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CAPRA, Eliane Pinheiro; FERREIRA, Simone Bacellar Leal. Acessibilidade Web para Cuidadores Analfabetos
Funcionais: reflexões sobre o uso de tecnologias voltadas ao trato do idoso Brazilian Journal of Information
Science: research trends, vol.17, publicação continua, 2023, e023021. DOI: 10.36311/1981-
1640.2023.v17.e023021.
ACESSIBILIDADE WEB PARA CUIDADORES
ANALFABETOS FUNCIONAIS: reflexões sobre o
uso de tecnologias voltadas ao trato do idoso
Web Accessibility for Functional Illiterates Caregivers: reflections about the use of technologies aimed at
elderly care
Eliane Pinheiro Capra (1), Simone Bacellar Leal Ferreira (2)
(1) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Brasil,
elianecapra@yahoo.com.br
(2) simone@uniriotec.br
Resumo
No Brasil, existem muitos cuidadores de idosos que possuem baixa escolaridade, o que pode impactar a
realização de algumas tarefas de trato do idoso que exigem boa leitura e escrita. Este cenário pode deixar
não os cuidadores, mas também os idosos em situação de vulnerabilidade. Considerando o alto uso de
tecnologias da comunicação e informação (TIC) por brasileiros com baixa escolaridade, emerge a reflexão
sobre a possibilidade de uso de tecnologias que auxiliem os cuidadores na execução de tarefas que exigem
boa leitura e escrita. Assim, este artigo teve como objetivo investigar os fatores relacionados à baixa
escolaridade que podem impactar nas tarefas de cuidado do idoso, de forma a refletir sobre seus impactos
no cenário nacional e identificar recomendações que contribuam para o desenvolvimento de interfaces
voltadas a esses cuidadores. Para isso, foi realizada uma investigação junto à literatura e entrevistas com
familiares de idosos e cuidadores com baixa escolaridade. Os resultados obtidos possibilitam ampliar as
questões acerca do desenvolvimento de sistemas ou aplicativos voltados a trato do idoso para uso por
cuidadores com baixa escolaridade.
Palavras-chave: acessibilidade; baixa escolaridade; recomendações; cuidadores de idosos
Abstract
In Brazil, there are many elderly caregivers who have low education, which can impact the performance of
some elderly care tasks that require good reading and writing skills. This scenario can leave not only
caregivers, but also the elderly in a vulnerable situation. Considering the high use of Communication and
Information Technologies by brazilians with low levels of education, a reflection emerges about possibility
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of using technologies that help caregivers in performing tasks that require good reading and writing skills.
Thus, this article aimed to investigate the factors related to low education that can impact elderly care tasks,
in order to reflect on their impacts on the national scene and identify recommendations that contribute to
the interfaces development aimed at these caregivers. For this, an investigation was carried out with the
literature and interviews with relatives of elderly people and caregivers with low education. The results
obtained make it possible to broaden the questions about the development of systems or applications aimed
at treating the elderly for use by caregivers with low education.
Keywords: accessibility; low education level; recommendations; elderly caregivers
1 Introdução
Muitos são os desafios no acesos à Internet, especialmente para os usuários com
comprometimento das habilidades de leitura, escrita, cálculos e ciências, também chamados de
analfabetos funcionais (Ribeiro 1997; gvölgyi et al. 2016; Barboza e Nunes, 2007), que as
dificuldades estão relacionadas à compreensão do conteúdo puramente textual das interfaces
(Capra et al. 2020).
No Brasil, são classificadas como analfabetas funcionais as pessoas com até quatro anos
completos de escolaridade (IBGE 2010; Ribeiro et al. 2002). Neste contexto, estudos nacionais
revelaram que a maior parte dos cuidadores de idosos possui baixa escolaridade, ou seja, são
analfabetos funcionais (De Jesus et al. 2018). Essa falta de habilidade com a leitura e escrita pode
impactar a realização de algumas tarefas de trato do idoso, deixando não os cuidadores, mas
também os idosos em situação de vulnerabilidade (Colomé et al. 2011; Almeida 2017).
Assim, emerge a reflexão sobre a possibilidade de uso de tecnologias para minimizar as
falhas na execução de tarefas que exigem boa leitura e escrita pelo cuidador analfabeto funcional,
de forma a diminuir a vulnerabilidade a qual ele e o idoso são expostos em decorrência de sua
baixa escolaridade.
Dessa forma, este artigo teve como objetivo investigar os fatores relacionados à baixa
escolaridade que podem impactar nas tarefas de cuidado do idoso, de forma a refletir como esses
fatores impactam no cenário nacional e possibilitar a identificação de recomendações que
contribuam para o desenvolvimento de interfaces voltadas aos cuidadores analfabetos funcionais.
Para isso, os autores seguiram etapas que estão detalhadas ao longo deste artigo, cujos resultados
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possibilitaram refletir acerca do tema e destacaram a importância desses profissionais em relação
ao trato do idoso.
O trabalho é apresentado em 5 seções: a seção 2 apresenta conceitos sobre acessibilidade
web para usuários com baixa escolaridade, aspectos de aceitação de tecnologias em sistemas na
área de saúde e características dos atores envolvidos no trato do idoso; a seção 3 apresenta o
método de pesquisa; a seção 4 apresenta a análise dos dados e reflexões sobre os resultados obtidos
ao longo da pesquisa; por fim, a seção 5 apresenta as considerações finais.
2 Acessibilidade Web e o Trato do Idoso
É importante pensar numa forma de facilitar o acesso e o uso da informação de forma
igualitária para todas as pessoas (Sena et al. 2019). E considerando que os usuários que acessam a
internet podem possuir limitações físicas, cognitivas ou motoras, é preciso seguir recomendações
para tornar o conteúdo web acessível, como as disponíveis no Web Content Accessibility
Guidelines (WCAG) (WCAG 2.2 2021). O WCAG é composto por quatro princípios e o que é
voltado à baixa escolaridade é o “compreensível”. Esse princípio apresenta recomendações para
tornar o conteúdo da web legível e compreensível (WCAG 2.2 2021).
Uma pesquisa recentemente publicada, realizou uma investigação junto à literatura a fim
de identificar propostas bem-sucedidas aplicadas em interfaces de sistemas voltados à saúde e
baixa escolaridade (Capra et al. 2021). O mapeamento sistemático realizado nessa investigação
apresentou aspectos que podem contribuir para o desenvolvimento de interfaces acessíveis aos
cuidadores com baixa escolaridade. São elas:
Dar preferência a interfaces com uso de imagens e menos textos;
Evitar os recursos audiovisuais;
Para informações que precisam ser rapidamente compreendidas, pode-se utilizar
recursos de descrição por voz;
Dependendo do que será representado, recursos de ilustrações, como desenhos à mão
ou ícones, podem ser mais bem compreendidos do que fotografias;
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O uso de interfaces naturais, como as fotografias, pode ser utilizado para os casos em
que as ilustrações não consigam representar a informação que se deseja transmitir; e
Para sistemas gerenciadores de conteúdo, o uso de recursos de voz pode auxiliar na
localização da informação.
2.1 Trabalhos Relacionados ao Cenário Nacional sobre os Cuidadores de Idosos
Em 2007, o trabalho de Martins et al. (2007) teve como objetivo identificar e classificar as
necessidades de educação no tema saúde apresentadas pelos cuidadores de idosos. Foram
entrevistadas cinco cuidadoras. Os resultados apontaram uma preocupação sobre o grau de
escolaridade das cuidadoras participantes da pesquisa: das cinco entrevistadas, três tinham baixa
escolaridade e uma era analfabeta. Os autores alertaram que a falta de escolaridade pode
comprometer o desempenho do cuidador no enfrentamento dos desafios impostos no ato de cuidar.
Em 2011, o artigo de Colomé et al. (2011) teve como objetivo conhecer o trabalho e as
dificuldades de cuidadores de idosos residentes em lares de longa permanência. Participaram da
pesquisa onze cuidadores por meio de um questionário com perguntas fechadas e abertas. Os
autores identificaram que a maioria dos participantes também tinham baixo grau de instrução e
referenciaram também os estudos realizados por Martins et al. (2007). Os autores alertaram que
um maior nível de escolaridade pode ser um fator para melhorar a qualidade do cuidado prestado.
Em 2016, Cunha et al. (2016) realizou um trabalho com objetivo de discutir a
vulnerabilidade vivenciada pelos cuidadores de idosos quando estes estão hospitalizados. Foi
realizada uma entrevista semiestruturada junto a 15 cuidadores. Os resultados também apontaram
para uma baixa escolaridade dos cuidadores: sete entrevistados tinham baixa escolaridade e um
não era alfabetizado.
Em 2017, Almeida (2017) concluiu uma pesquisa que teve como objetivo avaliar o
desempenho de cuidadores quanto ao alfabetismo funcional em saúde, utilizando-se uma
ferramenta desenvolvida para esse fim. Nesse trabalho, a autora também discorreu sobre
analfabetismo funcional, números nacionais e indicador de alfabetismo (INAF). Foram
entrevistadas oitenta pessoas e 90% não tinha curso de cuidador. O estudo revelou que o nível de
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escolaridade afeta diretamente o alfabetismo em saúde, ou seja, os cuidadores com baixa
escolaridade não possuem capacidade de entender informações básicas de saúde para poder tomar
decisões apropriadas. Com isso, os idosos também ficam vulneráveis, especialmente em relação à
saúde preventiva, com diagnósticos tardios.
Em 2018, De Jesus et al. (2018) realizou um estudo transversal com abordagem quanti-
qualitativa com objetivo de comparar a sobrecarga das atividades do cuidador com o seu perfil
sociodemográfico, a fim de analisar as suas necessidades em relação ao cuidado. Foram
entrevistados 86 cuidadores de um município de São Paulo Brasil. Os resultados apontaram que,
do total de participantes, 85,9% tinham escolaridade entre um e quatro anos de estudos e 4,4%
eram analfabetos. As análises realizadas pelos autores mostraram que a sobrecarga dos cuidadores
é impactada negativamente pela faixa etária e escolaridade do cuidador.
2.2 Trabalhos Relacionados à TIC Aplicadas ao Cuidado do Idoso
Em 2014, a pesquisa de Meza-Cubo et al. (2014) estudou a interação dos idosos em sessões
terapêuticas de estimulação cognitiva. A pesquisa foi realizada no México, onde um terço da
população idosa, na época da pesquisa, era analfabeta. Os autores desenvolveram um protótipo
colaborativo com a participação dos cuidadores, terapeutas e familiares durante as sessões. Dentre
algumas conclusões sobre a relação familiar, a pesquisa mostrou que o uso de tecnologias de
comunicação afetou positivamente as relações entre idosos e seus familiares.
Em 2017, Araújo et al. (2017) investigou a utilização de tecnologias relacionadas ao
cuidado do idoso. Para isso, os autores realizaram uma revisão da literatura em três grandes bases
de dados da área médica, entre o período de 2010 a 2015. Foram obtidos 714 trabalhos nas
primeiras etapas da revisão e, ao final oito foram analisados. Foram identificadas três categorias
de tecnologias envolvidas no trato do idoso: leve, relacionada à geração de autonomia,
acolhimento e gestão dos processos de trabalho; leve-dura, relacionada à clínica médica,
psicanálise e epidemiologia; e dura, voltadas aos equipamentos tecnológicos. Os autores
identificaram o maior uso de tecnologias duras, que são voltadas à utilização de softwares e
sensores de movimento, mas também refletiram que a inovação de tecnologias tem se apresentado
como uma importante ferramenta em favor do cuidado da pessoa idosa.
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Amorim et al. (2018) estudou o contexto de aplicativos móveis voltados à promoção da
saúde do idoso. Os autores pesquisaram aplicativos disponíveis nas lojas Google Play e Apple
Store. Foram identificados 25 aplicativos abrangendo três temas: 1) oito aplicativos voltados à
saúde, 2) dez aplicativos voltados ao cuidado; e 3) sete aplicativos voltados à saúde e cuidado. Sob
o aspecto do cuidado à saúde, os aplicativos estão voltados a informações sobre prática de
exercícios e estimulação cognitiva. Sob o tema do cuidado de idosos, o estudo revelou que os
aplicativos estão voltados ao auxílio no que se refere à prevenção de doenças e quedas, além da
busca por profissionais de saúde.
O trabalho de Lauriks et al. (2018) teve como objetivo determinar os efeitos da
implementação de tecnologia assistiva para lares de idosos com demência, capaz de prevenir
acidentes, identificar necessidades de adaptação e medir a satisfação dos cuidadores dessas casas.
Os resultados comprovaram que houve impacto positivo na diminuição do isolamento social dos
idosos e redução de queda nas visitas noturnas ao banheiro. Em contrapartida, os resultados
mostraram que a satisfação no trabalho, a carga de trabalho e a saúde geral dos cuidadores não
foram afetados pela aplicação.
3 Método da Pesquisa
O presente trabalho, de caráter qualitativo e exploratório, seguiu quatro etapas. A primeira
foi a solicitação de autorização para execução da pesquisa ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP)
da Universidade relacionada aos pesquisadores, conforme diretrizes do Conselho Nacional de
Saúde (CNS 2012), uma vez que a pesquisa envolveu entrevista com pessoas.
A segunda etapa foi o levantamento sobre o cenário nacional sobre cuidadores de idosos e
a aplicabilidade das TIC nas tarefas de trato do idoso. Os resultados obtidos nesse levantamento
foram apresentados na Seção 3 e discutidos na Seção 5.1 do presente artigo.
A terceira etapa foi a investigação sobre fatores relacionados às tarefas de cuidado de
idosos que podem impactar na construção de uma interface acessível a cuidadores com baixa
escolaridade. Para essa investigação foram realizadas entrevistas com familiares e cuidadores com
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baixa escolaridade. As entrevistas foram baseadas no Método de Explicitação do Discurso
Subjacente (MEDS) (Nicolaci-da-Costa et al. 2004; Nicolaci-da-Costa 2007), pois é um método
importante para a área de IHC, possibilitando tornar visíveis sentimentos que, algumas vezes,
passam desapercebidos por outros métodos. O processo das entrevistas seguiu as seguintes as fases
preconizadas pelo MEDS:
Seleção dos participantes. Foram definidos dois perfis homogêneos: a) cuidadores
entre vinte e sessenta anos, com escolaridade inferior ao quinto ano do ensino
fundamental, e que atuem como cuidadores mais de três anos; b) familiares de idosos
que contem com a parceria de um cuidador (com a mesma escolaridade do perfil a).
Buscou-se participantes por meio de contatos informais com outros grupos de
pesquisadores.
Construção do roteiro para as entrevistas. Foram elaborados dois roteiros: um para os
cuidadores e outro para os familiares. Foram elaboradas 18 perguntas para cuidadores
e 23 para familiares de idosos.
Realização das entrevistas. Após a explicação sobre o objetivo da pesquisa e a
autorização do participante, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
elaborado conforme orientações do CEP, foi lido para os participantes antes do início
das entrevistas. As entrevistas foram realizadas por telefone, por causa da Pandemia
por COVID-19. A duração de cada entrevista está apresentada na seção 5 do presente
artigo.
Análise dos dados coletados: foi realizada a análise inter-participantes, que é a análise
das respostas dadas por cada grupo de entrevistados. Conforme preconiza o MEDS, as
falas dos entrevistados não devem ser alteradas, mantendo o discurso do participante
nos registros das respostas. Desta forma, as respostas foram anotadas ao longo das
entrevistas, tendo em vista a impossibilidade de gravação por ter sido realizada via
telefone. Após a realização das entrevistas, as anotações foram planilhadas e a análise
seguiu conforme orientação do método da entrevista.
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A quarta (última) etapa foi a análise dos resultados. Após a realização das investigações e
entrevistas foi possível refletir e identificar recomendações que podem contribuir para o
desenvolvimento de interfaces voltadas aos cuidadores analfabetos funcionais.
4 Análise dos Resultados
Foram entrevistados nove participantes: três familiares e seis cuidadores. Importante
ressaltar que esses entrevistados não possuem relação, ou seja, os cuidadores entrevistados não
estão relacionados aos familiares entrevistados. Os perfis dos entrevistados estão apresentados nos
Quadros 1 e 2.
Quadro 1 Perfil dos Familiares Entrevistados
Participante / Idade / Profissão
Idoso que necessita de
cuidados / Limitações
Duração
entrevista
Familiar 1 (F1): Sexo feminino / 60 anos Dentista
Mãe / Alzheimer
25 minutos
Familiar 2 (F2): Sexo feminino / 57 anos Analista
de Sistemas
Mãe e Pai / Alzheimer e Idade
avançada
30 minutos
Familiar 3 (F3): Sexo feminino / 59 anos
Psicóloga aposentada
Tia / Idade avançada
45 minutos
Fonte: dos autores
Quadro 2 Perfil dos Cuidadores Entrevistados
Participante /Sexo
Idade
Escolaridade da
Cuidador(a)
Duração da entrevista
(em minutos)
Cuidador 1 (C1): Feminino
50 anos
Analfabeta
60
Cuidador 2 (C2): Feminino
60 anos
2º ano
45
Cuidador 3 (C3): Masculino
54 anos
3ª ano
45
Cuidador 4 (C4): Feminino
60 anos
4ª ano
45
Cuidador 5 (C5): Feminino
33 anos
3º ano
38
Cuidador 6 (C6): Feminino
48 anos
5º ano incompleto
35
Fonte: dos autores
Com cada participante, além da leitura do TCLE, foi realizada uma conversa informal pelo
entrevistador, a fim de deixá-los confortáveis para prosseguir ou desistir da entrevista.
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4.1 Resultados das Entrevistas com Familiares
Sobre as motivações para a contratação de cuidadores, as entrevistadas relataram que, ao
longo do tempo, fica complicado cuidar do parente idoso, por questões relacionadas às limitações
físicas. As entrevistadas relataram que substituir um cuidador não é uma tarefa fácil, especialmente
nos casos de Alzheimer.
Os familiares informaram que as cuidadoras executam tarefas relacionadas à higiene,
alimentação e ministração de remédios. Sobre o acompanhamento das cuidadoras às consultas
médicas, a participante F1 informou que a idosa sempre é acompanhada por algum familiar.
A participante F2 informou que, embora os idosos sejam acompanhados pela cuidadora,
no momento da consulta, esta liga por telefone e ela conversa com o médico que está efetuando
o atendimento”. a participante F3 relatou que a cuidadora acompanha a idosa em consultas
realizadas com um médico que conhece o histórico da idosa.
Todas as participantes relataram que se sentem seguras quanto ao trabalho das cuidadoras,
ainda que elas tenham baixa escolaridade. As participantes F2 e F3 relataram que as cuidadoras se
comunicam sempre via aplicativo de mensagem somente com áudio e fotos. Sobre falha de
execução de alguma tarefa, por conta da baixa escolaridade da cuidadora, duas entrevistadas (F2
e F3) relataram problemas.
A participante F2 não considera o analfabetismo um problema grave, mas relatou que
acredita que a falta de escolaridade dificulta a comunicação com a cuidadora, pois ela não
consegue entender algumas orientações”, o que lhe gera insegurança. A participante F3 relatou
que uma vez a tia tomou o remédio errado por causa da embalagem diferente, pois tomava o
genérico e ela (a entrevistada) comprou o originale a cuidadora não conseguiu resolver a situação
por não saber ler.
Sobre a possibilidade do uso de tecnologias para auxiliar um cuidador com baixa
escolaridade, a participante F1 informou que não acredita que possa ajudar nas tarefas do cuidador.
Já as participantes F2 e F3 informaram que poderiam utilizar uma tecnologia caso percebessem a
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A participante F2 informou que ajudaria muito “se tivesse algo visual que facilitasse a
cuidadora para algumas tarefas”. Ela citou, por exemplo, que pensa num “painel piscante com
todos os horários de remédios e, em cada hora de dar o remédio, aquele painel emitisse um som
ou uma luz para alertar a cuidadora”.
A participante F3 destacou que “os problemas de comunicação são resolvidos pelo
whatsapp por áudio e vídeo, porque consegue obter feedback sobre como a tia passou o dia”. A
respeito da possibilidade de recebimento de alguma informação importante sobre o idoso ao longo
do dia (ou todos os dias), as participantes se restringiram às informações sobre alimentação, banho,
se tomou os remédios na hora e se passou o dia bem.
4.2 Informações Complementares Obtidas nas Entrevistas com Familiares
A fim de entender como ocorre a comunicação das entrevistadas com as cuidadoras e como
elas as orientam, a pesquisadora solicitou que as participantes mostrassem como elas conseguem
estabelecer diretrizes para o trabalho das cuidadoras. Para a embalagem representada na Figura 2
(a), a participante informou que a figura do sol representa dia”, então ela deve tomar este
remédio duas vezes ao dia”; e às terças, quartas e quintas, a idosa deve tomar uma vez ao dia.
Já na embalagem representada na Figura 2 (b), a participante F3 informou que a cuidadora
reconhece as letras “m” e “n”. Então, “quando ela vê o numeral 1 ao lado do m, ela entende que é
um comprimido pela manhã, e quando ela vê o 1 ao lado do n, ela entende que é um comprimido
à noite”.
Na embalagem representada na Figura 2 (c), a legenda significa que a cuidadora deve
ministrar o remédio às 9h da manhã, às 3h da tarde, às 9h da noite e às 3h da madrugada. A
participante F3 relatou que no caso do horário 3:00h da madrugada, eu escrevi noite, pois a
cuidadora entende que a letra n é noite... então a cuidadora entende três horas noturna”.
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Figura 2: Comunicão entre a Participante F3 e a cuidadora
(a) (b)
(c)
Fonte: dos autores
A participante F2 informou que nos finais de semana ela separa todos os remédios em
pequenos lotes (sacos) identificados com os turnos que devem ser ministrados. Os lotes são
colocados em caixas com o dia da semana e o nome do(a) idoso(a), conforme Figuras 3 (a) e (b).
Figura 3: Comunicação entre a Participante F2 e a cuidadora
(a) (b)
Fonte: dos autores
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4.3 Resultados das Entrevistas com Cuidadores
A primeira interação entre a entrevistadora e os participantes foi feita por contato
telefônico. A pesquisadora explicou o contexto da pesquisa e sua importância. Foi-lhes realizada
a leitura do TCLE. Como forma de conhecer os participantes, a pesquisadora conversou
informalmente com eles e realizou perguntas sobre as características para atuar no trato do idoso.
Os respondentes declararam que é preciso ter carinho e atenção. As participantes C1 e C4
disseram que a força física também é importante em algumas situações. A participante C1
informou que é necessário ter higiene e que ela fica muito feliz quando a idosa está feliz”. A
participante C2 disse que é preciso ter muita dedicação, pois “cuidar de idoso não é fácil, tem que
ter organização e responsabilidade com horários”. A participante C4 também informou que não
pode ter nojo para realizar algumas tarefas. A participante C5 relatou você pega amor como se
fosse um familiar... se um dia eles vieram a faltar, será muito difícil pra mim...mesmo ela [idosa]
tendo Alzheimer, ela ainda assim conhece a minha voz”.
Sobre alguma dificuldade em desempenhar a tarefa de cuidador(a), todos informaram
nunca sentirem dificuldades. A participante C1 falou a maior dificuldade como cuidadora é
participar dessa entrevista”, seguindo de uma gargalhada. A participante C5 informou que nunca
sentiu dificuldade ou incapaz, pois cuidar do idoso é como cuidar de um bebê, mas também tem
que chegar com jeitinho para não se sentirem crianças”. A participante C6 informou que ainda
vai além das suas atuações, quando é preciso.
Sobre a segurança na execução das tarefas, todos os participantes se consideram seguros e
capazes de cumprir as tarefas de cuidadores. A participante C1 não se sente segura como
também acredita que os familiares da idosa também a acham capaz. A participante C4 disse que
se considera segura, pois faz o que os outros não faz”, principalmente em relação ao ambiente,
pois ela lava e cuida das coisas íntimas da idosa, costura e faz o cabelo e as unhas. A participante
C5 destacou que é preciso o cuidador saber até onde ele pode ir e fazer tudo com muito cuidado”.
Sobre as tarefas relacionadas ao cuidado que são realizadas exclusivamente pelos
familiares, somente a participante C4 preferiu não responder, pois achou que deveria ter
autorização do familiar para falar.
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A participante C2 disse que embora acompanhe as consultas médicas, o filho sempre a
acompanha, entretanto, ela relatou o médico às vezes me pergunta algumas coisas”, como a
rotina, urina ou evacuação da idosa.
O participante C3 declarou que as consultas médicas eram sempre acompanhadas por um
familiar. A participante C5 informou que, por um tempo, ela era responsável por distribuir os
remédios nos potes separando os medicamentos por dia da semana.
A participante C6 disse que todas as consultas são acompanhadas pelos familiares e
destacou que todos os remédios são colocados numa grande bandeja. Ela relatou que tem uma
lista com os remédios e quando eu dou o remédio eu vou e coloco ok... a lista dos remédios é
uma folha impressa com o nome e a quantidade se é gota ou comprimido... e todo dia também eu
tenho que medir pressão e temperatura para anotar no caderno”.
Questionados sobre quais informações consideram importantes para repassar aos familiares
dos idosos, a participante C1 não soube responder, mas destacou que “informar se ela [idosa] está
fazendo alguma arte [situação que possa colocá-la em perigo]” seja uma contribuição importante.
Ela acrescentou que não acha importante enviar informações, pois tudo o que é feito faz parte das
obrigações” dela.
A participante C2 informou que estima que informações sobre alimentação o
indispensáveis e se a idosa faz as necessidades [fisiológicas] normais” também seja importante.
O participante C3 informou que acha que não tem necessidade, pois sempretinha um parente ali
por perto”. a participante C4 entende que mostrar ao familiar que ela [idosa] está sendo
estimulada é importante. Acrescentou que sempre mando vídeo para o neto para ele ver como
ela está... eu tiro foto dos desenhos e mando pra ele... faço vídeo dela jogando dominó, lendo e
escrevendo os nomes dos netos”.
A participante C5 acredita que, como a idosa tem Alzheimer, informações sobre o
comportamento seriam importantes como se ela se coça, se ela se bate, se ficou bem”.
Acrescentou ainda que informações sobre a urina e fezes, como estão normais, no momento eu
acho que não precisa, acho que é importante comunicar se alguma coisa sai do padrão”. A
participante C6 não soube informar quais informações são importantes, mas relatou que como a
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idosa tem outras cuidadoras que trabalham por escala, a cada troca de profissional, elas precisam
escrever como foi o dia da idosa. Ela informou que não tem dificuldades em fazer esse relato e que
os familiares querem saber tudo da idosa... todos os dias têm um familiar acompanhando a
idosa”.
Sobre se os participantes se sentiriam à vontade em enviar informações a respeito dos
idosos aos seus familiares, todos os participantes responderam que sim, exceto a participante C2,
que não soube responder, mesmo sendo estimulada pela pesquisadora com alguns exemplos. Sobre
o conhecimento sobre tecnologias, a pesquisadora os questionou sobre o uso de redes sociais e
celular. Todos utilizam com frequência aplicativos de mensagens no celular. Alguns usam redes
sociais e se sentem incomodados com algumas postagens relacionadas à política e maus tratos.
4.4 Reflexões sobre os Resultados Obtidos
Considerando os resultados dos estudos apresentados na Seção 5.1, a literatura emerge para
questões importantes acerca do bem-estar do idoso, especialmente em relação às casas de repouso
e sobre sua relação familiar. Uma importante reflexão acerca das tarefas de trato dos idosos, em
especial os brasileiros, é a situação de vulnerabilidade na qual se encontram esses idosos e seus
cuidadores, quando estes possuem baixa escolaridade.
Sobre o aspecto tecnológico, ao mesmo tempo em que foram identificadas pesquisas sobre
sistemas voltados ao cuidado do idoso, não foram identificados pontos para que as interfaces
desses sistemas sejam acessíveis para cuidadores com baixa escolaridade, tampouco soluções para
auxiliá-los em suas tarefas diárias relacionadas ao trato do idoso.
Ainda sob o aspecto tecnológico, a investigação baseada na literatura pode evidenciar um
gap entre três vertentes relacionadas ao trato do idoso: o desenvolvimento das tecnologias para o
trato do idoso; o grau de escolaridade de um cuidador brasileiro; e as funcionalidades que
possibilitem auxiliar um cuidador na execução de suas tarefas.
Considerando o estudo realizado junto aos familiares e cuidadores (entrevistas)
apresentado na Seção 4.1 foi possível identificar que, além das dificuldades em tarefas que
requerem boa leitura, os cuidadores com baixa escolaridade ficam mais expostos quando o idoso
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possui outros profissionais atuando no seu cuidado. Isso se deve pelo fato de alguns familiares
solicitarem que eles escrevam um diário sobre o idoso, como forma de guardar o histórico da sua
situação cotidiana. Muitas vezes esse histórico requer informações sobre temperatura, humor,
visitas, entre outras informações, que precisam ser escritas pelo cuidador.
Os resultados dessas entrevistas também revelaram que, embora os familiares se sintam
seguros em relação à execução das tarefas realizadas por cuidadores com baixa escolaridade, eles
possuem dificuldades na comunicação com esses profissionais e se preocupam com atividades que
exigem certo grau de leitura, em especial aquelas relacionadas à ministração de medicamentos.
Em contrapartida, os resultados mostram que os cuidadores não possuem esta percepção, pois não
veem a baixa escolaridade como uma variável de impacto negativo na execução de suas tarefas.
É importante também ressaltar que os resultados das entrevistas apontam para uma questão
além da tecnologia na relação “familiar–idosocuidador: não é simples substituir um cuidador
por outro profissional. Existe uma questão sentimental na relação idosocuidador, pois não é
fácil substituir este profissional quando o idoso está afetivamente ligado ao cuidador que, muitas
vezes, se torna um membro indispensável para o seu convívio. Assim, alguns familiares podem se
sentir impedidos de realizar a troca do profissional, ainda que este tenha baixa escolaridade, dado
que o idoso poderá ter impacto negativo no seu bem-estar.
Ou seja, ainda que a baixa escolaridade do cuidador pode afetar a capacidade de entender
informações sicas de saúde, levando ao diagnóstico tardio para doenças e vulnerabilizando o
idoso em relação à saúde preventiva, os resultados das entrevistas revelaram que a substituição
deste profissional não é uma tarefa simples, dada a relação afetiva estabelecida entre o idoso e o
cuidador.
A respeito das recomendações que podem favorecer o desenvolvimento de interfaces de
sistemas ou aplicativos para dispositivos móveis voltados para auxiliar a execução de tarefas que
exigem boa leitura e escrita por cuidadores analfabetos funcionais, o Quadro 3 apresenta algumas
informações levantadas neste trabalho.
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Quadro 3 Recomendações para desenvolvimento de sistemas para uso de cuidadores analfabetos
funcionais
Recomendações
Etapa da Pesquisa
uso majoritário de desenhos e fotos
usar o mínimo de conteúdo textual
Segunda etapa
viabilizar o estabelecimento de comunicação
por áudio e vídeo para informar situação do
idoso
Terceira etapa
registrar o comportamento do idoso
registrar informações sobre alimentação e
necessidades fisiológicas
registrar os remédios diários ministrados
registrar um diário do idoso
Terceira etapa
Fonte: dos autores
5 Considerações Finais
O presente trabalho, de caráter qualitativo e exploratório, teve como objetivo investigar os
fatores relacionados a baixa escolaridade que podem impactar nas tarefas de cuidado do idoso, de
forma a refletir como esses fatores impactam no cenário nacional e possibilitar a identificação de
recomendações que contribuam para o desenvolvimento de interfaces voltadas aos cuidadores
analfabetos funcionais.
As investigações realizadas sobre o cenário brasileiro revelaram que existem desafios para
minimizar os impactos da baixa escolaridade de um cuidador no bem-estar do idoso. Porém, os
familiares entendem que esse bem-estar está mais atrelado à relação afetiva estabelecida entre o
idoso e o cuidador, decorrente da forma carinhosa com que qual esses profissionais interagem com
os pacientes idosos.
Além disso, é evidente que o uso de TIC no contexto do trato do idoso contribui para o
crescimento de frentes inovadoras a favor do cuidado da pessoa idosa, além de favorecer os
cuidadores em relação às informações sobre saúde preventiva.
Especialmente para cuidadores analfabetos funcionais, esta pesquisa possibilita ampliar as
questões acerca do desenvolvimento de sistemas ou aplicativos voltados a trato do idoso,
considerando recomendações de acessibilidade web disponíveis na literatura nacional e
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internacional. Essa ampliação emerge para um trabalho futuro, voltado à identificação de um
modelo conceitual de uso de TIC para cuidadores analfabetos funcionais.
Espera-se que os resultados deste trabalho possam contribuir e evidenciar a importância
das pesquisas em relação ao público com baixa escolaridade, além de estimular outros
pesquisadores na identificação de novas reflexões e recomendações.
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Received: 05/12/2022 Accepted: 10/04/2023