30 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 9, n. 1, p. 27-36, Jan.-Jun., 2022
VITORINO, A. F.; SANTOS, M. G. S.; SOUZA, R. C. S.
[...]cada vez o individualismo aparece mais, estamos vivendo numa sociedade
individualista, que favorece o sentido de responsabilidade individual, que
desenvolve o egocentrismo, o egoísmo que, consequentemente, alimenta a
autojusticação e a rejeição ao próximo. (MORIN, 2011, p.08).
O individualismo é um dos entraves encontrados na educação dos estudantes surdos.
É que acontece um equívoco quando se trata de inclusão de estudantes surdos, tanto no
ambiente escolar, quanto nos meios sociais como um todo. Inserir um estudante surdo dentro
de uma sala de aula comum e considerar isso como sendo uma inclusão, sem ter nenhum
recurso pedagógico que possibilite seu aprendizado, é um pensamento errôneo quanto a este
conceito.
A inclusão tem de acontecer efetivamente, e não de forma “maquiada”, como algo
que está dando certo, e que na verdade não estão sendo alcançados resultados satisfatórios. É
preciso a análise do que realmente se constitui como inclusão escolar, para que seja construído
um pensamento diferente do que se tem atualmente.
A comunidade surda precisa ser tratada com mais notabilidade, de modo a conseguir
exercer sua verdadeira singularidade. Para isso, é necessária a possibilidade de utilização de
sua língua (Libras), que promova ao surdo viver sua cultura linguística. Assim, “necessitam
desta língua para representar sua identidade linguística e cultural nos espaços escolares. Neste
sentido, eles estudam em um ambiente de ensino desfavorável para seu desenvolvimento
identitário, cultural e linguístico” (VITORINO, 2017, p. 35). Corroboramos com o autor,
pois compreendemos que um ambiente favorável ao surdo é imprescindível para que consigam
exercer sua singularidade e sua identidade.
Não podemos deixar de mencionar que “A educação inclusiva se destina aos alunos
pertencentes a minorias sociais que, por diversos motivos, não estavam, anteriormente,
presentes nas escolas e salas de aula regulares”. (CROCHÍK, 2011, p.38 apud VITORINO,
2017, p. 21), e deste modo, precisa acontecer verdadeiramente.
A sociedade precisa despertar para os fatos atuais que estamos vivenciando. Várias
instituições de ensino ainda não acordaram para a realidade do ensino brasileiro e suas
urgências. “Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante da realidade tão complexa,
mal percebemos o que se passa ao nosso redor”(MORIN, 2011, p. 8).
Pensando assim, embora não seja o foco de nossa pesquisa, não podemos deixar de
mencionar que a família é peça fundamental para o desenvolvimento da pessoa surda. Algumas
famílias de crianças surdas encontram-se, ainda, adormecidas e precisam entender melhor a
realidade de suas crianças e da comunidade surda. Mesmo com todo o avanço social, ainda
existem famílias que não querem que seus lhos surdos se vejam como surdos e os privam do
acesso à Libras. Consciente disto, Laboritt e Strobel armam que:
Os adultos ouvintes que privam seus lhos da língua de sinais nunca compreenderão o que se
passa na cabeça de uma criança surda. Há a solidão, e a resistência, a sede de se comunicar e
algumas vezes, o ódio. A exclusão da família, da casa onde todos falam sem se preocupar com
você. Porque é preciso sempre pedir, puxar alguém pela manga ou pelo vestido para saber, um
pouco, um pouquinho, daquilo que se passa em sua volta. Caso contrário, a vida é um lme
mudo, sem legendas. (LABORITT, 1994, p. 59. Apud STROBEL, 2008, p. 25).