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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
OS LUGARES DE MEMÓRIA NA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
The places of memory in the scientific production of Information Science
Elisiane Mafezolli (1), Jorge Moisés Kroll do Prado (2)
(1) Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil, elisiane@unifebe.edu.br
(2) jorge.exlibris@gmail.com
Resumo
Lugares de memória são espaços destinados à manutenção e preservação das informações, objeto daquele
local. Um lugar digital de memória, além de preservá-la, oportuniza o acesso, de qualquer lugar, em
qualquer tempo. A Ciência da Informação auxilia esses lugares na organização, armazenamento,
recuperação, transmissão e utilização da informação, identificando-a como área interdisciplinar. O objetivo
dessa pesquisa foi identificar a produção científica em torno do objeto lugar de memória e a sua relação
com a Ciência da Informação, motivados principalmente pela hipótese de uma baixa produção em torno do
assunto mesmo com uma consistência teórica da Ciência da Informação e suas correntes de pensamento.
Para o alcance do objetivo, foram realizadas pesquisas por meio de buscas com combinação de palavras,
nos idiomas português, inglês e espanhol, nas bases: Base de Dados em Ciência da Informação, SCOPUS,
Scientific Eletronic Library Online e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, tendo como
requisito o texto completo. A partir dos resultados encontrados, foram selecionados 24 artigos de periódicos
e 14 dissertações de mestrado e três teses de doutorado. A leitura dos artigos selecionados nos levou a
concluir que a preocupação dos autores com o tratamento dado à informação, seja com sua guarda,
preservação ou disseminação; a interdisciplinaridade com áreas como memória; e o quanto as tecnologias
da informação podem contribuir para criação de espaços digitais de memória, além de preservar também a
informação contida nos documentos.
Palavras-chave: Ciência da Informação; Memória; Documento; Lugar Digital de Memória.
Abstract
Places of memory are spaces destined for the maintenance and preservation of information, the object of
that place. A digital place of memory, besides preserving it, provides the opportunity to access it from
anywhere, at any time. Information Science helps these places in the organization, storage, retrieval,
transmission and use of information, identifying it as an interdisciplinary area. The objective of this research
was to identify the scientific production around the object place of memory and its relationship with
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da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
Information Science, motivated mainly by the hypothesis of a low production around the subject even with
a theoretical consistency of Information Science and its currents of thought. To reach the objective, research
was carried out through word combination searches in Portuguese, English and Spanish, in the following
databases: Information Science Database, SCOPUS, Scientific Eletronic Library Online and Brazilian
Digital Library of Theses and Dissertations, with the requirement of a full text. From the results found, 24
journal articles and 14 master's theses and three doctoral dissertations were selected. The reading of the
selected articles led us to conclude that there is the concern of the authors with the treatment given to
information, whether with its safekeeping, preservation or dissemination; the interdisciplinarity with areas
such as memory; and how information technologies can contribute to the creation of digital memory spaces,
besides also preserving the information contained in the documents.
Keywords: Science Information; Memory; Document; Digital memory place.
1 Introdução
Lugares de memória podem ser caracterizados como espaços destinados à preservação e
manutenção de registros e informações que podem ser institucionais, pessoais ou coletivas.
Conforme os esforços em preservá-la aumentam, criam-se mais espaços destinados com um
objetivo em comum: a sua salvaguarda. Além dos museus, surgem os centros de memória,
arquivos, acervos culturais, entre outros, que têm como característica “a reunião, a preservação e
a organização de arquivos e coleções [...] e de conjuntos documentais diversos [...] reunidos sob o
critério do valor histórico e informativo, em torno de temas ou de períodos da história” (Camargo
1999 p. 50).
Nota-se que um aspecto importante dos documentos é o seu conteúdo. Através desse
suporte, é possível identificar inúmeras informações que podem estar nos mais diversos formatos
como “textos, imagens, sons, sinais em papel/madeira/pedra, gravações, pinturas, incrustações e
outros. (Fachin 2006 p. 146). Essas informações, por sua vez, trazem aspectos do passado,
podendo contar uma história há muito esquecida, ou ainda nem conhecida.
A preservação desses documentos que possuem memória/informação do passado, deixou
de ser apenas de modo físico. A digitalização, por exemplo, veio como mais uma forma de manter
a memória, além de facilitar a acessibilidade. Esses acervos digitalizados, passam a compor um
‘espaço digital de memória’ ou também chamado de ‘lugar digital de memória’. Esses locais,
popularmente falando, também podem ser os chamados repositórios, museus, arquivos ou
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bibliotecas virtuais, uma página web com conteúdo histórico, enfim, ambientes virtuais que
contenham informações de memória digitalizadas.
É importante ressaltar que a Ciência da Informação (CI), na sua característica e
desenvolvimento interdisciplinar, é responsável por auxiliar os profissionais que trabalham com a
guarda de documentos a partir dos contributos teóricos que recebeu em sua fase embrionária da
Documentação. É dela que advém a orientação para guarda, preservação, organização,
processamento da informação e de todos os outros aspectos responsáveis para a curadoria desses
materiais.
Dito isso, o objetivo dessa pesquisa é identificar a produção científica em torno desses
lugares de memória e sua relação com a Ciência da Informação. Justifica-se por investigar o quanto
o assunto tem sido discutido e com que frequência esses lugares têm sido criados, planejados e
utilizados.
Sendo assim, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e descritiva sobre o tema nas
seguintes bases de dados de artigos científicos: Base de Dados Referenciais de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), SCOPUS e Scientific Eletronic Library Online
(SCIELO); e também na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) enquanto
espaço de produção de trabalhos de conclusão em nível de pós-graduação.
Previamente ao levantamento da produção científica e sua análise, viu-se a necessidade de
versar sobre alguns conceitos-chave, distribuídos nas seções a seguir: memória, lugar de memória,
informação e Ciência da Informação.
2 Lugares de memória
Por memória, entende-se a capacidade de reter e recordar fatos ocorridos, remetendo às
informações daqueles momentos. Le Goff (2003 p. 419) destaca que A memória como
propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de
funções psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas.”.
Essas informações são essenciais para a construção do que somos hoje e, por essa razão, faz-se
necessário ações de preservação dessa memória, pois memória esquecida, é memória perdida.
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E esquecer, é irremediável. Para Ricoeur (2007) o esquecimento é o inimigo da memória:
é a perda irreparável do acesso aos rastros deixados pelas experiências vividas e sentidas. Os
rastros, segundo ele, são os resquícios de algo que nos marcou e que persistem em nosso espírito
e que, consequentemente, não nos deixa esquecer. Porém, a ameaça do apagamento desses
rastros, o que causa o esquecimento definitivo. E é por conta disso, o esforço em se trabalhar pela
memória.
É por conta da sombra contínua do esquecimento, que se fazem os lugares de memória.
Esclarece Nora (1993 p. 8) “Se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos necessidade de
lhe consagrar lugares”. Em seu interior esses lugares precisam caracterizar as vivências, as
crenças, a cultura, os costumes de alguém, algo ou alguma determinada sociedade. E complementa:
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. [...] Museus, arquivo, cemitério
e coleções, festas, aniversários, tratados, processos verbais, monumentos,
santuários, associações, são os marcos testemunhais de uma outra era [...] Os
lugares de memória nascem e vivem do sentimento de que não memória
espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversario,
organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas [...] (Nora 1993
p. 12-13)
Essa busca constante em registrar o passado em algum suporte, indica como a memória
precisa de lugares “concretos” para continuar “viva”. Pierre Nora (1993 p. 7), afirma que “Há
locais de memória, porque não mais meios de memória.”, ou seja, é necessário mantê-la em
algum suporte e armazená-la em espaços físicos ou digitais, na tentativa de fazê-la sobreviver ao
esquecimento. A esses espaços construídos, Nora denomina “lugares de memória”, que são,
portanto, lugares que “[...] se organizam para servir de apoio à salvaguarda da materialidade
simbólica concebida como elemento de representação coletiva.” (Silveira 2007 p. 44).
Caracterizam-se dessa maneira, as bibliotecas, os arquivos e os museus. Diante do percurso
histórico, esses lugares físicos de memória tradicionais, foram erguidos primeiramente com o
intuito de salvaguardar os registros deixados em algum suporte.
No Renascimento, o crescente interesse pela produção humana, possibilitou o surgimento
dos primeiros tratados para a curadoria dessa “materialidade simbólica concebida”. As bibliotecas,
os arquivos e os museus, m como características “[...] a reunião, a preservação e a organização
de arquivos e coleções [...] reunidos sob o critério do valor histórico e informativo [...] (Camargo
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e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
1999 p. 50). A partir disso, passou-se a tratar esses objetos com o interesse de guarda, preservação
e disponibilização às gerações futuras.
Mas foi no final do século XVIII, com a Revolução Francesa, que esses espaços sofreram
profundas transformações. O nacionalismo passa a compor os Estados modernos, surgindo assim,
as primeiras coleções; a aquisição e o acúmulo de acervos; e, a necessidade de pessoal qualificado
em cada campo, possibilitou o surgimento dos primeiros cursos profissionalizantes (Araújo 2014).
Já com o pensamento positivista da era Moderna, nota-se uma distinção crescente entre os
arquivos, as bibliotecas e os museus. Cada área passa a priorizar suas técnicas particulares de
tratamento de seus respectivos acervos: a Arquivologia com as técnicas arquivísticas; a
Biblioteconomia com as ciências das técnicas biblioteconômicas; e a Museologia, com a ciências
das técnicas museológicas (Araújo 2014).
As transformações em diversas áreas como as sociais, tecnológicas e políticas, ocorridas
ao longo do século XX, possibilitaram o aumento da produção científica, o surgimento das
tecnologias digitais e a interdisciplinaridade entre a Biblioteconomia, a Arquivologia e a
Museologia, transformando também, a esfera de atuação destes profissionais (Araújo 2014). Esses
lugares físicos de memória, que antes eram limitados apenas à conservação e pesquisa, tiveram
suas funções alteradas de maneira que, hoje, a comunicação com o público tornou-se um dever
(Martins e Dias 2019).
A partir dessas transformações, surgem novos lugares físicos de memória: Centros de
Memória e Acervos Culturais são exemplos de novas instituições na área. Mesclam-se, dessa
forma, os espaços e as atividades, e o que antes era próprio de cada campo, passa a ser
interdisciplinar “[...] um pouco museus, um pouco arquivos, um pouco bibliotecas [...]” (Dodebei
2011 p. 2).
Os lugares físicos de memória possuem acervos documentais que retratam finalidades
distintas, com documentos dos mais variados tipos: papeis, fotografias, mapas, tecidos, áudios,
entre outros. A esses suportes capazes de manter materialmente a memória, seja institucional,
pessoal, ou de uma sociedade, chamamos de documento.
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e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
Salvaguardar um documento não é tarefa simples. Segundo o Tesauro Brasileiro de Ciência
da Informação, preservar um documento não é somente protegê-lo, mas também proteger a
“informação que eles contêm, por meio de ações que minimizem a deterioração química e física
dos mesmos, bem como impeçam a perda de seus conteúdos informacionais.” (Pinheiro e Ferrez
2014 p. 26).
Dentre os diversos esforços para a preservação da memória, a digitalização dos acervos é
um caminho que muitas instituições estão adotando. Preservar digitalmente a memória garante a
proteção da “inteligência social para a nossa e para as gerações futuras” (Siebra e Borba 2021 p.
27), garantindo que o documento permaneça em sua forma íntegra, viabilizando seu acesso de
forma remota, de qualquer lugar, em qualquer tempo.
Digitalizar, é tornar o físico, digital. Um documento digitalizado, auxilia na preservação
dos documentos físicos pois, o manuseio indevido pode causar danos irreversíveis. No mais, se
além de digitalizado, for disponibilizado online, em uma plataforma acessível, o alcance que esse
documento terá, será maior do que somente acondicionado em espaços físicos
A digitalização pode proporcionar um universo de possibilidades, desde o
acesso facilitado e instantâneo por mais de um usuário até a renovação de seus
significados a partir da inserção de novos contextos, o que acaba por gerar
interpretações e formas de utilização inéditas. (Martins e Dias 2019 p. 1)
O indivíduo que se valer desses novos acessos de memória, pode ressignificar
conhecimentos que possuía ou, até mesmo, criar novos conhecimentos e memórias. Dessa forma,
um ambiente digital pode ser considerado um espaço de memória: ou, em outras palavras, um
‘espaço digital de memória’.
3 Ciência da Informação
Devido ao grande número de autores que procuraram definir o que é a informação e o que
é a Ciência da Informação, adotou-se para esta pesquisa, o conceito de informação de Rafael
Capurro, e o conceito de Harold Borko para a Ciência da Informação.
Capurro afirma que o conceito de informação pode ser entendido a partir de três
paradigmas: o físico, caracterizado como o suporte onde ela está inserida e transmite a informação
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a um receptor; o cognitivo, que considera o que esem espaços cognitivos mentais do sujeito; e
como paradigma social, onde a informação está relacionada com a interação entre os distintos
grupos sociais que constituem uma comunidade (Capurro 2003).
No conceito de paradigma físico a informação surge através de sua dimensão material: sua
existência sensível em algum suporte, ou, popularmente “o que vemos”. Esse conceito teria
surgido a partir da teoria da informação de Claude Shannon e Warren Weaver, onde uma espécie
de objeto físico, chamado por Shannon de mensagem, que é transmitido de um emissor para um
receptor (Capurro 2003). Essas mensagens deveriam ser reconhecidas pelo receptor sem
interferência de qualquer coisa que perturbe a transmissão e a codificação, porém, tendo em vista
que ruído, faz-se necessário uma série de seleções que implicam essa codificação. A essa
seleção dá-se o nome de informação (Capurro 2003).
O paradigma cognitivo surgiu a partir da teoria dos três mundos de Karl Popper, a saber: o
físico, o da consciência ou dos estados psíquicos, e o do conteúdo intelectual (Capurro 2003). Essa
teoria relaciona o que o sujeito sabe, com aquilo que ele está passando a conhecer, e dessa forma,
altera o que ele sabia, gerando assim, um novo conhecimento (Araújo 2010).
o conceito da informação como paradigma social, trata a informação não como de um
sujeito, de forma separada, mas sim como algo construído das interações entre os vários sujeitos
(Araújo 2010). Capurro (2003), corroborando essa visão, traz a crítica que Heidegger faz à
separação entre sujeito cognoscente e o mundo exterior que alguns teóricos desenvolveram,
apontando que existir já significa estar socialmente envolvido em relações sociais com os outros e
com as coisas.
A Ciência da Informação em seus primórdios, além da guarda de documentos, se
preocupava com a circulação, disseminação e uso dos mesmos: mais tarde, o foco voltou-se para
o conteúdo desses documentos. Inicialmente muitas das preocupações teórico-práticas da área
atrelavam-se aos fluxos informacionais, especificamente o tratamento e a recuperação da
informação.
Borko (1968) esclarece que a Ciência da Informação é uma disciplina investigativa do
comportamento informacional, dos fluxos e dos significados dos processos da informação,
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garantindo sua usabilidade e acessibilidade, através de técnicas manuais e/ou mecânicas. Destaca
ainda que
A Ciência da Informação está preocupada com o corpo de conhecimentos
relacionados à origem, coleção, organização, armazenamento, recuperação,
interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. (Borko
1968 p. 1)
Nota-se a manifesta preocupação que a Ciência da Informação tem com a qualidade e o
tratamento da informação, bem como sua organização e disponibilização, características estas de
áreas como Biblioteconomia, Arquivologia e Documentação. Essa observação garante a
interdisciplinaridade do campo, constatação esta do próprio Borko, “ciência interdisciplinar
derivada de campos relacionados, tais como [...] Comunicação, Biblioteconomia, Administração,
e outros campos científicos semelhantes. (Borko 1968 p. 2). Sendo assim, a Ciência da
Informação auxilia as áreas afins nos procedimentos de armazenamento e transmissão do
conhecimento.
Esse conhecimento, por sua vez, está muitas vezes no formato de documentos, sob a guarda
de instituições, em seus lugares de memória. Um lugar de memória, portanto, exige da Ciência da
Informação para sua curadoria, pois necessita proteger, armazenar, tratar e disseminar a
informação contida nesses espaços. Tem-se então os documentos, como registros da memória
coletiva e/ou individual.
Entende-se que diversas áreas se beneficiam da Ciência da Informação, que as auxilia na
guarda, tratamento e disseminação da informação, contida nos diversos suportes, como os
documentos, que em muitos casos estão armazenados em lugares de memória (físico ou digital),
que devem assim serem acessíveis a qualquer pessoa, em qualquer tempo.
Dessa forma, os suportes de memória têm semelhança com as perspectivas da informação
de Capurro: na dimensão física, vimos a informação contida no documento, em sua forma física
ou digital; e nas dimensões cognitiva e de fenômeno social, os sujeitos, passam a conhecer e
decodificar as informações contidas naquele documento, informações essas que são sustentáculos
da memória, podendo alterar ou acrescentar algo ao que eles conheciam, e construindo assim,
muitas vezes, uma nova memória.
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Nesse contexto, é necessário dizer que documento, memória e informação, são conceitos
conectados: um não existe sem o outro. A informação, precisa estar em algum suporte, assim como
a memória (mesmo que ainda no aspecto cognoscente).
4 Procedimentos metodológicos
Para a busca e recuperação dos trabalhos em torno do objetivo elencado para este texto, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica e descritiva, que, segundo Prodanov e Freitas (2013), visa
descrever as características ou relações de determinadas variáveis, sem interferir nelas, assumindo
em geral, a forma de levantamento.
A busca e recuperação de trabalhos em bases de dados e banco de teses e dissertações, foi
realizada no ano de 2023, entre os meses de janeiro e fevereiro. O critério para recuperação da
produção acerca do tema, foi a disponibilização do texto na íntegra.
As bases de dados de periódicos utilizadas para a pesquisa foram: BRAPCI, SCOPUS e
SCIELO. Para a produção de teses e dissertações, foi utilizada a BDTD mantida pelo Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). A tabela 1 apresenta as expressões de
busca utilizadas, em suas respectivas fontes de informação com os resultados encontrados:
Tabela 1 Resultados do levantamento em torno do objeto “lugar de memória”
EXPRESSÕES DE BUSCA
BASES
PORTUGUÊS
BRAPCI
SCOPUS
SCIELO
BDTD
“espaço de memória” AND
digital AND “ciência da
informação”
21
0
0
4
“lugar de memória” AND digital
AND “ciência da informação”
8
0
0
15
“lugares de memória” AND
digital AND “ciência da
informação”
8
0
0
15
repositório AND digital AND
memoria AND “ciência da
informação”
38
0
0
126
“arquivo documental” AND
digital AND memória AND
“ciência da informação”
6
0
0
0
10
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e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
“arquivos documentais” AND
digital AND memória AND
“ciência da informação”
6
0
0
1
“arquivo histórico” AND digital
AND memória AND “ciência da
informação”
2
0
0
4
“arquivos históricos” AND
digital AND memória AND
“ciência da informação”
2
0
0
4
“acervo documental” AND
digital AND memória AND
“ciência da informação”
16
0
0
2
“acervos documentais” AND
digital AND memória AND
“ciência da informação”
16
0
0
2
“acervo histórico” AND digital
AND memória AND “ciência da
informação”
8
0
0
0
“acervos históricos” AND digital
AND memória AND “ciência da
informação”
8
0
0
0
INGLÊS
BRAPCI
SCOPUS
SCIELO
BDTD
“memory place” AND digital
AND “information science“
5
0
0
1
“memory space” AND digital
AND “information science”
10
5
0
0
“memory spaces” AND digital
AND “information science”
10
5
0
0
repository AND memory AND
“information science”
16
10
0
5
“documental file” AND digital
AND memory AND “information
science”
1
0
0
0
“documental archive” AND
digital AND memory AND
“information science”
4
0
0
0
“history file” AND digital AND
memory AND “information
science”
2
0
0
0
“history archive” AND digital
AND memory AND “information
science”
4
0
0
0
“documental collection” AND
digital AND memory AND
“information science”
10
0
0
0
“documentary collection” AND
digital AND memory AND
“information science”
8
0
0
0
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“history collection” AND digital
AND memory AND “information
science”
1
0
0
0
ESPANHOL
BRAPCI
SCOPUS
SCIELO
BDTD
espacio de memoria AND digital
AND ciencia de la información
6
0
0
0
repositorio AND memoria AND
digital AND ciencia de la
información
38
1
0
1
colección de documentos AND
digital AND memoria AND
ciencia de la información
1
0
0
0
archivo historico AND digital
AND memoria AND ciencia de
la información
1
0
0
0
archivo documental AND digital
AND memoria AND ciencia de
la información
8
0
0
0
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Sendo a BRAPCI uma base especializada da Ciência da Informação, o termo “ciência da
informação” das expressões de busca não foi utilizado, bem como, a não utilização das aspas.
Os resultados brutos obtidos (290 trabalhos nas bases de artigos e 180 trabalhos entre teses
e dissertações), foram analisados da seguinte maneira: exclui-se os textos que não estavam na
íntegra; excluiu-se os duplos; verificou-se pelo resumo se estavam de acordo com o objeto da
pesquisa; e através das seções dos trabalhos, descartou-se os que não desenvolviam o tema
propriamente dito.
5 Discussão e análise dos resultados
Esta seção apresentará e analisará os artigos obtidos nas bases de dados BRAPCI e
SCOPUS, bem como as Teses e Dissertações da BDTD.
5.1 Artigos
Feitas as devidas exclusões e análise de aderência à proposta do artigo, dos trabalhos
recuperados nas bases BRAPCI e SCOPUS, 24 artigos foram selecionados. Destes, 20 encontram-
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se em língua portuguesa, um em língua inglesa e três estão em língua espanhola. No Quadro 1,
tem-se os artigos com seus respectivos autores:
Quadro 1 Artigos científicos sobre “lugar de memória”
Autores
Aleandro Medina González
Ana Cláudia Perpétuo de Oliveira
Eliete Gonçalves
Ana Lígia Silva Medeiros
Antoanne Pontes
Luziana Jordão Lessa Trézze
Augusto César Luiz Britto
Marisa de Oliveira Mokarzel
Analaura Corradi
Carolina Karla Fernandes
Martha Suzana Cabral Nunes
Cesar Karpinsky
Diego Salcedo
Vinícius Cabral Accioly Bezerra
Diego Salcedo
Igor Pires Lima
Isledna Rodrigues de Almeida
Bernardina Maria Juvenal Freire de
Oliveira
Maria Nilza Barbosa Rosa
Jetur Lima da Castro
Alessandra Nunes de Oliveira
José Luiz Costa Sousa Gonçalves
Juliana Horta de Assis
Juliana Rabelo do Carmo
Luis Carlos Toro-Tamayo
Juan Camilo Vallejo Echavarría
Letícia Gorri Molina
Cláudia Arak
Lilian Viana
Marina Macambyra
Luis Guilherme Gomes Macena
Maria de Lourdes Brito
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Marcos Lima Galindo
William dos Santos da Silva
Marisa Andrea Cenacchi
Patricia Silvana San Martin
Lucía Manero
Marx Paulo Vargas da Guia
Ana Lígia Silva Medeiros
Mirian Albuquerque Aquino
Leyde Klebia Rodrigues da Silva
Ronhely Pereira Severo
Sérgio Rodrigues Santana
Taianny Ferreira Cabral de Oliveira
Rosilene Paiva Marinho de Sousa
Guilherme Ataíde Dias
Milton Shintaku
Scott Sikes
Salim Silva Souza
Josefa Eliana Souza
Vilma Gravatá da Conceição
Elane Valverde Madureira
Maria Alice Santos Ribeiro
Thais de Sant'Anna Bomfim
Glauber de Assunção Moreira
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Uma observação destacada foi a ausência de autores com vários artigos. Dos 55 autores,
somente dois tiveram duas publicações cada: Diego Salcedo e Ana Lígia Silva Medeiros. Todos
os outros aparecem com somente uma publicação, o que nos aproxima da Lei de Lotka, que versa
sobre a produtividade dos cientistas, e entre outras características, aponta que muitos autores
com pouca produção (Gavron 2019). Vale salientar que, vários artigos possuem entre dois e cinco
autores por trabalho publicado.
Embora não seja objeto de análise deste artigo a produção dispersa entre muitos autores,
podemos inferir que isso se manifesta pela área de atuação central dos pesquisadores que, na
maioria dos casos, não contempla a memória. Atrelado a isso, pode-se mencionar também a
caracterização dos programas de pós-graduação e suas respectivas linhas de pesquisa
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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
A busca pelos artigos restringiu-se aos últimos 10 anos, ou seja, as publicações
selecionadas estão entre os anos de 2013 e 2022. Justifica-se esse recorte por realizar uma análise
do tempo presente, sem motivações de percurso histórico do tema ao longo dos anos. A
produtividade distribuída cronologicamente encontra-se no gráfico 1.
Gráfico 1 - Distribuição da quantidade de publicações ao longo de 10 anos
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Mesmo com a oscilação das produções, o indicador acima demonstra que, se realizarmos
a média de publicações durante o período, percebe-se que são publicados em torno de 3 artigos
por ano.
Vinte e uma revistas científicas distintas publicaram sobre o tema. Destas, a Revista Digital
de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Ágora e Revista Fontes Documentais, publicaram
dois artigos cada; e os 18 periódicos restantes, publicaram apenas um artigo sobre o tema,
conforme a Tabela 2.
2
0 0
3
2
6
3
2
4
2
0
1
2
3
4
5
6
7
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
Tabela 2 Periódicos científicos que publicaram sobre “lugar de memória”
Periódicos
Qtd. de artigos
Ágora
2
Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação
2
Revista Fontes Documentais
2
Archeion Online
1
Biblionline
1
Bibliotecas. Anales de Investigación
1
Cadernos BAD
1
Ciência da Informação
1
e-Ciencias de la Información
1
Em Questão
1
Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da
Informação
1
Informação e & Sociedade: Estudos
1
Informação em Pauta
1
Internacional Journal of Information, Diversity and Inclusion
1
Memória e Informação
1
Múltiplos Olhares em Ciência da Informação
1
Revista ACB - Biblioteconomia em Santa Catarina
1
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Ciência da Informação
1
Revista Conhecimento em Ação
1
Revista Interamericana de Bibliotecología (Colombia)
1
Transinformação
1
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Dentre os trabalhos selecionados, trazemos como destaque o artigo “Repositórios digitais
como espaços de memória e disseminação de informação”, dos autores Isledna Rodrigues de
Almeida, Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira e Maria Nilza Barbosa Rosa. As autoras
tratam os Repositórios Digitais (RD) como uma fonte de informação importante para o
agrupamento e a disponibilização democrática da informação, apontando a responsabilidade social
dos RD, além de também servirem como espaço memorialístico. Tratam a memória como algo
que não pode ser somente cerebral, mas sim, como algo necessário de se manter em algum suporte.
Dessa forma, com o avanço das tecnologias da informação, os RD passaram a ser espaços para o
armazenamento dessas memórias, disseminando o conhecimento de maneira rápida e com
qualidade.
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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
5.2 Teses e dissertações
Feitas as devidas exclusões e análise também nas teses e dissertações, a busca realizada na
BDTD resultou em 17 trabalhos aderentes ao tema dessa pesquisa, sendo três teses e 14
dissertações, conforme Quadro 2:
Quadro 2 Trabalhos selecionados com seus respectivos autores
Dissertações
Autores
Títulos
Daniele Galvão Pestana Nogueira
A preservação da memória do Tribunal de Contas da União
por meio de seu museu (1970-2010)
Carla Maria de Almeida
Abram as portas da ciência para os mestres e as mestras
passarem: a ressignificação da Jurema no Acervo José Simeão
Leal
Uthant Saturnino Silva
Arquivo de medicina legal como guardião de memória
individual e coletiva: espaço de identificação do aparente não
identificável
Caroline Almeida Sodre
Descrição, acesso e difusão dos acervos das Dops no Brasil
Calíope Victor Spíndola de
Miranda Dias
Dimensões analíticas para uma política de acervos culturais
em rede
Anna Raquel de Lemos Viana
Espaços de memória e identidade feminista no Instagram:
análise a partir de coletivos feministas
Laila Figueiredo Di Pietro
Estruturação de acervos imagéticos e acesso a informação:
estudo de instituições de memória no Chile e Argentina
Igor Oliveira da Silva
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte:
lócus da identidade potiguar e preservação da memória
nacional
Julyelenn Almeida Bruno Araújo
Memória institucional nos museus do poder judiciário
brasileiro
Luiza Silva Almeida
O trabalho de memória em espaços blicos: o papel da
Biblioteca de São Paulo na ressignificação do Carandiru
Eliane Epifane Martins
Práticas de preservação da memória social nas instituições-
memória da cidade de Belém
Priscila de Assunção Barreto
Côrbo
Repositório institucional: um olhar para a preservação e o
acesso aos documentos de memória histórico-institucional do
Colégio Pedro II
Luciano Souza Santos
Repositórios digitais na preservação da memória de clubes de
futebol: a descrição arquivística na análise do Esporte Clube
Vitória
Caio Vargas Jatene
Dispositivos de memória e informação: lugares de memória
política das ditaduras civis-militares no Cone-Sul (1990-2019)
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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
Teses
Autores
Títulos
Zilda Kessel
A memória escolar no virtual: Ambientes Virtuais de
Aprendizagem (AVA), lugares da memória e da cultura escolar
Mariana Giubertti Guedes
Greenhalgh
Desenvolvimento de coleções especiais em bibliotecas públicas:
seu papel na salvaguarda da memória regional
Christiane Garcia Macedo
O movimento de constituição dos centros de memória da
educação física das universidades federais brasileiras (1996-2014)
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Ao analisarmos a periodicidade dessas publicações, nota-se no Gráfico 2, uma lacuna entre
os anos 2018 e 2019, e retomando em 2020 a 2022:
Gráfico 2 - Distribuição da quantidade de teses e dissertações defendidas de 2013 a 2022
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Nota-se que em 2017, mostra-se como o ano no qual mais foram defendidos trabalhos
aderentes ao tema pesquisado. Os anos de 2014, 2020 e 2021 empatam com 3 publicações cada.
em relação à distribuição das Instituições que abrigaram as pesquisas, a Universidade de
Brasília (UNB) possui sete trabalhos na área; a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) aparece
com cinco trabalhos; e todas as outras 4 instituições, tem como resultado um trabalho cada na área.
O Gráfico 3, exemplifica essa informação.
1
3
1 1
4
0 0
3 3
1
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
Gráfico 3 - Produtividade de teses e dissertações por Instituição
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Ao navegar nas páginas dos Programas de Pós-Graduação das supracitadas instituições,
não foram encontradas linhas de pesquisa dedicadas ao tema memória, o que poderia justificar a
liderança no número de produções.
A dissertação de Caio Vargas Jatene Dispositivos de memória e informação: lugares de
memória política das ditaduras civis-militares no Cone-Sul (1990-2019)”, defendida no ano de
2021, traz um interessante panorama sobre os lugares de memória em alguns dos países da América
Latina. Classifica e identifica os tipos de lugares existentes na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Paraguai e Uruguai, especifica quais deles tratam da memória política, com documentos da época
da ditadura. Traz também a perspectiva da Ciência da Informação, diante do fenômeno lugares de
memória, focando na sua interdisciplinaridade, envolvendo a organização do conhecimento
através da documentação e, indagando sobre a possibilidade de classificar e representar esses
espaços como fonte de pesquisa historiográfica. Dessa forma, o autor entende que, os documentos
dos lugares de memória discutidos em seu trabalho, podem produzir outros materiais e outras
informações sobre o período em questão.
Apesar da maioria dos trabalhos não determinarem uma corrente específica da CI, notam-
se pontos em comum: a preocupação com o tratamento dado à informação, seja com sua guarda,
preservação ou disseminação; o quanto a explosão informacional tem, de certa forma, contribuído
para se pensar maneiras de curadoria da informação; a interdisciplinaridade com áreas como
7
5
1 1 1 1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
UNB UFPB IBICT URGS PUC (SP) UFBA
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da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
memória; e o quanto as tecnologias da informação podem contribuir para criação de espaços de
memória digital para salvar, além da memória, a informação contida nos documentos.
Conclusões
É importante salientar que memória e informação são conceitos intrínsecos, pois, memória,
é uma informação, que por ideal, deve estar em algum suporte, seja ele físico ou digital. Mas é no
digital que se mostram as mais recentes tentativas para preservar e salvar a memória, procurando
com isso, disseminar a informação de maneira democrática e acessível.
Sendo assim, a pesquisa identificou a produção científica em torno desses lugares de
memória e a sua relação com a Ciência da Informação, bem como foram analisados alguns dos
trabalhos considerados mais aderentes ao tema, pelos autores.
Os resultados recuperados, tanto de artigos quanto de teses e dissertações, depois da análise
de descarte para os não aderentes, resultaram em 28 artigos, uma tese e 17 dissertações. uma
média de 3 publicações de artigos por ano, sendo a Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência
da Informação, o periódico que mais teve publicações no assunto, com quatro artigos publicados.
Quanto as dissertações e a teses, destaca-se o ano de 2017 como o ano em que mais
trabalhos, na área, foram defendidos. A UNE é a instituição que se mostrou com mais trabalhos,
totalizando 7 produções.
Embora a memória seja uma temática bastante relevante para a Ciência da Informação, a
produção científica sobre o tema nos últimos dez anos demonstrou ser pequena. Há alguns fatores
que poderiam ser estudados em pesquisas futuras sobre isso, mas a autoria do artigo cogita que
tanto as linhas de pesquisa em programas de pós-graduação da área, como as próprias pesquisas
desenvolvidas mais atreladas a temáticas como tecnologias, gestão e organização e representação
da informação, tomaram um pouco desse espaço da memória.
Acredita-se que a pesquisa sobre o assunto deva continuar, e espera-se que cada vez mais
os esforços de criação de espaços de memória possam contribuir na preservação da mesma, além
de atrair novos defensores desses lugares tão importantes.
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da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
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Received: 08/03/2023 Accepted: 31/07/2023