1
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Ingenuidade e Inércia Cognitiva como Atributos para a
Viralização de Fake News nas Redes Sociais Online
Naivety and Cognitive Inertia as Attributes for the Viralization of Fake News on Online Social Networks
Paulo Ricardo Silva Lima (1),
João Rodrigo Santos Ferreira (2)
Edivanio Duarte de Souza (3)
(1) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil, pauloricardo.silvalimma@gmail.com
(2) Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Brasil, joaorsferreira@gmail.com
(3) Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Brasil, edivanio.duarte@ichca.ufal.br
Resumo
A disseminação de fake news nas redes sociais online tem criado um cenário de desinformação em que a
manipulação e o controle são utilizados para influenciar comportamentos e obter vantagens. Esse fenômeno
tem motivado esforços conjuntos para inibir sua propagação. No entanto, apesar dessas iniciativas, o
problema persiste. Parte-se do pressuposto de que os usuários desses canais, agentes fundamentais no
enfrentamento desse fenômeno, tornam-se contribuintes para a desinformação quando afetados pela
ingenuidade ou pela inércia cognitiva. Objetiva-se analisar o papel desses usuários na disseminação de fake
news e identificar fatores que influenciam sua postura acrítica. Conduzida por meio de uma revisão
narrativa da literatura para fins de fundamentação teórica, esta análise adota uma abordagem reflexiva,
exploratória e ensaística sobre a condição de co-partícipe dos usuários das redes sociais online frente ao
problema das fake news, fundamentada em temas-chave como pós-verdade e competência crítica em
informação, e ilustrada por uma análise empírica de três casos específicos de notícias falsas virais. Conclui-
se que os usuários das redes sociais online, quando ingênuos e inertes, são parte do problema e, por isso,
precisam ser mais reativos, em vez de, consciente ou inconscientemente, se tornarem agentes de
desinformação.
Palavras-chave: Fake news; Inércia cognitiva; Ingenuidade; Competência em informação
2
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Abstract
The dissemination of fake news on online social networks has created a scenario of disinformation in which
manipulation and control are used to influence behavior and gain advantages. This phenomenon has
motivated joint efforts to inhibit its spread. However, despite these initiatives, the problem persists. The
assumption is that users of these channels, who are key agents in confronting this phenomenon, become
contributors to disinformation when affected by naivety or cognitive inertia. The aim is to analyze the role
of these users in the spread of fake news and identify factors that influence their uncritical stance. Conducted
through a narrative review of the literature for theoretical purposes, this analysis adopts a reflective,
exploratory and essayistic approach to the condition of co-participants of online social network users in the
face of the problem of fake news, based on key themes such as post-truth and critical information
competence, and illustrated by an empirical analysis of three specific cases of viral fake news. It is
concluded that users of online social networks, when naive and inert, are part of the problem and, therefore,
need to be more reactive, instead of, consciously or unconsciously, becoming agents of misinformation.
Keywords: Fake news; Cognitive inertia; Naivety; Information competence
1 Introdução
O avanço das tecnologias digitais de informação e de comunicação viabilizou a criação de
espaços sociais online onde pessoas se conectam a partir de interesses, de objetivos e/ou de valores
comuns. Esses ambientes, vulgarmente conhecidos como redes sociais online, causaram grande
impacto nas relações interpessoais e conquistaram ampla aceitação, especialmente, por possibilitar
a maior liberdade de pensamento e de expressão de ideias, bem como por intensificar os fluxos
informacional e comunicacional, mitigando, inclusive, barreiras como as de tempo e de espaço. O
aumento desse fluxo, muitas vezes desprovido de filtros, colocou em circulação, além da verdade,
um grande e preocupante volume de informações falsas. O desarranjo infocomunicacional, em
parte, consequente da disseminação de fake news, motivou estudos e discussões acerca do
fenômeno e encorajou esforços na busca de soluções que controlassem ou, pelo menos,
minimizassem seus efeitos negativos.
Entretanto, parece que a mobilização em prol do combate às fake news não surtiu os efeitos
desejados e uma das causas dessa frustração pode estar alicerçada em (re)ações de um grupo
específico de usuários ingênuos e inertes que atuam de forma acrítica e/ou orientadas
majoritariamente por convicções pessoais (Pennycook; Rand, 2019). Ressalta-se que para se
alcançar esse entendimento é preciso analisar o problema a partir de uma perspectiva mais enxuta,
que se distancia, em certa medida, dos impasses de ordem estrutural resultantes de um contexto
3
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
marcado por corrupção, desigualdade social, educação precária etc., e de um capitalismo de
atenção digital voltado à popularidade e ao lucro, que dilapidam e manipulam as pessoas,
tornando-as vítimas, inclusive, de suas próprias ações. Além disso, a relação de causalidade entre
a atuação de usuários ingênuos e inertes e o problema das fake news não ignora outros fatores,
como a presença de usuários que sabem exatamente o que estão fazendo e desejam espalhar
notícias falsas por diversos motivos; a existência de contas que compartilham esse tipo de conteúdo
para monetizar seus serviços, uma vez que essas publicações tendem a viralizar, especialmente
pelo engajamento gerado por comentários que refutam a postagem falsa; ou a ação dos bait
comments, comentários projetados para atrair atenção e provocar reações, que podem aumentar
ainda mais a visibilidade desse tipo de notícia, contribuindo para sua disseminação. No entanto,
este estudo foca nas ações e nas reações dos usuários ingênuos e inertes.
Considerando a carência de criteriosidade dos sujeitos para investigar e analisar a
veracidade das informações, algumas redes sociais online espaços digitais que promovem a
interação, o compartilhamento de informações e a formação de comunidades entre usuários na
Internet, englobando diversos recursos como aplicações de conteúdo (Facebook, Instagram,
TikTok e X) e serviços de mensagens instantâneas (WhatsApp e Messenger) disponibilizam
mecanismos que permitem a filtragem automática de conteúdos identificados como falsos. Além
disso, foram criadas agências especializadas para verificar e (in)validar discursos que circulam
nesses ambientes (Pereira; Coutinho, 2022; Gragnani, 2018). No entanto, o atual quadro de
desinformação mostra que essas iniciativas ainda não são suficientes, alertando para a necessidade
de esforços conjuntos que abranjam usuários críticos e, portanto, desprovidos de ingenuidade e de
inércia cognitiva.
Tendo em vista que as redes sociais online são espaços propícios à viralização de
informações falsas, e que os esforços para sua contenção não estão sendo suficientes para frear
esse fenômeno, emerge, entre outros, o seguinte questionamento: que papel os usuários das redes
sociais online assumem no processo de disseminação de fake news e o que os leva a não adotar
uma postura mais crítica frente ao problema?
4
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Esta pesquisa, conduzida por meio de uma revisão narrativa da literatura para fins de
fundamentação teórica, adota uma abordagem reflexiva e exploratória, destacando seu caráter
ensaístico e evitando a rigidez dos métodos quantitativos ou qualitativos tradicionais. A revisão
narrativa, conforme Botelho, Cunha e Macedo (2011), tem como propósito descrever o estado da
arte de um tema específico, focando na análise teórica e contextual, sem utilizar um protocolo
rigoroso na definição de critérios, na seleção e na busca de referências para a realização dos
trabalhos. Essa abordagem permite uma exploração mais ampla da questão de pesquisa, mas, como
destacado por Casarin et al. (2020), a seleção de artigos é frequentemente arbitrária, o que pode
levar a vieses de escolha e grande influência da percepção subjetiva do pesquisador. Assim,
embora a revisão narrativa possibilite uma aquisição rápida de conhecimento, não permite a
reprodução dos dados nem oferece respostas quantitativas para questões específicas.
O percurso metodológico inicia-se com a discussão da maciça presença de fake news nas
redes sociais online, analisando seus principais atributos e características a partir da perspectiva
de pesquisadores como Allcott e Gentzkow (2017) e Pereira e Coutinho (2022). A pesquisa traz
duas abordagens complementares sobre a propagação de fake news, embora não muito
correlacionadas: uma, a afirmação mais amplamente aceita ou talvez a categoria que deteve a
maior parte da atenção do público, explica o fenômeno na perspectiva das emoções, enfatizando
que as pessoas disseminam fake news com base nas suas crenças; a outra, explica o fenômeno na
perspectiva da racionalidade, enfatizando a responsabilidade das pessoas de combaterem as fake
news, fato que demandaria maior atenção, raciocínio lógico e concentração.
Com efeito, esta discussão tem como base lógica a concepção dialética fundamentada em
Hegel. Para esse filósofo, a lógica e a história da humanidade seguem uma trajetória dialética, nas
quais as contradições se transcendem, mas dão origem a novos encontradiços que passam a
requerer soluções. Complementarmente, é a partir da concepção crítica estabelecida em Nobre
(2004) sobre como as coisas são e como deveriam ser (mas não são) que esta pesquisa, mediada
pelas luzes da razão e da interpretação social, busca evidenciar os comportamentos humanos frente
ao processo de desinformação que surge como um problema de ordem mundial, sem perder de
vista os aspectos estruturais que interferem negativamente no posicionamento crítico dos cidadãos.
5
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Somam-se a isso os esforços para delinear cada perspectiva, levantando temas-chave, como
a condição de pós-verdade discutida por Araújo (2020) e a (in)existência de uma postura crítica
apontada por Elmborg (2012), dentre outros, que sustentam e conduzem à ingenuidade e à inércia
cognitiva apontadas por Pennycook e Rand (2019), e impulsionam a propagação de fake news.
Dessa forma, e à luz abordagem ensaística de Rodriguez (2012), que combina reflexão
pessoal e crítica, busca-se evidenciar o papel dos usuários no processo de viralização de fake news,
ilustrado por uma análise empírica de três casos específicos de notícias falsas sobre a pandemia da
Covid-19, todos checados pela Agência Lupa, que se propagaram nas redes sociais online no
Brasil, cujo teor e estrutura denunciavam os seus aspectos falsos, mas ganharam notoriedade,
especialmente, por causa da desatenção e/ou do desinteresse dos usuários. A partir dessas
discussões, elencam-se as principais conclusões acerca da problemática estudada.
2 A propagação de fake news e suas relações dinâmicas com as redes sociais
online
Em que pesem as diferenças contextuais, factualmente, há alguns fatores elementares que
buscam justificar a ampla aceitação das informações falsas: o sensacionalismo imbricado, o forte
apego a convicções pessoais e a falta de conhecimento ou de entendimento básico sobre temas
essenciais à (co)existência social como saúde, política, economia etc. Ocorre que esses fatores
cegam os sujeitos desprovidos de um senso crítico, que não foi desenvolvido por uma série de
razões como desigualdade social, fanatismo político e/ou religioso, intolerância às minorias e
corrupção, dentre tantas outras.
Isso mostra que os problemas da aceitação e da propagação de mentiras e de boatos, ou,
mais recentemente, de fake news, têm raiz estrutural, pois são consequências de um cenário social
cheio de falhas que gesta uma população não estimulada a questionar.
Apesar de não se tratar de um fenômeno atual, a socialização global da Internet e a
popularização dos canais digitais nas últimas décadas tornaram a difusão de fake news mais
dinâmica e fluída, alcançando rapidamente milhares de usuários conectados (Meneses, 2018). Para
o contexto em discussão, as fakes news são tratadas como notícias fabricadas, descoladas da
6
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
verdade, com características jornalísticas, mas antecipadamente pensadas para a manipulação
(Brisola; Bezerra, 2018). Para a maior compreensão do termo e seguindo a mesma linha de
raciocínio, Allcott e Gentzkow (2017) as conceituam como informações comprovadamente falsas,
relacionadas a diversos assuntos, fabricadas e compartilhadas com a intenção de enganar os
indivíduos. Dentre as principais motivações que levam à fabricação de fake news, os autores
destacam as de caráter ideológico, que visam a uma manipulação massiva a partir do apelo aos
padrões, aos valores, às crendices e, dentre outros, às emoções populares.
Associada à propagação de fake news, o Brasil testemunha a ampla aceitação das redes
sociais online como Instagram, Facebook e X, e dos aplicativos de mensageria como o Telegram
e o WhatsApp etc., sendo este último um dos canais mais utilizados para disseminação de fake
news. Gragnani (2018) enxerga um grande problema nessa alta visibilidade/aceitabilidade dada,
especialmente, ao WhatsApp, visto que o seu caráter privado dificulta o rastreamento e a
mensuração do alcance do conteúdo ali veiculado, sendo, inclusive, um dos principais desafios dos
pesquisadores. Complementarmente, Pereira e Coutinho (2022) reforçam que no WhatsApp a
distribuição de conteúdos ocorre por meio do ‘efeito formiguinha’, onde o seu alcance é
diretamente proporcional ao seu número de compartilhamentos, podendo viralizar. O fato de o
referido canal enfatizar a troca de mensagens nos formatos de texto e de áudio, atributos que
facilitam e amplificam seu uso, contribuiu para o colocar no topo dos canais sociais disseminadores
de fake news.
Assim, mesmo os indivíduos com menor grau de instrução conseguem facilmente receber
e enviar conteúdos. Estrategicamente, além dos recursos de imagem e de vídeo, as fake news
também se apropriam daqueles formatos, alcançando uma massa vulnerável, que normalmente
utiliza o WhatsApp como único meio infocomunicacional. Apesar da figuração desse canal como
principal veículo disseminador de fake news no Brasil, é relevante frisar que essas redes sociais
online o são concorrentes e atuam de forma aliada nesse processo, pois possuem características,
finalidades e públicos similares, o que configura uma grande rede de pessoas interconectadas, com
diversas possibilidades de interação.
7
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Outro ponto importante que merece destaque é o fato de as fake news alimentarem uma
indústria altamente lucrativa que se vale da disputa por atenção. As notícias falsas,
sensacionalistas, talvez por serem, em sua maioria, mais espetaculares, têm elevado potencial de
gerar mais engajamento que as verdadeiras. No contexto prático, a Unicef (2022), ao tratar da
desinformação nos espaços digitais, destacou que conteúdos falsos são compartilhados, curtidos e
comentados até quatro vezes mais quando comparado ao potencial de engajamento de informações
verídicas. Essa conclusão tomou como base uma análise feita pelo Instituto de Internet da
Universidade de Oxford das postagens no Facebook durante as eleições para o Parlamento
Europeu em 2019. Isso justifica o amplo acesso a canais que propagam esse tipo de informação.
Aqui, a intenção primeira, muitas vezes, não é caluniar ou confundir, mas gerar lucro, pois, quanto
maior a audiência do canal, maiores as chances de lucrar com publicidade.
As redes sociais online aceleraram, pois, a mercantilização das fake news em favor da busca
por vantagens, sobretudo, financeiras. Essa economia de atenção digital, usada para gerar tráfego
para anúncios, reforça a ideia de que o problema da propagação desse tipo de notícias é estrutural,
e atinge, de forma mais incisiva, aqueles insensatamente apegados a crenças e a preconceitos,
aqueles desprovidos de habilidades para acessar e participar do ambiente informacional digital
e/ou aqueles que carecem de um senso crítico para avaliar conteúdos.
Para intensificar ainda mais o problema, nas redes sociais online existem algoritmos que
selecionam conteúdos para cada usuário, aprisionando-os em bolhas que continuamente moldam
e refinam suas percepções e seus desejos. Esse fenômeno resulta em uma estruturação crescente
de um “superávit comportamental”, que, segundo Zuboff (2020), transforma a experiência humana
em matéria-prima gratuita para extração, previsão e modificação de comportamentos,
caracterizando o que ela denomina de capitalismo de vigilância, centrado em produtividade,
competitividade e lucratividade econômica. Um dos desfechos mais preocupantes desse fenômeno
é o confinamento do usuário em “bairros de informações”, o que limita sua capacidade de acessar
diferentes perspectivas e explorar novas possibilidades no ambiente digital (Pariser, 2012). Essa
situação levanta sérias questões sobre a idoneidade das redes sociais online, que se tornam agentes
ativos e lucrativos na disseminação da desinformação.
8
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Contudo, consideradas as questões de ordem estrutural, a intenção, é, complementarmente,
evidenciar que os usuários da informação, que não exercitam as habilidades básicas para habitar
os canais sociais, têm sua parcela de culpa na massificação de fake news, e ponderar acerca da
ingenuidade e da inércia cognitiva que, nesse contexto, agravam o problema, numa dinâmica
recursiva que contribui inclusive para manutenção daquelas condições estruturais.
3 A ingenuidade e a inércia cognitiva
A tese central destas discussões incide sobre o entendimento de que os esforços estratégicos
que buscam dar notoriedade às fake news são mais eficazes quando alcançam usuários que não
exercitam a sua capacidade e/ou a sua habilidade de criticar ou de discernir, e que (re)agem
orientados por suas crenças e seus costumes, revelando um relativo desinteresse pela verdade. Com
efeito, no contexto em tela, a ingenuidade está relacionada à ausência de senso crítico apurado e
amadurecido e, muitas vezes, é condicionada pelo excesso de otimismo, de positividade e de
confiança, ao passo que a inércia cognitiva, à tendência do cérebro de priorizar respostas mais
acessíveis, na medida em que assentam em conceitos e ideias particulares, não requerendo um
pensamento mais crítico e estruturado.
3.1 A ingenuidade: perspectiva da emoção
Tendo em vista que grande parte das informações que circulam nas redes sociais online
foram estrategicamente elaboradas para alcançar os usuários mais desprevenidos, a ingenuidade
se apresenta como ponto negativo no combate à propagação de fake news. Ao analisar as
estratégias de fundamentação e de validação das mensagens, Van Leeuwen (2007) distingue quatro
grandes categorias, que podem ocorrer de forma isolada ou em conjunto: a) autorização, quando
a legitimação é dada pelo prestígio do canal fonte, pelo status social e/ou pela perícia dos
indivíduos, pela menção a leis, a regras e a regulamentos, ou mesmo pela frequência, ou seja, pelo
número de aparições de determinada informação; b) avaliação moral, quando os discursos são
baseados em juízos de valores, podendo ser reconhecidos por meio do conhecimento cultural de
senso comum; c) racionalização, quando se busca validar os discursos por meio de argumentos
9
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
lógicos; e d) mito, quando os discursos estão embasados em narrativas, relatos e, dentre outros,
histórias de (in)sucesso.
De modo prático, nas redes sociais online, essas estratégias comumente se manifestam nas
menções a, ou nos discursos de, líderes políticos, especialistas, celebridades, influenciadores
digitais etc. (autorização); nas acusações feitas a indivíduos que agiram de forma transgressora,
contrária aos valores comuns (avaliação moral); nas referências a dados e estudos científicos
(racionalização); e/ou nas experiências, positivas e negativas, que expõem situações específicas
possivelmente a serviço de modelos para serem, ou não, seguidos (mito), dentre outras.
Apesar das estratégias de avaliação moral e mito possuírem uma clara afinidade com o
campo das emoções, tendo em vista que costumam evocar o senso comum e vivências pessoais,
as outras duas também podem conduzir ao apelo emocional. Por exemplo: uma informação falsa
veiculada, intencionalmente ou não, por um líder ou canal populista admirado, ou mesmo por um
ente próximo como um parente ou um amigo, provavelmente será tida como verdadeira pelos
ingênuos, especialmente, por seu excesso de confiança nessas ‘fontes’. Esse é um claro exemplo
do uso da estratégia de autoridade. O mesmo acontece com a estratégia de racionalidade, quando
a informação falsa é validada por dados negativos apresentados fora de seu contexto, mesmo estes
sendo verdadeiros.
Além das armadilhas dos discursos, tem-se o otimismo excessivo que pode fazer com que
os indivíduos simplesmente deixem de olhar os demais lados de cada versão, aproximando a
ingenuidade de um quadro de inércia cognitiva que inibe o estímulo da racionalidade.
Tem-se ainda os casos em que as próprias redes sociais online são enxergadas a partir de
um olhar ingênuo, ou seja, são tidas como canais idôneos de informação, desconsiderando, por
exemplo, que são também ferramentas usadas para observar e mapear as características dos
usuários e, assim, orientar suas (re)ações e obter vantagens de todos os tipos. Em entrevista ao
portal de notícias G1
(1)
, o sociólogo Dominique Wolton expôs como a ‘paixão cega pelas redes’ e
a cultura ingênua de exposição pessoal que se instalou nesses ambientes podem ser prejudiciais.
Existe uma espécie de folia de confiança. As pessoas gostam de entregar seus
dados. As pessoas aceitam isso ingenuamente. Agora que se sabe um pouco
10
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
melhor como funcionam os algoritmos por trás das páginas, as pessoas são
fascinadas pela técnica por trás delas, como se tivessem achado algum segredo.
É até um pouco perverso. (Wolton, 2018).
Em entrevista ao jornal O Globo
(2)
, o psicólogo canadense Pennycook fala sobre a
‘receptividade a bobagens’, ou seja, a tendência de indivíduos terem uma mente aberta, mas de
forma acrítica. Ele explica que pessoas com alta receptividade a bobagens estão suscetíveis a
acreditar em vários tipos de afirmação, não importa quão improváveis possam ser. O psicólogo
fala ainda sobre a tendência de algumas pessoas a serem ‘sabichonas’, de acharem que sabem
demais sobre assuntos que não dominam ou que não têm como saber, como uma forma de
confiança exagerada no próprio conhecimento. Kahneman (2012, p. 51) alerta que [...] muitas
pessoas são superconfiantes, inclinadas a depositar excessiva em suas intuições. Elas
aparentemente acham o esforço cognitivo no mínimo moderadamente desagradável e evitam-no o
máximo que podem.”. Esses comportamentos desfavorecem a provocação de uma reflexão mais
apurada, obscurecendo, da mesma forma que a atitude ingênua, o verdadeiro sentido ou a real
intenção da mensagem.
A ideia de Kahneman traça um claro paralelo entre a ingenuidade caracterizada pela
confiança cega em intuições, instintos, palpites etc. e a resistência, por mero comodismo, para se
distanciar desses sentimentos e dessas convicções para explorar novos caminhos, caracterizando a
inércia cognitiva. Então, aliada a essa parcela de ingenuidade que aflige muitos usuários das redes
sociais online, há, também, uma proporção de relutância e de indisposição para lidar
adequadamente com a avalanche de (in)verdades que circulam nesses ambientes.
3.2 A inércia cognitiva: perspectiva da racionalidade
Apesar de o enunciado sugerir uma discussão baseada na razão, esta subseção trata da sua
ausência, enfatizando que a ação dos usuários das redes sociais online, no combate às fake news,
é prejudicada, muitas vezes, pela falta de atenção, de raciocínio lógico e de concentração.
De forma simplificada, Kahneman (2012) afirma que existem duas formas principais de
pensar: uma mais rápida e automática, que opera com pouco ou nenhum esforço e nenhuma
percepção de controle voluntário; e outra, mais lenta e minuciosa, que demanda maior atenção,
11
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
raciocínio lógico e concentração. Stanovich e West (2000) chamaram esses processos,
respectivamente, de ‘Sistema 1’, em que os processos não requerem ou não consomem muita
atenção, ocorrem instantaneamente, e não são afetados pelo intelecto, pelo estado de alerta, ou pela
dificuldade do problema; e de ‘Sistema 2’, em que ocorrem operações mentais que exigem esforço,
motivação, concentração e execução de regras aprendidas.
Para ilustrar a diferença entre as duas formas de pensar, Frederick (2005), ao discutir os
efeitos da capacidade cognitiva na tomada de decisão, resgata um simples Teste de Reflexão
Cognitiva (CRT): Um taco e uma bola custam $ 1,10. O taco custa $ 1,00 a mais que a bola. Quanto
custa a bola? O autor explica que a resposta intuitiva que vem rapidamente à mente é 10 centavos.
Porém, qualquer pessoa que reflita sobre isso, mesmo que por um momento, reconhece que a
diferença entre $ 1,00 e 10 centavos é de apenas 90 centavos, e não de $ 1,00, como o problema
estipula. Neste caso, detectar esse erro equivale a resolver o problema, uma vez que quase todas
as pessoas que não respondem ‘10 centavos’ dão, de fato, a resposta correta, ‘5 centavos’.
Esses princípios explicam como a inércia ou a preguiça cognitiva se manifestam nos
indivíduos e orientam suas ações. Considerando que a preguiça é algo profundamente arraigado
na natureza humana, Kahneman (2012, p. 47) esclarece que “Diversos estudos psicológicos têm
mostrado que pessoas que são desafiadas simultaneamente por uma tarefa cognitiva exigente e por
uma tentação muito provavelmente vão ceder à tentação.”
A inércia cognitiva é, então, resultante de uma tendência natural do cérebro de preferir as
respostas mais simples, que condizem com conceitos e ideias particulares, e que não exigem um
pensamento mais crítico e estruturado. Originalmente proposta em 1960 pelo psicólogo social
McGuire, a teoria da inércia cognitiva foi usada para explicar uma relativa resistência a mudanças
e a novas ideias conflitantes que dissonam dos conhecimentos preestabelecidos, ou uma falta de
motivação para refletir, de forma distinta, sobre determinadas questões. (McGuire, 1960). Nesse
sentido, quando se trata de processar informações, a inércia cognitiva limita o foco dos indivíduos
e conduz à suposta ‘verdade’ que reafirma seus pensamentos, pois acreditar se torna mais fácil do
que pensar e refletir.
12
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Tendo em vista que o espaço das redes sociais online é marcado por um intenso volume de
informações, sendo verdadeiras e falsas, a checagem de cada uma delas se torna impossível e a
inércia pode resultar, também, dessa percepção, pois os usuários sabem que não têm tempo hábil
para lidar adequadamente com essa carga de informações. O volume, contudo, não deve ser usado
como desculpa para a não checagem das informações, pois os usuários deveriam, ao menos, checar
aquelas que disseminam. Ocorre que, muitas vezes, eles estão navegando no espaço digital apenas
para se distraírem ou se divertirem e preferem direcionar seus esforços mentais para outras
atividades tidas como mais importantes, por isso leem e compartilham sem pensar,
desconsiderando os riscos dessas ações.
Considerando que no contexto de desinformação nas redes sociais online a linha que
distingue os ingênuos dos inertes é tênue, vale destacar que aquelas estratégias de validação do
discurso apresentadas por Van Leeuwen (2007) também afetam aqueles que não exercitam a
racionalidade e, portanto, se mostram vulneráveis. Apesar do nível de refinamento que as fake
news têm alcançado, ainda é possível encontrar nos ambientes digitais muitas inverdades óbvias
ganhando notoriedade em decorrência do crivo de uma massa usuária com ‘preguiça de pensar’.
3.3 A ingenuidade e a inércia cognitiva como atributos para a viralização de fake news
Os recentes debates sobre pós-verdade trazem questões que evidenciam a presença da
ingenuidade e da inércia cognitiva, especialmente nos espaços sociais online, e que, ao mesmo
tempo, aproximam os termos.
Araújo (2020) esclarece que o fenômeno da pós-verdade representa certo declínio da razão,
das atitudes racionais, em detrimento de ações dirigidas pelo emocional, por preconceitos ou por
visões de mundo pré-concebidas e estanques. Nesse contexto, o fato de as informações serem
verdadeiras ou não se tornou algo irrelevante, mesmo no ambiente tecnológico atual, que facilita
e oferece muitas possibilidades de checagem da veracidade das informações a partir de consultas
em alguns segundos na Internet. Ao discutir as causas do fenômeno da pós-verdade, Araújo (2020)
aponta para um déficit de atenção, onde as pessoas não leem os textos, mas apenas as notícias, e,
num esforço para evitar descontentamento psíquico, formam suas visões de mundo sem se basear
na razão e nas evidências, isto é, nos fatos. Na mesma perspectiva, Pereira (2020) entende que o
13
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
déficit de atenção constitui um fator pernicioso à verdade, especialmente, em razão da velocidade
com que as notícias falsas são espalhadas em questão de segundos. O fato é que:
Poucos dispensam tempo para melhor se informar sobre algo lido no feed de
notícias ou recebido em um aplicativo de mensagens instantâneas, antes de curtir
e compartilhar com outras pessoas. Ao contrário, o que se verifica é que as
curtidas e compartilhamentos são quase que instantâneos e inconscientes, apesar
de muitas vezes se tratar de conteúdos falseados e manipulados (Pereira, 2020,
p.37).
Com isso, essas pessoas ignoram os detalhes que denunciam as fake news e dão mais força
a elas, tornando-as uma espécie de ferramenta da pós-verdade. Além destes, existem outros fatores
favoráveis ao referido fenômeno, que vão desde um negacionismo científico e a valorização de
pré-compreensões populares, até à própria desaparição da verdade, promovida por mentiras
compulsivas ditas por líderes populistas e tidas como verdadeiras (Araújo, 2020).
Sabe-se ainda que o espaço digital, que é afetado por uma economia de atenção voltada ao
lucro e regido por estratégias algorítmicas empenhadas em mapear as peculiaridades de cada
indivíduo e, mais que isso, produzir um superávit comportamental, expõe aqueles que priorizam
os atalhos mentais à manipulação e à persuasão camufladas em (in)verdades, em detrimento do
esforço intelectual. Cruz (2021) explica que a possibilidade de reduzir as mentes das pessoas a
apenas respostas emotivas e sensoriais tem sido o objetivo, velado, do design algorítmico. Para o
autor,
A transmiso de informações que não sejam acessíveis à consciência individual,
suprimindo, assim o contraditório, passa a ser um objetivo desse design. A
exposição a um estímulo que não seja acessível pelo consciente favorece a
possibilidade de um comportamento automatizado em relação a certos estímulos
direcionados a cada indivíduo. (Cruz, 2021 p. 1092).
Para economizar tempo ou para evitar uma fadiga mental, ou mesmo por pura distração,
muitos indivíduos são movidos por ações automáticas carregadas de preconceitos e acabam
simplificando e ignorando as potencialidades, negativas e positivas, das informações que recebem.
Tomando como referência a potencialidade da obtenção de superávites comportamentais,
resta claro que a lógica algorítmica das redes sociais online favorece, em grande medida, o
comportamento acrítico de seus usuários, resultando na diminuição de quaisquer barreiras que
14
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
imponham filtros e restrições à propagação de fake news. Com efeito, claramente a correlação
entre a ingenuidade e a inércia cognitiva podem ser percebidas mais uma vez. A inércia
desencoraja os leitores a observar os elementos que denunciam as informações falsas, e a
ingenuidade faz com eles olhem para esses elementos, mas de forma acrítica.
A tendência natural do ser humano é crer no que já acreditava antes. [...] Se uma
pessoa recebe uma informação contrária a suas crenças, imediatamente ela entra
em “dissonância cognitiva”. Para evitar o desconforto, a tendência é que ela negue
aquela informação, desacreditando a fonte, o método de construção do conteúdo
ou qualquer outro aspecto que justifique (para ela mesma) a negação daquele
discurso. Por isso, aparentemente, não debate possível com pessoas que se
apegam a notícias falsas, pois o que as mobiliza não são argumentos racionais.
(Unicef, 2022, p. 17).
Para Pennycook (2018), as pessoas sempre vão aceitar aquilo que confirma suas crenças,
que é consistente com sua ideologia, e vão desconfiar daquilo que as desafiam, independentemente
de ser real ou falso. Ou seja, pessoas que se apropriam de fake news, muitas vezes, apenas não
estão pensando analiticamente sobre as informações que lhes são apresentadas. Nas redes sociais
online, ratifica-se, essas são condições favoráveis à propagação de fake news.
4 Os usuários como fator determinante para a viralização das fake news
Os níveis de sofisticação e de complexidade das mensagens que circulam nas redes sociais
online, que combinam uma série de estratégias discursivas e diferentes estímulos audiovisuais,
estão alcançando patamares tão elevados que, não se pode negar, até para atuações mais atentas,
chega a ser possível confundir o falso com o verdadeiro, inclusive dada a multiplicidade de
possibilidades e de combinações.
Ao analisar o contexto de desinformação, Wardle e Derakhshan (2017) explicam que
existem, pelo menos, sete cenários diferentes que vão desde a notícia inventada, criada para
manipular, até aquela que, embora sem intenção de causar dano, tem um elevado potencial de
induzir ao erro, e isso tem dificultado a identificação das fake news.
Embora o avanço tecnológico e os novos recursos de inteligência artificial tenham
melhorado significativamente a capacidade de rastreamento das fake news, parece que os criadores
15
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
desse tipo de conteúdo continuam refinando suas técnicas, ressaltando a inconveniência de
depositar a responsabilidade da verificação unicamente na tecnologia. Assim, para a detecção de
fake news, além de considerar os esforços de outros importantes atores como os gestores das redes
sociais online e as agências de checagem (fact-checking), é essencialmente necessário, para esta
discussão, ponderar sobre a responsabilidade dos usuários receptores/disseminadores de
informações.
Tendo em mente que as fake news são capazes de alterar a percepção dos indivíduos sobre
a realidade e que, em sua maioria, se propagam com maior celeridade nas redes sociais online, os
gestores desses ambientes têm criado padrões para inibir a sua presença. O Facebook, por exemplo,
palco de inúmeras notícias dessa natureza no período eleitoral dos Estados Unidos da América
(EUA) de 2016, seja para atacar ou para apoiar os políticos na corrida presidencial, desenvolveu
alguns mecanismos, como a análise e a identificação automática de postagens contendo
informações falsas e a possibilidade de o usuário denunciar esse tipo de publicação, com o intuito
de inibir sua propagação (Delmazo; Valente, 2018). Da mesma forma, em parceria com
organizações da Aliança Internacional de Checagem de Fatos (IFCN), o WhatsApp tem se
preocupado com a segurança de seus usuários e trabalhado para prevenir a disseminação de
informações falsas. Por causa da proteção da criptografia de ponta do canal, as parceiras de
checagem de fatos dependem de denúncias feitas pelos usuários para operar. Assim, os usuários
podem encaminhar as mensagens suspeitas para as organizações de confiança do país do qual a
mensagem foi enviada e elas poderão responder compartilhando um artigo que explica as
informações checadas (WhatsApp, 2022).
Entende-se que, na prática, a realidade da população, muitas vezes, dificulta o engajamento
proativo. Pessoas que trabalham longas horas, enfrentam deslocamentos exaustivos em regiões
metropolitanas e lidam com salários baixos não têm a mesma disponibilidade de tempo e de
recursos para agir de forma proativa no combate às fake news. Assim, é fundamental que as
entidades responsáveis pela fiscalização e pelo monitoramento da informação assumam o papel
principal na moderação e na verificação das informações disseminadas. No entanto, essa situação
não isenta os usuários de sua responsabilidade; é essencial que eles se preocupem com as
informações com as quais interagem. Às vezes, optar por não compartilhar pode ser a melhor
16
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
escolha, pois, quando se trata de fake news, isso ajuda a evitar que se tornem agentes propagadores
de desinformação. É forçoso considerar que a conscientização sobre o impacto de suas ações é
fundamental para combater o problema. A ingenuidade e a inércia cognitiva podem levar à
propagação de desinformação, sublinhando a importância de um consumo mais consciente das
informações, independentemente das circunstâncias que cercam o cotidiano das pessoas.
É importante, contudo, ponderar que, se por um lado, esses canais demonstram certa
movimentação contra a propagação de fake news, por outro, podem, furtivamente, querer se isentar
de sua parcela de responsabilidade no combate ao problema, visto que têm algoritmos ditando o
que os usuários vão, ou não vão, ver em seus respectivos perfis. Nesse caso, a autorregulação pode
se revelar uma iniciativa ineficaz quando existem benefícios com a propagação de fake news, que
intensifica o fluxo de usuários no canal. Outra desculpa para a suposta isenção dos canais sociais
estaria embasada na limitação do direito fundamental à informação e da liberdade de expressão,
mesmo quando as fontes disseminadoras de fake news são identificadas. Contudo, se efetivas, essas
iniciativas se mostram essenciais para conter tal propagação.
As agências de checagem, com a mesma finalidade, reuniram profissionais de diversas
áreas do conhecimento, em especial jornalistas e cientistas, com habilidades em tecnologias e
processos infocomunicacionais, focados na identificação e na descredibilização de fake news. A
Agência Lupa, por exemplo, criada em 2015, é uma das principais agências atuantes no Brasil que
segue os princípios da IFCN, sendo alguns deles a imparcialidade, o apartidarismo e a
transparência dos métodos de análise e das fontes informacionais (Dourado; Alencar, 2020). Em
2021, essa agência analisou uma série de notícias relacionadas à pandemia da Covid-19, dentre
elas, as proferidas pelas autoridades (políticos, pesquisadores e cientistas) convocadas ou
convidadas a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) organizada para investigar as
ações e as omissões do governo brasileiro. Em seu polêmico depoimento no dia 1 de junho de
2021, a médica imunologista Nise Yamaguchi levantou suspeitas quanto à eficácia das medidas
de combate à proliferação do novo Coronavírus indicadas pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), o que motivou a criação e a disseminação de muitas mensagens falsas ou de caráter
duvidoso (Macário; Duarte; Moraes, 2021). A checagem realizada pela Lupa ocorreu um dia após
o depoimento da médica, revelando certa celeridade no processo de validação de notícias,
17
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
reforçando sua importância na inibição da propagação de fake news, principalmente, nos ambientes
digitais.
É necessário esclarecer que casos em que os produtos gerados a partir das análises feitas
pelas agências de checagem são extensos e minuciosos. Isso pode ser visto como uma barreira no
combate à propagação de fake news, visto que desencoraja sua leitura naqueles que têm
indisposição ou falta de tempo para ler. Além disso, o alto e crescente volume de fake news que
circula nas redes sociais online inviabiliza uma atuação mais incisiva dessas agências que,
provavelmente, precisam definir critérios para priorizar os fatos a serem checados, deixando
escapar outros tidos como de menor impacto social. Isso reforça a ideia de que o combate às fake
news demanda ações conjuntas.
Quanto aos esforços dos usuários nesse combate, em particular, é preciso que eles ajam de
forma cautelosa, desenvolvam competências para investigar a veracidade ou não das notícias que
recebem e assumam um posicionamento ativo perante elas. é de certo domínio comum que
várias ações que ajudam na identificação de fake news: checar a autoria da informação; buscar a
mesma informação em outros canais; investigar o propósito da informação; e, dentre outras,
analisar os componentes gramaticais e/ou visuais da informação. A ingenuidade e a inércia dos
usuários, porém, está se mostrando um dos maiores empecilhos nos combate às fake news.
4.1 Comportamentos dos usuários que impulsionam a viralização das fake news: exemplos e
impactos.
Em que pese o conhecimento dessas diversas possibilidades, no auge da pandemia da
Covid-19, foram inúmeros os exemplos de fake news que se tornaram virais no Brasil em
decorrência da atividade inconsequente dos usuários. As principais abordagens faziam referência
às propriedades do patógeno, aos danos à saúde, às formas de prevenção e, entre outros, às supostas
curas. A Agência Lupa, por exemplo, verificou diversas fake news relacionadas à cura e ao
tratamento da doença, como o uso de chás de ervas e de medicamentos sem eficácia comprovada,
falsas terapias, receitas milagrosas etc. (Queiroz, 2020).
18
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
A referida Agência, por exemplo, verificou que alguns usuários de canais sociais online
passaram a compartilhar as receitas dos itens utilizados para o ‘santo remédio’, induzindo outros
usuários a fazerem o mesmo, conforme Figura 1.
Figura 1 Fake news sobre curas milagrosas
Fonte: Rômany (2020)
Nesse caso, o forte apelo à crendice recrutou a ingenuidade das pessoas e reforçou o
desinteresse pela constatação da (in)verdade. Até o fato de a publicação ter sido veiculada por um
não especialista foi ignorado. Essa postagem, que fora veiculada no Facebook no dia 02 de julho
de 2020, tinha sido compartilhada, até as 17h do mesmo dia, por 1.100 usuários da rede. Em nota,
o Ministério da Saúde brasileiro informou que não existem evidências ou comprovações científicas
que associem a cura da Covide-19 a quaisquer tipos de chás ou a outras receitas caseiras (Rômany,
2020).
É relevante destacar que o medo e a insegurança incitados pela pandemia, e a inexistência
da cura ou de tratamentos com eficácia comprovada, motivaram as pessoas a acreditar, sem
questionar, e a testar essas receitas.
19
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
No mesmo período, uma das fake news que provocaram maior comoção e, ao mesmo
tempo, pânico social trazia vídeos e imagens com cenas de caixões vazios sendo enterrados e uma
legenda, conforme Figura 2, que revelava a farsa da pandemia e afirmava que o número de mortes
eram irreais e foram manipulados para criar caos.
Figura 2 Fake news sobre caixões vazios
Fonte: Moraes (2020)
De acordo com a Agência Lupa, os vídeos são verdadeiros, porém, não foram gravados no
período da pandemia, mas, em 2017, no Estado de São Paulo, quando estelionatários realizam
simulação de enterro para aplicar golpes em seguradora (Queiroz, 2020). Tem-se um claro
exemplo de uma informação veiculada fora de seu contexto credibilizada pelo olhar acrítico.
Apesar do uso da estratégia de racionalização, como considera Van Leeuwen (2007), com a
apresentação de dados concretos, o forte apelo emocional inibiu o posicionamento crítico do leitor
perante a mentira.
Há casos em que a identificação da mentira exige maior esforço e perícia, contudo, o teor
falso de grande parte dessas fake news é facilmente reconhecido, como no vídeo, na Figura 3, que
20
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
viralizou durante a pandemia e mostrou um homem, suposto Diretor-Geral da OMS, dançando e
consumindo bebidas alcoólicas em um bar paulista, descumprindo as medidas de segurança
proferidas por ele mesmo (Caesar, 2020).
Figura 3 Fake news sobre o diretor-geral da OMS
Fonte: Caesar (2020)
O olhar atento teria notado que o aparelho de televisão ao fundo transmitia um programa
de auditório com plateia, prática proibida durante a pandemia. O programa foi exibido em fevereiro
de 2020, antes de as medidas de segurança, como lockdown, serem decretadas (Caesar, 2020).
Neste caso, a percepção da inverdade não exigia conhecimento especializado sobre tipos e
estratégias de fake news que, no caso, apelou para a avaliação moral (Van Leeuwen, 2007), mas
apenas um olhar mais atento, não preguiçoso. A ampla aceitação dessa inverdade repercutiu no
Brasil e no mundo, tendo em vista que também foi traduzida para o inglês. Percebe-se que quem
produziu esta fake news, talvez movido por interesses e crendices particulares, buscava
descredibilizar a autoridade do diretor e o seu discurso favorável ao isolamento social como
medida de contenção do vírus, incentivando, direta ou diretamente, a quebra dessa medida adotada
por diversos países.
Os três exemplos mostram que a falta de um posicionamento crítico dos usuários foi fator
determinante para a viralização das fake news, comprovando, inclusive, que existe uma parcela de
21
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
participação considerável desses usuários, o que, certamente, não exime a responsabilidade de
outros atores que compõem a indústria de fabricação, de compartilhamento e de uso de
informações dessa natureza.
4.2 Estratégias contra a viralização das fake news: a importância da competência em informação
O desenvolvimento de uma competência em informação com um olhar mais crítico seria,
então, um dos antídotos contra a inércia das pessoas diante das fake news. Não se pode perder de
vista que um dos objetivos da competência em informação é dar condições aos sujeitos para que
eles: “Avaliem criticamente a informação segundo critérios de relevância, objetividade,
pertinência, lógica, ética, incorporando as informações selecionadas ao seu próprio sistema de
valores e conhecimentos [...].” (Dudziak, 2018, p. 29).
No contexto desta discussão, entende-se que o sujeito é competente em informação quando
consegue apreender, avaliando sua veracidade ou falseabilidade, e transmitir a informação de
forma genuína, o que contribui para a detecção de fake news e a minimização do seu
compartilhamento nas redes sociais online. Ocorre que, conforme ponderam Oliveira e Souza
(2018, p. 11), “[...] identificar fontes e checar referências antes de atribuir credibilidade à
informação tem se tornado uma árdua tarefa, mesmo para pessoas ditas competentes em
informação.” Em que pesem algumas construções superficiais, reforça-se, muitas fake news são
fabricadas com bases em uma rede de informações falsas, com o uso de uma série de elementos
de validação. De fato, na prática:
É comum que as informações falsas sejam produzidas de forma que o usuário não
perceba. Os criadores se apropriam de logomarcas, endereços eletrônicos e
características de fontes de informação conhecidas para construir fake news com
poder de autoridade e convencimento. (Ferreira; Lima; Souza, 2020, p. 35).
Então, ao acrescentar o elemento crítico à competência em informação, Elmborg (2012)
afirma que o sujeito conhecedor consegue avaliar criticamente as informações e suas fontes,
incorporá-las à base de conhecimento e direcioná-las de maneira a alcançar objetivos específicos.
Apesar da crença na competência crítica em informação como um dos fatores preponderantes no
combate à disseminação de fake news, percebe-se que ela está alheia aos ‘caprichos’ de cada
indivíduo. Porém, importante observar que:
22
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
A escolha da competência crítica para tratar das fake news recai pontualmente
sobre a seguinte questão: sujeitos competentes em informação, se analisados sob
os critérios dispostos nos frameworks das competências em informação e
midiática, nem sempre estão aptos para lidar com a formatação da informação
falsa, sendo vítimas de manipulação, a despeito de suas habilidades até então
consideradas suficientes. (Oliveira; Souza, 2018, p. 12).
Com isso, reconhece que não se deve isentar os demais autores e as instituições de suas
responsabilidades na propagação de fake news, mostrando que os usuários são apenas parte de um
contexto e, portanto, não são os únicos responsáveis pelo problema, nem mesmo os mais
importantes. Ainda assim, se estes usuários se afastarem um pouco mais de sua condição de vítima
e se tornarem mais reativos em vez de passivamente aceitar as informações como verdadeiras,
certamente as medidas de contenção do problema poderão ter maior eficácia.
A competência crítica possibilita que os indivíduos exercitem um raciocínio reversível que
permite perceber as informações, contraditórias ou não, de forma multidirecional, ou seja, a partir
de diferentes perspectivas. Para aplicá-lo, é preciso enxergar além da perspectiva usual, pois isso
revelará pistas de possíveis equívocos, quando for o caso. Perceber que ROMA é anagrama da
palavra AMOR, ou que 5+2=7 e 7-2=5 são operações que se supõem mutuamente, são formas
simples de exemplificar essa reversibilidade. Ocorre que, quando os indivíduos, ingênuos e inertes,
veem as informações a partir de uma determinada linha de pensamento, fecham os olhos para
outras possibilidades, especialmente, quando tratam de assuntos mais complexos.
Ao discutir os fatores cognitivos que impulsionam a crença em algo versus a rejeição de
notícias falsas, Pennycook e Rand (2019) entendem que o pensamento analítico apoia um bom
julgamento em relação ao caráter duvidoso das informações, entretanto, evidências de que as
pessoas caem em falsas notícias porque não querem pensar.
Pennycook (2018) pondera que uma pessoa pode ser muito inteligente, mas, se ela não está
disposta a questionar suas próprias intuições, não será muito esperta. Apesar do entendimento de
que as pessoas são mais propensas a acreditar naquilo que é consistente com suas próprias
ideologias, Pennycook e Rand (2019) descobriram que o pensamento analítico conduz à rejeição
ou à descrença em informações falsas, mesmo quando concordantes com tais ideologias. Isso leva
a acreditar que o indivíduo crítico se aproxima de notícias falsas porque tem preguiça de pensar.
23
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Com efeito, pensar analiticamente sobre questões que escapam ao nível de conhecimento particular
pode resultar em conclusões errôneas e em uma consequente exaustão mental. Por isso é cômodo
não pensar. Ademais, o foco na viralidade das fake news pode minar a plausibilidade e, portanto,
as percepções dos sujeitos analíticos.
É importante considerar, também, que muitas pessoas não têm competência para lidar com
o aparato tecnológico que precisa ser recrutado quando se busca checar a veracidade das
informações no espaço digital, algumas sequer sabem que isso é possível, e compartilham o que
recebem sem quaisquer ponderações. Nesses casos, talvez seja mais conveniente culpar a
ingenuidade das pessoas que compartilham fake news, em vez da preguiça de pensar.
Complementarmente, essa ingenuidade se reflete, quando ocorre a apuração incompleta e/ou o
repasse inocente de fake news. Esse tipo de compartilhamento, desprovido de uma análise de
conteúdo mais criteriosa ou de uma compreensão mínima do impacto de sua propagação, acaba se
tornando parte efetiva do problema, motivada pelo não exercício do pensamento crítico.
Vale relembrar que o o desenvolvimento de postura crítica e ativa nos indivíduos tem
raízes estruturais e, presumivelmente, resulta, em especial, de um contexto educativo precário. Por
isso, reforça-se, não seria justo responsabilizar, unicamente, os usuários por sua inércia ou por não
exercitarem seu senso autodidata. Certamente, o desenvolvimento dessa competência e dessa
postura ativa não é tarefa fácil para muitos indivíduos. Contudo, considerando que a desinformação
é, também, um fenômeno de ordem estrutural, uma alfabetização midiática de base, com noções
sobre como entender a dinâmica das fake news nos canais sociais ou como detectar argumentos
fraudulentos, pode resultar na formação de usuários mais atentos.
Longe de uma abordagem simplista, é necessário ponderar que o tema fake news, com suas
peculiaridades, seus benefícios e seus malefícios, vem sendo discutido por cientistas,
especialistas, estudantes, ou até mesmo pelo público geral, e tem sido amplamente disseminado
nas dias impressas, nos veículos analógicos e, especialmente, nos canais digitais, que é difícil
acreditar que grande parte dos usuários de informação não tenha, ainda, se deparado com o termo.
Se sim, isso deveria, ao menos, ter despertado, neles, curiosidade a respeito do tema. Com efeito,
são essas condições, que combinam o acesso a um considerável volume de informações duvidosas
24
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
à ingenuidade e à preguiça de pensar, muitas vezes voluntárias, em detrimento de um pensamento
crítico e reversível, que motivam as pessoas a aceitarem aquilo que é entregue como verdade e
impulsionam a propagação de fake news.
5 Conclusões
O grande volume de fake news que circula nas redes sociais online reflete, entre outras
possibilidades, o quanto a sociedade tem negligenciado a importância de se analisar criticamente
as informações recebidas. Apesar dos esforços contrários à disseminação de fake news, que reúne,
por exemplo, as ações dos gerenciadores das redes e das agências de checagem, criando
mecanismos para identificar e excluir informações falsas dos ambientes digitais, o problema exige
um esforço contínuo e conjunto e deve ser enfrentado também pelos usuários no exercício de sua
competência em informação.
O fato é que, quando os sujeitos assumem uma postura ativa, além de conseguir avaliar e
checar as informações recebidas, podem realizar denúncias sobre o teor falso dela e compartilhar
essa descoberta com a sua rede de conexões virtuais. Esse posicionamento crítico dos usuários,
contudo, tem sido substituído por uma ingenuidade alimentada, especialmente, por um excesso de
receptividade às bobagens, e por uma inércia cognitiva, condicionadas pela preguiça de contradizer
aquilo que condiz com as suas crenças e os seus costumes.
Então, quando os sujeitos não se esforçam para pensar e aplicar o senso analítico reflexivo,
é mais fácil acreditar em informações falsas, tornando-se mais vulneráveis à manipulação
proporcionada pelos canais sociais. Aqueles que evitam o pecado da indolência intelectual
poderiam ser chamados de ‘empenhados’, ou seja, são mais alertas, são intelectualmente mais
ativos e, portanto, mais céticos acerca de suas intuições e menos dispostos a se satisfazer com
respostas superficialmente atraentes (Kahneman, 2012).
A pesquisa objetivou tornar o problema da disseminação de fake news mais evidente,
mostrando que existem usuários, especialmente os ingênuos e os inertes, que são parte dele,
revelando o que os torna vulneráveis às armadilhas (des)informacionais e quais são as
25
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
consequências disso, evidenciando a complexidade do fenômeno, sobretudo, ao considerar que
estes tipos de comportamento, inerte e ingênuo, são, em grande medida, a força propulsora do que
Zuboff (2020) chama de ‘superávit comportamental’, no domínio das fake news. É certo que
existem fatores de ordem estrutural, resultantes de um contexto marcado por corrupção,
desigualdade social, educação precária, intolerância, fanatismo e outras deficiências sociais, e por
um capitalismo de atenção digital voltado à popularidade e ao lucro, que, em muitos casos,
enquadram os usuários dos canais sociais na condição de vítima, que, embora não discutido
centralmente, não são desconsiderados. Entretanto, seria uma opção ingênua acreditar que essa
parcela de usuários é apenas vítima e não sujeitos de comportamentos conscientes em torno do
fenômeno da desinformação provocado pela disseminação de fake news, justamente porque a
inércia desses sujeitos está, muitas vezes, respaldada na preguiça de pensar ou no receio de sofrer
com o cansaço mental proveniente desse esforço.
Essa condição acrítica dos usuários, além de impulsionar as fake news, agravando o
problema da desinformação, pode assumir outras proporções baseadas em discursos
conspiracionistas. A teoria da conspiração, assim como as fake news, manipulam e exploram
emoções e sentimentos humanos (Byford, 2011), resultando em retrocessos sociais que afetam a
saúde, a política, a economia, a coesão social, a confiança na ciência, a segurança e o bem-estar
psicológico das pessoas. A análise desse autor leva a considerar não apenas os efeitos nocivos das
teorias conspiratórias, mas também a necessidade de explorar encaminhamentos para mitigar esses
impactos. Ao abordar a intersecção entre emoções, desinformação e teorias da conspiração, surgem
questões que permanecem em aberto e que demandam uma investigação mais aprofundada sobre
como essas dinâmicas podem ser enfrentadas, promovendo uma cultura crítica e informada acerca
do consumo de informações. Então, que este ensaio sirva como um convite aos estudos empíricos;
que a ingenuidade e a inércia cognitiva dos usuários tornem-se variáveis observáveis, constatáveis
e compreensivas neste e em outros contextos, em que pesem os condicionantes estruturais, sejam
eles econômicos, educacionais, políticos, sociais e tecnológicos, entre outros; e que o problema
das fake news alcance novas perspectivas de enfrentamento.
26
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Notas
(1) Trata-se de um portal de notícias brasileiro de grande circulação, que veicula informações nacionais e
internacionais. https://g1.globo.com/.
(2) Trata-se de um jornal diário brasileiro de grande circulação, que veicula informações nacionais e internacionais.
https://oglobo.globo.com/.
Referências
Araújo, C. A. A. “O fenômeno da pós-verdade e suas implicações para a agenda de pesquisa na Ciência
da Informação”. Encontros Bibli: revista eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
vol. 25, 2020, pp. 01-17, https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-
2924.2020.e72673/43144. Acessado 30 maio 2024.
Allcott, H.; gentzkow, M. “Social media and fake news in the 2016 election”. Journal of Economic
Perspectives, vol. 31, no. 2, 2017, 211-36,
https://web.stanford.edu/~gentzkow/research/fakenews.pdf. Acessado 16 maio. 2024.
Brisola, A.; bezerra, A. C. “Desinformação e circulação de “fake news”: distinções, diagnóstico e
reação”. Anais do 19º Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da
Informação: Londrina, ENANCIB, 2018.
Botelho, Louise Lira Roedel; Cunha, Cristiano Castro de Almeida.; Macedo, Marcelo. O método da
revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, [S. l.], v. 5, n. 11, p. 121136,
2011. Disponível em: https://ges.face.ufmg.br/index.php/gestaoesociedade/article/view/1220.
Acesso em: 17 set. 2024.
Byford, J. Conspiracy theories: a critical introduction. Palgrave Macmillan, 2011.
Caesar, G. “É #FAKE que vídeo mostre diretor-geral da OMS dançando em bar durante o isolamento
social”. Portal G1, Jun. 2020, https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/noticia/2020/06/16/e-
fake-que-video-mostre-diretor-geral-da-oms-dancando-em-bar-durante-o-isolamento-social.ghtml.
Acessado 06 abr. 2024.
Casarin, Sidnéia Tessmer, et al. Tipos de revisão de literatura: considerações das editoras do Journal of
Nursing and Health. Journal of Nursing and Health, v. 10, n. 5, 30 out. 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/19924. Acesso em: 17 set. 2024.
Cruz, S. A. M. “Big data e o fim do livre arbítrio: a democracia manipulada”. Pensar Acadêmico, vol. 19,
no. 3, 2021, pp. 1083-1102,
https://pensaracademico.unifacig.edu.br/index.php/pensaracademico/article/view/2536. Acessado
05 maio 2024.
27
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Delmazo, C.; Valente, J. C. L. “Fake news nas redes sociais online: propagação e reações à
desinformação em busca de cliques”. Média & jornalismo, vol. 18, no. 32, 2018, https://digitalis-
dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/43903/1/FAKE%20NEWS%20NAS%20REDES%20SOCIAIS%20O
NLINE.pdf. Acessado 22 maio 2024.
Dourado, J. L.; Alencar, M. T. “Agência Lupa: fact-checking como modelo de negócio na Internet”.
Comunicação & informação, vol. 21, no. 46, 2020,
https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/article/download/6388/3078/216
00. Acessado 21 maio 2024.
Dudziak, E. A. “Information literacy: prinpios, filosofia e prática”. Ciência da Informação, vol. 32,
no.1, 2003, pp.23‐35, http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1016/1071. Acessado22 maio 2024.
Elmborg, J. Critical information literacy: definitions and challenges. In: Wilkinson, C. W.; Bruch, C.
(Orgs.). Transforming information literacy programs: intersecting frontiers of self, library culture,
and campus community. Association of College and Research Libraries, 2012.
Ferreira, J. R. S.; Lima, P. R. S.; Souza, E. D. de. “Desinformação, infodemia e caos social: impactos
negativos das fake news no cenário da COVID-19”. Em Questão, vol. 27, no. 1, 2020, pp. 3053,
https://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/102195. Acessado 1 abr. 2024.
Frederick, S. “Cognitive reflection and decision making”. Journal of Economic perspectives, vol. 19, no.
4, 2005, pp. 25-42, https://www.aeaweb.org/articles?id=10.1257/089533005775196732 Acessado
27 abr. 2024.
Gragnani, J. “Pesquisa inédita identifica grupos de família como principal vetor de notícias falsas no
WhatsApp”. BBC News Brasil, Abr. 2018. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43797257.
Acessado 26 maio 2024.
Kahneman, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva, 2012.
Macário, C.; Duarte, M.; Moraes, M. “Na CPI da Covid, Nise Yamaguchi acerta sobre protozoários e
vírus e cita informações falsas sobre lockdown e mortalidade”. Agência Lupa, Jun. 2021.
https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2021/06/02/cpi-covid-nise-yamaguchi-medica. Acessado 16
maio 2024.
McGuire, W. J. “Cognitive consistency and attitude change”. The Journal of Abnormal and Social
Psychology, vol. 60, no. 3, 1960, pp. 345, 1960, https://psycnet.apa.org/record/1961-04802-001.
Acessado 12 mar. 2024.
Meneses, J. P. “Sobre a necessidade de conceptualizar o fenómeno das fake news”. Observatorio (OBS*),
vol. 12, no. 4, 2018, http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/1376/pdf. Acessado 01 jun.
2024.
28
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
Moraes, M. “Foto e vídeo de caixão vazio são antigas e não têm relação com enterros por Covid-19 no
Amazonas”. Agência Lupa, Abr. 2020, https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2020/04/29/verificamos-
foto-caixao-vazio-enterros-covid-19-amazonas/. Acessado 01 jun. 2024.
Nobre, M. A teoria crítica. Zahar, 2004.
Oliveira, M. L. P.; Souza, E. D. “A competência crítica em informação no contexto das fake news: os
desafios do sujeito informacional no ciberespaço”. Anais do 19º Encontro Nacional de Pesquisa em
Ciência da Informação: Londrina, ENANCIB, 2018.
Pariser, E. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Zahar, 2012.
Pennycook, G. “Pesquisador de fake news atribui propagação de boatos a ‘preguiça de pensar’”. O Globo,
Out. 2018, https://oglobo.globo.com/politica/pesquisador-de-fake-news-atribui-propagacao-de-
boatos-preguica-de-pensar-23179051. Acessado 01 jun. 2024.
Pennycook, G.; Rand, D. G. “Lazy, not biased: susceptibility to partisan fake news is better explained by
lack of reasoning than by motivated reasoning”. Cognition, vol. 188,2019, pp. 39-50,
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S001002771830163X. Acessado 04 jun.
2024.
Pereira, G. T. F.; Coutinho, I. M. S. “WhatsApp, desinformação e infodemia: o “inimigo” criptografado”.
Liinc em revista, vol. 18, 2022, https://brapci.inf.br/index.php/res/v/194818. Acessado 29 maio
2024.
Pereira, L. M. Verdade, Pós-verdade e Fake News: Aspectos conceituais e implicações. In: Pereira, L. M.;
Novaes, P. L. P.; Freitas, R. A. S. (Org.). Direitos Humanos na Era das Fake News e da Pós-
verdade, Stábile Editora, vol. 1, 2020, pp. 15-69.
Queiroz, G. “Ondas de desinformação sobre Covid-19 no Brasil vão de curas a caixões vazios”. Agência
Lupa, Jul., 2020, https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2020/07/02/coronaverificado-ondas-
desinformacao. Acessado 01 jun. 2024
Rodríguez, V. G. O ensaio como tese: estética e narrativa na composição do texto científico. WMF
Martins Fontes, 2012.
Rômany, I. “Alho, limão, laranja e melão de São Caetano não curam nem previnem Covid-19”. Agência
Lupa, Jun., 2020, https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2020/07/02/verificamos-limao-melao-
covid/?fbclid=IwAR2EWPn_y73DrM2y9gwe-EKtc_kIdIco7bzsICssClooNUscOHaAYLUBO78.
Acessado 29 maio 2024.
Stanovich, K. E.; West, R. F. “Individual Differences in Reasoning: Implications for the Rationality
Debate?”. Behavioral and Brain Sciences. vol. 22, no. 5, 2000, pp. 645-726,
https://www.researchgate.net/publication/12031890_Individual_Differences_in_Reasoning_Implic
ations_for_the_Rationality_Debate. Acessado 27 jan. 2024.
29
LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio Duarte de. Ingenuidade e Inércia
Cognitiva como Atributos para a Viralização de fake news nas Redes Sociais Online. Brazilian Journal of
Information Science: research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024023. DOI: 10.36311/1981-
1640.2024.v18.e024034.
United Nations Children's Fund. “Muito mais que fake news: um guia prático para enfrentar a
desinformação”. BemTV, 2022, https://www.unicef.org/brazil/media/19196/file/muito-mais-que-
fake-news.pdf. Acessado 18 mar. 2024.
Van Leeuwen, T. “Legitimation in discourse and communication”. Discourse & Communication, vol. 1,
no. 1, 2007, p. 91-112, https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1750481307071986.
Acessado 26 abr. 2024.
Whatsapp. Organizações da Aliança Internacional de Checagem de Fatos (IFCN) no WhatsApp. 2022,
https://faq.whatsapp.com/528263691226435/?helpref=uf_share. Acessado 09 mar. 2024.
Wardle, C.; Derakhshan, H. Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and
policy making. Council of Europe report, 2017.
Wolton, D. “Redes sociais ainda são vistas com ingenuidade, avalia sociólogo Dominique Wolton”. G1,
Set., 2018, https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2018/08/26/redes-sociais-ainda-sao-
vistas-com-ingenuidade-avalia-sociologo-dominique-wolton-leia-entrevista.ghtml. Acessado 20
maio 2024.
Zuboff, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do
poder. Intrínseca, 2020.
Copyright: © 2024 LIMA, Paulo Ricardo Silva; FERREIRA, João Rodrigo Santos; SOUZA, Edivanio
Duarte de. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons CC
Attribution-ShareAlike (CC BY-SA), which permits use, distribution, and reproduction in any medium,
under the identical terms, and provided the original author and source are credited.
Submetido: 14/07/2024 Aceito: 25/10/2024