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SAMPAIO, Denise Braga. A Hipervelocidade nas Redes Sociais Online: perspectivas filosóficas e informacionais.
Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023, e023044. DOI:
10.36311/1981-1640.2023.v17.e023044
Por fim, estes multiversos são uma ode à repetição. De acordo com Barbosa e Rennó (2020,
p. 73), a repetição contínua atenua e enfraquece os sentimentos e causam o “[...] desvio [do] tempo
do pensamento, da reflexão, obstruindo o exercício da consciência”. Os autores complementam,
afirmando que “a aceleração nos mergulha numa continuidade, que provoca formas instáveis de
fragmentação e divisão psíquica limitada ao eu, tornando-nos imprecisos, indefinidos,
descomprometidos e narcísicos” (BARBOSA; RENNÓ, 2020, p. 73).
O TikTok (cujo nome remete à onomatopeia de passar dos segundos do relógio), ao trazer
a mecânica de vídeos que propiciou os desafios, que envolvem danças facilmente executáveis; uso
constante de filtros; dobragem de falas viralizadas em vídeos caseiros etc., influenciou seus
usuários, que também são usuários do Instagram e do Facebook, a levarem estes modelos de
postagem a essas concorrentes. Alguns usuários chegam a chamar uma rede social citada no
conteúdo de outra rede, de vizinha: ‘está rolando esse challenge na rede vizinha e resolvi postar
aqui’. As principais ferramentas que interoperam esses desafios são os stories, já citados, mas
também um mecanismo criado e impulsionado pelo Instagram, os Reels, criados em 2020. Esta
são uma aposta, da Meta, para concorrer diretamente com o TikTok.
Voltando a citar Han (2017a) e Debord (2003), tal mecânica ajuda a entender que essa
sociedade vivida nas redes sociais online é pautada no espetáculo, na transparência, na velocidade,
na repetição e em uma estética padronizada que, por meio de desafios, torna seus
executores/desafiados efemeramente satisfeitos. As curtidas, ou reações; o aumento do número de
seguidores; a viralização funcionam como pílulas desta satisfação, com efeitos cada vez menos
eficientes. Isso ocorre porque os algoritmos destas redes mudam constantemente, criando outras
mecânicas que devem ser absorvidas, por tais prossumidores, para que não perca engajamento.
Como foi o caso do próprio Instagram, cujo foco inicial eram as fotografias, depois foram inseridos
os IGTV e, mais recentemente, os Reels. Este cenário demostra que o espaço para a reflexão é
esvaído nestes espaços, nestes multiversos, havendo um culto ao célere, finito, padrão e
transparente. A informação, nestes espaços, não se firma, mas a desinformação encontra terreno
fértil à sua produção e disseminação, pela própria forma acessível, transparente e efêmera, sem
necessidade de contexto, o que evidencia a necessidade de regulação destas plataformas, com
vistas ao controle desta produção de desinformação, cujos efeitos, ainda são pouco conhecidos.