mesmo caminho Larrosa (2014) nos ajuda a pensar na
experiência como aquilo
[...] que nos acontece, não o que acontece, mas sim o que nos acontece. Mesmo que tenha a
ver com a ação, mesmo que às vezes aconteça na ação, não se faz a experiência, mas se sofre,
não é intencional, não está do lado da ação e sim do lado da paixão. Por isso a experiência é
atenção, escuta, abertura, disponibilidade, sensibilidade, exposição. Se a linguagem da crítica
elabora a reexão de cada um sobre si mesmo a partir do ponto de vista da ação, a linguagem
da experiência elabora a reexão de cada um sobre si mesmo a partir do ponto de vistada
paixão. O que necessitamos então é uma linguagem na qual seja possível elaborar (com outros)
o sentido ou a ausência de sentido do que nos acontece e o sentido ou a ausência de sentido das
respostas que isso que nos acontece exige de nós. (p. 28).
Nesse movimento que buscamos ao escrever: dar sentido ao que nos acontece, dar
sentido à experiência e ao seu efeito transformador. Narrar o que nos passa, como experiência,
possibilita-nos armar o encontro educacional como possibilidade de transformação, isto implica
pensar a escola como espaço singular e plural, em que as relações podem ser potencializadas pela
abertura, escuta, disponibilidade entre outros citados por Larrosa (2014), portanto, experiência.
Consideramos que escola é efeito co-emergente do encontro entre sujeitos que convivem em um
mesmo espaçotempo
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, o acontecimento é fator fundamental para a constituição de seu cotidiano.
Nesse sentido, na formação para esta empreitada, “o ponto de apoio é a experiência, entendida
como um saber-fazer, isto é, um saber que vem, que emerge no fazer” (KASTRUP; PASSOS;
ESCÓSSIA, 2014, p. 18).
Logo, se entendemos a experiência como aquilo que nos acontece em sua potência de
transformação, é nela que vamos fazendo, aprendendo, nos tornando professoras em formação.
Mergulhadas nas inquietudes e incertezas, problematizamos, pensamos, escrevemos, nos formamos
e somos transformadas. No encontro com o outro experimentamos.
Em meio a um mergulho nas experimentações, temos a chance de acompanhar os pequenos
acontecimentos que se colocam no entre, em uma zona avizinhada entre afecção e sentido
transpassado. Um personagem deseja alcançar voo de suas antigas inquietações. Não há como
representar o dito. A m de criar mundos, conhecer implica tangenciar o limite que liga
sensibilidade e problematização. (MOEHLECKE, 2015, p. 168).
Nesse contexto que pensamos, como nós, professoras, somos educadas a ver de um
modo, que por vezes são até majoritários e enrijecidos. O que nos leva a inquirir sobre quais
experiências nos movimentam a acolher em nossas práticas educativas outros modos de vida que
percebem o mundo de maneiras diferentes da nossa? Nesse sentido, que pensamos nos encontros
como possibilidade de produção de experiência, é no encontro com o outro que somos convidadas
a pensar, agir, aprender: ver com outros olhos.
É no encontro, nesse meio de proliferação, que os corpos expressam sua potência de afetar
e ser afetado. É nele que o desejar ui e cria mundos, agenciando modos de expressão e a
conectividade da vida em suas múltiplas experimentações. (NEVES, 2015, p.69).
Em alguns momentos deste artigo, escrevemos unindo algumas palavras, com a intenção de produzir outros sentidos para elas.
Fomos inspiradas pela Professora Drª Nilda Alves (UERJ), que em seus escritos aglutina determinados termos na tentativa de
desconstruir as dicotomias produzidas nos discursos hegemônicos da modernidade.