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MAFEZOLLI, Elisiane; PRADO, Jorge Moisés Kroll do. Os Lugares de Memória na Produção Científica da Ciência
da Informação. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação contínua, 2023,
e023030. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023030
E esquecer, é irremediável. Para Ricoeur (2007) o esquecimento é o inimigo da memória:
é a perda irreparável do acesso aos rastros deixados pelas experiências vividas e sentidas. Os
rastros, segundo ele, são os resquícios de algo que nos marcou e que persistem em nosso espírito
e que, consequentemente, não nos deixa esquecer. Porém, há a ameaça do apagamento desses
rastros, o que causa o esquecimento definitivo. E é por conta disso, o esforço em se trabalhar pela
memória.
É por conta da sombra contínua do esquecimento, que se fazem os lugares de memória.
Esclarece Nora (1993 p. 8) “Se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos necessidade de
lhe consagrar lugares”. Em seu interior esses lugares precisam caracterizar as vivências, as
crenças, a cultura, os costumes de alguém, algo ou alguma determinada sociedade. E complementa:
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. [...] Museus, arquivo, cemitério
e coleções, festas, aniversários, tratados, processos verbais, monumentos,
santuários, associações, são os marcos testemunhais de uma outra era [...] Os
lugares de memória nascem e vivem do sentimento de que não há memória
espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversario,
organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas [...] (Nora 1993
p. 12-13)
Essa busca constante em registrar o passado em algum suporte, indica como a memória
precisa de lugares “concretos” para continuar “viva”. Pierre Nora (1993 p. 7), afirma que “Há
locais de memória, porque não há mais meios de memória.”, ou seja, é necessário mantê-la em
algum suporte e armazená-la em espaços físicos ou digitais, na tentativa de fazê-la sobreviver ao
esquecimento. A esses espaços construídos, Nora denomina “lugares de memória”, que são,
portanto, lugares que “[...] se organizam para servir de apoio à salvaguarda da materialidade
simbólica concebida como elemento de representação coletiva.” (Silveira 2007 p. 44).
Caracterizam-se dessa maneira, as bibliotecas, os arquivos e os museus. Diante do percurso
histórico, esses lugares físicos de memória tradicionais, foram erguidos primeiramente com o
intuito de salvaguardar os registros deixados em algum suporte.
No Renascimento, o crescente interesse pela produção humana, possibilitou o surgimento
dos primeiros tratados para a curadoria dessa “materialidade simbólica concebida”. As bibliotecas,
os arquivos e os museus, têm como características “[...] a reunião, a preservação e a organização
de arquivos e coleções [...] reunidos sob o critério do valor histórico e informativo [...]” (Camargo