170 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 1, p. 169-186, Jan.-Jun., 2023
CRUZ-SANTOS, A.; MARTINHO, M. H.; SARAIVA, J. P.; ALMENDRA, I.
ABSTRACT: the Mathematics is a fundamental teaching area, whose language specicity represents, for deaf students, a challenge
to their learning, due to the absence of representative gestures of many concepts/terms. In Portugal, reference schools for deaf
students have specialized resources, namely Portuguese Sign Language Teachers (LGP) and LGP Interpreters, with the aim of
mitigating the limitations associated with language issues. e objectives of the present study are (a) to identify the mathematical
terms in the 1st and 2nd cycle of Basic Education for which there is no direct translation into the LGP, (b) to understand how
Interpreters work in Mathematics classes in the face of the lack of gestures for some mathematical terms, and c) understand the
collaborative process in Mathematics classes between LGP Teachers, Mathematics Teachers and LGP Interpreters. In this study, a
semi-structured interview was applied, guided by topics in a table format, in which participants are asked to identify the mathe-
matical terms/concepts that are part of the curricular matrix of the 1st and 2nd cycle of Basic Education. ree LGP Teachers and
three LGP Interpreters, aged between twenty-six and thirty-four, participated in the study. e results obtained allowed a survey of
mathematical terms for which there is no translation for LGP. Additionally, it was found that LGP Teachers tend to teach restricted
content related only to the subject they teach, although they have shown themselves to be available to collaborate in the search for
eective responses in the absence of formal gestures for some terms/ mathematical concepts, while the Interpreters adopt dierent
strategies in the face of this constraint. is study emphasizes the need to create and disseminate gestural symbols representing
the various mathematical terms that make up the school curriculum, as well as the importance of collaborative work between the
various educational agents involved in the teaching-learning process with deaf students.
KEYWORDS: Mathematical terms. Deafness. Portuguese Sign Language. Basic education.
Introdução
A legislação portuguesa, no concerne aos apoios pedagógicos especializados a alunos
com deciências do foro sensorial, prevê a criação de escolas de referência, assim designadas pelos
recursos especializados de que dispõem e da abrangência geográca às mesmas atribuída, sendo,
portanto, unidades integradas em escolas regulares da rede pública (PORTUGAL, 2018). Estas
escolas de referência recebem, além de alunos sem qualquer tipo de deciência, alunos com surdez
ou cegueira (incluindo os com baixa visão) residentes numa área geográca alargada, tendo como
objetivo proporcionar, em turmas constituídas por alunos com estas limitações, um ensino ajustado
às suas necessidades especícas. No entanto, em Portugal a legislação vigente permite que sejam
os pais a escolher a escolha da rede pública (onde se inserem as escolas de referência) que desejam
que o seu lho frequente. Caso os pais optem por matricular o seu lho numa escola que não seja
de referência, não é garantido que existam os recursos humanos especializados e materiais que as
escolas de referência em Portugal disponibilizam ao aluno no apoio especializado.
No caso de alunos com deciência auditiva, dadas as necessidades desta população ligadas
às aprendizagens que requerem o domínio da língua portuguesa, nomeadamente no âmbito da
escrita, é fundamental assegurar um contexto de ensino que permita o acesso ao domínio da Língua
Gestual Portuguesa (LGP), como língua nativa e de comunicação privilegiada, bem como da Língua
Portuguesa, enquanto língua de escolarização e de interação com a comunidade ouvinte (ALEGRE,
2018). Nesse sentido, é desenvolvido, nas escolas de referência para estes alunos, o modelo de
educação bilingue (CUMMINGS, 1989), cuja principal diferença para o currículo “tradicional” é
o ensino da Língua Gestual Portuguesa (LGP), assegurado, por norma, por um docente nativo de
LGP, como primeira língua (L1) e da Língua Portuguesa, assegurado por um docente ouvinte, como
segunda língua (L2) (alíneas a) e b) do artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho). No
que às demais disciplinas do currículo diz respeito, o seu ensino é assegurado por docentes ouvintes,
coadjuvados por Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ILGP). Além da especialização ao nível
das práticas pedagógicas e do currículo, estas escolas dispõem, também, de Docentes e Técnicos
Especializados que lhes dão suporte, como Docentes de Educação Especial especializados na área
da surdez, Terapeutas da Fala e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ILGP) (CRESPO et al,
2008). A alternativa a este contexto educativo são as escolares regulares, que, na sua esmagadora
maioria, não dispõem destas especicidades a nível curricular e, sobretudo, dos recursos humanos