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SANTOS, Raquel do Rosário; SOUSA, Ana Claudia Medeiros de; ASSIS, Pamela Oliveira, COUTO, Laura Maria
Moreira; SANTOS, João Manoel Santana Ferreira; SANTOS, Uélber Conceição dos. Mediação da Leitura
Encantada: música que narra história por Márcia Evelin. Brazilian Journal of Information Science: research
trends, vol. 17, publicação continua, 2023, e023026. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023026.
MEDIAÇÃO DA LEITURA ENCANTADA:
Música que narra história por Márcia Evelin
Mediation of enchated reading: music that narrates story by Márcia Evelin
Raquel do Rosário Santos (1), Ana Claudia Medeiros de Sousa (2),
Pamela Oliveira Assis (3), Laura Maria Moreira Couto (4),
João Manoel Santana Ferreira Santos (5), Uélber Conceição dos Santos (6)
(1) Universidade Federal da Bahia, Brasil, quelrosario@gmail.com
(2) ana.violista@gmail.com
(3) pamela.oliveiira@outlook.com
(4) laurammcouto@gmail.com
(5) redtailjs@gmail.com
(6) uelber20@gmail.com
Resumo
O objetivo deste estudo foi o de evidenciar a mediação da leitura realizada por Márcia Evelin por meio da
composição musical e em que medida sua produção transparece traços culturais. Quanto à metodologia,
essa pesquisa se caracteriza como descritiva, tendo como método a pesquisa documental associada ao
estudo de caso, investigando a produção e a atuação mediadora de Márcia Evelin. Entre os resultados, foi
possível constatar a necessidade do mediador da leitura alinhar sua formação leitora à prática profissional,
contribuindo para uma percepção ampla das necessidades e expectativas dos sujeitos leitores, sendo essa
postura associada à adoção de diferentes dispositivos informacionais que ampliem o repertório tanto do
mediador quanto do leitor. Conclui-se que a música, quando adotada na ação mediadora, potencializa a
evocação de elementos característicos e demarcadores de seus produtores e possibilita um terreno propício
para participação ativa dos leitores.
Palavras-chave: Leitura; Mediação da leitura; Mediação da leitura musical; Márcia Evelin
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SANTOS, Raquel do Rosário; SOUSA, Ana Claudia Medeiros de; ASSIS, Pamela Oliveira, COUTO, Laura Maria
Moreira; SANTOS, João Manoel Santana Ferreira; SANTOS, Uélber Conceição dos. Mediação da Leitura
Encantada: música que narra história por Márcia Evelin. Brazilian Journal of Information Science: research
trends, vol. 17, publicação continua, 2023, e023026. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023026.
Abstract
The objective of this study was to highlight the mediation of the reading realized by Márcia Evelin, through
musical composition, and to what extent her production reveals cultural traits. As for the methodology, this
research is characterized as descriptive, having as a method the documental research, associated with the
case study, investigating the production and the mediating role of Márcia Evelin. Among the results, it was
possible to verify the need for the reading mediator to align his reading training to professional practice,
contributing to a broad perception of the needs and expectations of the readers, and this attitude is associated
with the adoption of different informational devices that expand the repertoire of both the mediator and the
reader. It is concluded that music, when adopted in the mediating action, enhances the evocation of
characteristic and demarcating elements of its producers and provides a favorable terrain for the active
participation of readers.
Keywords: Reading; Reading mediation; Mediation of musical reading; Marcia Evelin.
1 Introdução
A mediação da leitura demanda uma atuação consciente por parte dos agentes, e dessa
maneira, a adoção de diferentes dispositivos informacionais são fundamentais para a aproximação
e a interação tanto por parte do sujeito-leitor quanto do mediador da leitura. Entre os dispositivos
informacionais que podem também evocar traços identitários, portanto, sendo representativos para
os leitores, pode-se citar a música, que pode influenciar no processo de acesso e apropriação da
informação.
Nessa conjuntura, o objetivo desta pesquisa foi o de evidenciar a mediação da leitura
realizada por Márcia Evelin, por meio da composição musical, e em que medida sua produção
transparece traços culturais. Quanto ao traçado metodológico, essa pesquisa se caracteriza como
descritiva, tendo como método a pesquisa documental, associada ao estudo de caso, sendo a
atuação e as produções de Márcia Evelin de Carvalho, o corpus investigativo e de análise. Para
coletar os dados da pesquisa foi realizada a análise documental, a partir das redes sociais blog,
Facebook, YouTube e Instagram
(1)
da autora, além de um questionário aplicado para
compreender a atuação de Márcia Evelin, como mediadora da leitura literária e musical. Para
interpretar as informações, foi utilizada a abordagem qualitativa.
A justificativa para escolha da referida mediadora se deu por ela atuar como contadora de
histórias, professora e escritora de livros infantojuvenis que busca em sua ação mediadora a
associação entre diferentes dispositivos, entre estes a leitura literária e a música, contextualizados
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nos repertórios culturais. Nesse sentido, a atuação de Márcia Evelin motivou a escolha pelo recorte
temático, ao compreender como necessária a existência de estudos que analisem e proporcionem
discussões sobre a mediação da leitura em suas múltiplas possibilidades, por exemplo, tendo a
música como um dos dispositivos.
Como resultado, destacam-se as contribuições de Márcia Evelin, como mediadora da
leitura, que, com base em sua formação leitora e profissional, realiza uma leitura afetiva e provoca
os sujeitos leitores a refletirem sobre aspectos presentes na literatura e na música, potencializando
esse encontro com o uso dos recursos tecnológicos, como, por exemplo, as redes e mídias sociais
digitais. Foi possível constatar que é necessário o alcance de uma postura consciente por parte dos
mediadores da leitura, que venha a contribuir com os leitores, na percepção e no fortalecimento de
traços culturais presentes nos dispositivos e que são representativos dos sujeitos-leitores.
2 Leitura, mediação e música: a relevância do olhar para os sujeitos
O termo leitura possui diferentes significados e permeia múltiplas discussões. Ao refletir
acerca disso, entende-se a leitura como uma ação de decodificar signos linguísticos, com base no
processo de interpretação dos textos e associação aos conhecimentos anteriores, de modo que
possam ser produzidos novos saberes, associados às práticas e às vivências que o leitor possui em
sua relação com o mundo. Visto que, no seu sentido mais amplo, a leitura é uma experiência
individual e está relacionada aos sentidos que o leitor atribui à ação, a partir do processo de
interpretação e compreensão, alinhadas ao seu contexto sociocultural.
Em razão disso, Martins (1988 p. 31) apresenta a leitura "como um processo de
compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais,
fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitivo-
sociológica).” Diante do exposto, percebe-se que o ato de ler é permeado de experiências
vivenciadas pelos sujeitos de modo singular, bem como, das características que representam o
meio social que esse faz parte. É por meio dessas vivências que o sujeito se apropria de elementos
identitários e culturais que servirão de subsídio no processo de desenvolvimento do senso crítico
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e de atribuição de sentido às leituras realizadas pelos mesmos, sejam elas a partir dos diversos
dispositivos.
Tal reflexão corrobora com a percepção defendida por Paulo Freire (1989 p. 29), de que
“A leitura de mundo precede a leitura da palavra [...]”, fazendo com que essa seja percebida
enquanto uma ação social, política e cultural que é basilar de todo agir humano e influenciada pelo
contexto no qual o sujeito está inserido.
Ainda sobre as possibilidades do ato de ler, Martins (1988) cita três níveis básicos da
leitura, são eles: sensorial, emocional e racional. De acordo com a autora, tais níveis podem
ocorrer de modo simultâneo ou um pode se destacar em relação ao outro, tendo em vista o contexto
em que a leitura está sendo realizada. No que tange ao nível sensorial, esse pode ser associado ao
primeiro contato do sujeito com o dispositivo lido, uma vez que trata de elementos referenciais
como: a visão, o tato e a audição. Tais sensações podem ser desencadeadas por um livro interativo,
uma música, uma peça de teatro etc. Além disso, tal nível é caracterizado por ser o tipo de leitura
que o sujeito se interessa, sem que haja necessariamente uma justificativa para tal, pois envolve os
sentidos que norteiam as percepções imediatas dos sujeitos.
Quando o sujeito é afetado pelas sensações que a leitura lhe proporciona, existe um
processo de associação com o sentir que lhe pode causar conforto ou desconforto, o que evoca os
sentimentos, como, por exemplo, a curiosidade, raiva, alegria, tristeza etc., pode-se compreender
que ele alcançou o segundo nível estudado por Martins (1988) - o emocional. Esse nível tem como
elemento característico a vulnerabilidade, segundo a autora, por meio da leitura emocional “[...]
emerge a empatia, tendência de sentir o que se sentiria caso estivéssemos na situação e nas
circunstâncias experimentadas por outro, isto é, na pele de outra pessoa [...](Martins 1988 p. 51).
Diante da explicação, percebe-se outro elemento característico, a identificação. Esse efeito pode
ocorrer com um personagem de série ou através de uma situação narrada por outro sujeito, em que
o leitor encontra no outro características que lhes são comuns. Para tanto, nesse processo pode
ocorrer uma reflexão dos motivos pelos quais existem tais sentimentos, conduzindo o leitor para o
nível racional, defendido por Martins (1988).
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No nível racional, existe o rememorar das vivências e sensações despertadas nas leituras
anteriores, fazendo com o que sujeito possa as utilizar como subsídio para o processo de
compreensão e interpretação da leitura atual. Conforme Martins (1988 p. 66), o nível racional
acrescenta aos precedentes “[...] a reflexão, a reordenação do mundo objetivo, possibilitando-lhe,
no ato de ler, dar sentido ao texto e questionar tanto a própria individualidade como o universo das
relações sociais.” Com isso, nota-se que além de reforçar a percepção da autora quando ela
assevera que os níveis podem se inter-relacionar, ainda reafirma o exposto inicialmente de que a
leitura é uma experiência singular e que utiliza como subsídio características do contexto
sociocultural do sujeito.
Tendo em consideração a discussão tecida até aqui, compreende-se quão necessária é a
leitura na vida do sujeito. Nesse sentido, torna-se basilar refletir sobre a importância da mediação
da leitura como uma ação de interferência que é fundamental para o desenvolvimento do sujeito,
pois possibilita a apropriação da informação e dos dispositivos informacionais e culturais. Essa
afirmação está em consonância com o que defende Antunes (2003 p. 70) ao esclarecer que
A atividade da leitura favorece, num primeiro plano, a ampliação dos repertórios
de informação do leitor. Na verdade, por ela, o leitor pode incorporar novas ideias,
novos conceitos, novos dados, novas e diferentes informações acerca das coisas,
das pessoas, dos acontecimentos, do mundo em geral.
Com base nessa reflexão, considera-se que a mediação da leitura integra e é essencial na
atuação do profissional da informação, a exemplo, dos bibliotecários, que ao realizarem a
mediação da informação, antes devem ter a percepção que essa ação se articula com a mediação
da leitura, visto que o ato de ler subsidia o ato de informa-se e informar. Portanto, ao desejar
realizar uma ação que colabore efetivamente com a coletividade, os agentes mediadores devem
alcançar a consciência das inter-relações necessárias que demandam suas atividades, como
também o conjunto de necessidades apresentadas pelos usuários/leitores.
Sousa et al. (2020 p. 18), ao refletirem acerca da mediação da leitura, fizeram uma relação
dessa ação com o conceito de mediação da informação defendido por Almeida Júnior (2015). Para
as autoras, a mediação da leitura é uma
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[...] ação realizada conscientemente por um profissional da educação, da
informação e/ou da cultura, de maneira individual ou coletiva, que propicie uma
leitura singular ou plural na ambiência dos dispositivos informacionais, sociais e
culturais, na perspectiva de possibilitar a apropriação da informação (Sousa et al.
2020 p. 18).
A partir da percepção das autoras, pode-se compreender que a leitura ao ser mediada de
forma consciente pode contribuir para a formação do sujeito, favorecendo o encontro entre esse e
os dispositivos, ao mesmo tempo que contribui para a apropriação da informação. Percebe-se que
mediador e leitor, poderão realizar leituras de si, do outro e do meio que fazem parte, visando
ressignificar suas próprias atuações e o desenvolvimento do perfil de protagonistas sociais.
Outra percepção acerca da mediação da leitura é a de Cavalcante (2015 p. 120), na qual a
autora compreende que
[...] a mediação da leitura é um jogo de encantamento. Os jogadores são seus
protagonistas que se desdobram para mantê-la em evidência, viva e pulsante. Nesse
jogo, a sedução da palavra elaborada, rebuscada, pensada, teatralizada, que a
deixa mais aguçada.
Ao apresentar a mediação da leitura como um ‘jogo de encantamento’, a autora refere-se
ao processo de envolvimento e de ludicidade manifestado no ato de ler, quando a mediação da
leitura é demanda a apresentar-se de maneira efetiva e afetiva provocando sensações, sentimentos
e desenvolvimento cognitivo, cultural e ampliação de repertório informacional por parte dos
sujeitos leitores.
Para tanto, considera-se primordial que além da criação de um ambiente confortável,
também ocorra a escolha de dispositivos que representem os sujeitos, que o mediador, enquanto
agente que medeia esse encontro, tenha afeto pela leitura e também pelos dispositivos, uma vez
que “[...] para transmitir o amor pela leitura, e acima de tudo pela leitura de obras literárias, é
necessário que se tenha experimentado esse amor.” (Petit 2008 p. 195). Dessa maneira, o mediador
e o leitor, quando compartilham desse sentimento quanto à leitura, podem trocar experiências, na
qual cada um agrega às atividades aquilo que carrega de seus aprendizados e “leituras de mundo”.
Entende-se que ao ser implicado por uma atividade mediadora efetiva, os sujeitos poderão
ressignificar suas atuações como atores sociais, por meio da troca de vivências realizadas com os
demais.
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trends, vol. 17, publicação continua, 2023, e023026. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023026.
Tendo em vista uma mediação consciente da leitura, é necessário considerar também a
importância de se utilizar variados dispositivos informacionais com o objetivo de trazer conforto
e possibilitar que exista identificação por parte dos sujeitos durante o desenvolvimento das
atividades mediadoras. Nesse sentido, pode-se refletir sobre o que seriam esses dispositivos
informacionais através dos estudos de Pieruccini (2007), que os define como
[...] um signo, mecanismo de intervenção sobre o real, que atua por meio de formas
de organização estruturada, utilizando-se de recursos materiais, tecnológicos,
simbólicos e relacionais, que atingem os comportamentos e condutas afetivas,
cognitivas e comunicativas dos indivíduos. (Pieruccini 2007 p. 5).
Mediante tal entendimento, percebe-se que os dispositivos informacionais podem ser, por
exemplo, bibliotecas, livros, músicas, peças teatrais etc. Essa compreensão parte da reflexão de
que tais dispositivos podem ser utilizados pelos mediadores para alcançar os sujeitos, como dito
pela autora, em seus variados comportamentos e condutas, favorecendo, desse modo, a apropriação
da informação, como também desses dispositivos informacionais, durante a mediação da leitura.
Tendo em mente essa diversidade de dispositivos, destaca-se neste estudo a música e suas
possibilidades de criar uma atmosfera agradável, criativa e de interação entre os mediadores e os
sujeitos leitores. De acordo com Nogueira (2004 p. 1-3)
[...] a música é uma linguagem universal, que ultrapassa as barreiras do tempo e
do espaço [...] Inúmeras pesquisas, desenvolvidas em diferentes países e em
diferentes épocas, particularmente nas décadas finais do século XX, confirmam
que a influência da música no desenvolvimento da criança é incontestável.
Algumas delas demonstraram que o bebê, ainda no útero materno, desenvolve
reações a estímulos sonoros. Outros estudos apontam também que, mesmo se o
contato com a música for feito por apreciação, isto é, não tocando um instrumento,
mas simplesmente ouvindo com atenção e propriedade (percebendo as nuances,
entendendo a forma da composição), os estímulos cerebrais também são bastante
intensos.
Diante disso, a leitura quando associada a música também expressa a potência de contribuir
com o desenvolvimento do sujeito, em suas mais variadas fases e contextos sociais, apresentando-
se por meio da abordagem lúdica e dinâmica, mas também reflexiva e representativa. Conforme
Oliveira e Severino (2010) ao refletir sobre uma música, existe a possibilidade de contextualizar o
autor e o tempo histórico de sua produção musical. Nesse sentido, a música possibilita que o sujeito
desenvolva suas habilidades a partir da interação com a atividade e reconheça os aspectos culturais
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que o aproxima e o distância dos produtores de dado dispositivo musical, carregado de valor
informacional, o que pode auxiliar no desenvolvimento de novas percepções e na ampliação do
conhecimento.
A mediação da leitura musical ocupa uma posição de importância, pois pode auxiliar o
sujeito a alcançar uma atribuição de sentidos, por meio dos elementos sonoros, rítmicos, melódicos
e harmônicos presentes na composição musical que é contextualizada em um espaço e tempo
determinado. De acordo com Mateus e Cavalcante (2017 p. 2023)
[...] é possível compreender que a música está em diferentes momentos e também
é um processo de oralização presente em todas as culturas. Assim, quando utilizada
como meio de incentivo à leitura, a mesma torna-se lúdica, enriquecedora para
despertar o interesse ao conhecimento.
Dessa forma, a música pode favorecer a ressignificação das atividades mediadoras,
contribuindo na construção da identidade do sujeito, permitindo-lhe experimentar diversos tipos
de sensações e desenvolver reflexões relacionadas aos aspectos socioculturais. A partir disso, é
possível interpretar que a música pode auxiliar o sujeito na construção de sentidos por meio da
experiência vivenciada com as atividades correlacionadas com música e literatura, tornando
necessárias pesquisas que tratem sobre a mediação da leitura musical como possibilidade de
fortalecer os aspectos socioculturais dos sujeitos leitores.
3 Procedimentos metodológicos
Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, tendo como método o estudo de caso para o
alcance do objetivo de evidenciar a mediação da leitura realizada por Márcia Evelin, por meio da
composição musical, e em que medida sua produção transparece traços culturais. Para cumprir o
objetivo supracitado, foi realizada a análise documental. Tal etapa foi realizada nas redes sociais -
blog, Facebook, Instagram e YouTube
(1)
da Márcia Evelin, nas quais ela compartilha textos,
vídeos e fotos de sua história de vida, sendo seus livros e músicas inspirados nesses repertórios.
Ao analisar o blog da mediadora, pode-se notar que o objetivo é compartilhar as ações do
projeto Cafundó, no qual ela é uma das fundadoras. no Facebook foi possível perceber fotos
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pessoais e também registro de eventos, além de indicações de leitura. Seguindo uma proposta
semelhante, Márcia Evelin também possui um perfil no Instagram, além do seu canal no Youtube
no qual divulga entrevistas, contações de história e resumos de seus livros. A partir do
cumprimento dessas duas etapas da pesquisa, foi realizada a aplicação de um questionário junto à
Márcia Evelin para compreender a percepção da mediadora sobre a importância da mediação da
leitura musical somada ao uso consciente dos aspectos culturais nessas práticas.
O referido questionário foi composto por onze questões, aplicado via e-mail. Tal
instrumento visou identificar quem é Márcia e o que a inspira no processo de escrita e composição
das músicas, bem como a importância de suas histórias estarem permeadas de aspectos culturais.
A partir do cumprimento dessa etapa procedeu-se à análise dos dados, sendo utilizada a abordagem
qualitativa, que possibilitou a interpretação das informações obtidas.
4 Apresentação e discussão dos resultados
A análise das respostas obtidas por meio do questionário possibilitou a compreensão de
como se articula a mediação da leitura junto com o processo de composição musical de Márcia
Evelin. Ao ser questionada sobre sua paixão por contar histórias e o que mais gosta nessa
experiência, Márcia Evelin respondeu:
Sempre gostei de ler e ouvir histórias, talvez por ter sido criada numa comunidade
de leitores, ou seja, em minha casa os livros e a leitura sempre foram valorizados.
Quando me tornei mãe esse gosto se intensificou e eu passei a contar e cantar para
minhas crias. Essa prática foi tão intensa que me tornei contadora de histórias da
Editora do Brasil (meu primeiro emprego), depois fui dona de uma livraria infantil
com um clube de incentivo à leitura - o Crie e Conte - , animadora de biblioteca
numa escola e idealizadora de duas bibliotecas escolares temáticas (uma delas tem
hoje o meu nome) - Barco da Leitura e Cirquinho do Livro - desenvolvendo
projetos específicos com a leitura e a contação de histórias. Depois veio o Grupo
Cafundó de Contadores de Histórias, fundado por mim e Anna Miranda (jornalista,
compositora e contadora de histórias), do qual faço parte até hoje [...] Ao contar
histórias me sinto realizada, é como se alimentasse a criança que me habita, como
se fosse algo inerente a meu ser, uma missão que desenvolvo com muito prazer. É
maravilhoso ver o feedback das crianças, a participação intensa com a história
contada, seus olhinhos brilhando e vibrando com cada cena narrada e a
possibilidade de criarem imagens mentais.
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Diante dessa resposta, percebe-se que o seu prazer pela contação de histórias está
relacionado às suas vivências, ao citar que desde criança foi incentivada e teve a possibilidade de
ter contato com a leitura. A partir disso, pode-se associar ao que é defendido por Petit (2008)
quando cita que para compartilhar o amor pela leitura é preciso experimentá-la. Ao relembrar toda
sua experiência com a leitura, Márcia Evelin evidencia que sua trajetória de vida foi permeada por
ações mediadoras, que fundamentaram sua vida pessoal e profissional. Ainda na resposta de
Márcia Evelin é possível observar o alcance do nível emocional na prática da leitura, defendida
por Martins (1988), quando a mediadora expressa, de maneira afetiva, as relações com a leitura
que teve em sua infância e que foram adotadas na criação de seus filhos, experiências que
fundamentaram seu campo profissional. Tal percepção fica evidente quando Márcia Evelin revela
que seu gosto pela leitura favorece sua atuação como mediadora e possibilita o uso de dispositivos
informacionais, como, por exemplo, a música.
Com base nessa perspectiva da música como dispositivo informacional, foi perguntado a
Márcia Evelin o que a inspirou para compor as músicas que acompanham as histórias dos livros.
Ela respondeu que:
A música e a literatura têm muito em comum. Minha experiência com a literatura
me mostrou isso e abriu brechas para a entrada das melodias nas histórias. Percebi
que muitas das histórias que eu contava tinham um alto grau de musicalidade e que
as crianças amavam as narrativas com músicas. Esse passou a ser o diferencial do
grupo Cafundó, tanto que, quando a história não tinha musicalidade nela mesma,
nós criávamos um espaço para a música entrar, sempre acompanhadas de violão,
tambor e instrumentos de percussão. Mais tarde minha filha mais nova, Tauana
Queiroz, que é compositora e musicista de duas bandas de Teresina e agora segue
também uma carreira solo (toca zabumba e violão) se juntou ao grupo e ainda ficou
mais forte a presença da música nas histórias. Acredito que fui muito incentivada
por alguns programas de TV, que eram fantásticos, como o Vila Sésamo e o Canta
Conto, com Bia Bedran, ambos exibidos pela TV Cultura.
De acordo com a resposta, percebe-se que ao abordar a música, como dispositivo
informacional para narração de histórias, Márcia Evelin atua de maneira consciente, contribuindo
para que o sujeito perceba a associação entre a música e a literatura, visto que o leitor de sua obra
passa a utilizar a música como expressão nas atividades de mediação da leitura. Também fica
evidente sua participação na trajetória de outros sujeitos, como sua filha que reconhece a música
como dispositivo de mediação da leitura literária e passa a atuar nessa atividade, ou seja, por meio
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da mediação da leitura existe um processo multiplicador de percepções e atuações, que confere
sentido a prática mediadora, visto que passa a atuar com o coletivo.
Ao perceber que Márcia Evelin passou a trabalhar com música por notar uma mudança no
comportamento das crianças, pode-se rememorar também a compreensão de Pieruccini (2007)
sobre os dispositivos, uma vez que para a autora são mecanismos que podem atingir os sujeitos
em suas variadas condutas. Portanto, entende-se que não as crianças tiveram suas condutas
alteradas pelo dispositivo, como também a própria contadora de histórias, que de modo sensível
percebeu o outro, suas reações e colaborou para que aquela afetividade estivesse presente nas ações
realizadas por ela, tornando-se, dessa forma, um diferencial.
Também buscou-se compreender a percepção de Márcia Evelin sobre o que é leitura, a
partir de suas experiências como contadora e escritora. A esse respeito a entrevistada comentou:
Gosto de definir leitura não como um conceito estático, mas pelo efeito causado.
A leitura só existe, de fato, quando há certa internalização do que está sendo dito,
no sentido de provocar envolvimento, questionamentos, reflexões e mudanças no
leitor. Muitas vezes parece que estamos lendo, mas estamos decodificando. A
verdadeira leitura (falando de leitura literária) fisga o leitor para um tempo mítico
em que tudo é possível de acontecer e de onde se volta transformado. Você já viu
uma criança lendo ou ouvindo uma história sem que nada externo lhe tire daquele
tempo performático? Eu já. Isso é leitura.
Ao analisar sua resposta, é possível identificar características da leitura no alcance do nível
racional, defendido por Martins (1988), visto que a leitura se apresenta como instância essencial
para a apropriação da informação, tal percepção é notada quando Márcia Evelin diz que por meio
da leitura ocorre ‘questionamentos, reflees e mudanças no leitor’, portanto, quando esse sujeito
se apropria da informação, a partir da leitura, suas percepções e relações com o meio e o outro,
passam por uma transformação.
Para exemplificar esse envolvimento com a leitura, a entrevistada também cita o
comportamento das crianças durante a contação de histórias. Isso se torna evidente na Figura 1,
que ilustra sua performance no Projeto Partilhando Alegria, sendo objetivo estimular a
imaginação através de brincadeiras e contação de histórias.
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Encantada: música que narra história por Márcia Evelin. Brazilian Journal of Information Science: research
trends, vol. 17, publicação continua, 2023, e023026. DOI: 10.36311/1981-1640.2023.v17.e023026.
Figura 1 Participação de Márcia Evelin no projeto Partilhando Alegria, 2016
Fonte: Blog Grupo Cafundó
Ao analisar a imagem pode-se perceber a atenção das crianças na atividade desenvolvida
por Márcia Evelin, postura que se relaciona com a reflexão apresentada por Mateus e Cavalcante
(2017), quando afirmam que a música também possibilita mudanças e afetividade no
desenvolvimento do sujeito. Nesse sentido, a música associada à narrativa da mediadora contribui
para estimular a presença dos leitores, no sentido de envolvê-los na atividade. Vale ainda destacar
que a música, além de ser associada à leitura literária, também é um dispositivo que a mediadora
utiliza para relacionar o ato de brincar, que juntos leitura, música e brincadeiras favorecem a
ludicidade que auxilia na formação dessas crianças leitoras.
A relação afetiva com a leitura que subsidiou sua experiência profissional, como também
a percepção da aproximação das crianças com essa ação, por meio da contação de histórias, foram
elementos importantes que conduziram Márcia Evelin a ampliar seu próprio repertório e atuar de
maneira consciente no uso e na produção de músicas no processo de mediação da leitura.
Outra relação com a música, foi a contribuição desse dispositivo para o processo de
constituição identitária da mediadora, que reflete sobre os aspectos de memória e cultura que
permearam a sua infância. Diante disso, percebe-se que a música pode contribuir para a construção
da identidade sociocultural do indivíduo, pois apresenta-se como uma instância de expressão e
comunicação desse sujeito com o outro, como percebido na relação que Márcia Evelin
desenvolveu com a música.
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Moreira; SANTOS, João Manoel Santana Ferreira; SANTOS, Uélber Conceição dos. Mediação da Leitura
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Ao ser questionada sobre as atividades musicais em sua trajetória pessoal e profissional,
Márcia Evelin afirma que:
Assim como a literatura, a música sempre esteve presente em minha vida. Defendo
a ideia de que as canções de ninar são a primeira forma de literatura, seguida das
cantigas de roda, da tradição oral e da cultura popular. Tento ressignificar todo
esse universo musical nas minhas criações literárias e contações de histórias.
Márcia Evelin relaciona a música à leitura literária tomando como base o seu repertório
cultural, visto que ela cita que as canções de ninar e as cantigas de roda se relacionaram com os
elementos do seu lugar de pertença. Dessa forma, entende-se que a música tanto expressa aspectos
de determinado contexto sociocultural, quanto ela está inter-relacionada a práticas culturais desse
território, tanto um aspecto quanto outro, favorecem a constituição memorialística e identitária dos
sujeitos mediadores/leitores/ouvintes, que passam a associar a música a determinado tempo e/ou
espaço que essa evoca. Diante do exposto, afirma-se que Márcia Evelin ao produzir textos e
canções materializa um conjunto de elementos que integram os bens culturais de seu contexto,
uma vez que ela produz suas criações literárias e realiza as narrativas, com base em sua memória
individual que também está associada à memória coletiva de seu lugar de pertencimento.
Em relação às histórias narradas com músicas, Márcia Evelin argumenta que a essência
lúdica e criativa dos elementos sonoros subsidia uma experiência mais prazerosa e dinâmica.
Histórias com músicas agradam muito e aumentam a interação participativa do
leitor. Algumas histórias possuem musicalidade nas próprias palavras ou
onomatopeias presentes no enredo, o que as torna mais fácil para musicar trechos,
outras não. O importante é ser criativo e ter consciência de que não é preciso
utilizar somente músicas do universo infantil para fazer parte de uma história. Eu
conto uma história da escritora Sylvia Orthof, por exemplo, que se passa no Rio
de Janeiro e início cantando a música Garota de Ipanema. É claro que uma criança
pequena não vai fazer a associação dessa música com a cidade do Rio de Janeiro,
mas onde tem criança, tem sempre um adulto. Por isso sempre digo que conto
histórias para crianças de todas as idades. Os adultos também adoram ouvir
histórias. O que fica é a musicalidade, a delícia de ter a palavra narrada e cantada.
Analisando este comentário, é possível observar o olhar atento e cuidadoso da mediadora,
que busca proporcionar a melhor experiência possível para o seu público, ao buscar envolver os
leitores de diferentes idades, quando percebe que a partir da música ela pode ampliar o alcance do
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texto narrado. A música tanto está relacionada ao texto quanto a possibilidade de subsidiar que
outros sujeitos possam fazer essa associação. Márcia Evelin complementa:
A meu ver tanto a literatura como a música são veículos de expansão da cultura de
um povo. Daí porque, enquanto professores/mediadores da leitura
bibliotecários/contadores de histórias devemos ter cuidado com o que escolhemos
para contar e cantar para as crianças e jovens
Há, portanto, um processo de seleção de conteúdos que se relacionam com o repertório
informacional da mediadora, como também dos demais leitores que participam da ação de
mediação. Nesse sentido, a mediação da leitura permeia desde as ações em que o leitor ainda não
está fisicamente presente até a sua interação e participação, demandando em toda sua extensão
uma interferência consciente, conforme defendem Sousa et al. (2020).
A relação da mediação da leitura envolvendo crianças e adultos pode ser ilustrada pela
Figura 2, em que se percebe as crianças próximas à mediadora e os adultos que acompanham,
como também é um exemplo de uma narrativa com música, visto que atrás de Márcia Evelin é
possível ver uma pessoa com violão.
Figura 2 Participação de Márcia Evelin no SESC Cultural, 2021
Fonte: Evelin 2021
Para explicar o uso de elementos culturais e musicais na escrita dos seus livros, a mediadora
revelou que a literatura alinhada com elementos socioculturais é capaz de fortalecer os traços
identitários do sujeito-leitor. Ainda de acordo com Márcia Evelin:
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Quando escrevemos histórias de qualidade sempre trazemos junto conteúdo
sociocultural. Aliás essa é uma grande preocupação minha. Dificilmente você vai
ver uma história minha que não tenha esses elementos. Acredito na literatura como
grande aliada para visibilizar e fortificar laços identitários e culturais. Por isso não
costumo contar histórias "bobinhas" que são usadas como pretexto para ensinar
gramática, por exemplo. Acredito nas histórias que trazem conteúdos que
provoquem o leitor, que ensinem, mas de maneira única para cada um que a lê ou
escuta. Isso cabe para os elementos musicais que a compõem. Como exemplo trago
aqui as músicas da cultura popular presentes nos meus livros "O Boi do Piauí"
(2015; 2021) e "Menino do Congo" (2022) para compor a narrativa, que, por sinal,
podem ser ouvidas pelo leitor, com a presença de um QR Code, que se encontra na
contracapa dos livros. Vemos a tecnologia ajudando a literatura e a música no que
conhecemos hoje como "livro objeto".
Percebe-se que o objetivo da mediadora é construir histórias que instiguem o leitor a refletir
sobre aquilo que está lendo e, com a música, esse alcance ocorre de maneira enriquecedora
despertando o interesse do conhecer, conforme afirmam Mateus e Cavalcante (2017).
Contextualizando a introdução de recursos tecnológicos na produção de Márcia Evelin, a
Figura 3 refere-se ao QR Code, que remete à página oficial do Youtube da mediadora, onde o leitor
pode ter acesso às músicas do livro Menino do Congo (2022).
Figura 3 QR Code que dá acesso às músicas do livro Menino do Congo
Fonte: Evelin 2021.
Neste ponto, é válido ressaltar a postura consciente da mediadora ao disponibilizar QR
Code de vídeos disponíveis no YouTube em seus livros, ou seja, ela amplia a experiência do leitor
ao possibilitar que o mesmo acesse outros dispositivos informacionais relacionados que, juntos
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contribuirão para a apropriação da informação, conforme defende Antunes (2003), quando associa
a leitura à ampliação do repertório de informação. Com a variedade de recursos tecnológicos, o
uso das redes sociais tem favorecido as possibilidades de mediação da leitura, que para além da
ação presencial também pode ser realizada por meio dos ambientes virtuais. Assim, a mediação da
leitura pode alcançar outros leitores que não estão presentes fisicamente, portanto, tais dispositivos
tecnológicos favorecem a aproximação entre diferentes sujeitos, como também possibilitam que
esses possam ter acesso aos conteúdos disseminados, favorecendo a interação dos leitores e
mediadores com esses dispositivos.
Quanto à interação desenvolvida na mediação da leitura, que perpassa o ambiente físico
em que a ação mediadora é realizada, Márcia Evelin destaca na resposta abaixo que sua
interferência ocorre através das ações que realiza antes, durante e depois da leitura e/ou contação
de histórias.
Todas as linguagens da arte influenciam a leitura literária, porque a literatura
também é arte. Costumo trabalhar a contação de histórias de maneira performática,
no que intitulo, mediação performática para escuta de narrativas, ou seja, um
conjunto de ações que realizo antes, durante e depois da leitura e/ou contação de
histórias, com a finalidade de promover uma maior recepção do público. Dentre as
ações estão a música, as rodas dançantes, dentre outras.
No que se refere às diferentes abordagens e utilização de dispositivos na mediação da
leitura, Márcia Evelin, por meio da resposta acima, ratifica que não se limita ao texto escrito, mas
busca interagir com os leitores por meio de outros dispositivos que se articulam à ação mediadora.
Vale também destacar, que para além da expressão musical, da oralidade, da exposição das
imagens que estão nos livros, também existe o uso dos gestos, visto que a mediadora menciona
que realiza uma ação performática, ou seja, seus gestos também apresentam informações para os
leitores. Assim, torna-se relevante destacar que o mediador da leitura busque as várias
possibilidades de atrair a atenção dos leitores, favorecendo que as informações a serem
apresentadas por meio da mediação da leitura os alcancem e, mais que o leitor ter acesso ao
dispositivo ou à informação, ou o uso de várias expressões por parte dos mediadores; os leitores e
mediadores possam ter nesse conjunto de repertórios e dispositivos a possibilidade de compreender
os textos e se apropriarem da informação.
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É importante que o mediador desenvolva suas ações considerando seus traços culturais,
como também dos sujeitos leitores e contexto sociocultural onde a ação é realizada. Ao enaltecer
as raízes, os saberes e tradições presentes nos dispositivos mediados, favorece no desenvolvimento
e fortalecimento identitários dos que participam da ação. Esses elementos compõem as ações
realizadas por Márcia Evelin, que afirma:
Fui criada valorizando o que vem do povo, da tradição oral, das nossas raízes
culturais e memórias ancestrais. Adoro contar histórias africanas, por exemplo, e
trazer as músicas entoadas em línguas do continente. As histórias do escritor
nigeriano, Sunny, são ricas em melodias na língua ibo, que, ousadamente, musico
e canto quando conto essas histórias.
A ligação com a ancestralidade e o interesse pelas raízes africanas, conduz Márcia Evelin
a desenvolver ações e conteúdos baseados nessa relação, com o interesse de conduzir o leitor a
compreender e se apropriar de determinados traços culturais, (re)conhecendo raízes de diferentes
povos formadores da sociedade brasileira, possibilitando a identificação de vestígios identitários
que conferem pertencimento, e apoia a apropriação e o respeito à diversidade cultural, de maneira
lúdica e dinâmica, como se pode observar na Figura 4.
Figura 4 Músicas do livro Menino do Congo na plataforma digital YouTube
Fonte: Canal de Márcia Evelin no YouTube
Na plataforma digital YouTube, em seu canal “Márcia Evelin de Carvalho”, a mediadora
cria vídeos como forma de interação com os leitores, em que apresenta as músicas relacionadas
aos seus livros, a exemplo da obra “Menino do Congo”. A adoção de um dispositivo como o vídeo,
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permite que o leitor possa, de maneira lúdica, identificar e se apropriar de elementos apresentados
na narrativa literária, musical, como também que estão presentes no contexto sociocultural.
O processo reflexivo dos leitores, além de permear as atividades lúdicas também tem se
consolidado no desenvolvimento de leituras críticas que são evidenciadas nos textos científicos,
conforme indica Márcia Evelin:
Meus alunos da graduação em Letras e Pedagogia costumam dizer que o meu
entusiasmo e criatividade ao contar histórias e torná-las vivas serve de estímulo e
exemplo para eles. Tive o prazer de ter alguns dos meus livros como objeto de
estudo de TCC's e trabalhos de PIBIC em universidades locais e de outros estados.
Fico feliz, como reconhecimento, mas isso não me faz ser melhor que ninguém,
estou constantemente aprendendo e descobrindo coisas novas com eles. Sou uma
eterna aprendiz.
É importante que o mediador da leitura alcance a percepção consciente que demonstra
Márcia Evelin, de contribuir com os leitores para além dos objetivos inicialmente traçados. A
postura da mediadora, como também suas produções, têm alcançado resultados e contribuído para
a formação de sujeitos leitores que atuam como multiplicadores da atuação desenvolvida por
Márcia Evelin, ou seja, esses documentos científicos que relatam e analisam suas atividades podem
alcançar outros sujeitos que têm em Márcia Evelin um modelo que fundamenta suas ações
mediadoras.
5 Considerações finais
A partir da análise dos resultados, é possível constatar que a prática leitora, em diferentes
vivências e aspectos da vida do leitor, favorece a base necessária para a atuação do mediador da
leitura. Observa-se, a partir da experiência de Márcia Evelin, que sua formação leitora e suas
vivências familiar e profissional a constituíram como uma mediadora da leitura que possui
sensibilidade, um agir humanizador e formativo pelo e com o coletivo. Assim, torna-se essencial
a formação leitura e a prática profissional, junto ao embasamento teórico, que revela uma ação
consciente, ao favorecer uma amplitude sobre as possibilidades que existem no agir mediador.
Através dessa investigação também foi possível constatar que a música se apresenta como
dispositivo informacional que pode ser associado à leitura literária, ao ato de brincar, aos gestos,
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à evocação de elementos lúdicos, entre outros dispositivos e ações, que conjuntamente podem
integrar a mediação da leitura. Tais aspectos contribuem para que o leitor possa interagir e tenha a
motivação necessária para participar da ação mediadora. Assim, a música, entre os dispositivos
citados, possui elementos característicos e demarcadores de seus produtores que ao ser utilizada
na mediação da leitura pode aproximar e favorecer um terreno propício de expressão para os
leitores.
Nessa conjuntura, a música pode contribuir para a construção e o fortalecimento da
identidade sociocultural do sujeito-leitor, visto que ela se apresenta como uma instância de
expressão desse sujeito com o outro, conforme observado na atuação de Márcia Evelin, como
mediadora, ao associar a música com a leitura literária. Reitera-se que a música possibilita a
evocação dos traços culturais que são representativos do contexto em que a ação mediadora ocorre,
como também pode apresentar outros referenciais de cultura e territórios distintos, enaltecendo
ancestralidades, saberes e tradições que são representativos dos diferentes grupos formadores da
sociedade.
É importante que o mediador da leitura desenvolva uma ação consciente, como demonstra
Márcia Evelin, ao contribuir com os leitores, uma postura pautada na atenção aos traços culturais
presentes nos dispositivos e que são representativos dos sujeitos-leitores; que acompanha a
dinamicidade e inovação de dispositivos mediadores, que alcance leitores de diferentes gerações,
por exemplo ao ampliar os espaços de leituras com o uso de redes sociais; ao produzir textos
literários e músicas que são alinhadas e que possam também ampliar o repertório informacional
do leitor, favorecendo o processo de apropriação da informação. Somada a tais ações, também é
importante que o mediador compreenda que a ação se faz para e com o coletivo, dessa maneira,
torna-se essencial a possibilidade de parcerias e a abertura de processos investigativos, como este
e de outros pesquisadores, que Márcia Evelin acolhe e possibilita que reflita sobre sua atuação, o
que mutuamente potencializa o fortalecimento de práticas de mediação da leitura.
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Notas
(1) Blog: http://grupocafundo.blogspot.com/
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Instagram: https://www.instagram.com/marciaevelindecarvalho/
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Received: 02/06/2022 Accepted: 10/05/2023