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ALMEIDA, Eliéte Ribeiro; MATA, Marta Leandro da. Ações ou Programas de Competência em Informação nas
Bibliotecas Universitárias Brasileiras. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol.17,
publicação continua, 2023, e023012. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023012.
AÇÕES OU PROGRAMAS DE COMPETÊNCIA EM
INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS BRASILEIRAS
Information literacy actions and/or programs in Brazilian university libraries
Eliéte Ribeiro Almeida (1), Marta Leandro da Mata (2)
(1) Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil, eliete.almeida@ufes.br,
(2) martaleandromata@gmail.com.
Resumo
O desenvolvimento de programas de competências em informação em bibliotecas universitárias é uma
necessidade e um desafio para o bibliotecário, uma vez que, tais competências são imprescindíveis ao
processo de ensino e aprendizagem. Este artigo tem como objetivo identificar ações ou de programas para
o desenvolvimento de competência em informação no âmbito das bibliotecas universitárias brasileiras.
Quanto ao objetivo, este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, com abordagem
qualitativa; quanto aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica que tem por delimitação os
últimos dez anos (2012 2022). Foram identificadas onze publicações que abordam elementos para a
implementação destes programas, sendo que apenas três delas mencionam o uso de parâmetros norteadores.
Depreende-se que ainda são poucos os programas ou ações formalmente estruturadas, sendo desejável que
os profissionais da informação e da educação se unam com vistas a planejarem programas de competência
em informação bem estruturados e articulados nas bibliotecas universitárias brasileiras.
Palavras-chave: Competência em informação; Bibliotecas universitárias; Bibliotecários
Abstract
The development of Information Literacy programs in university libraries is a need and a challenge for
librarians, since such competencies are essential to the teaching and learning process. This article aims to
identify the actions or programs of Information Literacy in the scope of Brazilian university libraries and
the basic elements for their development. As for the objective, this work is characterized as exploratory
research with a qualitative approach, as to the procedures, it is bibliographic research that has as delimitation
the last ten years (2012 - 2022). Eleven publications were identified that address elements for the
implementation of these programs, and only three of them mention the use of guiding parameters. It appears
that there are still few formally structured programs or actions, and it is desirable that information and
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education professionals unite in order to plan well-structured and articulated information literacy programs
in Brazilian university libraries.
Keywords: Information literacy; Academic libraries; Librarians
1 Introdução
A revolução tecnológica alterou as condições de geração de conhecimento, o
processamento e a disseminação da informação, causando um considerável impacto na vida das
pessoas. O uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) têm modificado os ambientes
educacionais, de forma que os conteúdos informacionais podem ser acessados e compartilhados
em tempo real, configurando-se em um novo contexto de ensino-aprendizagem, em que o ensino
e a educação a distância (EAD) é uma realidade em muitas instituições de ensino superior (IES).
Devido ao crescente uso das ferramentas tecnológicas, a biblioteca universitária, que
desempenha um relevante papel no contexto educacional superior, tem redesenhado sua forma de
disseminar a informação, utilizando-se de softwares mais eficientes, plataformas e banco de dados,
possibilitando ao usuário conectar-se de qualquer lugar que tenha a comunicação com a Internet
e, desta forma, suprir a crescente demanda por informação.
A biblioteca universitária atua estimulando a aprendizagem, apoiando o ensino, a pesquisa
e a extensão na comunidade acadêmica, portanto, é um espaço propício ao desenvolvimento de
ações de competência em informação. Tais ações são essenciais para que os estudantes possam
aprender, além das técnicas de pesquisa, a assumir e a valorizar o aprendizado autônomo. Sendo,
portanto, “[...] imprescindível que dominem o uso de ferramentas, suportes tecnológicos e diversos
recursos informacionais priorizando a busca, recuperação, avaliação crítica e disseminação da
informação.” (Belluzzo et al. 2014 p. 63).
Para acessar as informações com eficiência e solucionar as demandas que se apresentam,
são necessárias aptidões específicas para lidar com as ferramentas tecnológicas, bem como “[...]
habilidades para que o indivíduo seja capaz de acessar, compreender e fazer melhor uso das
informações disponíveis para o exercício da cidadania e o aprendizado ao longo da vida” (Belluzzo
2017 p. 63). No intuito de contribuir com a formação de sujeitos socialmente comprometidos com
a geração e a transferência de conhecimentos.
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A aprendizagem envolve o domínio de uma gama de conhecimentos e atitudes no uso das
informações que possibilitam ao indivíduo tornar-se independente e responsável, ao buscar e usar
as informações que necessitam. Neste sentido, Uribe Tirado e Castaño Muñoz (2012 p. 216
tradução nossa) definem a competência em informação como:
O processo de ensino-aprendizagem concebido para um indivíduo ou grupo de
pessoas, sob a liderança e orientação profissional de uma instituição de ensino ou
biblioteca, utilizando diferentes estratégias de ensino e ambientes de
aprendizagem (sala de aula, ensino híbrido ou virtual). Sua finalidade é alcançar
competências (conhecimentos, habilidades e atitudes em informática,
comunicação e informação) que possibilitem, após a identificação e
reconhecimento de suas necessidades de informação, localizar, selecionar,
recuperar, organizar, avaliar, produzir, compartilhar e disseminar informação de
uma forma eficiente e eficaz [...].
Mata (2018; 2021) compreende que a competência em informação envolve aspectos
conceituais que podem ser entendidos a partir de três vieses: como um conjunto de competências,
uma área disciplinar e como um processo de ensino-aprendizagem. O primeiro equivale a um
conjunto de competências que diz respeito ao modo como o indivíduo lida com o universo
informacional, envolve a localização, a busca e a avaliação das fontes. O segundo corresponde à
uma área disciplinar, mostrando que existem entidades, grupos de pesquisa, periódicos
especializados no tema, entre outros, promovendo e disseminando a temática. O terceiro refere-se
à competência em informação como um processo de ensino-aprendizagem relacionado aos
conhecimentos, habilidades e atitudes dos estudantes para lidar com a informação em seus diversos
formatos e em vários níveis de escolarização, desde a escola à universidade.
Para Vitorino e Piantola (2009 p. 138), o conceito competência em informação é um “[...]
conceito dinâmico que continua a crescer para incorporar uma gama cada vez maior de habilidades
necessárias aos indivíduos inseridos na era da informação [...]”. As autoras pesquisam a temática
sob uma perspectiva dimensional, baseando-se em teorias educacionais e filosóficas, a saber: a
dimensão técnica é o meio de ação e corresponde a habilidade de executar tarefas; na dimensão
estética, estão as percepções ligadas a sensibilidade e criatividade, a capacidade de compreender e
ressignificar a informação; a dimensão ética se refere ao uso responsável da informação,
constituindo-se em fator determinante para a vida em sociedade; e a dimensão política diz respeito
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a uma postura crítica diante das informações e o exercício da cidadania, com vistas ao bem comum
(Vitorino e Piantola 2011).
Desenvolver competências individuais e coletivas no uso da informação, é um grande
desafio na educação superior, sendo o bibliotecário e a biblioteca atores fundamentais deste
processo. Compreende-se que as habilidades informacionais são imprescindíveis na construção da
aprendizagem dos estudantes e na manutenção de uma cidadania responsável. Para tanto, todos
devem estar comprometidos com o processo de ensino-aprendizagem, ofertando ações educativas
estruturadas que possam contribuir com o desenvolvimento educacional, pessoal e social dos
estudantes.
Neste sentido, este artigo tem como objetivo identificar ações e/ou de programas para o
desenvolvimento de competência em informação no âmbito das bibliotecas universitárias
brasileiras. A pesquisa se justifica pela necessidade de se identificar na literatura especializada
publicações que mencionam as práticas para o desenvolvimento da competência em informação
em bibliotecas universitárias brasileiras, com o propósito de que possam ser utilizados como
parâmetros norteadores pelos bibliotecários para criarem novos programas no âmbito das
instituições em que atuam, uma vez que “[...] no Brasil essa área ainda requer a sistematização de
pesquisas e estudos que ofereçam a possibilidade de construção de base teórica e de soluções
práticas para o desenvolvimento efetivo dessa competência nas organizações.” (Belluzzo 2017 p.
70).
2 Fundamentos para o Desenvolvimento de Programas de Competência em
Informação
Os programas de competência em informação são ações educativas empreendidas em prol
do desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e capacidades do indivíduo para acessar,
analisar e usar a informação com criticidade, de maneira a construir sua própria aprendizagem.
Estes programas podem ser realizados em instituições variadas, principalmente, nas bibliotecas em
razão de seu papel central no processo de ensino-aprendizagem, bem como, na disseminação do
conhecimento.
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Uribe Tirado (2014) relaciona as 75 lições aprendidas de programas de competência em
informação. São recomendações para chegar a melhores resultados em programas de competência
em informação, tanto no contexto social e organizacional, quanto nos processos de ensino-
pesquisa, aprendizagem e avaliação para a melhoria contínua da qualidade. Segundo o autor, os
programas devem ser associados à missão, à visão e aos demais contextos educacionais da
instituição, fazendo parte da estrutura curricular dos cursos acadêmicos, por meio do trabalho
cooperativo entre bibliotecários, professores e outros profissionais, no intuito de que todos
contribuam com suas habilidades, para que os estudantes obtenham melhores resultados na
aprendizagem.
Para Belluzzo (2017), o desenvolvimento de boas práticas de competência em informação,
podem servir de inspiração na arquitetura de novos programas ou ações de competência em
informação. Para a autora, os indicadores devem fazer parte de qualquer projeto ou programa,
desde o planejamento, implementação até a gestão, ou seja, em todas as etapas para orientar nas
decisões, permitir a comparação entre os objetivos propostos e as metas atingidas.
Neste contexto, entidades internacionais consolidadas como, por exemplo, a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a International Federation
of Library Association and Institutions (IFLA) e a Association of College and Research Libraries
(ACRL), bem como, em âmbito nacional, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários,
Cientistas de Informação e Instituições (FEBAB), o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência
e Tecnologia (IBICT), entre outras, publicam uma série de documentos com orientações para o
planejamento e a implementação dessas competências.
Tais entidades visam incentivar a discussão e a reflexão sobre a temática da competência
em informação, por meio de documentos, pesquisas e relatos de experiência, visando fomentar
debates e o intercâmbio entre pesquisadores (Mata 2021). São estratégias para a promoção, o
crescimento e a consolidação da competência da informação, como exemplo, alguns documentos
publicados no âmbito nacional, tais como: a Declaração de Havana (2012); a Declaração de
Maceió (2011); o Manifesto de Florianópolis (2013) e a Carta de Marília (2014).
No âmbito internacional a Unesco publicou o documento The Alexandria Proclamation
Beacons of the Information Society (Faróis da Sociedade de Informação 2005), declarando que a
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competência em informação e o aprendizado ao longo da vida são os faróis que iluminam a
sociedade da informação, que possibilitam o desenvolvimento, a prosperidade e a liberdade. Este
documento, ainda, estabelece o acesso à informação e a inclusão social como um direito básico do
indivíduo na sociedade da informação.
Nesta perspectiva, os programas de competências devem ser planejados através da
elaboração de documentos que constem a missão, os objetivos e metas a serem alcançadas, a
previsão de recursos físicos e recursos humanos, respaldo institucional e administrativo, conforme
orienta o Guidelines for Instruction Programs in Academic Libraries (ACRL 2011). Cada
instituição possui características específicas, portanto, os programas devem ser adaptados
conforme a realidade que se apresenta e os objetivos educacionais a serem alcançados.
É conveniente que os programas sejam estruturados com base em padrões, indicadores e
outras experiências de sucesso, no intuito de aproveitar o saber-fazer ou as experiências de outras
instituições ou pesquisadores. No âmbito educacional, todas as iniciativas, as publicações, os
eventos e as declarações são relevantes para a divulgação da temática, por servirem de modelo e
de incentivo para que outros profissionais e suas instituições possam implementar tais ações e/ou
programas em seu ambiente informacional. Oferecendo oportunidade de aprendizagem aos
estudantes em diferentes níveis de ensino ao longo do seu trajeto estudantil.
2.1 Parâmetros Norteadores da Competência em Informação
A Association of College and Research Libraries (ACRL), desenvolve programas, padrões,
produtos e serviços para auxiliar bibliotecários de bibliotecas acadêmicas a aprender, inovar e
liderar dentro da comunidade acadêmica mais de vinte anos. Esses documentos auxiliam os
profissionais da informação na criação, implementação e avaliação de programas de competência
em informação, sendo importante conhecê-los e adaptá-los conforme as particularidades e os
interesses educacionais da instituição de ensino superior e aos usuários da biblioteca (Vianna e
Caregnato 2022).
A implementação de um programa de competências no ambiente educacional deve estar
alinhada “[...] com a concepção de ensino-aprendizagem da instituição, à formação docente, à
compreensão da cultura institucional, bem como à estrutura curricular e à infraestrutura de
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informação disponível” (Spudeit 2016 p. 247). Tanto o planejamento quanto a execução devem
ser realizados de modo colaborativo entre bibliotecários, docentes, gestores e outros profissionais
pertencentes à equipe institucional, criando oportunidade de aprendizagem para toda comunidade
acadêmica.
Vianna e Caregnato (2022) mencionam que parâmetros (standards e frameworks), visam
estabelecer o conceito e a forma de aplicação da competência em informação, por meio da
definição de planos gerais para a criação de programas, ações e modelos de avaliação. A seguir,
são apresentados alguns exemplos padrões, conforme o quadro 1 a seguir:
Quadro 1 - Parâmetros para programas de competência em informação (CoInfo)
Autor
Título
Principais Características
Association of
College and
Research
Libraries
Information Literacy
Competency
Standards for Higher
Education (ACRL
2000)
Indica cinco padrões, indicadores de desempenho e resultados para
os estudantes universitários. Saber:
1. Determinar e articular a necessidade de informação;
2. Acessar a informação efetiva e eficientemente;
3. Avaliar criticamente a informação e suas fontes incorporando a
informação selecionada à sua base de conhecimentos e valores
pessoais;
4. Usar eficientemente a informação, individualmente ou em grupo,
para alcançar propósitos específicos;
5. Compreender os aspectos econômicos, legais e sociais do uso de
informação, e saber acessar e usar de forma ética e legal
ANZIIL by Alan
Bundy
Australian and New
Zealand Information
Literacy Framework:
principles, standards
and practice
(ANZIIL 2004)
Recomenda seis padrões e exemplos para o desenvolvimento da
CoInfo, discorrendo que a pessoa deve:
1. Reconhece a necessidade de informação e determina a natureza e
extensão da informação necessitada;
2. Encontra a informação necessária efetiva e eficientemente;
3. Avalia a informação criticamente e o processo de busca;
4. Gerencia a informação recuperada ou produzida;
5. Aplica as informações para construir novos conhecimentos; 6.
Usa a informação com consciência e reconhece a existência de
questões culturais, éticas, econômicas, legais e sociais no uso da
informação
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International
Federation of
Library
Association and
Institutions
(IFLA) by Jesus
Lau
Guidelines on
Information Literacy
for Lifelong Learning
(LAU 2007)
Os padrões possuem três componentes básicos:
1. Acesso eficiente e eficaz: