1
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
A Educação para a Competência em Informação e a
Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica
Information literacy education and the continuing education of multipliers in the Vocational Education
and Training Context
Carlos Robson Souza da Silva (1), Luciane de Fátima Beckman Cavalcante (2),
Adriana Rosecler Alcará(3)
(1) Universidade Estadual de Londrina, Brasil, crobsonss@gmail.com
(2) luciane.cavalcante@facc.ufrj.br
(3) adrianaalcara@uel.br
Resumo
Tem como objetivos discutir o conceito de Competência em Informação na Educação Profissional e
Tecnológica, refletir sobre o papel educativo dos multiplicadores de Competência em Informação e apontar
para a possibilidade de uma formação de multiplicadores pensada a partir de um modelo de Competência
em Informação na Educação Profissional e Tecnológica. Trata-se de revisão de literatura, da qual foram
selecionados autores que oferecessem argumentos teóricos para alcançar os objetivos propostos. Conceitua
Competência em Informação na Educação Profissional e Tecnológica e Multiplicadores de Competência
em Informação. Apresenta o Modelo de Competência em Informação na Educação Profissional e
Tecnológica de Silva (2021) e discute a possibilidade de seu uso na formação de multiplicadores. Encerra
apontando para o fato de que o processo de formação continuada facilita aos profissionais da informação a
implementação de ações de Competência em Informação ao mesmo tempo em que compreendem e
apreendem a história, a filosofia e as dinâmicas próprias da Educação Profissional.
Keywords: Competência em Informação. Educação Profissional e Tecnológica. Multiplicadores de
Competência em Informação.
Abstract
It aims to discuss the concept of Information Literacy in Vocational Education and Training, to reflect on
the educational role of Information Literacy multipliers and to point to the possibility of training multipliers
2
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
based on a model of Information Literacy in Vocational Education and Training. The presente article is a
literature review, whose selected authors offered theoretical arguments to achieve the proposed objectives.
Conceptualizes Information Literacy in Vocational Education and Training and Multipliers of Information
Literacy. It presents the Information Literacy in Vocational Education and Training Model by Silva (2021)
and discusses the possibility of its use in the training of multipliers. It ends by pointing to the fact that the
process of continuing education makes it easier for information professionals to implement Information
Literacy actions while at the same time understand and apprehend the history, philosophy and dynamics of
Vocational Education.
Keywords2: Information literacy. Vocational Education and Training. Information literacy multipliers.
1 Introdução
A Competência em Informação tem sido objeto de estudos, reflexões e práticas nas áreas
da Biblioteconomia e da Ciência da Informação desde seu surgimento em meados do século
passado. Entendida como um processo voltado para a formação de habilidades relacionadas ao
acesso, à avaliação e ao uso da informação, a Competência em Informação vem sendo estudada
em uma grande diversidade de contextos educacionais e não educacionais.
As escolas e as universidades, por exemplo, são espaços educativos em que as reflexões e
as práticas de Competência em Informação estão bem mais desenvolvidas, haja vista a proliferação
de padrões e frameworks voltados para o desenvolvimento de habilidades informacionais
adequados às demandas tanto da formação básica como da formação universitária, desde o ensino
infantil aos mais altos níveis de estudos na pós-graduação e ao longo da vida (Cavalcante 2014).
Mais recentemente, outros ambientes educacionais vêm tomando a atenção dos
pesquisadores da temática, como aqueles voltados especificamente para a oferta de cursos e
programas de Educação Profissional e Tecnológica, como os Institutos Federais (Silva 2019), os
Serviços Nacionais de Aprendizagem (Spudeit 2015) e as Escolas Profissionalizantes (Santos
2017). Apesar de se assimilarem e de estarem quase sempre articuladas ao ensino regular básico e
universitário, essas instituições são historicamente diferentes das tradicionais escolas e
universidades por terem como objetivo a especialização na oferta de cursos profissionalizantes,
técnicos e tecnológicos.
O deslocamento do olhar para a realidade da Educação Profissional e Tecnológica, além
de permitir a criação de modelos e experiências de Competência em Informação na formação de
3
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
trabalhadores, traz também à luz a necessidade de se pensar a formação dos profissionais da
informação envolvidos no planejamento e implementação de tais modelos e experiências. Tais
profissionais precisam atuar tendo consciência sobre a singularidade de seus espaços de atuação e
dos objetivos das instituições às quais estão vinculados.
É interessante, dessa forma, que haja na formação desses profissionais a possibilidades de
se discutir conceitos, metodologias e experiências sobre as dinâmicas informacionais da própria
Educação Profissional e Tecnológica. Nesse sentido, o presente artigo questiona de que maneira
pode se dar a formação de profissionais da informação para atuar no processo de implementação
da Competência em Informação no contexto da Educação Profissional e Tecnológica?
O presente artigo tem como objetivos: a) discutir o conceito de Competência em
Informação na Educação Profissional e Tecnológica; b) refletir sobre os multiplicadores de
Competência em Informação como educadores; e c) apontar para a possibilidade de uma formação
pensada a partir de um modelo proposto por Silva (2021).
Para efetivar as discussões aqui pretendidas, realizou-se um levantamento na literatura
nacional e internacional, utilizando-se de termos como “Competência em Informação”,
Information Literacy”, Alfabetización Informacional”, “Educação Profissional e Tecnológica”,
Vocational Education and Training”, Educación Profesional nas bases de dados Google
Scholar e BRAPCI. Incluiu-se artigos e livros científicos, relatórios técnicos, trabalhos acadêmicos
e documentos oficiais que versassem sobre os temas aqui discutidos, prevalecendo textos sobre
Competência em Informação posteriores a 1974 (ano em que o termo foi mencionado pela primeira
vez por Paul Zurkowski) e textos sobre Educação Profissional e Tecnológica posteriores a 1988
(ano em que foi promulgada a atual Constituição Federal do Brasil).
2 O contexto da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil
A educação é uma atividade social que remonta à origem da humanidade. Estando
inicialmente atrelada diretamente à produção da vida material, ela foi se desenvolvendo e se
diversificando de acordo com as transformações sociais, econômicas e políticas de cada contexto
4
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
em que está inserida. Atualmente, a Educação é entendida como um direito universal e é objeto de
estudos, práticas e discussões políticas ao redor do mundo.
No Brasil, a Educação é legislada através da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a
Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A LDB tem como objetivo estabelecer
as diretrizes e bases da educação nacional, reconhecendo que, “a educação abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e de pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais” (Brasil 1996).
Dentre a diversidade de manifestações da Educação Nacional, a LDB fala sobre a Educação
Profissional e Tecnológica, uma modalidade de ensino articulada à educação regular destinada à
formação para o trabalho. De acordo com a Resolução n. 1 CNE/CP de 1 de janeiro de 2021, a
Educação Profissional e Tecnológica é uma
modalidade educacional que perpassa todos os níveis da educação nacional,
integrada às demais modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da
ciência, da cultura e da tecnologia, organizada por eixos tecnológicos, em
consonância com a estrutura sócio-ocupacional do trabalho e as exigências da
formação profissional nos diferentes níveis de desenvolvimento, observadas as leis
e normas vigentes (Brasil 2021).
Ou seja, é uma modalidade educacional que tende a estar atrelada às dinâmicas sociais e
econômicas da região onde é ofertada, respeitando as exigências de cada habilitação profissional
reconhecida oficialmente e pautada pelas demandas profissionais, técnicas e tecnológicas geradas
pelo próprio desenvolvimento técnico-científico nas áreas em que os eixos tecnológicos estão
inseridos.
Ela pode ser ofertada tanto através de cursos de Qualificação Profissional (ou Formação
Inicial e Continuada), de cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e de cursos e
programas de Educação Profissional Tecnológica de Graduação e Pós-graduação, estando presente
em redes e instituições de ensino públicas e privadas, principalmente nas Instituições
Especializadas em Educação Profissional e Tecnológica (IEPTs). Exemplos dessas instituições são
os Institutos Federais, os Serviços Nacionais de Aprendizagem e as Escolas Profissionalizantes
Públicas e Privadas.
5
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
As IEPTs se diferenciam das tradicionais escolas e universidades não apenas por seus
objetivos e cursos ofertados, mas pela sua história. Considerada inicialmente voltada para “os
pobres e desvalidos da sorte”, a Educação Profissional e Tecnológica sempre esteve atrelada a um
discurso de formação imediata e terminal destinada à classe trabalhadora e orientada aos interesses
do mercado de trabalho, com o objetivo “[…] de atender àqueles que não tinham condições sociais
satisfatórias, para que não continuassem a praticar ações que estavam na contra-ordem dos bons
costumes” (Moura 2007 p. 5).
As discussões sobre o papel e os objetivos dessas instituições, porém, não deixaram de se
desenvolver, sendo espaços de contradições, originadas por projetos distintos e compreensões
distintas sobre o que é a formação de trabalhadores. É nessa disputa que surge uma proposta de
Educação Profissional que busca não a formação meramente prática dos sujeitos atrelada a uma
lógica de mercado, mas sim uma formação que seja integral e que atinja todas as dimensões da
vida. Essa proposta, chamada de Formação Humana Integral, entende que formar
profissionalmente
[…] não é preparar exclusivamente para o exercício do trabalho, mas é
proporcionar a compreensão das dinâmicas sócio-produtiva (sic) das sociedades
modernas, com as suas conquistas e os seus revezes, e também habilitar as pessoas
para o exercício autônomo e crítico de profissões, sem nunca se esgotar a elas
(Brasil 2007 p. 45).
A partir dessa proposta, a habilitação profissional ligada diretamente aos setores produtivos
da sociedade ainda permanece como um dos objetivos da Educação Profissional e Tecnológica,
mas passa a ser acompanhada de uma compreensão que tal habilitação tem em vista uma formação
integral, em que dimensões da vida como o trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia passam a
ser indissociadas do currículo.
O objetivo, portanto, é superar uma ideia de Educação Profissional e Tecnológica
considerada alienante, voltada apenas para a instrumentação da classe trabalhadora e para a criação
de força de trabalho qualificada segundo as demandas do mercado de trabalho. A partir da
Formação Humana Integral, a classe trabalhadora passa a ter a possibilidade de desenvolver todas
as suas potencialidades, apropriando-se delas e as mobilizando em benefício da sociedade e assim
se transformando
6
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
[...] em dirigentes de si próprios, como seres sociais e sujeitos coletivos. É claro,
então, que a educação dos trabalhadores deve possibilitar a maximização de suas
competências e a ampliação de suas consciências. o no sentido de adaptá-lo à
realidade dada, mas para serem sujeitos de transformação no sentido da
emancipação plena do ser humano, ainda que no horizonte isso se constitua como
uma utopia (Ramos 2006 p. 25).
A Educação Profissional e Tecnológica estaria, dessa forma, atrelada à emancipação plena
dos sujeitos, ao mesmo tempo que maximiza e potencializa seus conhecimentos. Nesse sentido,
ela compreenderia todas as dimensões da vida no processo educativo, questionando e se
apropriando das dinâmicas socioprodutivas e seus efeitos nas relações sociais e de trabalho.
3 Competência em Informação na Educação Profissional e Tecnológica
Se a proposta da Formação Humana Integral é superar uma Educação Profissional voltada
apenas ao fazer operacional, propondo uma formação que englobe todas as dimensões da vida ao
mesmo tempo em que habilita os estudantes a exercer uma profissão reconhecida, é importante se
pensar sobre como essa formação pode incorporar discussões sobre temáticas e questões atuais,
principalmente aquelas relacionadas à informação.
O tão discutido advento das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) e da
chamada Sociedade da Informação provocaram e ainda estão provocando efeitos drásticos e
irreversíveis sobre o mundo do trabalho. O capitalismo, enquanto sistema de produção
hegemônica, tem se apropriado das tecnologias extinguindo empregos por meio da automação e
fazendo com que a classe trabalhadora tenha que se adaptar às TICcom a ameaça de não estar apto
a ser selecionado para atuar no mundo de trabalho (Antunes 2020). Ser um trabalhador flexível
também passou a estar atrelado a ideia de ser um trabalhador que tem habilidade de se adaptar às
mudanças informacionais.
Paul Zurkowski em meados dos anos 70 formalizou essa ideia com a proposição do
conceito de information literacy” que no Brasil ficou mais conhecido como Competência em
Informação. Para ele,
Pessoas qualificadas na aplicação de fontes de informação em seu trabalho podem
ser chamadas de competentes em informação. Elas aprenderam técnicas e
7
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
desenvolveram habilidades para utilizar uma grande quantidade de ferramentas
informacionais assim como de fontes primárias na criação de soluções
informacionais para seus problemas (Zurkowski 1974 p. 5, tradução nossa).
A Competência em Informação surge assim como mais um conjunto de habilidades que os
indivíduos devem desenvolver para possuir melhor performance de atuação no mundo do trabalho,
sendo mais aptos a tomar decisões baseadas em informação. Discurso esse que pode encontrar
ecos em declarações e relatórios produzidos no contexto da Biblioteconomia e da Ciência da
Informação.
O Relatório Final do Comitê Presidencial sobre Competência em Informação da
Associação Americana de Bibliotecas indicava, no final da década de 1980, que as escolas e
universidades deveriam ter o papel de “[…] integrar o conceito de competência em informação em
seus programas de ensino e assumir o papel de liderança ao qualificar indivíduos e instituições a
aproveitar as oportunidades inerentes à sociedade da informação” (American Library Association
1989 sem paginação tradução nossa).
Entretanto, é interessante observar que apesar das influências das dinâmicas capitalistas
contemporâneas, a Competência em Informação, assim como a Educação Profissional e
Tecnológica, também é objeto de disputas. Se por um lado, se atrela o desenvolvimento de
habilidades informacionais às necessidades do mundo do trabalho, por outro, alguns autores e
instituições, que se debruçam sobre a temática são enfáticos ao ressaltar o papel da Competência
em Informação na formação autônoma, crítica e libertadora dos indivíduos na sociedade
contemporânea.
na virada do culo, tanto a divisão de bibliotecas escolares, como a divisão de
bibliotecas universitárias da Associação Americana de Bibliotecas (ALA), por exemplo, inter-
relacionavam à Competência em Informação a responsabilidade social e participação ativa na
comunidade de aprendizado (American Association of School Libraries and Associaton for
Educational Communication and Technology 1998) e à necessidade de se compreender as questões
legais, econômicas e sociais que cercam o uso da informação (Association of College and Research
Libraries, 2000).
8
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
Um panorama mais recente pode ser encontrado em Belluzzo (2018), que registra a
existência de uma quantidade considerável de estudos que inter-relacionam a Competência em
Informação à inclusão social e digital, à cidadania e ao aprendizado ao longo da vida, e ao estudo
sobre diferentes grupos ou comunidades, evidenciando o fato de que na literatura sobre a temática
pesquisas que disputam a Competência em Informação, tentando libertá-la da mera
instrumentação para o mundo de trabalho e atrelá-la à formação crítica dos sujeitos.
Esse ambiente de disputas se intensifica quando a discussão sobre a Competência em
Informação passa a ser realizada no contexto da Educação Profissional e Tecnológica. Por ambas
serem entendidas como oportunidades de qualificação para a atuação no trabalho contemporâneo,
a Competência em Informação na Educação Profissional e Tecnológica acaba sendo reforçada
como mais um conjunto de habilidades necessárias na formação do trabalhador flexível,
multifacetado, adaptado às novas demandas do capitalismo.
Uma forma diferente de ver essa realidade pode ser percebida em Santos (2017). Em sua
tese de doutorado “Competência em informação na formação básica dos estudantes da Educação
Profissional e Tecnológica”, a autora aponta para a possibilidade de se entender
A Competência em Informação (CoInfo) em consonância com a Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) [...] como um processo de
desenvolvimento/aprimoramento que torna os futuros profissionais capazes de
internalizar, mobilizar e articular as competências, habilidades e atitudes para
compreender os fatores que medeiam o acesso, a busca, a recuperação, a avaliação,
a comunicação, o compartilhamento e o uso da informação para a intervenção
crítica, reflexiva, criativa, ética, responsável e efetiva de seu entorno como
condições necessárias à geração e construção de conhecimento. Permite que os
discentes compreendam que, por meio de comparações, reflexões e do uso
inteligente e ético das informações, todos os conteúdos e elementos que constituem
o seu entorno passam a ter sentido e clareza. Em suma: a CoInfo faz com que o
discente aplique a informação na prática para a compreensão e intervenção crítica
e responsável de fatos, fenômenos e da realidade, resolução de problemas e a
tomada de decisões no ambiente escolar e, futuramente, no ambiente de trabalho
(Santos 2017 p. 102).
Dessa forma, a Competência em Informação não estaria atrelada às necessidades
extrínsecas ao estudante (como se formar para ter uma boa qualificação no mundo de trabalho),
mas sim à suas necessidades intrínsecas, sua formação como pessoa, capaz de internalizar,
mobilizar e articular habilidades informacionais para resolver problemas e tomar decisões em
9
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
todos os aspectos de sua vida, incluindo (mas não se restringindo) a sua atuação acadêmica e
profissional.
Quando pensada sob a perspectiva da Formação Humana Integral, a Competência em
Informação na Educação Profissional e Tecnológica amplia esse horizonte. As questões
informacionais passam a ser discutidas em todas as dimensões da vida, não sendo mais trabalhadas
como uma mera habilidade instrumental, mas como possibilidade de
proporcionar a compreensão da dimensão informacional das dinâmicas sócio-
produtivas das sociedades modernas, com as suas conquistas e os seus reveses,
além de também habilitar as pessoas para o exercício autônomo e crítico de
profissões, apropriando-se das práticas informacionais a elas relacionadas e
sem nunca se esgotar a elas (Silva 2021 p. 217 grifo do autor).
A partir dessa perspectiva, a Competência em Informação agregaria à formação
profissional dos estudantes a apropriação da discussão sobre as questões informacionais que
cercam as dinâmicas sociais e produtivas contemporâneas. Essas dinâmicas são compostas das
manifestações culturais locais e globais que contribuem para a formação social dos estudantes, o
desenvolvimento científico atrelado às áreas do conhecimento e eixos tecnológicos que formam
parte do currículo de cada curso profissional e as questões legais referentes à profissão que cada
curso proporciona.
Nesse sentido, para implementar a Competência em Informação no contexto da formação
de trabalhadores é necessário um processo pedagógico que proporcione aos estudantes um diálogo
entre prática social e profissional e as questões mais profundas relacionadas à informação em nossa
sociedade. Para isso, é necessário que alguém assuma uma posição protagonista e advogue em prol
da inserção da Competência em Informação na Educação Profissional e Tecnológica. Considera-
se aqui que esse papel protagonista deve ser assumido por profissionais da informação atuando
como multiplicadores.
4 Educação para a Competência em Informação
A discussão sobre Competência em Informação evidencia o papel educativo da
Biblioteconomia e da Ciência da Informação. Segundo Dudziak (2007 p. 95), os profissionais da
10
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
informação e, mais especificamente, os bibliotecários, atuam como mediadores pedagógicos,
tornando-se educadores quando
[organizam] programas de competência informacional em conjunto com
professores e gestores, [ministram] aulas em diversos espaços, [executam] projetos
informacionais com foco na educação voltada para a competência em informação
(information literacy education), [observam] a importância do acolhimento e do
aprendizado significativo, [aprimoram] seus conhecimentos educacionais e
pedagógicos (Dudziak 2007 p. 95).
A Educação para a Competência em Informação demanda assim que os profissionais
assumam a responsabilidade de planejar, organizar, executar e aprimorar projetos educacionais
que tenham como objetivo proporcionar momentos significativos no processo de ensino e de
aprendizagem.
Segundo Bertúlio (2012 p. 37), ao atuar em projetos de formação para a Competência em
Informação, o profissional da informação assume o papel educativo de multiplicador, ou seja, de
“[…] indivíduo responsável pela transmissão de determinado conhecimento e/ou informação a
outrem, através de cursos, treinamentos, palestras, e demais eventos semelhantes, ou até mesmo
aquela pessoa responsável pelo ensinar em sala de aula, em todos os níveis de escolaridade”. Nesse
caso, os conhecimentos compartilhados envolvem meios para lidar com as questões
informacionais em nossa sociedade contemporânea.
Para isso, é necessário que os profissionais da informação que atuam como multiplicadores
de Competência em Informação se entendam como educadores que precisam se atualizar
constantemente. De acordo com Pereira et al. (2021 p. 2), esse processo de educação continuada
do profissional da informação multiplicador inclui além dos aspectos técnicos do ensino de
habilidades informacionais, “[…] habilidades didático-pedagógicas e conhecimentos multilaterais
que o permite contribuir para a aprendizagem dos outros sujeitos”. E isso se torna mais evidente
em contextos educacionais específicos, como na Educação Profissional e Tecnológica.
Compreende-se aqui que a formação dos profissionais da informação para a atuação no
contexto da Educação Profissional e Tecnológica ainda está em processo inicial de
desenvolvimento. Silva (2019) identificou na literatura nacional e internacional apenas cinco
modelos de Competência em Informação voltados especificamente para o contexto da Educação
11
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
Profissional e Tecnológica, sendo eles: o Modelo de Curso de Xing, Li e Huang (2007), a Proposta
de Programa de Spudeit (2015), a Rede Conceitual de Projeto Educativo de Almeida (2015), o
Quadro Conceitual e o Framework de Santos (2017) e a Matriz Conceitual de Oliveira e Silva
(2018).
Esses modelos e programas, que podem ser classificados tanto como propostas de caráter
generalista, quando não se distinguem dos modelos existentes voltados ao ensino básico e ao
ensino superior, como em propostas de caráter específico, quando se fundamentam nas teorias e
metodologias da própria Educação Profissional e Tecnológica, têm como objetivo inserir no
currículo da formação profissional a necessidade de se desenvolver habilidades, conhecimentos e
atitudes relacionados à avaliação, o acesso e ao uso da informação (Silva 2019).
Dentre os modelos e programas específicos apontados por Silva (2019), está a “Matriz
Conceitual para a Criação de um Modelo de Competência em Informação na Educação
Profissional e Tecnológica” de Oliveira e Silva (2018). A Matriz Conceitual se propõe a integrar
a Educação Profissional e Tecnológica e a Competência em Informação, abarcando também
conceitos como Aprendizado ao Longo da Vida e se orientando através dos princípios da Formação
Humana Integral. Essa Matriz foi expandida e atualizada através do “Modelo de Competência em
Informação na Educação Profissional e Tecnológica” de Silva (2021).
Pelo fato de, ao longo deste artigo, evidenciar-se a necessidade de se alinhar a Competência
em Informação no contexto da Educação Profissional à proposta da Formação Humana Integral,
considera-se que o Modelo de Silva (2021) apresenta os recursos metodológicos necessários para
propiciar a formação de multiplicadores que atuem em instituições e redes de ensino especializadas
na formação de trabalhadores. Dessa forma, torna-se importante discutir de que maneira essa
formação poderia ser efetivada.
4 Pensando caminhos para a formação de multiplicadores de Competência em
Informação na Educação Profissional e Tecnológica
O Modelo de Competência em Informação na Educação Profissional” de Silva (2021 p.
216) trata-se de uma proposta teórica e metodológica que tem como objetivo facilitar a
12
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
implementação de ações de Competência em Informação no contexto da formação profissional,
com base em pressupostos e fundamentos provenientes da própria Educação Profissional e
Tecnológica, principalmente aqueles ligados à Formação Humana Integral.
Para isso, o Modelo recorre a quatro principais eixos conceituais (Quadro 1), sendo eles:
as dimensões da vida no processo educativo, os princípios norteadores da Educação Profissional e
Tecnológica, os pilares do aprendizado ao longo da vida e os padrões de Competência em
Informação. Os quatro servem como pressupostos teóricos para que as questões informacionais
sejam contextualizadas a uma proposta de formação profissional que seja crítica e que aponte para
a emancipação dos sujeitos. Organizados, os eixos conceituais servem de caminhos que têm como
objetivo orientar os profissionais da informação na implementação de ações de Competência em
Informação na Educação Profissional e Tecnológica (Silva 2021).
Quadro 1 Eixos Conceituais do Modelo de Competência em Informação na Educação Profissional e
Tecnológica de Silva (2021)
Dimensões da Vida no
Processo Educativo
(Brasil, 2007)
Princípios da Educação
Profissional e
Tecnológica
(BRASIL, 2007)
Quatro Pilares da
Educação
(DELORS, 1998)
Padrões de
Competência em
Informação
(ACRL, 2000)
Trabalho
-
Ciência
-
Cultura
-
Tecnologia
Trabalho como princípio
educativo
-
Pesquisa como Princípio
Educativo
-
Relação parte-totalidade
na proposta curricular
Aprender a Conhecer
-
Aprender a Ser
-
Aprender a Fazer
-
Aprender a Conviver
Identificar as
necessidades
informacionais
-
Acessar a informação
-
Avaliar a informação
-
Usar a informação
-
Compreender as questões
sociais,
econômicas e legais que
cercam o acesso e uso da
informação.
Fonte: Silva (2021).
Os caminhos supracitados “[…] não devem ser considerados um passo-a-passo, mas
lugares conceituais que se desembocam em ações de Competência em Informação contextualizada
13
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
à formação profissional” (Silva 2021 p. 216). Apresentados como questionamentos, eles podem
também ser utilizados para a formação dos próprios multiplicadores de Competência em
Informação, levando-os a procurar respostas para tais questionamentos ao mesmo tempo em que
pensam sobre como aplicá-los na prática. De acordo com Silva (2021), os caminhos são seis:
1. O que é Competência em Informação?
2. O que é Educação Profissional e Tecnológica?
3. O que é Competência em Informação na Educação Profissional e Tecnológica?
4. O que deve orientar as ações de Competência em Informação na Educação Profissional
e Tecnológica?
5. Que concepções de ensino e de aprendizagem adotar em ações de Competência em
Informação na Educação Profissional e Tecnológica?
6. Como colocar em prática ações de Competência em Informação na Educação
Profissional e Tecnológica?
Os três primeiros questionamentos funcionam como pressupostos introdutórios para a
formação dos multiplicadores. Por meio deles, os multiplicadores de Competência em Informação
podem compreender a história, os fundamentos e as inter-relações dos conceitos de Competência
em Informação e de Educação Profissional e Tecnológica. Além disso, podem refletir sobre esta
última sob a ótica das determinações e das relações históricas que a deram origem, sua estrutura e
funcionamento atual, sua diferenciação dos demais níveis e modalidades e, principalmente, a
possibilidade de alinhamento à proposta da Formação Humana Integral.
O quarto e o quinto questionamento também trazem reflexões de natureza conceitual.
Quando se fala em o que deve orientar ações de Competência em Informação na Educação
Profissional e Tecnológica se fala em se apropriar e adotar conceitos provenientes da própria
Formação Humana Integral, dentre eles: o trabalho, a ciência, a tecnologia, a cultura como
categorias indissociáveis da formação humana; o trabalho como princípio educativo; a pesquisa
como princípio educativo; e a relação parte-totalidade na proposta curricular (Silva 2021).
14
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
Com a internalização da ideia de trabalho como princípio educativo, os multiplicadores
poderão entender que as práticas de Competência em Informação devem
“[…] considerar a informação como resultante da força de trabalho humana,
ou seja, da produção humana, que essempre envolta de dinâmicas sociais,
econômicas e histórias, que determinam sua organização, disseminação e uso”
(Silva 2021 p. 227 grifo do autor).
Além disso, as propostas de categorias indissociáveis da formação humana integral
pesquisa como princípio educativo e relação parte-totalidade apontam para o fato de que as ações
de Competência em Informação devem compreender todos os aspectos da vida humana, de modo
a integrá-los uns aos outros, mesmo que enfatizando determinadas áreas em alguns momentos.
Essas inter-relações serão discutidas no quinto questionamento, quando serão apresentados
os conceitos de aprendizagem e de ensino adotados no Modelo. Pelo caminho da aprendizagem,
Silva (2021) decide resgatar a ideia de Aprendizagem ao Longo da Vida, ainda muito cara aos
estudos de Competência em Informação, mas pelo caminho do ensino ressalta o alinhamento do
Modelo tanto à Formação Humana Integral, quanto às propostas pedagógicas emancipatórias, não
descartando outras que se “[…] se aplicadas de maneira crítica, […] também são importantes no
processo de ensino-aprendizagem informacional” (Silva 2021 p. 233).
Por fim, o último questionamento, traria enfim a possibilidade de se discutir a efetiva
implementação de ações de Competência em Informação no contexto da Educação Profissional e
Tecnológica. Para isso, os multiplicadores poderiam definir objetivos educacionais, escolher
metodologias de ensino e de avaliação e pensar formas de planejamento.
Nos objetivos educacionais, os multiplicadores lidariam enfim com os padrões de
Competência em Informação. No modelo de Silva (2021), -se ênfase aos Padrões da Association
of College and Research Libraries (ACRL 2000), mas deixa em aberto a possibilidade de os
próprios multiplicadores escolherem outros padrões, modelos ou experiências. Inclusive, alerta-se
para a relevância de se levar em conta a atualização que a ACRL (2016) propôs em relação aos
Padrões de 2000. O importante é que se tenha em conta que os estudantes da Educação Profissional
e Tecnológica competentes em informação deverão saber
15
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
identificar suas necessidades de informação, acessar, avaliar e usar as informações,
assim como compreender as questões que cercam o uso da informação em todas
as dimensões da vida, ou seja: no trabalho, na ciência, na tecnologia e na cultura.
Eles também deverão saber incorporar as práticas informacionais de sua
habilitação profissional, técnica e tecnológica específica, tornando-se
trabalhadores competentes em informação (Silva 2021 p. 237).
Ao fim dessa caminhada, carregando consigo esses conceitos, fundamentos e
metodologias, os multiplicadores de Competência em Informação poderiam se sentir aptos a atuar
no contexto da Educação Profissional e Tecnológica de maneira a contribuir para a formação
humana integral dos sujeitos e para a sua emancipação plena.
5 Considerações finais
A Competência em Informação na Educação Profissional e Tecnológica é um campo de
estudos ainda recente, mas que evidencia avanços através das contribuições teóricas e práticas
de profissionais da informação atuantes nas áreas da Biblioteconomia e da Ciência da Informação.
A preocupação por uma educação para o desenvolvimento de habilidades para a Competência em
Informação, que se circunscreva à realidade e aos objetivos da formação profissional, aponta para
o fato de que se percebe a distinção dessa modalidade das outras modalidades e níveis de ensino
existentes atualmente.
O que se tentou nesse artigo foi buscar evidenciar essa distinção não apenas como uma
forma de explicitá-la, mas de refletir sobre ela, de superá-la e de propor uma nova forma de
enxergá-la. É por isso que se adotou principalmente a Formação Humana Integral como proposta
pedagógica da Educação Profissional, que culmina em um processo educativo que se integra todas
as dimensões da vida e se estende ao longo da vida.
Entretanto, se historicamente a formação para o trabalho foi uma formação operacional,
alinhada aos interesses do mercado e pouco reflexiva, as ações de Competência em Informação na
Educação Profissional e Tecnológica não devem mais ser voltadas para essa proposta educativa.
Com a Formação Humana Integral, a educação para a Competência em Informação se identifica
com compreender a dimensão informacional das dinâmicas socioprodutivas da sociedade e
apreender as práticas informacionais da habilitação profissional pretendida por cada curso.
16
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
Por isso, este trabalho apresentou a possibilidade de que os profissionais que atuam em
instituições e redes de ensino de Educação Profissional e Tecnológica possam assumir seu papel
educativo, compreendendo-se como multiplicadores de Competência em Informação. E que ao
assumir tal papel, os profissionais da informação devem inserir-se em um processo de formação
continuada adequado, utilizando aqui como referência o Modelo de Silva (2021).
Encerra-se este trabalho indicando que mais estudos sobre a temática precisam ser
realizados, principalmente aqueles que se proponham a pôr em prática as propostas conceituais
para o ensino e a aprendizagem de Competência em Informação na Educação Profissional e
Tecnológica. É preciso buscar cooperar em um projeto de emancipação dos sujeitos por meio da
educação, facilitando não somente conhecimento do mundo, mas a sua apreensão crítica e a sua
transformação em prol do bem viver de todos.
Referências
American Association of School Libraries, and Association for Educational Communication and
Technology. Information Power: building partnerships for learning. ALA, 1998.
American Library Association. Presidential Comitee on Information Literacy: final report, 1989,
https://www.ala.org/acrl/publications/whitepapers/presidential. Acessado 13 set. 2022.
Antunes, Ricardo. O privilégo da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. rev. ampl.
Boitempo, 2020.
Association of College and Research Libraries. Information literacy competency standards for higher
education, 2000,
https://alair.ala.org/bitstream/handle/11213/7668/ACRL%20Information%20Literacy%20Compete
ncy%20Standards%20for%20Higher%20Education.pdf?sequence=1. Acessado 13 set. 2022.
Association of College and Research Libraries. Framework for information literacy for higher education,
2016, http://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acessado 13 set. 2022.
Belluzzo, Regina Célia Baptista. A Competência em Informação no Brasil: cenários e espectros.
ABECIN, 2018,
http://labds.eci.ufmg.br:8080/bitstream/123456789/83/1/BELLUZZO.%20A%20compet%C3%AA
ncia%20em%20informa%C3%A7%C3%A3o%20no%20Brasil%20cen%C3%A1rios%20e%20esp
ectros.pdf. Acessado 13 set. 2022.
17
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
Bertúlio, André Luiz de Araújo. Estudo e formação de multiplicadores em competência em informação,
2012, https://repositorio.unb.br/handle/10482/12159. Universidade de Brasília, Dissertação de
Mestrado. Acessado 13 set. 2022.
Brasil. Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio: documento base.
Ministério da Educação, 2007, http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/documento_base.pdf.
Acessado 13 set. 2022.
Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. “Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional”.
Diário Oficial da União, 23 de dezembro de 1996, www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.
Acessado 13 set. 2022.
Brasil. Resolução CNE/CP n. 1, de 1 de janeiro de 2021. “Define as Diretrizes Curriculares Gerais para a
Educação Profissional e Tecnológica”. Diário Oficial da União, 06 de janeiro de 2021,
https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-cne/cp-n-1-de-5-de-janeiro-de-2021-
297767578#:~:text=%C2%A7%201%C2%BA%20Os%20cursos%20de,totalizar%C3%A1%2C%2
0no%20m%C3%ADnimo%2C%203.000%20. Acessado 13 set. 2022.
Cavalcante, Luciane de Fátima Beckman. Competência em Informação na UFPR TV: a inter-relação
entre informação, conhecimento e comunicação, 2014,
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/110778/000799430.pdf?sequence=1&isAllowe
d=y. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Tese de Doutorado. Acessado 13
set. 2022.
Dudziak, Elisabeth Adriana. “O bibliotecário como agente de transformação em uma sociedade
complexa: integração entre ciência, tecnologia, desenvolvimento e inclusão social”.
PontodeAcesso, vol. 1, no. 1, jun. 2007, pp. 88-98.
https://brapci.inf.br/index.php/res/download/86247. Acessado 13 set. 2022.
Moura, Dante Henrique. “Educação básica e educação profissional e tecnológica: dualidade histórica e
perspectivas de integração”. Holos, vol. 2, 2007, pp. 4-30.
https://www.redalyc.org/pdf/4815/481549273001.pdf. Acessado 13 set. 2022.
Pereira, Ana Paula, et al. “O bibliotecário e as habilidades para a formação da competência em
informação de pais surdos”. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, vol. 17, no.
esp., 2021, pp. 1-19. https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/download/1648/1296. Acessado 13 set.
2022.
Ramos, Marise. “A educação dos trabalhadores e a utopia da plena formação humana”. Temas de Ensino
Médio: formação. EPSJV, 2006. pp 11-26, https://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/l52.pdf.
Acessado 13 set. 2022.
18
SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman; ALCARÁ, Adriana Rosecler. A
Educação para a Competência em Informação e a Formação de Multiplicadores no Contexto da Educação
Profissional e Tecnológica. Brazilian Journal of Information Science: research trends, vol. 17, publicação
contínua, 2023, e023004. DOI 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023004
Santos, Camila Araújo dos. Competência em informação na formação básica dos estudantes da
Educação Profissional e Tecnológica, 2017,
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150036/santos_ca_dr_mar.pdf?sequence=3&is
Allowed=y. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Tese de Doutorado.
Acessado 13 set. 2022.
Silva, Carlos Robson Souza da Silva. “Modelo de Competência em Informação na Educação Profissional
e Tecnológica”. Competência em informação na Educação Profissional e Tecnológica. Carlos
Robson Souza da Silva et al. IFCE, 2021. pp 195-234,
https://www.researchgate.net/publication/359270262_COMPETENCIA_EM_INFORMACAO_N
A_EDUCACAO_PROFISSIONAL_E_TECNOLOGICA_NOTAS_DE_UM_PROJETO_DE_PES
QUISA/link/62324393d37dab4f96e9381d/download. Acessado 13 set. 2022.
Silva, Carlos Robson Souza da. Competência em informação na educação profissional e tecnológica:
uma análise das habilidades informacionais nas práticas de ensino e aprendizagem, 2019,
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/49717/1/2019_dis_crssilva.pdf. Universidade Federal
do Ceará, Dissertação de Mestrado. Acessado 13 set. 2022.
Spudeit, Daniela. “Proposta de um programa de desenvolvimento de Competência em Informação para
alunos do ensino profissional”. Ciência da Informação em Revista, vol. 2, no. 2, maio/ago. 2015,
pp. 67-77, https://www.seer.ufal.br/index.php/cir/article/view/1782. Acessado 13 set. 2022.
Zurkowski, Paul. The information service environment: relationships and priorities. NCLIS, 1974,
https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED100391.pdf. Acessado 13 set. 2022.
Copyright: © 2023 SILVA, Carlos Robson Souza; CAVALCANTE, Luciane de Fátima Beckman;
ALCARÁ, Adriana Rosecler. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative
Commons CC Attribution-ShareAlike (CC BY-SA), which permits use, distribution, and reproduction in
any medium, under the identical terms, and provided the original author and source are credited.
Received: 29/07/2022 Accepted: 20/12/2022