VITORIANO, Maria Albeti Vieira; GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Grupo Focal na Ciência da
Informação: papel do moderador. Brazilian Journal of Information Science: Research trends, vol. 17,
publicação continua, 2023, e023016. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023016.
GRUPO FOCAL NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:
papel do moderador
Focus group in Information Science: moderator role
Maria Albeti Vieira Vitoriano (1), Kelley Cristine Gonçalves Dias Gasque (2)
(1) Universidade de Brasília, Brasil, albeti@gmail.com (2) Brasil,
kelleycristinegasque@hotmail.com
Resumo
Trata do papel do moderador na utilização do grupo focal para coleta de dados em pesquisas acadêmicas.
Inclui breve revisão de literatura, de caráter narrativo, sobre conceito, origem e características dessa técnica.
Mostra as competências necessárias para o exercício da função de moderador e as melhores práticas para o
desenvolvimento dessa dinâmica de coleta de informações. Para a revisão de literatura, o acesso aos artigos
ocorreu por meio do portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e do Google
Acadêmico. Mostra resultado de levantamento na Base Digital Brasileira de Teses e Dissertações; em
revistas classificadas como A1, A2 e B1, na área de comunicação e informação; e nos anais XX Encontro
Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, sobre a utilização do grupo focal em trabalhos de pós-
graduação. Apresenta trabalho de pós-doutorado, que mostra o papel do moderador como fator crítico de
sucesso na coleta de dados. Conclui que o moderador precisa desenvolver competências conceituais,
procedimentais e atitudinais, das quais as últimas são as mais exigidas. Ressalta que o pesquisador pode
desempenhar o papel de moderador ou atuar como segundo moderador ou como observador e passar essa
função para alguém com experiência em coordenação de grupos.
Palavras-chave: Ciência da informação. Grupo focal. Moderador. Competências do moderador.
Abstract
This paper deals with the role of the moderator in using the focus group for collecting data in academic
research. It includes a brief literature review of narrative character about the concept, origin and
characteristics of this technique. It shows the skills needed for the practice of the role of moderator and best
methods for developing such dynamics of information collection. For the literature review, the articles were
accessed through the portals: Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel and Google
Scholar. It shows the results from the Brazilian Digital Base of Theses and Dissertations; communication
and information journals classified as A1, A2 and B1; and the annals of the XX National Research Meeting
in Information Science, about the use of the focus group in graduate work. It presents postdoctoral work
that approaches the role of moderator as a critical success factor in data collection. It concludes that the
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Informação: papel do moderador. Brazilian Journal of Information Science: Research trends, vol. 17,
publicação continua, 2023, e023016. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023016.
moderator needs to develop conceptual, procedural, and attitudinal skills, of which the latter is the most
required. It emphasizes that the researcher can play the role of the moderator or act as a second moderator
or an observer and pass this role on to someone with experience in group coordination.
Keywords: Information science. Focus group. Moderator. Skills of the moderator.
1 Introdução
O artigo trata do papel do moderador e das competências necessárias para mediar as
discussões no âmbito dos grupos focais, nas pesquisas da área de Ciências Sociais Aplicadas,
especialmente, na Ciência da Informação (CI). Um grupo focal (GF) pode ser compreendido,
grosso modo, como uma discussão em grupo para explorar questões em determinado contexto,
profundidade e detalhamento de forma livre, sem impor uma estrutura conceitual. Por isso, é uma
técnica mais flexível e adaptável em qualquer estágio de pesquisa, quando comparada com técnicas
mais tradicionais (O. Nyumba et al 2018).
O artigo centra-se no papel do moderador no grupo focal, especificamente no contexto da
CI. Parte-se do princípio de que o sucesso de um grupo focal está vinculado à forma como a
discussão é conduzida, de maneira objetiva e com o envolvimento de todos os participantes.
Porém, poucas pesquisas que tratam do papel do moderador e das características necessárias
para o exercício desse papel.
Sobre isso, O. Nyumba et al (2018) ao revisar 170 estudos que utilizaram a cnica do grupo
focal, publicados entre 2011 e 2017, argumentam que um mediador bem treinado e qualificado é
um dos principais requisitos para uma discussão de grupo focal bem-sucedida. No entanto, em
nenhum desses estudos foi mencionada a extensão do engajamento ou envolvimento do mediador,
considerando que ele é fundamental para coleta imparcial dos dados.
Nesse artigo, apresenta-se uma revisão do tipo narrativa sobre a origem e as características
do grupo focal, bem como as competências e o papel do moderador na aplicação dessa técnica. A
revisão narrativa caracteriza-se por não exigir protocolo rigoroso para desenvolvimento da
pesquisa e, também, por não pretender ser exaustiva. Nesse caso, a pesquisa das fontes de
informação é mais flexível e menos abrangente (Cordeiro et al. 2007). Adicionalmente, buscou-
se na área da CI estudos com uso da técnica do grupo focal, centrados no papel do moderador.
Para tanto, foram utilizadas a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), com
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foco no “Repositório Institucional da UnB”, periódicos da área de Comunicação e Informação,
classificados como A1 e A2, período 2012-2022, e os anais dos ENANCIBs XX
1
e XXI
2
.
2 Grupo focal: origem e características
Mahmood (2012) considera que a técnica de grupo focal foi desenvolvida na década de
1940, por pesquisadores de mercado e, posteriormente, passou a ser usada para outros propósitos
e em diversos campos, como sociologia, psicologia, estudos de mídia, educação e saúde. Para
Merton e colaboradores, a técnica do grupo focal teve origem em entrevistas, realizadas em grupos,
com o objetivo de investigar os efeitos sociais e psicológicos da comunicação de massa - rádio,
jornais e filmes - no comportamento dos indivíduos. Era utilizada como alternativa à entrevista
individual e em complemento a informações de caráter quantitativo, obtidas anteriormente pelos
pesquisadores (Merton e Kendall 1946; Merton et al. 1956).
Por outro lado, Stewart e Shamdasani (2013) afirmam que Bogardus (1926) e Mannheim
(1936) usaram a técnica de entrevista em grupo, na década de 1920, para pesquisas sociológicas.
Por sua vez, Gatti (2012) considera que essa técnica teve origem em trabalhos desenvolvidos com
grupos, no escopo da psicologia social. Nos anos 1970 e 1980, o uso foi bastante difundido como
fonte de coleta de informações em diversas áreas em processos de pesquisa-ação ou pesquisa-
intervenção. Finalmente, no início dos 1980, cresceu o interesse pelo uso dessa técnica na
investigação científica (Gatti 2012).
A técnica de entrevistas em grupo recebeu denominações variadas, tais como: “entrevista
focada”, “entrevista em grupo”, “entrevista em profundidade”, “grupo focal” e “entrevista em
grupo focal”. A partir dos anos de 1980, os termos “grupo focal”, “entrevista em grupo focal” e
“entrevistas em grupos focados” foram usados com maior frequência na literatura e nos bancos de
dados (Mahmood 2012).
Na visão de Merton (1987), a denominação grupo focal (focus group) passou a ser utilizada
na medida em que a área de marketing foi se apropriando das experiências pioneiras realizadas por
Merton e Kendall (1946). No grupo focal, estão conjugados três componentes essenciais: ser um
método de pesquisa dedicado à coleta de dados; ter como fonte dos dados a interação entre os
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participantes; e contar com o papel ativo do pesquisador na criação dos tópicos a serem discutidos
pelo grupo (Morgan 1996).
Existem várias interpretações sobre a natureza do grupo focal, afirma Morgan (1996). De
um lado, estão aqueles que usam uma abordagem inclusiva ao tratar a maioria das formas de
entrevistas em grupo como variantes de grupos focais. De outra parte, estão aqueles que usam uma
abordagem exclusiva como uma técnica mais restrita, que não deve ser confundida com outros
tipos de entrevistas realizadas em grupo.
Gondim (2003) ressalta a diferença entre o grupo focal e a entrevista grupal. Nessa, o
entrevistador tem um papel direcionado para cada participante, o nível de análise é a opinião do
indivíduo. No grupo focal, o moderador facilita o processo de discussão e o interesse da análise é
o indivíduo no grupo. Gatti (2012) defende que o grupo focal não pode ser visto como entrevista
coletiva, mas como interação efetiva entre os participantes.
Para todos os efeitos, o grupo focal pode ser visto como uma dinâmica de grupo, da mesma
forma que as entrevistas e discussões em grupo (Flick 2009). Utiliza-se essa técnica para coletar
dados em pesquisas qualitativas, com o objetivo de entender percepções, sentimentos, atitudes e
ideias dos participantes sobre um determinado tema. Tem como inspiração técnicas de entrevistas
não-estruturadas e baseia-se no envolvimento coletivo, dinâmico e sinérgico entre os participantes
(Caplan 1990).
Essa técnica pode ser empregada em diversos tipos de pesquisas qualitativas, de forma
isolada ou em conjunto com instrumentos de caráter quantitativo, no início ou no final do processo
de coleta de dados. O grupo focal também pode ser utilizado para apoiar a construção de outros
instrumentos de investigação como a observação, por exemplo, bem como em diversas áreas do
conhecimento (Gatti 2012).
Flick (2009) assinala que a técnica de grupo focal passa por uma espécie de renascimento
contínuo, sendo utilizada com frequência para as mais diversas finalidades, por permitir a coleta
de dados de forma interativa e propiciar economia de tempo. Na técnica do grupo focal, observa-
se que o papel do moderador é essencial para estabelecer o fluxo da conversa, como se observa no
tópico seguinte.
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3 Competências do Moderador no Grupo Focal
Na literatura sobre o tema, além do termo moderador para designar esse papel, são
utilizadas outras denominações, tais como: entrevistador e facilitador. Nos trabalhos pioneiros,
realizados por Merton e Kendall (1946) e Merton et al. (1956), foram utilizados o termo
entrevistador.
O entrevistador é, antes de tudo, o coordenador e o anfitrião num grupo focal e tem o papel
de facilitador. Nesse papel, ele exerce influência no espaço e no grupo de muitas formas visíveis
e invisíveis. Portanto, não pode ficar preso a uma estrutura ou a um cronograma pré-determinado,
que deve ser cumprido a qualquer custo (Bojer et al 2010).
Na opinião de Goulding (1997), a função do moderador ou facilitador é diferente do papel
do entrevistador convencional. O moderador tem a missão de manter o fluxo da conversa e
incentivar a interação entre os participantes. No caso do entrevistador, a atenção volta-se para as
respostas individuais e estabelece um formato de pergunta e resposta.
Para Morgan (1996), uma das características mais importantes do grupo focal é a presença
de um moderador, que possa exercer maior ou menor controle sobre o processo. Os grupos em que
o moderador exerce maior grau de controle são denominados "mais estruturados", que podem ser
em relação às perguntas e aos tópicos a serem discutidos ou em relação ao gerenciamento da
dinâmica do grupo e o controle da interação entre os participantes. Os grupos focais devem ser
diferenciados das discussões em grupo, que ocorrem, naturalmente, sem atuação de um
entrevistador.
Dias (2000) ressalta que o termo moderador evoca características mais adequadas aos
objetivos do grupo focal, com base na necessidade de incentivar a sinergia entre os participantes.
Na mesma linha de pensamento, Gondim (2003) destaca que o moderador de um grupo focal tem
papel de facilitador, com ênfase nas interinfluências entre os participantes, que leva à formação de
opiniões sobre um determinado tema.
De acordo com Munaretto et al. (2013), o moderador deve incentivar a participação de
todos, conduzir a discussão dentro dos tópicos de interesse da pesquisa e favorecer o resgate de
informações relativas ao tema central, sobre os quais ainda não foram feitos comentários. Precisa,
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também, evitar que a opinião de alguns predomine sobre a manifestação de outros participantes.
Principalmente, não pode fazer julgamentos sobre as informações apresentadas, mas destacar as
ideias relevantes.
O moderador deve perceber o momento adequado para fazer qualquer comentário ou
pergunta, caso contrário sua intervenção pode ser vista como interrupção ou bloqueio em relação
às ideias discutidas, sinaliza Debus (1997). Portanto, o moderador deve se abster de opinar para
não influenciar os participantes, afirma Flick (2009). Ao mesmo tempo, Dall’Agnol e Trench
(1999) ressaltam que o silêncio, também, é uma fonte de comunicação, por isso deve ser respeitado
e, até mesmo, interpretado. Além disso, Stewart e Shamdasani (2013) destacam que um moderador
efetivo é a chave para a coleta de informações válidas e importantes para a pesquisa.
Durante o processo, o moderador deve estar atento, com vistas a propor tópicos mais
específicos ou retornar àqueles que precisam ser mais detalhados, com intenção de aprofundar,
sempre, a comunicação dentro do grupo. O papel de moderador, segundo Gatti (2012), pode ser
exercido pelo pesquisador ou outro profissional com habilidade e flexibilidade no
desenvolvimento e nas interações de processos grupais. Nas pesquisas acadêmicas, o próprio
pesquisador costuma assumir esse papel (Dias 2000; Kind 2004).
Para Debus (1997), deve-se avaliar três aspectos em relação ao moderador: características
pessoais, estilo de moderação, experiência e formação profissional. As características pessoais
relacionam-se à capacidade de interação com os participantes do grupo focal. Quanto ao estilo de
condução, destaca que alguns moderadores facilitam a discussão de uma forma mais livre,
deixando que os participantes tomem a iniciativa. Por outro lado, outros são mais diretivos e,
algumas vezes, fazem algum tipo de provocação para motivar o grupo. Um moderador experiente
é capaz de adaptar o estilo de acordo com o grupo e suas necessidades.
No que se refere à experiência e formação, Debus (1997) afirma que moderadores com
conhecimento do tema a ser discutido ou proximidade com o perfil dos participantes têm maior
probabilidade de terem sucesso. O moderador não deve ser visto como professor ou juiz; não deve
expressar acordo ou desacordo com algo que é falado, nem tentar interpretar a fala de algum
participante, sob seu ponto de vista.
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A atuação efetiva do moderador depende do desenvolvimento de competências para
conduzir as discussões no grupo focal. Zabala (1998 p. 13) afirma que “um dos objetivos de
qualquer bom profissional consiste em ser cada vez mais competente em seu ofício”. Entende-se
a competência como a capacidade de mobilizar estruturas cognoscitivas, que permitem a realização
adequada de uma ação. A competência refere-se à habilidade de resolver situações da vida real, de
forma eficaz, rápida e criativa, por meio dos conhecimentos e experiências (Zabala e Arnau 2010).
Zabala (1998) explica que o desenvolvimento de competências, isto é, o processo de
aprendizagem, relaciona-se à aquisição de conteúdos em três perspectivas, quais sejam,
conceituais - relativos aos fatos, princípios e conceitos; os procedimentais - relativos às técnicas e
aos métodos, bem como os atitudinais - vinculados aos valores, atitudes e normas.
Para Zabala (2007), a categorização dos conteúdos da aprendizagem em conceituais,
procedimentais e atitudinais, tem o objetivo de melhorar o entendimento do processo da
aprendizagem. Os conteúdos de aprendizagem não possuem fronteiras bem delimitadas entre eles,
visto que “um conteúdo sempre está associado e será aprendido junto com demais, atualizando,
comparando, identificando diferenças e semelhanças, podendo potencializar uma aprendizagem
significativa dos conhecimentos apresentados” (Damasceno et al. 2016 p. 184).
Mais ainda, quando se aprende alguma coisa, sempre estão envolvidos conteúdos
conceituais, procedimentais e atitudinais (Zabala 2007). No entanto, os conteúdos podem ter
facetas predominantes. Por exemplo, a elaboração de um resumo requer tanto que o aprendiz
conheça a teoria quanto que tenha atitude perante o conhecimento, mas a característica principal
da aprendizagem do resumo é o saber fazer, isto é, o caráter procedimental.
A aquisição dos conteúdos aliada à experiência reflexiva, grosso modo, propicia o
desenvolvimento das competências. A partir do levantamento sobre as competências a serem
desenvolvidas pelos moderadores foi possível categorizá-las em dois grandes grupos quais sejam,
1) as competências conceituais e procedimentais, que se referem aos domínios dos conceitos e
procedimentos os quais fundamentam a técnica do Grupo Focal. Devem responder às questões: “o
que se deve saber? e “o que se deve saber fazer?” e 2) as competências atitudinais que estão
relacionadas ao comportamento do moderador durante a condução do processo. Busca atender a
pergunta “como se deve ser?”.
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Destaca-se que os conteúdos atitudinais englobam conteúdos que podem ser agrupados em
três subtópicos valores, atitudes e normas. Valores são os princípios ou ideias éticas que as
pessoas usam para emissão de juízo sobre as condutas e seu sentido. As atitudes relacionam-se às
tendências ou predisposição de atuação das pessoas. As condutas realizam-se perante
determinados valores, por exemplo, respeitar o próximo, ajudar os outros. Normas são as regras
de comportamento, que as pessoas seguem em determinadas situações, dentro de um grupo social
(Zabala 1998).
A partir da revisão realizada nos estudos de Merton e Kendall (1946); Merton et al. (1956);
Debus (1997); Kind (2004); Bohm (2005); Gomes (2005); Echeverría (2007); Bojer et al. (2010);
Gatti (2012); Martins e Theóphilo (2016) foram sintetizadas as principais competências do
moderador do grupo focal, como se pode observar no quadro 1. Destaca-se que as competências a
serem desenvolvidas pelo moderador predominam aquelas de caráter atitudinal, as quais, em
grande parte, tratam da relação entre o moderador e os participantes do grupo focal.
Dentre essas competências, ressalta-se o saber ouvir, abordado por vários autores, de forma
ampliada. Merton e Kendall (1946); Merton et al. (1956) e Gomes (2005) consideram que o
entrevistador precisa ser um ouvinte compreensivo. Echeverría (2007) argumenta que a escuta é
uma das competências mais importantes do ser humano para construção das relações pessoais,
interpretações da vida e definições da capacidade de aprendizagem e transformação do mundo. A
escuta é mais do que saber ouvir, é a interpretação da fala do outro. O ato de escutar implica a
observação da postura corporal do indivíduo, os gestos faciais, movimentos do corpo, padrão de
respiração que podem, muitas vezes, ser mais importantes do que os fatores auditivos. Nesse
sentido, o facilitador deve estar preparado e ter flexibilidade, clareza e habilidade de escuta frente
ao grupo e ao processo (Bojer et al. 2010).
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Quadro 1 Competências do moderador
Competências conceituais e procedimentais
Competências atitudinais
Distinguir entre fatos objetivos e definições
subjetivas.
Avaliar continuamente o desenrolar da
entrevista.
Ter experiência na coordenação de grupos.
Fazer boas perguntas: questões efetivas têm o
poder de motivar os participantes e podem
trazer à tona novas ideias.
Controlar o tempo de cada tópico e o tempo
geral da atividade.
Ter capacidade de responder uma pergunta com
outra pergunta, transformando o conteúdo posto
pelo participante em tema para discussão
posterior.
Introduzir perguntas de transição para explorar
aspectos que precisam de maior profundidade.
Perceber que determinado tópico está esgotado.
Saber usar linguagem compatível com o grupo.
Manter o grupo produtivo durante a discussão.
Coordenar os procedimentos necessários
durante a realização do grupo focal.
Saber reconhecer silêncios simbólicos, distorções
ou bloqueios.
Ter flexibilidade, vivacidade, sensibilidade,
simpatia e senso de humor.
Ser capaz de interagir com outros indivíduos.
Ter capacidade de transmitir respeito e aceitação
em relação ao outro.
Ter capacidade de transmitir calor e empatia.
Ter aptidões verbais e interpessoais necessárias
para entender pessoas de diferentes origens.
Ter capacidade de escuta, de prestar atenção ao
outro, sem incluir seus pensamentos ou
comentários.
Ter capacidade de mostrar entusiasmo e interesse
pelo outro.
Ter consciência da influência das suas reações
corporais.
Ser capaz de não interferir a partir dos
sentimentos pessoais.
Ser capaz de não expressar opiniões em resposta
a perguntas feitas por algum participante.
Estar aberto ao diálogo.
Ter espírito de cooperação.
Manter postura de acolhimento diante dos
participantes.
Ser capaz de se distanciar em relação ao tema, de
forma a acolher posições contrárias, de maneira
respeitosa.
Garantir a participação dos participantes.
Impedir que ocorra a dispersão do tema
discutido.
Evitar que alguém mantenha o monopólio da
conversação.
Regular as tensões desenvolvidas no grupo.
Obter cobertura substancial de todo o grupo em
relação a cada assunto pertinente.
Fonte: adaptado de vários autores (2022)
Em seguida, o moderador deve apresentar os objetivos do encontro, o formato da reunião,
o motivo da escolha dos participantes e ressaltar a garantia de sigilo da identidade dos
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participantes. O moderador deve destacar que os participantes podem se sentir à vontade para
participar, de maneira informal e espontânea (Gomes 2005; Gatti 2012).
O processo deve continuar com o engajamento dos participantes em um fluxo livre de
conversação sobre o tema a ser discutido. De acordo com Trad (2009), o responsável pela
condução do grupo deve ser especialista no manejo da técnica e ter familiaridade com o objeto de
estudo. Pode, também, existir um segundo moderador no grupo focal.
Os participantes do grupo focal podem inferir que o processo é totalmente flexível e não
estruturado, entretanto sob o ponto de vista do moderador isso não é irrestritamente verdadeiro. O
planejamento sobre o que deve ser discutido e quais os objetivos específicos da pesquisa é
determinante para o sucesso da coleta dos dados. O moderador deve atuar de forma a redirecionar
a discussão, no caso de divagação ou desvio do tema em pauta, mas sem interromper de forma
brusca a interação entre os participantes. O sucesso do grupo focal vincula-se à experiência do
moderador e à articulação dos participantes, bem como ao desejo de compartilhar os próprios
pensamentos (Dias 2000).
Como se observa, a contribuição do moderador para o grupo focal é essencial para que a
coleta de dados seja abrangente e alcance os objetivos almejados. Isso requer o desenvolvimento
de competências específicas, que muitas vezes, o pesquisador não desenvolveu. Por isso, pode ser
necessário contar com a participação de uma pessoa que tenha essas competências.
4 O moderador em grupos focais na Ciência da Informação
Buscou-se verificar na área de CI a ocorrência de pesquisas sobre grupo focal e,
especificamente, o papel do moderador. Inicialmente, realizou-se levantamento na BDTD, em que
se observou a existência de várias inconsistências nos resultados; adicionalmente, havia o
conhecimento de que pesquisadores do programa de pós-graduação da UnB tinham usado a técnica
do grupo focal, por isso a escolha do referido programa.
A pesquisa ocorreu da seguinte maneira: na tela inicial, pressionou-se a opção “buscar”
para acessar a segunda tela e refinar a busca; do lado esquerdo no campo repositório, selecionou-
se “repositório institucional da UnB”; logo em seguida, apertou-se “busca avançada” e no campo
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“buscar por” foi inserido o termo “pós-graduação em ciência da informação" com a opção “todos
os campos”; depois, adicionou-se outro campo “buscar por” com o termo “grupo focal” com a
opção “todos os campos”; e finalmente, no campo “ano de defesa”, delimitou-se o período de 2012
a 2022. A figura 1 apresenta a busca avançada.
Figura 1 Busca avançada na BDTD
Fonte: BDTD
Foram encontradas cinco teses (Cartaxo 2016; Orlandi 2019; Sousa 2015; Steinmetz 2015;
Vieira 2013) e três dissertações (Durce 2013; Saraiva 2017; Silva 2013) que fazem referência ao
uso de Grupo Focal no desenvolvimento das pesquisas, porém sem destaque para o papel do
moderador.
Pesquisou-se, também, em periódicos da área de Comunicação e Informação, do sistema
Qualis-Periódicos
3
, classificados como A1 e A2, no quadriênio 2013-2016, e destinados à área da
CI. As pesquisas foram feitas usando o termo “grupo focal” no campo “buscar” na página inicial
dos sites das revistas.
Foram localizados quatorze artigos que usaram a técnica do grupo focal, mas nenhum deles
destaca o papel do moderador no processo realizado para a coleta dos dados (Carvalho et al.
(2018); Casarini e Oliveira (2012); Cavaglieri e Juliani (2016); Duarte et al (2008); Gasque (2021);
Jesus e Gomes (2021); Juliani et al. (2016); Kafure e Pereira (2016); Miranda e Alcará (2021);
Oliveira e Moura (2013); Pelissaro e Moura (2015); Reis e Tomaél (2017); Sousa et al. (2017);
Wottrich e Cassol (2012).
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Quadro 2: Revistas pesquisadas
Classificação
Periódicos
Artigos
A1
Informação & Sociedade
2
Perspectiva em Ciência da Informação
3
Transinformação
0
A2
Em Questão
2
Encontros Bibli
2
Informação & Informação
5
Fonte: elaboração própria
Fez-se, ainda, levantamento nos anais dos ENANCIBs XX e XXI realizados,
respectivamente, em 2019 e 2021. A pesquisa foi realizada nos sites dos ENANCIBs, na
“modalidade: trabalho completo”. O ENANCIB é um evento organizado pela Associação Nacional
de Pesquisa em Ciência da Informação (ANCIB), sociedade científica que congrega pesquisadores
e programas de pós-graduação brasileiros, para fins de debates e reflexões sobre temas da Ciência
da Informação. Trata-se do principal evento de pesquisa e pós-graduação da área de CI no país.
Nos anais do ENANCB XX
4
, estão disponíveis 318 artigos, em 11 grupos de pesquisa, nos
quais foram encontrados, somente, três trabalhos. Dois artigos, Dutra et al. (2019) e Lira e Duarte
(2019) citam a utilização dessa técnica de coleta de dados, mas sem qualquer menção ao
moderador. No outro, é feito o relato de um estudo de caso, com menção ao moderador, mas não
há destaque para a importância do seu papel e as competências necessárias para o exercício desse
papel (Pinheiro et al. 2019).
Os anais do ENANCIB XXI contêm 234 artigos, também, em 11 grupos de pesquisa, dos
quais somente um registra a utilização de Grupo Focal. Trata-se do trabalho de Ribeiro e Marteleto
(2021) que, seguindo a tendência dos demais, não faz referência ao papel do moderador.
Por fim, foi localizado o trabalho de pós-doutorado de Gasque (2020) no Repositório
Institucional da UnB, na Faculdade de Ciência da Informação (FCI), no campo “Coleções desta
comunidade”
5
, no item “FCI - Trabalhos de Pós-Doutorado”, em que a pesquisadora utilizou a
técnica de grupo focal para fazer a coleta de dados. Houve a participação de nove pessoas:
estudantes de doutorado e pesquisadores profissionais da FCI/UnB, no Distrito Federal, com
duração aproximada de 1h20min. Nesse trabalho, a pesquisadora mostra a importância do
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moderador no processo e nos resultados obtidos, com detalhamento sobre a seleção do moderador
e seu envolvimento durante a dinâmica do grupo focal desde o planejamento.
Gasque (2020) esclarece que escolheu alguém, com experiência em coordenação de grupos
e conhecimentos gerais sobre o assunto a ser discutido para fazer a moderação. Além disso,
considerou outros requisitos, tais como sensibilidade e bom senso, capacidade de encorajar a
participação de todos e criar relações para facilitar o aprofundamento do assunto. A pesquisadora
assumiu o papel de observadora do processo, principalmente, para ficar atenta às comunicações
não-verbais e ao ritmo das interações dentro do grupo.
A pessoa escolhida para exercer o papel de moderação participou, ativamente, da
preparação do roteiro de discussão, de maneira a minimizar imprevistos e eventuais problemas que
pudessem ocorrer durante a realização do grupo focal. A primeira reunião ocorreu um mês antes
da data marcada para realização da atividade e tratou dos seguintes itens: 1) recursos necessários
para o ambiente da pesquisa; 2) procedimentos iniciais apresentações, informações sobre sigilo,
assinatura do TCLE, preenchimento do formulário com os dados demográficos e regras de
participação; 3) realização da discussão do tema; 4) finalização da discussão e 5) convite para
degustação de tortas (Gasque 2020).
Nessa ocasião, foi apresentado o roteiro da entrevista, de caráter semiestruturado, para a
moderadora, pois segundo Caplan (1990), o moderador deve conhecer os objetivos a serem
alcançados e entender o problema a ser discutido. As perguntas da entrevista foram testadas,
antecipadamente, com uma estudante de doutorado e duas doutoras da área da CI e as sugestões e
recomendações foram consideradas na íntegra e incorporadas ao instrumento final (Gasque 2020).
Na abertura do grupo, a moderadora fez breve apresentação sobre a dinâmica do trabalho:
garantia do sigilo dos registros, número aproximado de questões a serem tratadas, as regras de
participação e solicitou a apresentação dos participantes. Em seguida, foram apresentadas as
principais regras a serem seguidas pelos participantes do grupo focal: 1) escutar atentamente o
outro; 2) não interromper a participação de ninguém; 3) sinalizar para fazer uso da fala; 4)
participar da discussão. Foi solicitado que todos desligassem os celulares, deforma a dispersão
(Gasque 2020).
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Gasque (2020) destaca a existência de várias estratégias para dar início a conversa sobre os
temas da pesquisa, tais como propor que cada participante fizesse algum comentário sobre o tema
a ser discutido ou fosse solicitado aos participantes que anotassem as observações sobre a questão
inicial, antes de se posicionarem no grupo. Nesse caso, a escolha foi pelo uso da técnica do
incidente crítico, com a sugestão de uma questão mais complexa para potencializar a energia do
grupo. A partir dessa pergunta inicial, as questões de pesquisa foram abordadas. As discussões
ocorreram com a participação dos convidados, considerando a totalidade das questões, mas não
necessariamente com o envolvimento dos participantes em todas as perguntas.
Nessa experiência, fica claro que o moderador precisa ter competências relativas aos fatos,
princípios e conceitos. Deve conhecer o tema abordado na entrevista, compreender o papel do
moderador no grupo focal e entender a importância do planejamento para coleta de dados. Desse
modo, precisa ter competências procedimentais, relativas ao saber fazer, como conduzir o grupo
considerando o roteiro da entrevista, fazer perguntas relevantes, evitar domínio de alguns
participantes em detrimento de outros e avaliar continuamente a entrevista. No entanto, as
competências atitudinais parecem ser as mais exigidas para o desempenho do papel de moderador,
que incluem saber escutar, aceitar a opinião dos participantes, ser flexível, sensível e ter bom
humor, atuar com entusiasmo e interesse. Além disso, não se pode desconsiderar as características
pessoas, o estilo de moderação, bem como a experiência e formação profissional.
5 Conclusões
O grupo focal pode ser utilizado em diversos tipos de pesquisas, em todas as áreas do
conhecimento, em trabalhos acadêmicos e em outras atividades. Aplica-se em pesquisas de
natureza qualitativa, mas pode ser utilizado em complemento a outras técnicas de coleta de dados
de caráter quantitativo. Entretanto, percebe-se que seu uso ainda é restrito e, na maioria dos casos,
como ferramenta isolada.
O papel do moderador é fundamental para o bom desempenho do grupo focal e, em
consequência, o alcance dos objetivos pretendidos. Essa função pode ser exercida pelo próprio
pesquisador ou por alguém por ele designado, que tenha experiência nesse tipo de atividade.
Muitas vezes, o pesquisador não tem as competências necessárias para fazer a moderação, por não
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ter experiência na condução desse tipo de dinâmica de grupos. Além disso, o profundo
envolvimento com o tema, a ser discutido, pode interferir na percepção de novas ideias e diferentes
interpretações a respeito da visão dos participantes.
Em qualquer uma das opções, o evento deve ser planejado com antecedência e, se for o
caso, contar com a participação do moderador externo. Na preparação, os tópicos da discussão
devem ser bem definidos e direcionados para atender aos objetivos da pesquisa. O responsável
pela moderação deve se sentir à vontade em relação aos objetivos e conteúdo da pesquisa para ter
segurança durante as discussões entre os participantes. É fundamental que o pesquisador participe
do evento, como segundo moderador ou como observador.
Outro aspecto importante, trata-se da denominação dessa função no grupo focal, vários
termos são utilizados para nomeá-la, tais como entrevistador, moderador, facilitador e mediador.
Como a linguagem define situações, é importante que se faça a diferença entre os diversos sentidos
dessas palavras. Entrevistador não se aplica com propriedade ao grupo focal, tendo em vista que
se refere a uma postura mais diretiva, adequada a entrevista individual ou entrevista estruturada
em grupo, em que existe direcionamento nas perguntas e total controle do processo.
Moderador e facilitador são termos mais adequados, pois estão associados ao princípio da
não diretividade, uma das características do grupo focal. Por outro lado, o termo mediador não se
considera adequado, tendo em vista que está relacionado ao ato de intervir, arbitrar, que não se
aplica à dinâmica do grupo focal. O termo moderador parece ser mais adequado por considerar o
papel de não diretividade.
Observa-se que as competências do moderador abrangem conceitos, procedimentos e,
principalmente, atitudes. Os conceitos referem-se aos fatos e princípios; os procedimentos ao saber
fazer e, por fim, o atitudinal abrange as atitudes e valores na aquisição do conhecimento. Outros
fatores que influenciam na interação do moderador com o grupo são as características pessoais, os
estilos de moderação, experiência e formação.
Considerando que este levantamento ficou restrito a teses e dissertações, defendidas no
curso de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da UnB, a artigos apresentados nos
ENANCIBs XX e XXI e em revistas da área de Comunicação e Informação, sugerem-se que novos
trabalhos sejam realizados, num universo mais abrangente para que seja possível obter mais
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informações sobre o uso do grupo focal em trabalhos desenvolvidos nas pesquisas acadêmicas
brasileiras. Outras limitações observadas, durante a pesquisa, foram as inconsistências nos
resultados durante as buscas nas bases de dados acessadas.
Acredita-se que essa técnica pode ser bastante adequada às pesquisas na área das Ciências
Sociais Aplicadas, antes ou após a utilização de alguma técnica de caráter quantitativo. No entanto,
considera-se que, principalmente, em pesquisas de pós-graduação, seja dado maior destaque ao
papel do moderador. Os resultados alcançados em um Grupo Focal dependem, em grande parte,
da condução do processo. O engajamento dos participantes deve ser incentivado, qualquer dúvida
deve ser esclarecida, bem como discussões em paralelo e o monopólio da fala por alguns dos
membros devem ser evitados.
Notas
(1) https://conferencias.ufsc.br/index.php/enancib/2019/schedConf/presentations
(2) https://enancib.ancib.org/index.php/enancib/xxienancib/schedConf/presentations
(3)https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaC
onsultaGeralPeriodicos.jsf
(4) https://conferencias.ufsc.br/index.php/enancib/2019/schedConf/presentations
(5) https://repositorio.unb.br/handle/10482/4807
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Copyright: © 2023 VITORIANO, Maria Albeti Vieira; GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. This is
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Received: 27/10/2022 Accepted: 30/03/2023