PERROTTI, Edmir. Biblioeducação, Rompendo Paradigmas: transversalidade e verticalidade na Era da Informação.
Brazilian Journal of Information Science: research trends. vol. 17, Dossiê: Transversalidade e Verticalidade
na Ciência da Informação, publicação contínua, 2023, e023055. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023055
agrava. Nesse cenário, premidos pelas demandas onipresentes da "modernidade líquida" (Bauman,
2001), mesmo sem convicção, cedemos com facilidade às atualidades e urgências dos fluxos
globais, deixando em plano secundário, quando não abandonadas, sua contrapartida indispensável:
a memória e suas exigentes sinuosidades e lentidões. Em tais condições, o dinâmico não só se
opõe, mas impõe-se à duração, vilaniza-a em sua tentativa de torna-se ethos cultural cujo nome
estaria expresso, talvez, na formulação "era da informação", categoria redutora da diversidade e
da complexidade do mundo.
É, portanto, de perspectiva contrária a tal reducionismo que a Biblioeducaçao nasceu e se
nutre, colocando sob suspeita o informacionismo e seus slogans, ou seja, como forma de resgatar
a essencialidade da informação, superando, assim, anúncios que a tomam como um novo mito
fundador, positividade pura, oráculo resplandecente que nada oculta, revelação destituída de
opacidade. O informacionismo reduz a complexidade do mundo e nega o próprio objeto que
pretende celebrar: a informação. A Biblioeducação, ao invés de negá-la, tenta reaver a importância
do esquecimento, dado que todo processo de formação se alimenta de um lado do que está dado,
de outro, do novo, do porvir. Sem tal diálogo, como diria, W. Benjamin (1993), não produzimos
cultura, mas ruina civilizacional, barbárie.
É, pois, sob essa perspectiva crítica dos dualismos que a Biblioeducação se constituiu, se
inscreve e vislumbra a problemática geral das relações transversalidade e verticalidade. A
polarização, promovida pelo informacionismo, vem repercutindo no campo social e científico,
afetando-nos diretamente, já que a Biblioteconomia se constituiu e continua a se constituir
ontologicamente sobre a alavanca da memória, do que fica e do que deve ou não ficar; a Ciência
da Informação, por sua vez, nasce vinculada aos fluxos, ao dinamismo, ao movimento. E,
consideradas tais diferenças, importa reconhecer que as relações estabelecidas entre fenômenos
estáveis e dinâmicos, certezas e incertezas, não são simplesmente teóricas, mas vividas e
experimentadas na concretude histórica e social, onde elas são construídas e reconstruídas.
Logo, definições e opções epistemológicas não são neutras, amorfas, sem consequências.
Levadas ao limite, seria possível afirmar com Nora (1984) que, em nosso tempo, a memória-
experiência tenderia ao desaparecimento, transformando-se em simples narratividade. A
informação, seguindo tal raciocínio, ao ser tomada como positividade, esconderia ardilosamente