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VILA NOVA, Susimery; LÓSCIO, Bernadete Farias; OLIVEIRA, Marcelo Iury de Sousa. Compartilhamento de
Dados de Pesquisa: uma análise temática de fatores intervenientes. Brazilian Journal of Information Science:
research trends, vol.18, publicação contínua, 2024, e024022. DOI: 10.36311/1981-1640.2024.v18.e024022.
COMPARTILHAMENTO DE DADOS DE
PESQUISA: uma análise temática de fatores
intervenientes
RESEARCH DATA SHARING: a thematic analysis of intervening factors
Susimery Vila Nova (1), Bernadete Farias Lóscio (2), Marcelo Iury de Sousa Oliveira (3)
(1) Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, svnsp@cin.ufpe.br
(2) bfl@cin.ufpe.br
(3) Universidade Federal da Paraíba, Brasil, marceloiury@gmail.com
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma análise temática de fatores intervenientes no compartilhamento
de dados de pesquisa abertos, em tempos de crise. A análise considerou a revisão da literatura e a realização
de grupo focal com pesquisadores e especialistas de áreas multidisciplinares, tendo como principais
objetivos: I) extrair fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa e II) propor um
modelo teórico a ser utilizado, como ferramenta de análise, para apoiar tomadas de decisão durante a
identificação de interferências no processo de compartilhamento de dados de pesquisa. O modelo proposto
é fundamentado em quatro dimensões: Contextual, Motivacional, Tecnológica/Infraestrutura e
Financiamento, as quais são compostas por categorias e fatores, juntamente com suas definições e
características. Como resultado da análise realizada, constatou-se que os fatores motivacionais
desempenham um papel crucial, indicando que as atitudes e convicções pessoais dos pesquisadores são os
principais impulsionadores para o compartilhamento de dados. Além disso, espera-se que o conhecimento
dos fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa, possa impactar, positivamente, a
tomada de decisão de especialistas na construção de políticas públicas norteadoras do modelo vigente da
Ciência Aberta. Conclui-se com sugestões de pesquisas futuras para dirimir barreiras e resistências na
abertura de dados de pesquisa entre os cientistas, mesmo em tempos de crise.
Palavras-chave: Ciência Aberta; Dados abertos de pesquisa; Compartilhamento de dados; Fatores
intervenientes; Análise temática; COVID-19
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Abstract
The article discusses the findings of a thematic analysis of the factors that influence the sharing of open
research data during times of crisis. The study involved a literature review and a focus group with
researchers and specialists from different fields. The goals were to identify factors affecting data sharing
and to propose a theoretical model to help research institutions understand the challenges in sharing their
data. The study presents a theoretical model with four dimensions: Contextual, Motivational,
Technological/Infrastructure, and Financing, along with categories, factors, definitions, and characteristics.
It highlights the crucial role of motivational factors, indicating that researchers' attitudes and beliefs drive
data sharing. Understanding these factors can significantly impact decision-making and the development
of public policies based on the Open Science model. The article concludes with suggestions for future
research to address barriers and resistance to sharing research data, particularly during times of crisis.
Keywords: Open Science; Open research data; Data sharing; Intervening factors; Thematic analysis;
COVID-19
1 Introdução
A Ciência Aberta é um movimento transformador que busca tornar o conhecimento
científico acessível, transparente e colaborativo. No âmbito dessa abordagem, os dados abertos são
considerados insumos primários de investigações e resultados de pesquisas, disponibilizados
publicamente para utilização, reutilização e redistribuição por qualquer indivíduo.
A temática em destaque, neste estudo, envolve o avanço na aceitação dos conceitos de
compartilhamento e reutilização de dados, indicada, na literatura, como uma mudança de
paradigma (Tenopir et al., 2020). Em tempos turbulentos, como os vividos durante a pandemia de
COVID-19, por exemplo, a discussão sobre o impacto do compartilhamento de dados de pesquisa
emerge como um catalisador potente para alterações substanciais no modo de produção e consumo
da ciência.
Nesse cenário, a pergunta que norteia e justifica este estudo faz alusão sobre quais fatores
influenciaram o compartilhamento de dados de pesquisa abertos entre pesquisadores e
investigadores de COVID-19. De maneira mais específica, este artigo apresenta os resultados de
uma análise temática de fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa abertos,
em tempos de crise.
Entende-se por "fator" qualquer elemento que contribui para um resultado (Oxford, 2018).
Por sua vez, uma variável interveniente é um conceito científico abstrato que os cientistas invocam
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para rotular ou resumir as relações entre variáveis independentes e dependentes em uma variedade
de circunstâncias (Shaw, 2018).
Nesse contexto, para o presente estudo, "fatores intervenientes" são definidos como aqueles
que interferem na prática do compartilhamento de dados de pesquisa, resultantes ou não dos meios
externos (da instituição/organizações) e/ou internos (do indivíduo).
O objetivo principal desta pesquisa consiste em contribuir na reflexão e no entendimento,
teórico e prático, do fluxo de processos no compartilhamento de dados de pesquisa,
particularmente em situações de emergência em saúde pública. A área da Saúde foi escolhida como
objeto deste estudo por ser uma área de impacto social, estar na vanguarda da inovação tecnológica
e científica, além de envolver responsabilidades éticas. Para isso, levamos em consideração a
percepção de pesquisadores que compõem o corpus da pesquisa.
Metodologicamente, esta pesquisa de natureza qualitativa e caráter descritivo, utilizou de
revisão de literatura e grupo focal como procedimentos de coleta de dados. Além disso, a análise
temática foi adotada como método de análise e interpretação dos achados. Como resultado,
inicialmente, foram identificadas diversas barreiras e fatores motivacionais enfrentadas pelos
pesquisadores em compartilhar seus dados de pesquisa. A partir disso, foram propostas quatro
dimensões que buscaram evidenciar as complexidades percebidas por pesquisadores e
especialistas da saúde no processo de abertura de dados de pesquisa.
Espera-se que os resultados deste estudo auxiliem a comunidade científica a identificar
novos fatores intervenientes e a destacar facilitadores no compartilhamento de dados de pesquisa
aberta. Ao desvendar os obstáculos que dificultam o compartilhamento de dados, promovendo
uma compreensão mais profunda do modus operandi de pesquisa aberta e em rede, esta pesquisa
contribui significativamente para o avanço da Ciência Aberta.
O restante deste artigo está organizado como se segue. Na seção 2, é apresentada a revisão
da literatura e a contextualização do problema abordado, a partir dos estudos relacionados à
pesquisa. A metodologia é descrita detalhadamente na Seção 3, seguida pelos resultados,
discussões e limitações da pesquisa na Seção 4. Na seção de conclusão, são sugeridas direções
para pesquisas futuras.
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2 Revisão da literatura
Dentre os estudos amplamente citados na literatura, destacam-se (Van Panhuis et al. 2014),
estudo desenvolvido na área da saúde, e (Kim e Stanton, 2015) sob a ótica de diferentes disciplinas
científicas. Ambos trazem contribuições relevantes à reflexão da abertura de dados de pesquisa à
luz da Ciência Aberta.
No estudo de (Van Panhuis et al. 2014), por exemplo, foi conduzida uma revisão
sistemática da literatura sobre possíveis barreiras ao compartilhamento de dados de saúde pública,
que resultou num agrupamento de 20 (vinte) barreiras, classificadas em 06 (seis) categorias
técnicas, sendo estas agrupadas em uma taxonomia para um diálogo internacional focado em
soluções. O Quadro 1 apresenta as 20 barreiras e as 06 categorias técnicas.
Quadro 1 - Evidências de barreiras ao compartilhamento de dados de saúde pública
Categoria
Barreiras
Técnico
1. Dados não coletados
2. Dados não preservados
3. Dados não encontrados
4. Barreiras do idioma
5. Formato de dados restritivos
6. Soluções técnicas não disponíveis
7. Falta de metadados e padrões
Motivacional
8. Nenhum incentivo
9. Custo de oportunidade (prioridade)
10. Possível crítica
11. Discordância no uso de dados
Econômico
12. Possível dano econômico
13. Falta de recursos
Político
14. Falta de confiança
15. Políticas restritivas
16. Falta de diretrizes
Legal
17. Propriedade e direitos autorais
18. Proteção da privacidade
Ético
19. Falta de proporcionalidade
20. Falta de reciprocidade
Fonte: (Van Panhuis et al. 2014) apud adaptação de (Jorge, 2018).
O estudo de (Van Panhuis et al. 2014) destaca desafios persistentes nos sistemas de
informação em saúde, ainda sem soluções estruturais, enquanto ressalta que soluções para alguns
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desses desafios dependem de consenso internacional sobre políticas de compartilhamento de
dados.
Por sua vez, (Kim e Stanton, 2016) examinaram os fatores que influenciam o
compartilhamento de dados por cientistas nos EUA. Como resultado, constatou-se que tanto
fatores institucionais (como exigências de periódicos e normas disciplinares) quanto motivos
individuais (como benefícios na carreira e altruísmo acadêmico) impactam o comportamento de
compartilhamento de dados.
Os autores sugerem que incentivar o compartilhamento de dados requer consideração tanto
dos contextos institucionais quanto das motivações individuais. Nesse estudo, os fatores
relacionados ao compartilhamento de dados foram organizados em: (I) fatores institucionais, que
incluem políticas de agências financiadoras e requisitos de periódicos; (II) fatores de recursos,
como tecnologia da informação e repositórios de dados; e (III) fatores individuais, que englobam
características pessoais e percepções de benefícios e riscos.
Nesse contexto, o presente estudo, oferece uma contribuição significativa ao explorar o
compartilhamento de dados de pesquisa, apresentando uma análise temática fundamentada na
literatura. O principal objetivo deste estudo é identificar as barreiras existentes e maximizar as
oportunidades para promover a prática da Ciência Aberta. Além disso, este trabalho diferencia-se,
em potencial, dos demais realizados e citados anteriormente por refinar e agregar valor aos achados
dos estudos relacionados, por propor um arcabouço teórico mais robusto, que evidencia os fatores
limitantes em maior profundidade e, por reforçar a relevância e a necessidade do desenvolvimento
de novos estudos na temática. Como principais contribuições destacam-se:
I) Identificação de Fatores Intervenientes: ao destacar desafios e oportunidades percebidos
por pesquisadores e especialistas, este estudo contribui para a compreensão das complexidades
envolvidas no processo de compartilhamento de dados.
II) Proposição de Arcabouço Teórico como ferramenta de Apoio à Decisão: ao propor um
arcabouço teórico, baseado em quatro dimensões para a Ciência Aberta, o estudo oferece uma
estrutura conceitual que pode orientar futuras pesquisas e ações práticas na promoção do
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compartilhamento de dados. Esse arcabouço é relevante para a comunidade científica na
identificação e compreensão de fatores intervenientes.
III) Revelação de insights sobre motivações e percepções dos pesquisadores: os resultados
obtidos fornecem insights relevantes sobre as motivações, preocupações, benefícios e necessidades
de infraestrutura e apoio institucional percebidos pelos pesquisadores em relação à abertura de
dados de pesquisa na era da Ciência Aberta. Destacar o papel crucial dos fatores motivacionais,
especialmente as atitudes e convicções pessoais dos pesquisadores, contribui para uma
compreensão mais profunda das dinâmicas envolvidas.
IV) Identificação de lacunas e necessidades de pesquisa futura: o estudo conclui que há
lacunas que requerem pesquisas futuras para superar barreiras e resistências ao compartilhamento
de dados de pesquisa entre os cientistas. Essa identificação de lacunas direciona a atenção para
áreas específicas que necessitam de investigação adicional, promovendo um ciclo contínuo de
aprimoramento na prática de Ciência Aberta.
V) Auxílio para o desenvolvimento de Políticas Públicas: ao inferir que o conhecimento
dos fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa pode impactar a tomada de
decisão na construção de políticas públicas para a Ciência Aberta, o estudo destaca a importância
de alinhar práticas científicas com políticas que promovam efetivamente a transparência e a
colaboração na pesquisa.
Em resumo, este estudo fornece uma base fundamentada em quatro dimensões, no âmbito
da Ciência Aberta, para entender as complexidades do compartilhamento de dados na área da
saúde, oferecendo não apenas uma análise detalhada dos fatores, mas também direcionando futuras
pesquisas e práticas por meio do arcabouço teórico proposto.
3. Método
Para responder a pergunta de pesquisa ‘quais fatores influenciaram o compartilhamento de
dados de pesquisa abertos entre pesquisadores e investigadores de COVID-19?, foram realizadas
buscas por documentos na literatura. As buscas consideraram o recorte temporal de 2019 a 2023.
Foram consultadas as bases de dados PubMed (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) e SCOPUS
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(https://www.scopus.com/search/). A primeira base foi escolhida por indexar a MEDLINE,
principal banco de dados bibliográfico da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos
(NLM). a segunda base por fornecer uma visão ampla da produção mundial de pesquisa nas
áreas multidisciplinares e por incluir outras bases como (Elsevier/ScienceDirect, Springer, Taylor
& Francis, Wiley Blackwell, IEEE, Sage, Emerald, Cambridge University Press), o que pode
conferir uma perspectiva mais abrangente ao estudo.
Com relação aos termos escolhidos na estratégia de busca, inicialmente, objetivou-se
priorizar a recuperação por trabalhos relacionados a dados de pesquisa em COVID-19. No entanto,
posteriormente a alguns testes de busca, observou-se alta revocação nos resultados, porém com
conteúdos aleatórios não diretamente relacionados ao objetivo da presente pesquisa. Por este
motivo, optou-se por refinar a busca com a inclusão dos termos ("emergency") AND ("public
health") no intuito de fazer alusões à Ciência Aberta em emergências de saúde pública.
Vale salientar que os termos de busca na PubMed foram consultados no tesauro multilíngue
DeCS/MeSH. Além disso, optou-se pela busca truncada, recomendada para formas derivadas e
plurais, o que permite a recuperação de todas as formas do termo a partir do truncamento no radical
invariável da palavra (Volpato, 2000). A estratégia adotada nas buscas realizadas nas bases de
dados é descrita no Quadro 2.
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Quadro 2. Strings de busca por base de dados
Base de
Dados
Construção do
termo
String
Nº de itens
recuperados
Nº de itens
excluídos a
partir dos
critérios
PubMed
‘Compartilhamen
to de dados de
pesquisa’
1ª busca: [(search data) AND
(sharing[Title/Abstract])) AND
(influence[Title/Abstract])) OR
(incentives[Title/Abstract])
AND(researchers[Title/Abstract])
]
29
24
‘Barreiras no
compartilhament
o de dados de
pesquisa em
emergência de
saúde pública’
2ª busca: [("search data") AND
("data sharing") AND
(“factor*” OR "influenc*" OR
“barrier*”) AND
(“public health”) AND
(“emergenc*”)]
63
58
Scopus
‘Compartilhamen
to de dados de
pesquisa sob a
percepção de
pesquisadores’
[(TITLE-ABS-KEY (open AND data)
OR TITLE-ABS-KEY (search AND
data) OR TITLE-ABS-KEY
(scientific AND data) AND TITLE-
ABS-KEY (sharing) AND TITLE-ABS-
KEY (influence) OR TITLE-ABS-KEY
(incentives) AND TITLE-ABS-KEY
(researchers))]
73
60
Total
165
142
Fonte: Dados da pesquisa.
Para a condução da revisão bibliográfica, utilizou-se a ferramenta StArt (State of the Art
through Systematic Review) (https://www.lapes.ufscar.br/resources/tools-1/start-1). Optou-se por
usar esta ferramenta por ser gratuita. Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos, dentro
do recorte temporal de 2019 a 2023, no idioma Inglês e/ou Português, que abordam sobre os
conceitos de Ciência Aberta, compartilhamento de dados de pesquisa que revelassem possíveis
evidências para responder à questão de pesquisa. Os critérios de exclusão adotados foram: não ser
um artigo científico, não abordar os conceitos de Ciência Aberta, não apresentar evidências para
responder à questão de pesquisa, estudos inacessíveis, incompletos ou sem arquivo, não estar
escrito em inglês e/ou português, bem como estudos publicados fora do recorte temporal de 2019
a 2023.
Em seguida à aplicação dos critérios estabelecidos para a revisão da literatura (inclusão e
exclusão), obteve-se o total de 165 artigos como resultado da 1ª triagem, dentre estes 03 estavam
duplicados, 02 eram livros, 01 capítulo de livro, 03 não eram artigos completos. Posteriormente,
realizou-se a triagem a partir da leitura cuidadosa dos respectivos títulos, resumos e palavras-
chave.
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Os artigos que não tratavam do tema como assunto principal (na maioria dos casos, a
Ciência Aberta apenas era citada como pano de fundo ou contexto, bem como sem maiores
considerações acerca da percepção de pesquisadores sobre abertura de dados de pesquisa) foram
desconsiderados. Estudos que coletaram dados usando métodos qualitativos, mas não usaram
análise qualitativa (por exemplo, pesquisas com questões abertas que utilizavam estatística
descritiva) também foram excluídos.
Finalmente, o quantitativo de documentos resultantes da triagem foi de 23 artigos
científicos, os quais foram classificados pela relevância do estudo e, em seguida, lidos na íntegra.
Todos os estudos, por sua vez, foram analisados sob o mesmo eixo investigativo: a percepção de
pesquisadores e especialistas acerca da abertura de dados de pesquisa.
Utilizou-se dos documentos selecionados como base empírica para identificar fatores
intervenientes no compartilhamento de dados durante emergências de saúde pública. Serviu-se
ainda de tais estudos como subsídios iniciais e atualizados para fomentar seu estado da arte. A lista
das referências dos estudos selecionados para análise é descrita no Quadro 3.
3.1 Análise Temática
Com o objetivo de investigar os fatores intervenientes no compartilhamento de dados de
pesquisa, a partir da literatura, optou-se por realizar uma Análise Temática (AT). De acordo com
Ayres (2008, p. 867-868 tradução nossa),
[...] “a análise temática é uma estratégia de redução de dados e análise, a partir da
qual alguns dados qualitativos são sedimentados, categorizados, sumarizados e
reconstruídos de uma forma que captura os conceitos importantes dentro de um
conjunto de dados”.
É importante frisar que a análise temática busca entender em profundidade o fenômeno em
estudo. Esse tipo de análise é realizado, na maioria das vezes, a partir do método dedutivo, uma
vez que parte dos temas de interesse estão disponibilizados na literatura. Para Ayres (2008), a
transformação desses códigos em categorias, necessitam que sejam conceitualizados, renomeados,
reorganizados, mesclados ou separados conforme a análise progride. De acordo com (Minayo,
2008), na análise temática qualitativa, pode-se chegar ao assunto de interesse por meio de contexto
e aproximações de sentido.
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Nessa perspectiva, a partir da literatura, buscou-se mapear, tabular, analisar e propor
categorias, além de descrever suas respectivas características, relacionando-as por semelhanças e
divergências, resultando em subsídios para novos construtos. As etapas realizadas nesse processo
são descritas a seguir:
Etapa 1. Leitura na íntegra dos estudos selecionados:
Nessa etapa, os documentos foram lidos, categorizados e analisados com intuito de
corroborar e fortalecer a linha de raciocínio dos autores. Após essa primeira etapa, obteve-se um
compilado dos objetivos, resultados e lacunas identificados em cada um dos documentos. Tal
processo permitiu a identificação de padrões, tendências e temas comuns emergentes nos discursos
dos seus achados. Ressalta-se que boa parte dos estudos consultados seguiram uma abordagem
qualitativa, executando a coleta de dados a partir da realização de entrevistas e/ou aplicação de
questionário eletrônico.
Etapa 2. Definição da nomenclatura empregada no sistema de categorização:
Inicialmente, verificou-se a nomenclatura utilizada nos estudos selecionados para melhor
compreensão da categorização adotada pelos autores dos estudos. Como resultado desta etapa,
foram identificadas as nomenclaturas comumente relacionadas aos estudos analisados.
Naturalmente, observou-se uma heterogeneidade das nomenclaturas utilizadas nos
esquemas de codificação empregados nos estudos analisados. A exemplo dos Estudos (E2) e (E3)
os quais apresentam maior variação na rotulagem de apresentação dos seus resultados,
respectivamente: “Dimensão”, “Categoria preliminar”, “Vertente/propriedade”, “Categorias”,
“Subcategorias” e “Unidades de registro”. Tal condição configurou numa problemática na
interpretação da relação entre categorias e fatores, dificultando, portanto, a extração dos construtos
desejados.
Nesse contexto, para fins deste estudo, foi adotada a nomenclatura, descrita a seguir, a qual
foi baseada e adaptada a partir das definições de (Ferreira, 2009):
Dimensão: “uma medida ou aspecto específico de um fenômeno ou objeto que pode ser
avaliado em termos de sua extensão, tamanho ou escala.” Nesta pesquisa, as dimensões são
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utilizadas para analisar diferentes perspectivas ou componentes de um conceito mais amplo, neste
caso, a Ciência Aberta.
Categoria: “um grupo ou classificação de elementos com características similares.” No
contexto desta pesquisa, as categorias são usadas para organizar e agrupar dados, facilitando a
análise e interpretação de padrões ou tendências.
Fator: “um elemento ou variável que influencia ou contribui para um resultado ou processo
específico.” Para este estudo, considera-se ainda que um fator pode ser uma variável mensurável
ou uma condição que afeta o objeto de estudo.
Características: “atributos distintivos ou qualidades que definem e descrevem um objeto
ou fenômeno.” Neste estudo, as características podem ser traços específicos que são observados
ou analisados para compreender melhor o objeto da pesquisa.
Etapa 3. Mapeamento dos construtos
Essa etapa teve por objetivo verificar a consistência das descrições dos fatores
intervenientes apontados nos estudos selecionados na etapa 1 Constatou-se que nem todos
apresentaram uma definição ou descrição clara do que considerou como fator. Os construtos pré-
existentes identificados em cada um dos estudos analisados são apresentados no Quadro 3.
Quadro 3 Construtos identificados por estudo analisado
Estudo
Fonte
Construtos
E1
VEIGA; SILVA e BORGES,
2021
Contextual e Custo
E2
COSTA e LEITE, 2019
Contexto Social; Financiamento; Infraestrutura; Aspectos éticos;
Assédio aos pesquisadores; Aceleramento da ciência; Cultura
acadêmica; Recompensa ao pesquisador; Reuso; Transparência da
Ciência e Visibilidade
E3
JORGE; ALBAGLI, 2020
Acesso a dados de pesquisa; Compartilhamento de dados; Percepção
de emergência de saúde pública; Percepções de fatores favoráveis e
desfavoráveis no compartilhamento de dado
E4
TENOPIR, et al., 2020
Armazenamento e Preservação dos dados; Segurança e
Reconhecimento
E5
SHMAGUN, et al., 2020
Confiança na Ciência Aberta; Contextuais ou externos; Financeiro;
Institucionais e Regulatórios; Recursos e Recursos humanos.
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E6
ZUIDERWIJK; SHINDE;
JENG, 2020
Formação do pesquisador; requisitos e obrigações formais;
motivadores pessoais e motivações intrínsecas; condições
facilitadoras; confiança; desempenho esperado; influência social e
afiliação; esforço; experiência e habilidades do pesquisador;
legislação / regulamentação e características dos dados.
E7
WATSON, et al., 2023
Jurídico e regulatório; Técnico; Reputação; Ético e Comercial.
E8
CHIRICO; SILVA, 2023
Políticas e educação pública; Partilha de dados; Medicina baseada em
evidências.
E9
DEVRIENDT; SHABANI;
BORRY,2023
Sistemas de avaliação para partilha de dado; Sistemas alternativos de
atribuição para compartilhamento de dados; Papéis das instituições
de investigação na mudança dos sistemas de reconhecimento.
E10
PERRIER; BLONDAL;
MACDONALD, 2020
Integridade dos dados; Conduta Responsável de Pesquisa;
Viabilidade de Compartilhamento de Dados; Valor do
Compartilhamento de Dados.
E11
DORON; BRANCH-
ELLIMAN, 2023
Agilidade na revisão; Qualidade; Ancoragem; Rotação; Equidade;
Impacto.
E12
BORYCZ, et al, 2023
Influências sociais; Influências organizacionais; Influências
individuais.
E13
BUHOMOLI; MUNEJA,
2022
Instalações de TIC; Abertura na pesquisa; Colaboração; Qualidade e
controle de dados; Conhecimento, habilidades e treinamento; Jurídico
e Institucional.
E14
BEER; EASTWICK; GOH,
2023
Diversidade, equidade e inclusão; Transparência e empirismo
robusto.
E15
PRAKASH, et al. 2023
Restrições de tempo; financiamento e familiaridade com os
princípios FAIR.
E16
KIM, et al. 2023
Tempo; Propriedade intelectual; Recompensa; Sigilo; Qualidade dos
dados; Falta de regulamentação; Infraestrutura; Relevância;
Financiamento.
E17
KRAHE; et al., 2023
Conhecimento; Habilidades; Contexto e recursos; Crenças sobre
capacidade; Crenças sobre consequências.
E18
GOMES, et al., 2022
Barreiras de conhecimento; Preocupações com reutilização e
Desincentivos
E19
ANGERET al., 2022
Desenho de políticas e requisitos de compartilhamento de dados;
Monitoramento do cumprimento das políticas de compartilhamento
de dados; Sanções pelo não cumprimento das políticas de
compartilhamento de dados; Incentivos à partilha de dados; Apoio e
orientação para compartilhamento de dados; Limites às capacidades
dos financiadores.
E20
BALLESTEROS-
RODRÍGUEZ, 2022
Recompensas motivacionais intrínsecas; Recompensas motivacionais
extrínsecas
E21
UGOCHUKWU; PHILLIPS,
2022
Esforço; Propriedade intelectual; Uso indevido; Falta de padrões;
Fomento; Reconhecimento; Regulatório; Infraestrutura; Contexto
institucional.
E22
STIEGLITZ, et al., 2020
Desvantagens da troca; Desvantagens na carreira; Medo da
competição; Medo do uso indevido de dados; Medo de perder o valor
único.
E23
ZUIDERWIJK; SPIERS,
2019
Medo de ser furtado; Formação do pesquisador; Experiência;
Legislação; Regulação e política; Característica dos dados;
Expectativa de desempenho
Usabilidade; Colaboração; Confiança.
Fonte: dados da pesquisa.
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Etapa 4. Análise temática dos construtos
Em busca de uma estratégia para extrair conceitos relevantes a partir da análise temática,
foi realizada uma quarta etapa, cujo objetivo foi identificar e compreender as similaridades e
divergências entre os construtos dos estudos. Para isto, foi utilizada uma nomenclatura
intermediária para melhor analisar os estudos e, então, chegar à nomenclatura adotada nesta
pesquisa. Esse processo interativo, possibilitou uma pré-análise, na qual foram identificados
construtos em até três níveis, do mais geral para o mais específico: N1 = Dimensão; N2 = Categoria
e N3 = Fator, conforme esquematizado na Figura 2.
Figura 2: Esquematização da nomenclatura intermediária
Fonte: elaborado pelos autores.
A partir das definições de nomenclatura, os construtos foram organizados por dimensão,
categoria e fator identificado em cada estudo. O resultado desse agrupamento é ilustrado no
Quadro 4 para a dimensão Financiamento. Essa dimensão foi escolhida como ilustração por ter
menos construtos na sua composição, o que facilita a apresentação no artigo.
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Quadro 4 - Exemplo de agrupamento dos construtos para proposição das Dimensões
N1: Dimensão Financiamento
Estudos Predominantes: E1, E2 e E5
N2: Custos
N3: Preocupação com tempo adicional e esforço
N3: Percepção do compartilhamento como mais um trabalho
N2: Sigilo
N3: Percepção que compartilhar seus dados pode infringir os acordos
de informação sigilosa
N2: Usabilidade
N3: Percepção da ferramenta como algo difícil de utilizar
N3: Taxas de processamento
N3: Percepção da influência sobre taxa de processamento de artigo
em Ciência Aberta no compartilhamento de compartilhamento
N2: Desconfiança/Plágio
N3: Percepção de má intenção ou incompetência dos leitores no uso
de materiais compartilhados
N3: Preocupações com copyright
N3: Percepção de perda de oportunidades de publicação se
compartilharem os dados
Construtos de E1
N2: Financiamento e Custo
N3: Infraestrutura
N3: Preservação em longo prazo
N3: Economia de recursos
N3: Desigualdade nos recursos para análise de dados
N2: Bem público
N3: Políticas de informação
N3: Economia de recursos
N3: Democracia
N3: Instituição financiadora
N3: Economia de recursos
N3: Estabelecimento de requisitos
Constructos de E2
N2: Financeiro
N3: Custos de manutenção
N3: Financiamento e Orçamento de Emergência
N3: Custos de acesso a bancos de dados/repositórios
Constructos de E5
Fonte: elaborado pelos autores.
Etapa 5. Composição das Dimensões
Nessa etapa avançou-se na análise dos construtos, no esforço de compreender os principais
fatores que interferem no compartilhamento de dados de pesquisa. Para isto, optou-se por realizar
uma reorganização dedutiva dos construtos, agrupando-os por semelhanças e separando-os pelas
divergências. Por conseguinte, foram realizadas três interações com o conjunto de construtos. A
1ª interação resultou no agrupamento das categorias e suas definições. O agrupamento dos fatores
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ocorreu na 2ª interação. Já na 3ª interação, sucedeu a análise dos fatores a partir da relação destes
com as categorias para, finalmente, alcançar os fatores intervenientes no compartilhamento de
dados de pesquisa. Vale ressaltar que durante as revisões subsequentes até o término da análise,
algumas categorias foram aglutinadas, resultantes do agrupamento por similaridade e divergência.
Como resultado do agrupamento das categorias por similaridade, chegou-se à proposição das
quatro dimensões que compõem o modelo teórico de fatores intervenientes para o
compartilhamento de dados na Ciência Aberta, apresentadas na sequência.
Etapa 6. Grupo Focal
A utilização dos grupos focais, de forma isolada ou combinada com outras técnicas de
coleta de dados primários, revela-se especialmente útil na pesquisa avaliativa. Para este estudo, foi
realizado um grupo focal com o objetivo de coletar feedback quanto à clareza e avaliação dos
fatores identificados na literatura e apontamentos de novos fatores; nas relações e interconexões
entre as Dimensões, insights e reflexões relevantes para corroborar na construção do modelo.
Esta etapa foi realizada totalmente em formato remoto, via plataforma Google Meet® com
quatro doutores de áreas multidisciplinares. Buscou-se por pesquisadores que partilham da
filosofia da Ciência Aberta no desenvolvimento de suas pesquisas, com visão autocrítica quanto
ao compartilhamento, reutilização de dados de pesquisa e disponíveis em participar do estudo.
O encontro foi previamente agendado por e-mail, conduzido e mediado pela primeira
autora do artigo, que estimulava a reflexão do grupo a partir de perguntas norteadoras focadas na
avaliação do conjunto de fatores. Além disso, forneceu-se um questionário online para auxílio da
avaliação dos participantes. Os dados dos grupos foram gravados na íntegra e transcritos, com
anuência dos participantes. O estudo foi desenvolvido após a aprovação do Comitê de ética e
assegurado os critérios éticos e de anonimato dos participantes.
4. Resultados
A análise das categorias e características associadas aos fatores resultou na proposição de
quatro dimensões que servem como pilares para a interpretação dos fatores intervenientes no
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Dados de Pesquisa: uma análise temática de fatores intervenientes. Brazilian Journal of Information Science:
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compartilhamento de dados de pesquisa. As quatro dimensões são descritas a seguir, enquanto que
as definições e características das categorias e fatores são apresentadas no Quadro 5.
I. Dimensão Contextual: abrange categorias e fatores relacionados ao contexto no qual o
pesquisador realiza suas pesquisas, incluindo fatores individuais e institucionais/organizacionais.
Envolve percepções individuais do pesquisador sobre questões regulatórias percebidas para o
compartilhamento de dados de suas produções.
II. Dimensão Motivacional: integra as percepções favoráveis e desfavoráveis individuais
do pesquisador em relação ao compartilhamento de dados, conforme os princípios da Ciência
Aberta, no desenvolvimento de suas pesquisas. Inclui fatores relacionados a aspectos éticos,
benefícios e desvantagens no compartilhamento de dados, confiança na Ciência Aberta,
transparência da ciência, assédio ao pesquisador e visibilidade.
III. Dimensão Tecnológica/Infraestrutura: identifica aspectos relacionados às tecnologias
utilizadas pelos pesquisadores para consumir e compartilhar dados de pesquisa. Observa-se o uso
e/ou necessidades de ferramentas e infraestruturas pelos pesquisadores em suas pesquisas,
incluindo aspectos legais, tecnológicos e de gestão dos dados de pesquisa. Esta dimensão é
composta pelas categorias: recursos humanos, recursos tecnológicos e recursos para gestão de
dados.
IV. Dimensão Financiamento: agrupa categorias e fatores relacionados ao financiamento e
aos custos envolvidos nos processos que podem afetar a comunicação dos dados resultantes da
pesquisa. Destacam-se as categorias: recurso financeiro e custos para publicação em acesso aberto.
Quadro 5 Dimensão Contextual: fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa
DIMENSÃO CONTEXTUAL
(Estudos predominantes: E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9, E10, E12, E13, E15, E16, E17, E18, E19, E21,
E22 e E23)
Categoria
Definição da Categoria
Fator
Características do Fator
Contexto
Institucional
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto à diretrizes,
políticas e normas de instituições
que interagem com ele e com sua
Político/Regulatório
Limitações e restrições identificadas pelo pesquisador
em mandatos institucionais e/ou governamentais para
tornar conjuntos de dados disponíveis. Ex.: Cláusulas
restritivas em Política de Gestão, compartilhamento e
abertura de dados para pesquisa.
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produção científica. (Veiga; Silva
e Borges, 2021).
Político/Normativo
Limitações e restrições normativas institucionais
identificadas pelo pesquisador para o
compartilhamento de dados. Ex.: Políticas
mandatórias de compartilhamento de dados como
condição para publicação em periódicos, parcerias
interdisciplinares e intersetoriais.
Cooperação científica
Obstáculos e dificuldades no trabalho conjunto de
pesquisadores/instituições em um projeto comum,
compartilhando recursos políticos, intelectuais,
econômicos e/ou físicos para produzir novos
conhecimentos científicos. Ex.: estudos no
desenvolvimento de vacina para a COVID-19.
Contexto
Individual
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto à cultura do
compartilhamento e práticas no
gerenciamento de dados, esforços
pessoais e riscos percebidos.
(Veiga; Silva e Borges, 2021);
(Tenopir, et al. 2020) e
(Shmagun, et al. 2020).
Cultura do
compartilhamento
Limitação de conhecimento do pesquisador acerca do
Movimento de Acesso Aberto e suas práticas. Ex.:
Conhecimento da existência de Repositórios Abertos
para consumo e compartilhamento de dados.
Segurança
Preocupação/ seguridade do pesquisador em
compartilhar seus dados. Ex.: Identificação de
dispositivos seguros para gerenciamento, guarda e
(re)uso dos dados; suporte organizacional.
Reconhecimento
Riscos percebidos na identificação dos dados e
devidos créditos ao pesquisador no uso de sua
produção. Ex.: Riscos para a reputação do
autor/instituição em caso de evidência de baixa
qualidade ou não citação da fonte.
Contexto
Social
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto ao
compartilhamento e reutilização
dos
Dados; na reprodutibilidade das
experiências e socialização dos
resultados da pesquisa, no âmbito
social das doenças emergentes.
(Costa e Leite, 2019); (Jorge e
Albagli, 2020); (Ministério da
Saúde, 2024).
Emergência de
pesquisa em saúde
pública
Pressões nas pesquisas em situações que demande o
emprego urgente de medidas de prevenção, de
controle e de contenção de riscos, de danos e de
agravos à saúde pública em situações que podem ser
epidemiológicas (surtos e epidemias), de desastres,
ou de desassistência à população. Ex.: Contexto
pandêmico da COVID-19.
Aspectos éticos da
pesquisa
Limitações na comunicação dos dados abertos devido
à princípios éticos e legais na pesquisa em saúde
pública. Ex.: Lei Geral de Proteção à Dados Pessoais.
Fonte: dados da pesquisa.
Quadro 6: Dimensão Motivacional: fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa
DIMENSÃO MOTIVACIONAL (Estudos predominantes: E1, E2, E5, E10, E11, E13, E14, E16, E17, E18, E20, E21,
Categoria
Definição da categoria
Fator
Características do fator
Motivação
individual
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto aos
esforços pessoais,
riscos e consequências
percebidos no
compartilhamento aberto de
dados de pesquisa.
(Alcará, et. al, 2009)
Visibilidade
Preocupações do pesquisador quanto ao
devido reconhecimento, atribuição e citação do conjunto de
dados, utilizados por outros pesquisadores, a partir da
sua produção.
Habilidade
Barreiras percebidas pelo pesquisador quanto a falta de
competências, conhecimentos ou compreensão
relacionados ao processo de partilha de dados. Ex.: saber
como, onde e com quem compartilhar dados. Crenças
sobre capacidades e consequências.
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Recompensa
Elementos relacionados à motivação extrínseca do
pesquisador. Ex.: recompensas monetárias, promoção, na
carreira e prestígio. Elementos relacionados à motivação
intrínseca ao pesquisador. Ex.: satisfação resultante da
experiência de partilhar conhecimento e ajudar os outros,
percepção de auto eficácia associada ao próprio
conhecimento e autoconfiança na capacidade de partilhar
conhecimentos valiosos com outros.
Esforço
Preocupações do pesquisador quanto a dispensa de esforços
individuais e coletivos para alcançar objetivos partilhados.
Ex.: investimento de tempo e esforço substancial para
manter e carregar dados em formato adequado que possa
ser usado por outros pesquisadores.
Credibilidade na
Ciência Aberta
Corresponde à percepção do
pesquisador
quanto à confiança na
Ciência Aberta. (Song,
Markowitz, Taylor, 2022);
(Humphreys, et al., 2021)
Transparência
Preocupações do pesquisador quanto à confiabilidade dos
dados de pesquisa compartilhados em acesso aberto,
considerando as condições de: provedores de serviços;
plataformas de dados; qualidade dos dados, pesquisadores e
reciprocidade da ciência aberta.
Desvantagens do
Acesso Aberto
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto
às desvantagens extrínsecas
e intrínsecas percebidas no
compartilhamento de dados.
(Cahú, et al, 2011)
Assédio ao
pesquisador
Preocupação do pesquisador quanto à má conduta ética na
pesquisa aberta e na bioética. Ex.: Assédio moral,
assédio horizontal, disputas de autoria e coautoria.
Insegurança
no Reuso dos dados
Elementos relacionados aos receios dos pesquisadores
quanto aos propósitos no reuso e aplicabilidade de seus
dados em outras pesquisas. Ex.: Desqualificação dos dados
e seus resultados.
Privacidade
e confidencialidade
Limitações no compartilhamento de
dados e/ou informações sensíveis dos participantes da
pesquisa. Ex.: Dados médicos pessoais.
Fonte: Dados da pesquisa
Quadro 7 - Dimensão Infraestrutura/Tecnológica: fatores intervenientes no compartilhamento de dados de pesquisa
DIMENSÃO INFRAESTRURA/TECNOLÓGICA (Estudos predominantes E1, E2; E3, E5, E6, E8, E9, E10, E11, E13, E16, E19,
E21 e E23)
Categoria
Definição da categoria
Fator
Características do fator
Recursos
Humanos
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto aos
aspectos relacionados ao
suporte/orientação
especializada em gestão de
dados de pesquisa.
(Shintaku, et al., 2020)
Serviço de
informação
Falta ou acesso limitado a serviços de suporte à gestão de
dados. Ex.: Serviço de informação centrado no pesquisador
ofertado por bibliotecas universitárias.
Rede colaboração
Barreira no relacionamento entre pesquisadores e/ou ao
acesso aos dados de pesquisa gerados por redes de
colaboração científica. Ex.: Rede Colaborativa Brasil de
Pesquisa em Dados Clínica Covid-19, Covid Longa (pós-
Covid) e Mpox.
Revisão por pares
Desafios, preocupações e consequências percebidos pelo
pesquisador, no processo de revisão aberta e/ou na falta
deste, em publicações de dados de pesquisas de emergência
em saúde pública. Ex.: Modelo de publicação Fast-
Track; Publicações de pré-print no COVID-19 Open
Research Dataset (CORD-19).
Recursos
Tecnológicos
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto à
infraestrutura e recursos
tecnológicos adequados
para processamento,
Infraestrutura de TIC
para a Ciência Aberta
Dificuldades e/ou limitações do pesquisador na seleção e
utilização de dispositivos ou sistemas de informação
abertos para fins de compartilhamento de
dados. Ex.: Plataformas colaborativas abertas; Repositórios
de dados; Identificadores persistentes; Padrões de
metadados; Protocolos de interoperabilidade.
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armazenamento e
compartilhamento de dados.
(Kim, 2022)
Recursos para
Gestão de Dados
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto
a prática do conjunto de
atividades que compõe o
ciclo de vida dos dados:
coleta, armazenamento,
gerenciamento e
compartilhamento dos
dados.
(DATAONE2015); (Sayão
e Sales, 2014); (Borgman,
2012).
Planejamento
Necessidades do pesquisador no gerenciamento e descrição
dos dados que serão compilados e como eles serão
gerenciados e disponibilizados para acesso durante o seu
tempo de vida. Ex.: Construção de Plano de Gestão
de Dados (PGD).
Armazenamento
Desafio do pesquisador em dentificar quais dados devem
ser ou não armazenados e preservados em serviços de
armazenamento nas nuvens da instituição ou em serviços
oferecidos por empresas privadas Ex.: Padronização dos
registros; Metadados; Backups.
Compartilhamento
Necessidades e
arreiras identificadas pelo pesquisador no processo de abert
ura dos dados.
Ex.: Estabelecimento dos níveis de acesso aos dados; cump
rimento de obrigações legais previstas em políticas
mandatórias e em agências de financiamento.
Preservação
Necessidade do pesquisador em submeter os dados em
ambiente apropriado para preservação ativa por longo
prazo, mantendo as suas características
de autenticidade, integridade e proveniência, de forma que
eles estejam sempre disponíveis e prontos
para serem usados. Ex.: Repositório
institucional; Repositórios associados aos periódicos
científicos e repositórios e centros de dados que se dedicam
a disciplinas específicas.
Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 8 - Dimensão Financiamento: fatores intervenientes no compartilhamento de dados de
pesquisaDIMENSÃO FINANCIAMENTO (Estudos predominantes: E1, E2, E5, E15, E16, E19 e E21)
Categoria
Definição da categoria
Fator
Características do fator
Recurso
Financeiro
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto
aos incentivos financeiros e
econômicos necessários à
comunicação e
ao compartilhamento dos
dados de pesquisa.
(Mugnaini, Igami,
Krzyzanowski, 2022)
Fomento à pesquisa
Limitações/barreiras percebidas pelo pesquisador na busca
por subsídios para fins de custeio no desenvolvimento
de sua pesquisa e publicação dos dados. Ex.: Auxílios e
Bolsas ofertados por Órgãos de Fomento como a FAPESP.
Custos para
Publicação em
Acesso Aberto
Corresponde à percepção do
pesquisador quanto
ao custeio de possíveis
taxas cobradas por
periódicos, aos autores,
para tornar disponíveis
os resultados de suas
pesquisas.
(Mugnaini, Igami,
Krzyzanowski, 2022)
Taxas de
Processamento
Desafio do pesquisador/Instituição em cumprir o
pagamento de taxas duplas (assinatura e APC) gerados por
revistas híbridas (Ex.: Article Processing Charges-
APC), Page charges ou author charges.
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Fonte: Dados da pesquisa.
A proposta do modelo teórico de fatores intervenientes no compartilhamento de dados de
pesquisa é representado, de forma sistemática, pelos Quadros 5, 6, 7 e 8. Para fins desta pesquisa,
adotou-se a compreensão de Modelo Teórico apontada por (Bunge, 1974) apud (Souza Filho;
Struchiner, 2021), que interpreta Modelo Teórico como um sistema hipotético-dedutivo
representante da realidade, que pode gerar proposições a partir de proposições iniciais, ou seja, é
possível realizar previsões a partir deles e simular o real.
A compreensão integrada de como essas dimensões e seus fatores afetam a reutilização de
dados de pesquisa proporciona uma visão clara de sua influência em encorajar ou desencorajar os
cientistas a compartilhar e/ou reutilizar publicamente dados de pesquisa. Cada dimensão descreve
diferentes facetas que influenciam o ecossistema da Ciência Aberta, e estão intrinsecamente
relacionadas, como descrito a seguir e ilustrado na Figura 3.
I. A dimensão Contextual, que engloba fatores individuais e institucionais/organizacionais,
está relacionada à Dimensão Motivacional, centrada nas percepções individuais do pesquisador
sobre o compartilhamento de dados. As percepções e questões regulatórias presentes na dimensão
Contextual podem moldar a motivação do pesquisador para compartilhar dados.
II. A dimensão Motivacional está diretamente ligada à Dimensão
Tecnológica/Infraestrutura, pois os fatores nessa dimensão facilitam a interoperabilidade entre
sistemas, reduzindo o esforço necessário dos pesquisadores para produzir e compartilhar dados.
Questões relacionadas à cultura acadêmica, regulamentos e contextos sociais podem determinar a
forma como os pesquisadores utilizam ferramentas e infraestruturas para o compartilhamento de
dados.
III. Há uma relação essencial entre as Dimensões Tecnológica e de Financiamento, já que
o investimento adequado é crucial tanto para o processamento de dados quanto para promover a
infraestrutura tecnológica necessária à Ciência Aberta. A facilidade de acesso a dados, recursos
tecnológicos e a eficácia das ferramentas disponíveis podem influenciar diretamente a motivação
do pesquisador para compartilhar dados.
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IV. A Dimensão Financiamento, que aborda fatores financeiros e de custos, está
intrinsecamente ligada às dimensões Contextual e Tecnológica/Infraestrutura. O financiamento
disponível pode influenciar tanto a infraestrutura tecnológica utilizada quanto os contextos
institucionais que afetam as decisões dos pesquisadores.
Essas dimensões estão interconectadas e devem ser consideradas em conjunto para
promover uma cultura de Ciência Aberta e facilitar o compartilhamento efetivo de dados de
pesquisa. As relações entre as dimensões são cruciais para entender como diferentes aspectos
afetam a motivação e a prática de compartilhamento de dados pelos pesquisadores.
Figura 3 Dimensões: relações e interconexões
Fonte: Elaborada pelos autores.
Essas relações destacam, portanto, a complexidade e interdependência das dimensões da
Ciência Aberta, evidenciando como fatores contextuais, motivacionais,
tecnológicos/infraestruturais e de financiamento estão entrelaçados no ecossistema da pesquisa
científica aberta.
Sob essa ótica, os resultados desta análise e suas relações podem auxiliar na criação de uma
percepção mais abrangente dos elementos que influenciam a partilha de dados de investigação em
Ciência Aberta, fornecendo perspectivas relevantes sobre quais aspectos necessitam de atenção e
esforço adicional na elaboração de estratégias e políticas eficientes neste cenário.
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Discussão
A análise das relações e interconexões das dimensões revela a importância da tecnologia
no processo de compartilhamento de dados. Neste contexto, destaca-se a E-science, que pode ser
entendida como a infraestrutura que visa permitir que cientistas e pesquisadores possam ter acesso
a dados de pesquisa primários distribuídos, utilizando acesso remoto a esses conteúdos.
Desta forma, pode-se argumentar que a infraestrutura tecnológica eficiente e acessível pode
aumentar a motivação dos pesquisadores para compartilhar dados, desde que sejam fornecidas
ferramentas e recursos necessários para facilitar tal processo.
Embora os estudos citados apresentem fatores importantes que podem influenciar o
pesquisador na questão do compartilhamento de dados de pesquisa, eles ainda podem ser mais
aprofundados na identificação de outros fatores, como por exemplo, fatores políticos, contextuais
nas situações de antes, durante e após emergências de saúde pública, entre outros.
Para além de destacar os impedimentos no compartilhamento de dados de pesquisa, deve-
se enfatizar os benefícios que tal movimento propicia como um todo, como o aumento da
visibilidade da pesquisa que estimula olhares de várias disciplinas e perspectivas sobre
determinado tema, possibilitando a identificação de erros de interpretação e fraudes, evitando
desperdício de recursos financeiros e de nova coleta de dados (Piwowar et al., 2007), contribuindo,
assim, para o fortalecimento da confiabilidade e validade dos estudos.
São muitos os fatores que podem interferir no compartilhamento de dados de pesquisa. A
análise desses fatores nos permite inferir que as intenções e ações voltadas para o
compartilhamento precisam ser estimuladas e valorizadas constantemente, por meio de
oportunidades formais e informais, elementos motivadores, aspectos culturais e, principalmente,
pela promoção da relação de confiança entre as partes envolvidas.
Lidar com esse contexto exige uma abordagem colaborativa que envolva pesquisadores,
instituições, governos e organizações internacionais, trabalhando juntos para desenvolver políticas
e práticas que incentivem o compartilhamento responsável de dados (Veiga; Silva e Borges, 2020;
Costa e Leite, 2019; Jorge e Albagli, 2020; Tenopir, et al., 2020; Shmagun, et al., 2020).
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Este estudo enfatiza necessidade de entender como a aplicação efetiva dessas dimensões
pode melhorar não apenas o compartilhamento de dados, mas também a transparência,
acessibilidade e colaboração na pesquisa durante situações de crise de saúde pública, como os
provocados pelo Zika Vírus e COVID-19.
Destarte, uma forma de contribuir para o fortalecimento do movimento em prol da Ciência
Aberta é priorizar as políticas de acesso aberto, promovidas como forma de resistência à
privatização do conhecimento científico, sobretudo quando voltadas às questões envolvendo a
saúde e o bem-estar da população mundial (Stueber et al., 2020).
Infere-se que, para o sucesso na disseminação da cultura do acesso aberto é preciso haver
um aprimoramento na comunicação científica tradicional, bem como na democratização de
informação científica para o público. A Ciência Aberta não é apenas abertura de dados, acesso
aberto ou inovação na pesquisa em Ciência e Tecnologia, mas também saber como as instituições
cumprem seu papel, demonstrando metodologicamente a função social da ciência, seja para o
sistema de saúde ou para qualquer política pública do nosso país, de qualquer área do
conhecimento.
Considerações finais
A análise temática dos fatores que influenciam o compartilhamento de dados de pesquisa,
na perspectiva da Ciência Aberta, forneceu insights sobre as barreiras que têm distanciado os
pesquisadores dos princípios da Ciência Aberta, possibilitando uma compreensão mais clara das
dificuldades enfrentadas.
Os achados deste estudo não visam esgotar o campo, mas instigar uma reflexão crítica dos
desafios, limitações e implicações da Ciência Aberta, com o intuito de promover discussões
construtivas e avanços na área. Espera-se que os resultados obtidos possam contribuir para situar
os pesquisadores em diversos campos, para além dos pesquisadores da saúde, facilitando a
colaboração para o desenvolvimento de políticas de ciência, tecnologia e inovação.
Os estudos analisados revelam lacunas na compreensão de como superar barreiras e
resistências ao compartilhamento de dados entre os cientistas. Isso evidencia a necessidade de uma
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agenda de novas pesquisas na área da saúde, especialmente em situações de emergência em saúde
pública, como a pandemia da COVID-19.
Ao considerar o desenvolvimento de estudos futuros, sugere-se uma reavaliação ou um
aprofundamento crítico nas relações entre as dimensões propostas neste artigo. Finalmente, espera-
se que, com o avanço do conhecimento teórico e empírico das dimensões propostas, seja possível
contribuir para a tomada de decisões e a construção de políticas públicas alinhadas ao modelo
vigente da Ciência Aberta, promovendo, dessa forma, avanços em campos pouco explorados.
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Received: 26/04/2024 Accepted: 30/07/2024