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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
Science: research trends, vol. 18, publicação contínua, 2024, e024031. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024031.
Interseccionalidade na Análise da Produção Científica
de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia
Intersectionality in the analysis of the scientific production of black female researchers during the
pandemic
Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi (1),
Camila Carneiro Dias Rigolin (2)
(1) Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Brasil, dmch@ufscar.br
(2) diasrigolin@ufscar.br
Resumo
O impacto da pandemia de COVID-19 no contexto acadêmico não foi suficientemente abordado,
especialmente no que diz respeito às desigualdades resultantes da sub-representação de mulheres e mães de
diferentes grupos raciais e étnicos na ciência. Este estudo busca analisar os impactos da pandemia na
produção científica de pesquisadoras negras, com foco nas dinâmicas de gênero, raça e parentalidade. Trata-
se de uma revisão crítica da literatura, com coleta de dados nas bases WoS e Google Scholar. Os artigos
publicados entre 2019 e 2024 foram analisados por meio de categorização temática, abordagens
metodológicas, utilização do constructo teórico da interseccionalidade e análise bibliométrica das citações.
Foram identificadas sete temáticas principais: impactos profissionais e acadêmicos, desafios de equilíbrio
entre trabalho e vida pessoal, estratégias de resiliência e apoio, disparidades de gênero e raça, saúde mental
e bem-estar, impacto nas atividades de pesquisa e visibilidade e comunicação científica. Prevaleceram
estudos quantitativos com amostras desagregadas por gênero e raça, seguidos por discussões teóricas e
recomendações, estudos de revisão e um estudo qualitativo. A análise de citações revelou que os trabalhos
de Crenshaw e Collins são os mais referenciados, refletindo sua influência predominante no campo. As
citações de estudos que incorporaram o referencial da interseccionalidade sugerem a emergência de novas
contribuições e a necessidade de diversificar as referências teóricas. Embora a interseccionalidade esteja
presente na maioria dos artigos, alguns a utilizam de forma incidental, e outros não a mencionam. Conclui-
se que a produção científica de pesquisadoras negras precisa ser investigada mais profundamente,
especialmente em estudos que adotem o constructo da interseccionalidade e utilizem amostras desagregadas
por gênero, raça e parentalidade.
Keywords: Pesquisadoras negras; Interseccionalidade; Pandemia de COVID-19; Produção científica.
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da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
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1640.2024.v18.e024031.
Abstract
The impact of the COVID-19 pandemic in the academic context has not been sufficiently addressed,
especially concerning the inequalities resulting from the underrepresentation of women and mothers from
different racial and ethnic groups in science. This study seeks to analyze the impacts of the pandemic on
the scientific production of Black female researchers, focusing on the dynamics of gender, race, and
parenthood. This is a critical literature review, with data collection from the WoS and Google Scholar
databases. Articles published between 2019 and 2024 were analyzed through thematic categorization,
methodological approaches, the use of the theoretical construct of intersectionality, and bibliometric
analysis of citations. Seven main themes were identified: professional and academic impacts, challenges of
balancing work and personal life, resilience and support strategies, gender and race disparities, mental
health and well-being, impact on research activities, and visibility and scientific communication.
Quantitative studies with samples disaggregated by gender and race predominated, followed by theoretical
discussions and recommendations, review studies, and one qualitative study. The citation analysis revealed
that the works of Crenshaw and Collins are the most referenced, reflecting their predominant influence in
the field. The citations of studies that incorporated the intersectionality framework suggest the emergence
of new contributions and the need to diversify theoretical references. Although intersectionality is present
in most articles, some use it incidentally, and others do not mention it. It is concluded that the scientific
production of Black female researchers needs to be investigated more deeply, especially in studies that
adopt the construct of intersectionality and use samples disaggregated by gender, race, and parenthood.
Keywords: Black female researchers; Intersectionality; COVID-19 pandemic; Scientific production.
1 Introdução
O impacto da pandemia de COVID-19 agravou as desigualdades existentes e no ambiente
acadêmico afetou as mulheres de forma desproporcional e negativa. Nesse contexto, quando se
consideram as tensões e contradições entre as rotinas domésticas e o trabalho acadêmico, o ônus
maior incide sobre as mulheres com filhos e/ou familiares que necessitam de seus cuidados,
conforme destacado pelo levantamento Parent in Science (2020) sobre os efeitos de gênero, raça
e parentalidade durante a pandemia. Essa pesquisa também revelou que as questões de
interseccionalidade tornaram-se especialmente acentuadas, pois os desafios enfrentados foram
exacerbados pelas estruturas de desigualdade preexistentes.
Por sua vez, as mulheres negras na academia enfrentam uma multiplicidade de barreiras
específicas, não apenas devido a gênero e raça, mas também a fatores como parentalidade e acesso
desigual a recursos. Esses desafios únicos refletem a interseção de gênero e raça, influenciando
diretamente sua produtividade e bem-estar. A pandemia destacou e intensificou disparidades,
tornando o uso da lente interseccional essencial para entender plenamente as experiências
completas dessas pesquisadoras.
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O conceito de interseccionalidade, enraizado no feminismo negro e na teoria crítica da raça
modelo teórico que emergiu na metade do século XX para explicar desigualdades raciais nos
Estados Unidos é uma ferramenta heurística e analítica poderosa. Carbado et al. (2013) destacam
que a interseccionalidade atua como um prisma que conecta subcampos acadêmicos, metodologias
e questões temáticas. Utilizar a interseccionalidade como ferramenta analítica permite destacar
como políticas aparentemente neutras podem ter impactos desproporcionais, evidenciando a
necessidade de soluções contextuais mais significativas. Esta abordagem não apenas enriquece a
compreensão dos desafios enfrentados por mulheres negras durante a pandemia, mas também
orienta o desenvolvimento de políticas mais eficazes e inclusivas.
A interseccionalidade é especialmente relevante ao examinar a parentalidade na ciência,
pois mães e pais enfrentam desafios distintos moldados por suas identidades e posições sociais.
Para as mulheres negras, a parentalidade durante a pandemia envolveu o apenas a negociação
de responsabilidades domésticas e profissionais que aumentaram, mas também a gestão das
dinâmicas raciais e de gênero que afetam seu acesso a recursos, suporte e reconhecimento
acadêmico.
Com base nesse referencial teórico, este artigo teve como ponto de partida a seguinte
questão: como a interseccionalidade influencia as descobertas da literatura sobre os impactos da
pandemia COVID-19 na produção científica de pesquisadoras negras e quais lacunas ainda
precisam ser exploradas? O objetivo principal foi analisar os impactos da pandemia de COVID-
19 na produção científica de pesquisadoras negras, com foco nas dinâmicas de gênero, raça e
parentalidade, utilizando a interseccionalidade como ferramenta analítica para compreender as
diversas dimensões dessas desigualdades. Como objetivos secundários propôs-se: a) examinar as
principais categorias temáticas abordadas nos estudos; b) categorizar a aplicação dos constructos
teóricos da interseccionalidade identificando as lacunas existentes nos artigos analisados; c) avaliar
o impacto dos artigos de referência sobre o tema, destacando a influência desses trabalhos na
literatura sobre gênero, raça e parentalidade. A próxima seção expõe o referencial teórico que
norteou a revisão crítica de literatura.
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2 Interseccionalidade na academia: gênero, raça e parentalidade
O conceito de interseccionalidade, inicialmente desenvolvido por Kimberlé Crenshaw
(1989), oferece uma ferramenta analítica poderosa para compreender como múltiplas formas de
opressão e privilégio se entrelaçam para moldar as experiências de indivíduos em contextos
específicos. Crenshaw (1989, 1991) argumenta que categorias sociais como gênero, raça e classe
não operam de maneira isolada, mas se interseccionam, criando dinâmicas complexas de
discriminação e desigualdade. Esse conceito tem sido amplamente adotado e expandido por
estudiosos como Patricia Hill Collins (1990), que enfatizam a importância de analisar essas
interseções para uma compreensão mais completa das relações de poder na sociedade. Como refere
Collins e Bilge (2020), a interseccionalidade é um projeto intelectual e político colaborativo e de
base ampla, com muitos tipos de atores sociais. A sua heterogeneidade não é um problema, mas
pode ser um dos seus maiores pontos fortes.
A interseccionalidade é particularmente relevante para entender as experiências únicas de
parentalidade na academia. Pesquisas demonstram que as mulheres negras acadêmicas enfrentam
desafios específicos decorrentes da combinação de suas identidades de gênero, raça e, muitas
vezes, seu papel como mães. Esses desafios incluem desde a dupla jornada de trabalho, conciliando
as responsabilidades acadêmicas com o cuidado dos filhos, até as barreiras estruturais que limitam
seu acesso a recursos e oportunidades de desenvolvimento profissional.
O gênero é uma categoria central na análise das desigualdades na academia. Estudos
clássicos, como os de Collins (1990), exploram como as expectativas de gênero afetam
desproporcionalmente as mulheres acadêmicas, especialmente aquelas que são mães. As normas
de gênero frequentemente impõem às mulheres uma maior carga de responsabilidades domésticas
e de cuidado, o que impacta negativamente sua produtividade e progressão na carreira acadêmica.
Collins argumenta que essas responsabilidades adicionais não são apenas uma questão individual,
mas refletem estruturas sociais e culturais mais amplas que sustentam a desigualdade de gênero.
A maternidade como práxis, instituição e experiência tem sido discutida por uma miríade
de estudiosos de maneiras gerais e específicas. Os estudos feministas, em conjunto com os estudos
sobre a maternidade, ampliaram, e continuam a expandir a análise sobre como é ser mãe em um
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contexto real. Para Patricia Hill Collins, no entanto, os trabalhos feministas sobre a maternidade,
das décadas de 1970 e 1980, produziram uma crítica limitada, pois a representação dominante do
que era ser mãe permanecia encerrada em um prisma redutor de branquitude e classe social,
refletindo os ângulos de visão das mulheres brancas de classe média, com análises feministas que
careciam de uma análise adequada de raça e classe. (Collins, 1990).
Uma visão alternativa da feminilidade negra dentro da academia e fora dela também foi
apresentada por Collins (2003). Sua especificidade epistemológica ilumina a construção social do
pensamento feminista negro, a importância da autodefinição como um meio de empoderamento
das mulheres negras e a necessidade de reexaminar a instituição da maternidade, utilizando uma
análise interseccional.
Ao conectar a maternidade como instituição a manifestações de racismo, classismo,
imperialismo e heteronormatividade, Collins (2015) deu um novo significado à instituição da
maternidade ao longo de sua produção científica. Sua análise multifacetada sobre a maternidade
problematizou o que significa ser mãe em um contexto norte-americano e transnacional.
Percebendo que as mulheres partilhavam uma história entre si, Collins destacou que as mulheres
negras tinham um ponto de vista específico através do qual viam o mundo.
Para Collins (2015), a instituição da maternidade negra estava saturada de mitos,
autopoliciamento e muita influência externa sobre o que realmente significava ser uma mãe negra
na América.
Um dos principais obstáculos ideológicos na visão acadêmica da maternidade
negra, para Collins, foi a caricatura popularizada e duradoura das mães negras “superfortes”,
que aparentemente elogia a resiliência das mulheres negras. No entanto, para permanecerem
nesse pedestal, estas mães negras superfortes devem continuar colocando as necessidades de
todos à frente das suas próprias. (Collins, 2015).
Assim como na maternidade, a raça é uma dimensão principal da interseccionalidade na
academia. Crenshaw (1989, 1991) e Collins (1990) destacam como as mulheres negras enfrentam
formas de discriminação que diferem qualitativamente das experiências de suas colegas brancas.
Além das expectativas de gênero, as mulheres negras enfrentam racismo institucionalizado e
microagressões que afetam seu bem-estar psicológico e profissional. No contexto da parentalidade,
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essas dinâmicas se tornam ainda mais complexas, pois as mulheres negras acadêmicas
frequentemente têm menos acesso a redes de apoio e recursos institucionais que poderiam mitigar
os desafios da parentalidade.
O título de um dos livros centrais na construção do feminismo negro, “Todas as mulheres
são brancas; todos os negros são homens, mas alguns de nós temos coragem” (Hull, Bell-Scott,
Smith, 1982) é o ponto de partida de Kimberlé Crenshaw (1989) em seu famoso ensaio de
apresentação de uma teoria crítica feminista negra. Ao expor a consequência problemática da
tendência de tratar raça e gênero como categorias mutuamente exclusivas de experiência e análise,
Crenshaw problematiza como esta tendência é perpetuada por um quadro de eixo único, dominante
tanto nas leis antidiscriminação, como na teoria feminista e na política antirracista.
A abordagem de eixo único confronta e distorce a multidimensionalidade da experiência
das mulheres negras. Esta justaposição não revela como as mulheres negras são teoricamente
apagadas dos quadros de análise do feminismo, mas ilustra como este quadro impõe as suas
próprias limitações teóricas e metodológicas, minando os esforços para ampliar as análises
feministas e antirracistas, limitando a pesquisa e o debate às experiências de membros
“privilegiados” de grupos sociais minoritários (Crenshaw; 1989, 1991). A discriminação tende a
ser investigada em termos de negros privilegiados pelo gênero (masculino) ou classe; nos casos de
discriminação de gênero, o foco está nas mulheres com privilégios de classe social ou racial
(brancas).
A aplicação da interseccionalidade para entender as experiências de parentalidade na
academia revela que as políticas e práticas institucionais frequentemente falham em reconhecer e
abordar as necessidades específicas das mulheres negras acadêmicas. A análise interseccional,
como propõem Crenshaw (1991) e Collins (1990), permite identificar como as múltiplas
identidades sociais se combinam para criar barreiras únicas que não são capturadas por abordagens
que consideram apenas uma dimensão da identidade.
Por exemplo, as políticas de licença parental e os arranjos de trabalho flexível muitas vezes
não levam em conta as pressões adicionais enfrentadas pelas mulheres negras. Além disso, as
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iniciativas de diversidade e inclusão na academia frequentemente focam apenas em gênero ou raça,
sem considerar a interseccionalidade de ambas, o que limita sua eficácia.
Estudos clássicos de Crenshaw (1989, 1991), Collins (1990) e outros teóricos como bell
hooks (2000) e Angela Davis (1981) fornecem a base teórica para a análise interseccional na
academia. Esses estudos destacam a importância de uma abordagem holística que considera as
interações entre gênero, raça e parentalidade. A pesquisa contemporânea continua a expandir essa
abordagem, demonstrando que a interseccionalidade é essencial para desenvolver políticas e
práticas que promovam a equidade na academia.
hooks (2000) propõe uma nova definição de feminismo, que não luta simplesmente pela
igualdade entre mulheres e homens da mesma classe, mas sim de um movimento que busca acabar
com a opressão e a exploração sexista sem negligenciar outras formas de opressão como racismo,
classismo, imperialismo, entre outras. Embora várias outras teóricas feministas tenham feito
críticas semelhantes, o que diferencia hooks é o seu convite para uma perspectiva feminista
revolucionária, associada à solidariedade feminista e à transgressão cultural.
A autora usa uma lente pluralista que questiona representações culturais ao reconhecer a
ausência de pessoas e grupos oprimidos. Cada uma dessas formas de opressão está
inseparavelmente conectada através de “redes interligadas de opressão” (hooks, 2000), expressão
que remete ao conceito de interseccionalidade, duas décadas antes deste se tornar uma abordagem
institucionalizada na academia e incorporada aos estudos feministas. hooks propõe uma estrutura
para avaliar a cultura, que começa com a experiência da classe trabalhadora negra e convida todos
a examinar representações e imagens perpetuadas pelo senso comum através de técnicas de
interrogação, como o “olhar de oposição” e “travessia de fronteiras” (hooks, 2000).
Em síntese, o conceito de interseccionalidade é uma importante contribuição da teoria
feminista para o esforço geral de compreensão da sociedade e da política, posto que confronta uma
dimensão importante da complexidade social: a interação entre estruturas sociais como raça, classe
e gênero, entre outras (Weldon, 2008). O conceito é especialmente valioso para os pesquisadores
que pretendem avaliar criticamente as relações sociais, expondo relações de dominação. A
interseccionalidade também oferece uma lente crítica para examinar como as experiências de
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gênero, raça e parentalidade se entrelaçam na academia. Reconhecer e abordar essas interseções é
fundamental para criar um ambiente acadêmico mais inclusivo e equitativo.
3 Metodologia
O estudo realizado pode ser caracterizado como uma revisão crítica de literatura (Grant;
Booth, 2009; Mancini, 2006), pois sintetizou informações disponíveis sobre a produção científica
de pesquisadoras negras através de uma avaliação crítica e aprofundada da literatura científica
selecionada para análise. A pesquisa é de natureza exploratória e descritiva, pois investiga um
fenômeno relativamente novo e pouco estudado: os impactos da pandemia de COVID-19 na
produção científica dessas pesquisadoras, identificando padrões e tendências na literatura
analisada.
Além disso, este estudo adota uma abordagem multimétodo (Creswell; Clark, 2017),
combinando técnicas qualitativas e quantitativas para fornecer uma compreensão mais abrangente
dos impactos da pandemia na análise da produção científica de pesquisadoras negras. Essa
abordagem é particularmente adequada para explorar fenômenos complexos, como a
interseccionalidade de nero, raça e parentalidade na ciência, em um campo de estudos emergente
e dinâmico.
De modo sintético, os procedimentos metodológicos foram estruturados nas seguintes
etapas: a) constituição do referencial teórico baseado no constructo da interseccionalidade e suas
relações com o gênero e parentalidade na ciência; b) coleta de dados na WoS e Google Acadêmico;
c) categorização temática (Nowell et al, 2017) e abordagens metodológicas do corpus analisado;
d) análise e interpretação dos dados para destacar os desafios e complexidades da análise da
produção científica de pesquisadoras negras durante a pandemia.
Para a coleta de dados foram utilizadas duas plataformas principais: a Web of Science
(WoS), devido à sua reputação internacional e reconhecida por proporcionar acesso a um conjunto
diversificado de publicações mais influentes e citadas no campo acadêmico incluindo revistas
científicas revisadas por pares, o que garante a qualidade e a confiabilidade das pesquisas
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indexadas, e o Google Acadêmico, que é amplamente utilizado para acesso a publicações
científicas.
A coleta de dados ocorreu em maio de 2024. Estabeleceu-se como recorte cronológico o
período entre 2019 e 2024 visando recuperar publicações de antes, durante e pós-pandemia,
assegurando a inclusão de informações mais recentes sobre o tema. Em ambas bases de dados foi
utilizada a combinação das seguintes expressões de busca: “covid-19” “black women”, “scientific
productivity”, “intersectionality”. Essa escolha foi motivada pelas seguintes razões: a) eficiência
da busca: combinar esses termos específicos permitiu filtrar e concentrar os resultados, facilitando
uma análise mais eficiente e dirigida dos artigos que são mais pertinentes ao escopo da pesquisa.
Isso é particularmente útil para gerenciar o vasto volume de literatura que pode ser recuperado em
cada uma dessas plataformas; b) relevância e precisão: os termos utilizados reduziram a
probabilidade de recuperar artigos irrelevantes. Isso é importante em bases de dados amplas como
a WoS e o Google Scholar e a WoS, onde a ampla variedade de literatura disponível pode
facilmente levar a resultados excessivamente genéricos sem os devidos critérios de busca; c)
especificidade das expressões: a inclusão de termos específicos como covid-19”, “black women”,
e “scientific productivity”, visou capturar artigos que discutiam diretamente os impactos da
pandemia COVID-19 na produtividade científica de mulheres negras, de modo a garantir que os
resultados fossem altamente relevantes para o tema de pesquisa; d) abordagem interseccional: a
inclusão dos termos “intersectionality” e “black women” destaca a abordagem interseccional do
estudo, que reconhece e explora como as interações entre raça e gênero podem influenciar a
experiência acadêmica e profissional. Este enfoque é essencial para desvendar as camadas de
complexidade que podem estar ocultas sob análises mais generalistas; e) foco na pandemia: o
termo “covid-19” é fundamental para delinear o contexto temporal e situacional dos estudos
buscados. Isso assegura que a revisão da literatura seja contextualizada dentro do período
específico da pandemia global, que teve impactos significativos e únicos na dinâmica de trabalho
acadêmico e científico.
A utilização da língua inglesa para a recuperação artigos nas bases de dados foi orientada
pelas seguintes razões: a) alcance global; b) inclusão de estudos de alta qualidade c)
comparabilidade dos dados. Em seguida foram estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão
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para assegurar relevância e rigor no corpus de pesquisa: 1) inclusão - estudos publicados em inglês
que abordassem especificamente os impactos da COVID-19 na produção científica de mulheres
negras, além de pesquisas que fornecessem dados quantitativos e/ou qualitativos pertinentes; 2)
exclusão artigos que não se concentravam especificamente em mulheres negras, mas em grupos
mais amplos sem análises desagregadas por raça/gênero; artigos que apesar de mencionarem a
pandemia, não investigavam seus impactos diretos na academia, bem como aqueles que discutiam
desafios gerais enfrentados por mulheres na academia sem uma conexão clara com a COVID-19.
Com base nesses critérios o corpus inicial de 96 artigos encontrados foi refinado para 21
artigos pertinentes (Apêndice 1) representando 21,8% do total inicial, com exclusão de 78,1%
(n=75) que não atenderam aos critérios estabelecidos.
Os artigos coletados foram categorizados tematicamente ex-ante conforme detalhado na
seção de resultados e baseados na literatura sobre gênero, parentalidade e interseccionalidade na
ciência que deu suporte teórico à pesquisa. A leitura aprofundada dos artigos selecionados também
permitiu a identificação do perfil metodológico do corpus pesquisado. Os métodos identificados
incluíram: estudos de revisão, discussões teóricas e recomendações, estudos com amostras
quantitativas e qualitativas desagregadas. Na análise metodológica, os artigos foram examinados
quanto ao uso do constructo teórico da interseccionalidade para fundamentar o estudo ou discutir
os resultados obtidos, além de verificar a presença de referências teóricas chave no campo de
gênero, raça e parentalidade na ciência. Também foi utilizada a bibliometria (Silva, Hayashi,
Hayashi, 2011) para realizar a análise das citações dos artigos visando identificar os autores e obras
mais citadas do campo dos estudos sobre interseccionalidade, bem como os autores mais citados e
as citações entre autores do corpus selecionado. Os resultados foram analisados e interpretados
sob o prisma da interseccionalidade para destacar as complexidades e nuances das experiências
das pesquisadoras durante a pandemia.
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4 Resultados
Esta seção apresenta os resultados obtidos através da análise dos 21 artigos selecionados,
que foram cuidadosamente examinados para entender os impactos da pandemia de COVID-19 na
produtividade científica de mulheres negras.
4.1 Temas emergentes dos impactos da COVID-19
Esta análise destaca como cada categoria temática contribuiu para a compreensão dos
efeitos da pandemia nas carreiras acadêmicas e produtividade científica das mulheres negras,
evidenciando os desafios específicos, as estratégias de resiliência adotadas e as implicações dessas
experiências para políticas futuras.
A Tabela 1 apresenta cada uma das categorias temáticas com suas respectivas abrangências
de acordo com o total de artigos.
Tabela 1 Categorias temáticas dos artigos analisados
Temáticas
Descrição
Artigos
1. Impactos profissionais e
acadêmicos
Apresenta discussões sobre como a pandemia afetou a produtividade
acadêmica, o desenvolvimento da carreira e as responsabilidades
profissionais das mulheres negras na academia.
4
2. Desafios e equilíbrio
entre trabalho e vida
pessoal
Traz informações sobre como responsabilidades adicionais, como
cuidados com crianças e gestão do lar durante a pandemia, impactaram a
produtividade e o bem-estar das pesquisadoras.
7
3. Estratégias de
resiliência e apoio
Focaliza estratégias institucionais e individuais adotadas para diminuir os
impactos negativos da pandemia, incluindo políticas de suporte e
iniciativas de inclusão.
2
4. Disparidades de gênero
e raça
Trata sobre como a pandemia exacerbou disparidades preexistentes, com
foco particular em desigualdades de gênero e raça no ambiente acadêmico
e científico.
7
5. Saúde mental e bem-
estar
Aborda os efeitos da pandemia na saúde mental das mulheres negras
acadêmicas, incluindo estresse, ansiedade e depressão.
2
6. Implicações nas
atividades de pesquisa
Examina as consequências da pandemia nas práticas de pesquisa de
mulheres negras, incluindo alterações no acesso a recursos, necessidade de
adaptações metodológicas devido ao distanciamento social, mudanças nas
prioridades de pesquisa, além do tempo dedicado à pesquisa e à submissão
de trabalhos científicos.
2
7. Visibilidade e
comunicação científica
Focaliza o papel da comunicação científica em aumentar a visibilidade e o
reconhecimento das contribuições de mulheres negras durante a pandemia.
1
Total
25*
(*) Esse valor é superior ao total de artigos analisados devido à dupla categorização.
Fonte: Elaboração das(os) autora(es)
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Os resultados apresentados no Quadro 1 mostram que os temas mais frequentemente
abordados nos artigos analisados estão relacionados às categorias 2 (desafios e equilíbrio entre
trabalho e vida profissional) e 4 (disparidades entre gênero e raça), ambas com sete artigos cada.
Esses resultados destacam a relevância dessas questões no contexto da pandemia, evidenciando
como as responsabilidades profissionais e pessoais das mulheres negras na academia foram
significativamente afetadas e como as desigualdades preexistentes foram exacerbadas.
A seguir, oferecemos uma amostra dos artigos analisados em cada uma das categorias
temáticas. Vale registrar que os casos selecionados têm como objetivo ilustrar as diversas
abordagens e temas emergentes discutidos na literatura. Esses exemplos não pretendem fazer um
julgamento do conteúdo dos artigos, mas sim destacar a riqueza e a variedade das contribuições
para a compreensão dos impactos da pandemia de COVID-19 na produção científica de
pesquisadoras negras. A inclusão dos nomes dos autores dos artigos serve apenas para
proporcionar uma referência específica e não implica em qualquer avaliação crítica ou comparativa
dos trabalhos mencionados.
Um exemplo da incidência da temática 2 (desafios e equilíbrio entre trabalho e vida
profissional) é o artigo de Calaza et al (2021). Partindo do fato de que a pandemia da COVID-19
pode ter levado a um aumento das disparidades de gênero e de raça/etnia, bem como que editores
de várias revistas afirmaram a importância do combate ao racismo e ao sexismo na ciência, o artigo
destaca que o preconceito implícito é um componente crucial nesta luta. O estudo realizado aponta
evidências científicas que mostram a presença de preconceitos implícitos na comunidade
acadêmica, contribuindo para avaliações e julgamentos inconscientes fortemente prejudiciais de
indivíduos ou grupos. Entre as diversas ações sugeridas para eliminar esse efeito estão aquelas
voltadas a editores e revisores de periódicos científicos, pessoas em posições de poder dentro de
agências financiadoras e instituições de pesquisa e membros de comitês de seleção. Essas
recomendações foram baseadas na experiência de um grupo de cientistas latino-americanas
composto por mulheres negras e latinas, professoras e estudantes de graduação que participam de
grupos de trabalho sobre mulheres na ciência em universidades brasileiras do estado do Rio de
Janeiro. As autoras esperam contribuir para reflexões, ações e desenvolvimento de políticas
institucionais que possibilitem e consolidem a diversidade na ciência e reduzam as disparidades
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
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1640.2024.v18.e024031.
baseadas em gênero e raça/etnia. Uma das conclusões do estudo foi a de que a pandemia da
COVID-19 poderia aumentar as disparidades raciais e de gênero. Desse modo, preconceito
implícito é a força invisível que impede o avanço da construção de uma ciência mais inclusiva e
diversificada.
Na temática 4 (disparidades de gênero e raça) o artigo de Heo et al. (2022) examinou as
possíveis disparidades nas mudanças nas horas de trabalho e satisfação profissional por gênero e
raça/etnia. O público-alvo foi composto por cientistas de ciência, tecnologia, engenharia,
matemática e medicina, saúde pública ou outras áreas de ciência e/ou engenharia que trabalham
nos EUA. Os achados da pesquisa indicaram que a pandemia afetou de forma desigual a alocação
das cargas de trabalho e a satisfação profissional por gênero e raça nas áreas científicas. Ou seja,
uma percentagem significativamente mais elevada de mulheres relatou um aumento das horas de
trabalho em comparação com os homens. Além disso, as mulheres racializadas definidas no
estudo como aquelas de raça não caucasiana ou de cor não branca experimentaram aumentos
desproporcionalmente maiores no ensino e no serviço do que os outros grupos, o que contribuiu
para o aumento do total de horas de trabalho das mulheres.
Na temática 1 (impactos profissionais e acadêmicos) com quatro artigos, os estudos
discutem como a pandemia afetou a produtividade acadêmica, o desenvolvimento da carreira e as
responsabilidades profissionais das mulheres negras na academia.
Um exemplo da incidência dessa categoria temática é o artigo de White et al. (2022). As
autoras partiram da premissa que a falta de diversidade racial e étnica na força de trabalho
biomédica é pronunciada e aqueles de origens sub-representadas enfrentam mais desafios do que
os seus homólogos majoritários. Diante disso, essas autoras investigaram os impactos da pandemia
de COVID-19 nos pesquisadores dessa área em início de carreira oriundos de meios sub-
representados. O estudo avaliou diferenças na produtividade, investigação e bem-estar psicológico
por gênero e estatuto profissional. Os resultados sugeriram que as mulheres eram mais propensas
a atribuir a perda de produtividade e o sofrimento psicológico à educação em casa e às
responsabilidades de cuidar dos filhos. Em relação as pesquisadoras em início de carreira os
autores destacam que essas responsabilidades adicionais podem ser onerosas, tendo em conta os
desafios que muitos enfrentam na progressão de suas carreiras. Uma das conclusões deste estudo
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
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foi que a necessidade de as instituições oferecerem flexibilidade para bolsistas de pós-doutorado e
docentes em início de carreira. Além disso, White et al. (2022, p. 1830) sugerem que as
instituições e agências de financiamento podem considerar a oferta de apoio aos cuidados infantis
como forma de ajudar aqueles que estão no início das suas carreiras a equilibrar as
responsabilidades adicionais”.
As temáticas 3 (estratégias de resiliência e apoio), 5 (saúde mental e bem-estar) e 6
(implicações nas atividades de pesquisa), com dois artigos cada, também emergem como áreas
importantes de investigação. Esses artigos fornecem perspectivas interessantes sobre como as
desigualdades preexistentes foram exacerbadas durante o período pandêmico e quais foram as
medidas adotadas para mitigar os impactos negativos da pandemia.
Por exemplo, o artigo de Becegato et al. (2023) aborda concomitantemente duas temáticas
analisadas: 5 (saúde mental e bem-estar) e 6 (implicações nas atividades de pesquisa) saúde mental
e bem-estar. Partindo de um panorama de como a pandemia da COVID-19 ampliou as
vulnerabilidades relacionadas ao gênero no Brasil, o estudo estabeleceu um paralelo com o cenário
pré-pandemia e avaliou muitos aspectos do problema, incluindo a maternidade e questões raciais.
A pesquisa também abordou como a interrupção abrupta da rotina laboral durante a pandemia da
COVID-19 sobrecarregou as mulheres brasileiras com atividades domésticas e de cuidado dos
filhos e, mais especificamente, como as carreiras e a produção científica das mulheres foram
afetadas. Para os autores, a carga de trabalho e o stress, impostos às investigadoras obrigaram-nas
a escolher entre as suas realizações profissionais e as suas famílias, agravando assim a questão de
disparidades de gênero na academia brasileira. Verificou ainda que tal fardo era ainda mais
proeminente para mães com filhos pequenos e para as cientistas negras. Em resumo, embora a
pandemia tenha afetado significativamente a produtividade das investigadoras com filhos mais
novos, as carreiras dos homens e mulheres negras e as vidas dos seus filhos também sofreram.
Por sua vez, na temática 3 (estratégias de resiliência e apoio), o artigo de Njoku e Evans
(2020) discute perspectivas e estratégias baseadas em evidências em relação às mulheres negras
docentes e administradoras que atuam na academia e ensinam durante tempos de COVID-19 e de
agitação social. O estudo também delineou estratégias para os deres universitários abrandarem
as disparidades culturais e raciais na sala de aula ou no local de trabalho e promoverem a
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diversidade e a inclusão no meio acadêmico. Entre essas estratégias estão: o comprometimento
genuíno com a diversidade, equidade e inclusão; alterar políticas para oferecer flexibilidade; apoiar
o desenvolvimento profissional; reconhecer as demandas intensificadas de cuidados; promover a
comunicação e a colaboração.
A temática da 7 (visibilidade e comunicação científica), com apenas um artigo sugere que
este tema pode estar sub-representado na literatura atual, indicando uma lacuna potencial a ser
explorada em pesquisas futuras. Nesse contexto, o artigo de Barata e Ludwig (2023) é uma
contribuição, pois apresenta um diagnóstico das desigualdades de oportunidades na ciência e
enfatiza a comunicação científica como uma ferramenta importante para aumentar a visibilidade e
o empoderamento das mulheres cientistas no Brasil. Na visão das autoras, a comunicação científica
pode fortalecer a visibilidade, a presença e a voz das mulheres na sociedade e promover práticas
equitativas em termos de gênero e raça.
4.2 Diversidade metodológica dos estudos e suas implicações
A análise dos 21 artigos selecionados revelou uma diversidade em termos de abordagens
metodológicas e focos temáticos. Essa variedade é essencial para entender a complexidade dos
desafios enfrentados por pesquisadoras negras durante a pandemia, bem como para abordar de
maneira abrangente os impactos da COVID-19 na sua produtividade científica.
A Figura 1 ilustra a distribuição dos tipos de estudos destacando a variedade metodológica
presente entre os artigos analisados.
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
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1640.2024.v18.e024031.
Figura 1 Distribuição dos tipos de estudos
Fonte: Elaboração das autoras
A seguir, apresentamos uma síntese das principais características metodológicas dos
artigos analisados.
a) Estudos de revisão Estes artigos (n=3) realizam uma síntese de literaturas anteriores,
proporcionando uma visão consolidada dos conhecimentos existentes sobre os impactos da
COVID-19, especificamente no contexto acadêmico e na produtividade científica de mulheres
negras. Através da consolidação de diversos estudos, esses artigos proporcionam uma base sólida
para futuras investigações e recomendam direções para abordar as disparidades observadas. Os
métodos adotados nesses artigos foram revisão de escopo, revisão bibliográfica e análise
bibliométrica. A importância desses tipos de revisão reside na capacidade de reunir e avaliar um
vasto corpo de literatura, identificando lacunas no conhecimento e sintetizando achados que podem
orientar políticas e práticas futuras. Além disso, essas revisões proporcionam uma visão
abrangente e integrada, facilitando uma melhor compreensão das questões complexas e
multifacetadas que afetam a produtividade científica de mulheres negras durante a pandemia.
b) Discussões teóricas e recomendações Os artigos (n=8) com essas características vão
além da análise empírica, engajando-se em discussões teóricas profundas que contextualizam as
experiências das mulheres negras na academia dentro de quadros sociais mais amplos. Eles
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também sugerem recomendações práticas destinadas a abrandar os efeitos adversos da pandemia
na produtividade científica de mulheres negras, enfatizando a necessidade de políticas inclusivas
e suporte institucional. Estas discussões são fundamentais para entender as dinâmicas complexas
de gênero e raça exacerbadas durante a pandemia e auxiliam na identificação das raízes estruturais
dos problemas enfrentados por mulheres negras na academia. Esses estudos também oferecem
direções claras para a implementação de políticas e práticas que promovam a equidade e a inclusão.
Além disso, ao conectar as experiências individuais a quadros sociais mais amplos, os artigos com
essas características fornecem uma compreensão mais abrangente das questões envolvidas, o que
é essencial para desenvolver intervenções eficazes.
c) Estudos empíricos com amostras quantitativas desagregadas Vários artigos (n=9)
utilizaram métodos quantitativos para examinar as variáveis que influenciam a produtividade
científica, como gênero, raça e parentalidade. Ao apresentar dados desagregados, esses estudos
permitem uma análise detalhada dos impactos diferenciados da pandemia, revelando tendências e
padrões específicos dos desafios enfrentados por diferentes grupos. Em relação ao total da
população estudada (n=6211) nesses artigos, a maioria (n=4129) foi composta por mulheres e uma
minoria (n=2082) por homens, excluídos aqueles de outros gêneros não declarados. Em termos de
raça/etnia prevaleceu (n=4687) a branca em relação à negra (n=901), sendo as demais (n=623)
composta por asiáticos, indígenas, hispânicos e/ou não declaradas. Entre esses artigos, apenas três
cruzaram as categorias de raça e gênero nas amostras, totalizando apenas 28 mulheres negras, ou
seja, 0,45% do total de 6211 participantes. A sub-representação das mulheres negras nos estudos
quantitativos indica uma lacuna significativa na pesquisa, que pode levar a uma subestimação dos
desafios específicos enfrentados por esse grupo. Esses achados acendem um sinal de alerta
enfatizando a necessidade e importância do cruzamento de dados desagregados por gênero e raça
para uma compreensão mais precisa dos impactos da pandemia. Portanto, é fundamental que
futuros estudos considerem essas variáveis nas amostras para garantir uma análise mais equitativa
e representativa.
d) Estudo empírico com amostra qualitativa desagregada Apenas um artigo foi
identificado com esse perfil metodológico. A amostra qualitativa, composta por três pesquisadoras
negras da área de saúde, foi selecionada criteriosamente com base em características específicas,
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como gênero, raça e contexto profissional. Para obter uma compreensão rica e detalhada das
complexidades e nuances das vidas das participantes o estudo utilizou a análise de narrativas. Isso
permitiu que as pesquisadoras capturassem as particularidades de suas experiências como
mulheres negras, fornecendo perspectivas sobre como a interseção de múltiplos fatores identitários
influenciou suas vivências no ambiente acadêmico durante a pandemia.
Para ilustrar as diferentes abordagens metodológicas identificadas, são apresentados alguns
exemplos de artigos de cada categoria. A seleção desses exemplos foi baseada critérios objetivos
de conteúdo e abordagem metodológica. A inclusão em uma categoria específica não reflete um
julgamento sobre a qualidade ou o mérito científico do artigo. Esta classificação serve apenas para
facilitar a discussão temática conforme os objetivos deste estudo.
Por exemplo, em relação aos estudos de revisão, o artigo Bordignon e Vicko (2024)
emprega uma revisão sistemática abrangendo 45 publicações acadêmicas para investigar o impacto
da pandemia no trabalho acadêmico. A análise revelou cinco temas principais: desigualdade de
gênero, identidades e interseccionalidade, a dicotomia trabalho-casa, trabalho invisível, e
experiências vividaseste último incluindo relatos em primeira pessoa de mulheres acadêmicas.
Destacou-se que, embora a maioria dos dados fosse de contexto global e empregasse metodologias
qualitativas, a interseccionalidade era especialmente evidente nas discussões sobre gênero e raça.
Particularmente, o tema ‘identidades e interseccionalidade’ mostrou que as barreiras de gênero
afetam desproporcionalmente os grupos racializados e como as docentes BIPOC sigla em inglês
(Black, Indigenous, and People of Color) utilizada para denominar negros, indígenas e pessoas de
cor são especialmente penalizadas. Os resultados destacaram a necessidade de uma abordagem
mais sistêmica para resolver essas questões, argumentando que as soluções deveriam ir além de
colocar a responsabilidade no indivíduo e exigir que as instituições assumam um papel ativo na
correção das desigualdades.
Para exemplificar os estudos que apresentaram discussões teóricas e recomendações foi
selecionado o estudo de Arora et al. (2021) que explora as trajetórias profissionais de populações
em maior risco e propõe uma estrutura para capturar contribuições novas e não tradicionais. Os
autores argumentam que os docentes de medicina sub-representados (particularmente os médicos
negros, hispânicos, latinos e nativos americanos) na força de trabalho médica acadêmica,
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enfrentam atualmente uma variedade de desafios pessoais e profissionais com a COVID-19 nas
suas comunidades, ao mesmo tempo que lutam contra o racismo estrutural arraigado e a violência
policial. Na visão de Arora et al. (2021) as instituições acadêmicas não deveriam apenas
reconhecer os efeitos que a pandemia da COVID-19 teve sobre o corpo docente, mas também
adotar soluções imediatas para uma situação mais equitativa visando combater a desigualdade
inerente criadas para as médicas e para os homens e mulheres negras, indígenas e/ou de cor.
Entre os estudos empíricos com amostras quantitativas desagregadas, destaca-se o artigo
de Staniscuaski et al. (2023a). O pressuposto da pesquisa foi o de que no meio acadêmico a
parentalidade pode ser vista como um fator que afeta negativamente o empenho e a dedicação dos
cientistas, especialmente das mulheres. A hipótese levantada foi a de que fatores como raça,
estágio profissional e área de pesquisa agravam a autopercepção de um viés negativo, sendo mais
afetados os negros, em início de carreira e docentes STEM (sigla inglês para designar o campo de
conhecimento composto por Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Baseada nessa
visão foi conduzido um survey com cientistas brasileiros. A amostra estatística foi composta por
861 participantes. As variáveis testadas foram: sexo (homem ou mulher), raça (preta ou branca),
orientador de pós-graduação (sim ou não), bolsista de produtividade (sim ou não), número de filhos
(um ou mais de um), área de pesquisa e tempo de contratação (menos ou mais de 15 anos). Os
achados revelaram que as mães relataram uma maior prevalência de preconceito negativo em seu
local de trabalho quando comparadas aos pais. A percepção de um viés negativo foi influenciada
pelo gênero e pela situação profissional, mas não pela raça, área científica ou número de filhos.
Apenas um artigo foi categorizado como estudo empírico com amostra qualitativa
discriminada. Trata-se da pesquisa realizada por Crooks, Smith e Lofton (2021), com o objetivo
de fornecer às instituições acadêmicas recomendações práticas para promover um ambiente
colaborativo e recursos essenciais para e em apoio a acadêmicos BIPOC. O estudo examinou as
experiências de três enfermeiras acadêmicas negras em uma universidade de pesquisa intensiva
em uma área urbana durante a pandemia de COVID-19 e no contexto da injustiça social e agitação
civil nos Estados Unidos. Para as autoras literatura limitada que descreve como apoiar
acadêmicos negros, nesses tempos sem precedentes, afetados pela pandemia e pelo movimento
Black Lives Matter (BLM), uma vez que acadêmicas negras enfrentam desafios específicos,
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defendendo os estudantes negros, carregando o fardo emocional e de conversação de educar
colegas brancos e uma falta geral de apoio para o avanço na carreira. Os resultados sugerem que
existem barreiras que impactam negativamente o clima no local de trabalho, a colaboração e a
orientação para os acadêmicos de enfermagem BIPOC. Diante disso, a perspectiva feminista negra
forneceu a base teórica para as recomendações que visam transformar as condições opressivas para
esses estudiosos dentro da academia. As recomendações no nível individual são voltadas para a
promoção da segurança cultural e a aliança em apoio aos acadêmicos, a defesa de iniciativas que
apoiem a diversidade, inclusão e equidade. No nível departamental, as recomendações envolvem
o desenvolvimento de colaborações culturalmente conscientes, eliminar barreiras para transição
de carreira e flexibilidade nas expectativas do corpo docente. Quanto ao nível institucional, as
recomendações incluem: a mentoria como base para a construção da inclusão; conectar indivíduos
a redes de apoio ao desenvolvimento científico e profissional; desenvolver políticas e recursos para
aumentar a diversidade na enfermagem.
O estudo de Crooks, Smith e Lofton (2021) é particularmente relevante por sua abordagem
qualitativa detalhada. Ao incidir sobre uma amostra pequena, mas profundamente analisada, o
estudo oferece uma perspectiva introspectiva dos desafios cotidianos e das resiliências
demonstradas por essas pesquisadoras negras e autoras do artigo, enriquecendo a compreensão dos
impactos emocionais e práticos da pandemia, e dos desafios específicos enfrentados por mulheres
negras em profissões de saúde durante a pandemia.
4.3 Abordagens interseccionais dos estudos
Para categorizar a utilização dos constructos teóricos da interseccionalidade, identificamos
três tipos principais:
1. Ausente: Artigos que o utilizam o constructo teórico da interseccionalidade em suas
análises ou discussões. Esses estudos não consideram as interações entre múltiplas
identidades sociais (como gênero, raça e parentalidade) e suas influências nos
resultados pesquisados.
2. Explícita: Artigos que aplicam explicitamente o constructo teórico da
interseccionalidade, apoiando-se em referencial teórico bem fundamentado baseado em
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estudos fundadores até os mais atuais. Esses estudos utilizam a interseccionalidade de
maneira abrangente, referenciando teóricas e teóricos do campo e integrando o conceito
de forma central na análise dos dados e na interpretação dos resultados.
3. Incidental: Artigos que mencionam o constructo teórico da interseccionalidade de
forma tangencial, sem fornecer referências teóricas que sustentem o uso do conceito.
Nesses estudos, a interseccionalidade é citada, mas não é aprofundada ou integrada de
maneira significativa na análise.
Essa categorização permitiu compreender a diversidade de abordagens e o grau de
profundidade com que a interseccionalidade foi utilizada nos estudos sobre os impactos da
pandemia de COVID-19 nas pesquisadoras negras.
A Figura 2 ilustra a distribuição dessas categorias entre os artigos analisados,
proporcionando uma visão clara de como o constructo teórico da interseccionalidade foi
empregado na literatura existente."
Figura 2 Utilização do constructo teórico da interseccionalidade
Fonte: Elaboração das autoras
A Figura 1 revela uma diversidade na profundidade e na forma como o constructo da
interseccionalidade foi empregado nos artigos que abordaram os impactos da pandemia de
COVID-19 nas pesquisadoras negras.
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Os onze artigos com aplicação explícita refletem um reconhecimento substancial da
importância de utilizar a interseccionalidade como ferramenta analítica para entender as complexas
interações entre gênero, raça e outras identidades sociais. Esses estudos, ao se apoiarem em um
referencial teórico bem fundamentado, proporcionam uma análise aprofundada das experiências
das pesquisadoras negras, oferecendo perspectivas valiosas para a formulação de políticas e
práticas mais inclusivas.
A presença de oito artigos na categoria “ausente” indica que uma parcela significativa de
pesquisas não considera a interseccionalidade em suas análises. Apesar de três desses artigos
utilizarem amostras desagregadas por gênero e raça, suas análises não foram fundamentadas nesse
constructo teórico. Os outros cinco artigos consistem em discussões teóricas com recomendações
e sugestões para mitigar os efeitos de gênero, raça e parentalidade na ciência. Isso demonstra um
esforço em abordar questões de desigualdade, mesmo sem a aplicação explícita da perspectiva
interseccional.
Os dois artigos classificados como incidental mostram que, embora a interseccionalidade
seja mencionada, ela não é integrada de maneira significativa na análise. Esse uso tangencial do
conceito pode indicar uma falta de aprofundamento teórico ou uma aplicação superficial da
interseccionalidade, limitando a capacidade dos estudos de oferecer uma compreensão completa
das dinâmicas interseccionais.
4.4 Análise das citações no campo da interseccionalidade e suas influências
Dentre os 21 artigos inicialmente selecionados para este estudo, 11 foram identificados
como incorporando explicitamente teorias de interseccionalidade através da citação de textos
teóricos clássicos e contemporâneos (Figura 2). Esta análise detalhada desses 11 artigos é
fundamentada na relevância de examinar como o constructo de interseccionalidade é aplicado para
explorar as complexas dinâmicas de desigualdades enfrentadas por mulheres negras na academia
durante a pandemia.
Para isso foram contabilizadas o total de referências (n=794) desses artigos (n=11) e
selecionadas apenas aquelas (n=45) que apresentaram aderência ao constructo teórico da
interseccionalidade. A análise dessas citações considerou tanto as autorias individuais (21 autores)
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quanto em coautoria (7 grupos de autores), abrangendo um total de 28 obras distintas. Os
resultados dessa seleção destacaram as 45 citações que formam a base teórica explorada em
detalhe.
A Tabela 2 sintetiza essas análises ao listar os 18 estudos fundamentais no campo da
interseccionalidade, destacando as obras que moldam a compreensão das dinâmicas de
desigualdades exploradas. Essa síntese não apenas reforça a significância dos textos teóricos
clássicos e contemporâneos, mas também permite uma visão abrangente sobre como esses
constructos são aplicados especificamente na análise das experiências de mulheres negras na
academia durante a pandemia.
Tabela 2 Citações de autores e obras do campo da interseccionalidade
Autoras(es) /Ano(s) de publicação da(s) obra(s)
Total de citações recebidas
Crenshaw (1989; 1991; 1995)
12
Collins (1986; 1990; 1998; 2000; 2003; 2015)
10
Gutiérrez y Muhs et al. (2012)
4
Bonilla-Silva (1997; 2001; 2014)
4
Gregory (1999; 2001)
2
Bowen (2012)
1
Carbado et al. (2013)
1
Choo; Ferree (2010)
1
Collins; Bilge, S. (2020)
1
Davis, A. (1981)
1
Davis, K. (2008)
1
González; Harris (2012)
1
hooks, (2000)
1
MacKinnon (2013)
1
Taylor (1998)
1
Võ (2012)
1
Walby; Armstrong; Strid (2012)
1
Wilson (2012)
1
Total
45
Fonte: Elaboração das autoras
Na Tabela 2, os trabalhos de Kimberlé Crenshaw e de Patricia Hill Collins (incluindo
aquele com sua coautora Sirma Bilge) destacam-se significativamente, com 12 e 11 citações
respectivamente, refletindo sua influência predominante no campo. Outros estudos, como os de
Gutiérrez y Muhs et al. e Bonilla-Silva, também são notáveis, com quatro citações cada um,
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indicando sua relevância contínua. No entanto, vários autores receberam apenas uma citação, o
que ressalta a diversidade de perspectivas, mas também sugere que suas contribuições, embora
valiosas, não são tão amplamente reconhecidas ou utilizadas na literatura analisada. Isso aponta
para a necessidade de um reconhecimento mais amplo dessas vozes na literatura sobre
interseccionalidade. Reconhecer e integrar novas contribuições no campo é essencial, pois estudos
recentes estão avançando a teoria interseccional e oferecendo novas perspectivas que podem
enriquecer a compreensão das dinâmicas de poder e identidade.
Esses achados também indicam uma concentração de influências em alguns poucos
estudiosos, refletindo uma dependência das fundamentações teóricas estabelecidas por Kimberlé
Crenshaw e Patricia Hill Collins. Por outro lado, a presença de autores com citações únicas sugere
um campo em expansão, com novas contribuições começando a emergir. Este padrão de citações
destaca a importância de ampliar as referências teóricas para enriquecer o campo da
interseccionalidade, incorporando novas vozes e perspectivas. Diversificar as fontes e autores
citados é necessário para evitar uma dependência excessiva das obras fundacionais, promovendo
uma literatura mais inclusiva e representativa que reflita a heterogeneidade de experiências e
contextos. A diversificação das referências teóricas pode ter um impacto prático significativo na
aplicação da teoria interseccional em diferentes contextos sociais e acadêmicos, ajudando a
desenvolver políticas e práticas mais inclusivas e equitativas.
Além da análise da utilização dos constructos teóricos da interseccionalidade, um resultado
relevante da pesquisa foi que 11 dentre os 21 artigos analisados fizeram citações (n=26) de artigos
de Fernanda Staniscuaski e colaboradoras(es) (n=8), conforme mostra a Tabela 3. Entre os artigos
dessas(es) pesquisadoras(es) que receberam essas citações apenas três (Carpes et al., 2019;
Machado et al., 2019 e Oliveira et al., 2021) não fizeram parte do corpus analisado.
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Tabela 3 Citações da produção científica de Staniscuaski e colaboradoras(es)
Staniscuaski e colaboradoras(es) / ano das publicações
Citações recebidas
Staniscuaski et al. (2021a)
9
Staniscuaski et al. (2020a)
4
Machado et al. (2019)
4
Staniscuaski et al. (2021b)
3
Staniscuaski et al. (2021c)
3
Carpes et al. (2019)
1
Carpes et al. (2022)
1
Oliveira et al. (2021)
1
Total
26
Fonte: Elaboração das autoras
Conforme indicado na Tabela 3, Staniscuaski e colaboradoras receberam nessa pesquisa
um total de 26 citações por seus trabalhos durante a pandemia de COVID-19, refletindo a atenção
dirigida a suas contribuições no estudo dos impactos de gênero, raça e parentalidade na academia.
É importante notar que, embora essas autoras tenham sido destacadas por suas publicações
recentes, a área de pesquisa em produção científica feminina e os desafios impostos pela
parentalidade eram amplamente explorados na literatura científica. Staniscuaski e suas
colaboradoras não foram as pioneiras, mas seus trabalhos ganharam proeminência por abordar
essas temáticas no contexto único e desafiador da pandemia, trazendo novas perspectivas para
discussões já estabelecidas.
Esse destaque reflete não apenas a relevância imediata de suas descobertas, mas também a
maneira como a crise sanitária global ampliou a necessidade de investigações focadas nas
dinâmicas de interseccionalidade e seus efeitos sobre a produtividade científica. Portanto,
enquanto a significativa quantidade de citações pode ser atribuída em parte à visibilidade e ao
timing de suas publicações durante a pandemia, o reconhecimento dessas obras também sublinha
a importância contínua de explorar essas questões críticas, complementando e expandindo a
compreensão existente no campo.
Ao analisar a presença e o impacto desses artigos nas bases de dados Scopus e Web of
Science, verificou-se que um dos artigos de Staniscuaski et al. (2021a) alcançou significativas
marcas de 154 e 136 citações, respectivamente. Essas taxas de citação destacam a relevância dos
estudos de Fernanda Staniscuaski e colaboradoras(es) na compreensão das dinâmicas de gênero,
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
Science: research trends, vol. 18, publicação contínua, 2024, e024031. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024031.
raça e parentalidade na ciência durante a pandemia. Esses trabalhos exploram, de forma crítica, os
desafios enfrentados por mulheres acadêmicas brasileiras durante a crise sanitária, proporcionando
dados empíricos e análises teóricas que não apenas enriquecem o debate acadêmico, mas também
orientam o desenvolvimento de políticas e práticas inclusivas. As contribuições desses estudos têm
sido fundamentais para o avanço do conhecimento e para a promoção de um ambiente acadêmico
mais equitativo e inclusivo.
Além da produção científica de Staniscuaski e colaboradoras (n=26), outros sete artigos
dentre os 21 analisados fizeram citações (n=7) de cinco artigos do próprio corpus da pesquisa
(Tabela 4).
Tabela 4 Artigos citantes e citados do corpus de pesquisa
Artigos Citados*
Citações
recebidas
Calaza et al. (2021)
2
Cardel; Dean; Montoya-Williams (2020)
1
Carr et al. (2021)
2
Melaku; Beeman (2022)
1
Kozlowski et al. (2022)
1
(*) Artigos citantes referem-se aos artigos que fazem a citação de outros trabalhos, enquanto artigos citados são os trabalhos que
foram citados pelos artigos citantes.
Fonte: Elaboração das autoras
Os achados da Tabela 4 destacam que os cinco artigos citados ao serem reconhecidos e
referenciados dentro do próprio corpus de análise, indicam sua relevância no campo de estudo.
Além disso, a dispersão das citações entre vários artigos citantes demonstra que essas
contribuições estão sendo incorporadas em diferentes frentes de pesquisa, embora ainda haja
espaço para um maior reconhecimento e disseminação.
5 Conclusões
Este estudo analisou como a pandemia de COVID-19 exacerbou as desigualdades de
gênero, raça e parentalidade na academia, com foco nas pesquisadoras negras destacando a
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
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vulnerabilidade das minorias acadêmicas em tempos de crise. Abordar as desigualdades na
academia é essencial para criar um ambiente mais justo e equitativo. As disparidades observadas
vão além da mera representatividade, elas afetam profundamente a produtividade, o bem-estar e
as trajetórias de carreira das pesquisadoras negras.
A interseccionalidade, quando aplicada de forma explícita, permite uma compreensão mais
profunda das experiências individuais e coletivas, evidenciando como múltiplas formas de
opressão e privilégio se entrelaçam para moldar a realidade das pesquisadoras negras. Isso não
apenas enriquece a compreensão dos desafios enfrentados, mas também informa o
desenvolvimento de políticas mais eficazes e inclusivas. Políticas e práticas institucionais que
reconheçam e abordem essas intersecções são essenciais para reduzir os impactos negativos e
promover a inclusão. Investir na pesquisa interseccional e apoiar cientistas de grupos sub-
representados são passos fundamentais para transformar a academia em um espaço onde todos
possam crescer igualmente.
A análise dos artigos revelou sete categorias temáticas principais abordadas: impactos
profissionais e acadêmicos, desafios e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, estratégias de
resiliência e apoio, disparidades de gênero e raça, saúde mental e bem-estar, implicações nas
atividades de pesquisa e visibilidade e comunicação científica. As duas categorias mais
frequentemente abordadas foram desafios e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e disparidades
de gênero e raça. Esses temas destacam os principais desafios enfrentados pelas pesquisadoras
negras durante a pandemia e a necessidade de abordagens interseccionais para compreender e
reduzir esses impactos.
A aplicação dos constructos teóricos da interseccionalidade foi categorizada em três tipos:
ausente, aplicação explícita e incidental, permitindo uma compreensão mais aprofundada das
diferentes formas como esse conceito é empregado na pesquisa. O constructo da
interseccionalidade esteve presente na maioria dos artigos, demonstrando que, quando utilizado,
proporciona uma análise aprofundada das experiências das pesquisadoras negras, oferecendo
perspectivas relevantes para a formulação de políticas e práticas mais inclusivas. Contudo, a sua
ausência ou utilização de forma incidental sugere que ainda há uma lacuna significativa na
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
Science: research trends, vol. 18, publicação contínua, 2024, e024031. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024031.
aplicação explícita da interseccionalidade em muitos estudos, apesar do crescente reconhecimento
da importância dessa ferramenta analítica.
A análise bibliométrica das citações revelou que os trabalhos de Kimberlé Crenshaw e
Patricia Hill Collins são os mais referenciados, refletindo sua influência predominante no campo.
No entanto, a presença de artigos com citações de estudos recentes que incorporaram o referencial
da interseccionalidade sugere a emergência de novas contribuições e a necessidade de diversificar
as referências teóricas.
Esta pesquisa apresenta algumas limitações que devem ser consideradas. Primeiramente, a
análise foi baseada em um número limitado de artigos, o que pode não capturar a totalidade das
abordagens e experiências das pesquisadoras negras durante a pandemia de COVID-19. Além
disso, a categorização da aplicação do constructo da interseccionalidade pode ter sido influenciada
por interpretações subjetivas, apesar dos esforços para manter a objetividade.
Sugere-se que futuros estudos ampliem o número de artigos analisados e considerem incluir
outras bases de dados além do Google Scholar e Web of Science para obter uma visão mais
abrangente. Além disso, é recomendável que pesquisas futuras explorem mais profundamente as
experiências qualitativas das pesquisadoras negras, utilizando metodologias como entrevistas em
profundidade e grupos focais para complementar os achados quantitativos. Outra sugestão é
investigar o impacto de políticas institucionais específicas implementadas durante a pandemia para
apoiar pesquisadoras negras, avaliando a eficácia dessas medidas e identificando boas práticas que
possam ser replicadas em outros contextos.
Em conclusão, continuar a investigar as interseções de gênero, raça e parentalidade na
academia é essencial para desenvolver uma compreensão mais completa das desigualdades
estruturais, inspirar mudanças concretas em políticas acadêmicas e práticas institucionais
promovendo um ambiente acadêmico mais justo e inclusivo.
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HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias. Interseccionalidade na Análise
da Produção Científica de Pesquisadoras Negras Durante a Pandemia. Brazilian Journal of Information
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Copyright: © 2024 HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; RIGOLIN, Camila Carneiro Dias.
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Recebido: 22/08/2024 Aceito: 16/09/2024