Bancada evangélica
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Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.6, n.1, p. 131-146, Jan./Jun., 2020
B
ANCADA EVANGÉLICA
:
UMA ELITE PARLAMENTAR
?
EVANGELICAL BENCH: A PARLIAMENTARY ELITE?
Alexandre Barbalho
1
Giuliano Barboza
2
RESUMO:
O objetivo deste trabalho é investigar se os deputados ligados à Bancada
Evangélica (BE) integram a elite parlamentar brasileira e ocupam espaços de
poder no Congresso Nacional. A hipótese é a de que tanto pelo seu tamanho,
quanto pela exposição midiática que alcançam seus membros e suas agendas, a BE
consegue impor nomes nas posições estratégicas da Câmara Federal e participar
das tomadas de decisão sobre os temas centrais da agenda do poder legislativo.
Para dar conta desta hipótese, se identificou se os parlamentares evangélicos 1.
ocuparam cargos relevantes nas Mesas Diretoras e nas Comissões Permanente e 2.
foram citados na pesquisa “Os cabeças do Congresso Nacional”. Como resultado,
conclui-se que, a despeito de seu tamanho e visibilidade, os deputados evangélicos,
em
sua grande maioria, não fazem parte da elite do Congresso Nacional.
PALAVRAS-CHAVE
: Elite; Evangélicos; Poder Legislativo
ABSTRACT: The objective of this work is to investigate whether the deputies linked to the
Evangelical Bench (EB) are part of the Brazilian parliamentary elite and occupy spaces of power in
the National Congress. The hypothesis is that both due to its size, as well as the media exposure that
its members and their agendas reach, EB is able to impose names on the strategic positions of the
Federal Chamber and participate in decision-making on the central themes of the legislative power
agenda. To account for this hypothesis, it was identified whether evangelical parliamentarians 1.
occupied relevant positions in the Executive Boards and Permanent Commissions and 2. were
mentioned in the survey “The heads of the National Congress”. As a result, it is concluded that,
despite their size and visibility, evangelical deputies, for the most part, are not part of the elite of
the National Congress.
KEYWORDS: Elite; Evangelicals; Legislative power
1
Professor dos PPGs em Sociologia e em Políticas Públicas da UECE e em Comunicação da UFC. E-mail:
alexandrealmeidabarbalho@gmail.com
2
Jornalista. Mestre em Políticas Públicas e Planejamento pela Universidade Estadual do Ceará. giulianovand-
son@gmail.com
http://doi.org/10.36311/2447-780X.2020.v6.n1.10.p131
BARBALHO, A.; BARBOZA, G.
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INTRODUÇÃO
É fato inconteste que as discussões sobre a política brasileira contem-
porânea, tanto na academia, quanto em diferentes espaços de sociabilidade, abor-
dam com frequência a atuação dos parlamentares evangélicos, integrantes de -
rios partidos, inclusive de esquerda, e reunidos na Frente Parlamentar Evangélica
(FPE) ou simplesmente Bancada Evangélica (BE), criada em 2003.
Até os anos 1970, a atuação política dos evangélicos era extremamen-
te tímida, limitando-se a demandas de caráter corporativo, como comprova o
bordão da época de que “crente não se mete em política”. Se sempre houve uma
proporção ainda que pequena de cristãos protestantes no poder legislativo entre
1945 e 1986, os pentecostais eram conhecidos mesmo por seu alheamento em
relação à vida política (PIERUCCI, 1996).
Porém, na década seguinte, observa-se uma mudança de postura entre
os pentecostais com a publicação do livro Irmão vota em irmão. Os evangélicos,
a constituinte e a bíblia de Josué Sylvestre em 1986. Pertencente à Assembleia
de Deus e assessor do Senado, o autor criou um mantra que passou a nortear
as igrejas evangélicas brasileiras: “Pastores do Brasil, em nome de Jesus Cristo,
despertem para a realidade da conjuntura nacional; não deixem seus ‘rebanhos’
sem uma orientação segura, coerente, oportuna e bíblica” (SYLVESTRE, 1986,
p. 83). Esta passagem, de acordo com Trevisan (2013), é uma das principais mo-
tivações dos líderes pentecostais para sua mudança de atitude em relação à polí-
tica. A isso, soma-se o crescimento do número de evangélicos no país, ou seja, de
potenciais eleitores.
Desta forma, no processo eleitoral para a Assembleia Constituinte de
1987, os evangélicos se articularam diante do temor de que a Igreja Católica se
fortalecesse e retomasse seus privilégios junto ao Estado, ou que houvesse uma
ameaça à liberdade religiosa e à moralidade cristã por conta de congressistas não
religiosos. Com isso, lançaram candidatos e 32 deles foram eleitos. Daquele mo-
mento em diante, passou a valer o slogan: “irmão vota em irmão” o que resultou
no gradual crescimento no número de deputados evangélicos no país, a ponto de
se transformar em um fenômeno hoje incontornável para quem pretende analisar
a política brasileira.
Este agendamento do debate público por parte dos deputados evan-
gélicos, se deve, por um lado, ao tamanho da BE dentro do Congresso - em
matéria de início de 2020, o jornal A Folha de São Paulo informa que este bloco
reúne, oficialmente, 195 congressistas, ou seja, 38% do total, e a expectativa de
seus integrantes é que esse número cresça nas próximas eleições federais (2022),
tanto em dimensão, quanto em engajamento
3
. Segundo levantamento feito para
este artigo no site da Câmara Federal, na legislatura eleita em 2018, pela primeira
3
Sub-representados, evangélicos veem espaço para crescimento no Congresso. Folha de São Paulo, Poder,
24.jan.2020.
Disponível
em
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/01/subrepresentados-evangelicos-
-veem-espaco-para-crescimento-no-congresso.shtml. Acesso em 12.fev.2020.
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vez, todos os estados da Federação elegeram pelo menos um evangélico, o que
demonstra a capilaridade do grupo.
Por sua vez, ainda que os deputados evangélicos tenham diversas
profissões, o número daqueles que se consideram pastor cresceu nos últimos
anos, reforçando a ligação da representação política com a instituição religiosa
(Tabela 01)
Tabela 01
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
Outro dado importante relativo à morfologia da BE diz respeito à sua
distribuição regional. A presença de deputados evangélicos é significativamente
maior nas regiões Sudeste e Nordeste (Tabela 02), com destaque para os estados
de São Paulo e Rio de Janeiro (Quadro 01).
Tabela 02
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
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Quadro 01
UF
2003
2007
2011
2015
2019
TOTAL
9
9
14
15
13
60
7
5
12
15
16
55
9
6
7
6
7
35
6
3
5
11
10
35
3
4
5
4
4
20
3
2
5
5
4
19
5
3
2
4
5
19
3
2
3
6
5
19
2
4
2
5
2
15
10º
2
2
3
4
1
12
11º
2
3
3
2
2
12
Elaboração própria. Fonte: site da Câmara Federal
No que diz respeito à questão de gênero, como era de se esperar, na BE
predominam os deputados. Contudo, observa-se um crescimento significativo da
bacanda evangélica feminina na última eleição (Tabela 03).
Tabela 03
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
Por outro, a BE costuma pautar a grande imprensa devido ao va- lor-
notícia das propostas defendidas por seus parlamentares, voltadas princi-
palmente para as questões morais e dos costumes, a partir de uma perspectiva
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conservadora e controversa, tais como os posicionamentos relativos ao aborto, à
união e aos direitos homoafetivos, à escola sem partido, à redução da maiorida-
de
penal, entre outros (PRANDI; SANTOS, 2017; QUADROS; MADEIRA,
2018). A isso, soma-se o fato de que, para propagar suas ideias e ampliar a
captação de fieis (eleitores), as igrejas cristãs, com destaque para as evangéli-
cas, buscaram brechas e facilidades legais com o intuito de ocupar os meios
de comunicação massiva. Inicialmente no rádio, posteriormente na televisão
(CUNHA, 2017) e atualmente nas redes sociais da internet, as lideranças reli-
giosas (pastores, bispos e cristãos leigos) buscam seus potenciais públicos e for-
talecem seu proselitismo (MARTINO, 2003). Essas lideranças se transformam em
personalidades midiáticas e, utilizando este capital midiático e o apoio/voto
de
suas igrejas, entram no campo político.
No entanto, a despeito desta recorrente referência aos deputados
evangélicos na esfera pública brasileira, qual é, de fato, o poder desta Bancada
e de seus membros? Eles conseguem assumir posições estratégicas na estrutura do
parlamento, ou seja, na composição da Mesa Diretora e das Comissões Per-
manentes? Ou fazem parte da lista dos deputados mais influentes da Câmara
Federal?
O objetivo deste trabalho é investigar se os deputados ligados à BE
encontram-se entre os integrantes da elite parlamentar brasileira, aquele grupo que,
na definição de Messenberg (2002; 2008), se destaca dos demais congres-
sistas
por conta das posições que ocupa, dos interesses que representa e/ou da
reputação alcançada. Definição que converge com as de Queiroz (2019) e Fe-
lisbino (2007), entre outros, para quem a elite parlamentar é composta por um
grupo pequeno de políticos que apresentam habilidades que os capacitam nas
tarefas de coordenar e decidir pelos demais colegas.
A relação entre deputados, bancada e elite se coloca como varável
importante na medida no funcionamento ordinário do Congresso Nacional,
a organização dos deputados em temáticas de interesses comuns (bancadas e
frentes) facilita tanto a relação com o poder executivo, como potencializa sua
influência e poderes dos deputados-membros sobre os demais colegas, posto
que o arranjo institucional da Câmara disciplina os parlamentares a agirem
coletivamente.
Dito de outra forma, os deputados evangélicos atuam como “parla-
mentares que, dispondo de determinados recursos de poder, exercem influên-
cia determinante nas principais decisões do Congresso Nacional e do Estado,
interferindo de maneira decisiva nos rumos da sociedade” (MESSENBERG,
2008, p. 24)?
A constituição desta elite resulta da seleção e do recrutamento de de-
terminados parlamentares para a ocupação de “espaços de poder”, espaços estes
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que se referem “tanto às posições estratégicas na estrutura da organização quan-
to a determinadas práticas que criam e envolvem recursos de poder” (MES-
SENBERG, 2008, p.23). Desse modo, a ascensão de um deputado ao restrito
bloco de poder do Congresso Nacional relaciona-se a determinantes específicos,
que podem ser atendidos de modo parcial ou total, tais como a representação
de interesses sociais e/ou institucionais organizados e a posse individual de fa-
culdades “especiais” reconhecidas entre os membros dessa comunidade como
próprias de um líder.
A hipótese da pesquisa que fundamenta este artigo é a de que tanto
pelo seu tamanho, quanto pela exposição midiática que alcançam seus mem-
bros e suas agendas, a BE consegue impor nomes nas posições estratégicas da
Câmara Federal e participar das tomadas de decisão sobre os temas centrais da
agenda do Congresso, integrando, dessa forma, a elite parlamentar do país.
Para dar conta desta hipótese, foram estabelecidas duas frentes de
análise. A primeira identificou se os parlamentares evangélicos ocuparam cargos
relevantes dentro da Câmara dos Deputados entre 2003 e 2018
4
, a partir das
informações disponibilizadas pelo site da Câmara Federal. Ou seja, quantos
dentre eles foram presidente da Casa e membros das Mesas Diretoras, e/ou
presidente de algumas das 25 Comissões Permanente.
A segunda levou em consideração a possível citação destes parlamen-
tares na pesquisa anual feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Par-
lamentar (DIAP), por meio da qual são conhecidos os “cabeças” do Congresso
Nacional, aqueles parlamentares mais influentes, que por suas habilidades pes-
soais decidem e/ou sustentam as decisões do poder legislativo federal.
O artigo está dividido em duas partes, fora esta introdução, seguidas
das conclusões. Na primeira, analisamos as posições ocupadas pelos deputados
da BE na hierarquia de poder da Câmara dos Deputados. Na segunda, o análise
recai sobre a presença destes deputados na lista dos “cabeças” do Congresso
elaborada anualmente pelo DIAP.
A PRESENÇA EVANGÉLICA NAS POSIÇÕES DE PODER DA CÂMARA
DOS DEPUTADOS
A partir de Wright Mills e sua abordagem posicional sobre elite, ou
seja, uma minoria poderosa “compuesta de hombres cuyas posiciones les permi-
ten trascender los ambientes habituales de los hombres y las mujeres corrientes”,
“oposiciones desde las cuales sus decisiones tienen consecuencias importantes”,
pois se trata de “los puestos de mando de la estructura social” (MILLS, 1989,
4
O universo de análise é o dos deputados eleitos nos pleitos de 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018, excluindo os
suplentes.
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p. 11-12), analisa-se a seguir a posição assumida na estrutura e, consequente-
mente, na hierarquia formal da mara dos Deputados. Comecemos analisan-
do a ocupação dos cargos de Presidente e das Mesas Diretoras (presidente, 1º
vice-presidente, vice-presidente, secretário, secretário, secretário,
secretário, suplente, suplente, suplente, suplente) responsáveis
por dirigir os trabalhos legislativos e administrativos
5
. Os cargos da Mesa são
distribuídos, por ordem de importância, aos blocos ou partidos, de acordo com
o tamanho de cada um.
De 2003 até 2018, foram onze presidentes, tendo dois renunciados
ao cargo
6
, para os quais foram feitas novas eleições. Deste universo, apenas um
era evangélico, o deputado Eduardo Cunha. Por sua vez, 101 parlamentares
ocuparam cargos nas nove mesas diretoras, sendo que 12 (11,9%) eram evan-
gélicos (Tabela 04), distribuídos de forma irregular ao longo do período anali-
sado, mas tendo alcançado seu ponto mais alto em 2017 (Tabela 05).
Tabela 04
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
5
Entre as atribuições específicas da Mesa Diretora estão as de elaborar pareceres; administrar as instalações
físicas da Câmara Federal; decidir a ocupação do gabinete e do apartamento funcional; examinar pedidos de
ressarcimento de despesas médicas; dar credencial de acesso à Casa; contratar funcionários de confiança sem
concurso, além dos funcionários do próprio gabinete.
6
O deputado Severino Cavalcanti, por envolvimento com corrupção, e o deputado Michel Temer, que renun-
ciou para se candidatar ao cargo de vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff em 2010.
BARBALHO, A.; BARBOZA, G.
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Tabela 05
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
O levantamento revela ainda que os cargos ocupados pelos parlamenta-
res evangélicos foram os de posição mais baixa na hierarquia, com destaque para
as suplências, com metade dos cargos (Tabela 06)
Tabela 06
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
Analisemos, agora, as posições ocupadas pelos deputados da BE nas 25
Comissões Parlamentares permanentes, ou seja, aquelas que integram a estrutura
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institucional da Casa
7
. Ainda que cada Comissão possua um presidente e três
vice-presidentes, que são eleitos por seus pares, para fins desse estudo, iremos
considerar apenas o primeiro, que é o cargo mais disputado entre os partidos e
os blocos.
As Comissões atuam fiscalizando os atos do Governo Federal e dando
pareceres de caráter técnico em seus diferentes campos temáticos, o que implica
nas seguintes atribuições: discutir e votar projetos de lei; realizar audiências públi-
cas; convocar ministros de Estado para prestar informações sobre suas atribuições;
receber representação de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades
ou entidades públicas; e determinar a realização de diligências e auditorias de
naturezas contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial na admi-
nistração dos Três Poderes e na administração indireta, com auxílio do Tribunal
de Contas da União (CÂMARA DOS DEPUTADOS, s/d).
O seu caráter técnico não descarta a importânca política das Comis-
sões. Como situam Pereira e Mueller (2000), uma de suas principais funções é
analisar e dar parecer sobre os projetos enviados pela Mesa Diretora. Além disso,
possuem o poder terminativo ou conclusivo, ou seja, podem aprovar uma pro-
posta diretamente, sem que seja necessário submetê-la ao plenário da Câmara.
No período abordado, foram eleitos 389 presidentes de Comissões
8
,
dos quais 42 (10,8%) eram evangélicos. Como alguns deles foram eleitos para
mais de uma Comissão em anos diferentes, em 46 vezes as presidências foram
ocupadas por um parlamentar da BE. Eles presidiram 21 das 25 Comissões, o
que revela uma significativa capilaridade temática destes deputados, contrapon-
do-se ao senso comum de que sua atuação é monotemática. Paradoxalmente, as
exceções foram as de Finanças e Tributação (CFT), de Educação (CE), de Cultura
(CCULT) e de Defesa dos Direitos da Mulher (CMULHER), o que valeria um
aprofundamento das causas da não ocupação destes espaços de poder (educação,
cultura e direitos da mulher), loci privilegiados da chamada “guerra cultural” em
curso no país e alimentada, em grande parte, pelas lideranças evangélicas (ALEN-
CAR, 2018).
7
As Comissões Permanentes são: 1- Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural;
2- Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; 3- Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania; 4- Comissão de Cultura; 5- Comissão de Defesa do Consumidor; 6- Comissão de Defesa dos Direitos
da Mulher; 7- Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa; 8- Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas
com Deficiência; 9- Comissão de Desenvolvimento Urbano; 10- Comissão de Desenvolvimento Econômico, In-
dústria, Comércio e Serviços; 11- Comissão de Direitos Humanos e Minorias; 12- Comissão de Educação; 13- Co-
missão do Esporte; 14- Comissão de Finanças e Tributação; 15- Comissão de Fiscalização Financeira e Controle;
16- Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia; 17- Comissão de Legislação
Participativa; 18- Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; 19- Comissão de Minas e Energia;
20- Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; 21- Comissão de Segurança Pública e Combate ao
Crime Organizado; 22- Comissão de Seguridade Social e Família; 23- Comissão de Trabalho, de Administração e
Serviço Público; 24- Comissão de Turismo; 25- Comissão de Viação e Transportes.
8
Algumas das comissões foram criadas depois de 2003, então nem todas tiveram 16 eleições, tendo em vista
que cada mandato de presidente dura um ano.
BARBALHO, A.; BARBOZA, G.
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As Comissões mais ocupadas pelos evangélicos são as de Legislação
Participativa (CLP), de Segurança Pública e Combate Ao Crime Organizado
(CSPCCO) e de Viação e Transporte (CVT). Cobiçada por muitos
parlamentares e considerada a mais importante, a Comissão de Constituição
e Justiça e de Cidadania (CCJC) já teve por duas vezes o comando de
parlamentares evangélicos (Tabela 07).
Tabela 07
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
Observamos também que nos últimos quatro anos analisados houve
um aumento significativo no número de presidentes evangélicos nas Comissões,
o
que basicamente corresponde ao período do processo de impedimento da en-
tão presidenta Dilma Roussef relação esta [impedimento e BE] estabelecida
pela literatura (ver, entre outros, PRANDI; CARNEIRO, 2017 e REBELLO et
al, 2019). Entre 2015 e 2018, foram 25 presidentes evangélicos, o que significa
54,3% do universo de 46 presidentes eleitos durante os 16 anos analisados e um
crescimento de 119% em quatro anos. Até 2015, a média de presidentes evangé-
licos por ano era de 3,3, depois de 2015 esta média subiu para 6,25 (Tabela 08).
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Tabela 08
Elaboração própria. Fonte: site da mara Federal
Feita a análise das posições de poder ocupadas pelos deputados da BE,
podemos passar para a DIAP e identifcar os “cabeças evangélicos” do Congresso.
OS
PARLAMENTARES
EVANGÉLICOSNASCABEÇASDOCONGRESSO?
A publicação anual “Cabeças do Congresso”, organizada pelo DIAP,
se tornou referência para os estudiosos e agentes políticos e econômicos do país.
Trata-se do resultado de um acompanhamento permanente e sistemático sobre o
Congresso Nacional, visando traçar um perfil das principais habilidades dos par-
lamentares que realmente exercem influência no processo decisório
9
.
A metodologia utilizada sustenta-se em critérios qualitativos e quanti-
tativos e envolvem a combinação de aspectos posicionais (institucionais), reputa-
cionais, decisionais e de não-decisão. Na abordagem posicional, como antecipado
na seção anterior, se identifica quem ocupa as posições de mando nas estruturas
formais das organizações (no nosso caso, na Câmara Federal). Na reputacional,
se distingue “os indivíduos que detêm um poder informal com base na sua re-
putação”, a partir da informação dada por quem conhece bem o meio sobre as
“posições de poder presumidas” (COENEN-HUTHER, 2013, p. 148). Na deci-
sional, também conhecida como “análise de acontecimentos”, objetiva “apreciar o
poder a partir de manifestações observáveis, a saber, a aptidão para pesar o curso
dos acontecimentos exercendo influência sobre uma decisão a ser tomada” (COE-
NEN-HUTHER, 2013, p. 148).
9
Como é lógico, trata-se apenas dos parlamentares que estão no efetivo exercício do mandato.
BARBALHO, A.; BARBOZA, G.
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Por meio desse constructo metodológico, o objetivo é identificar os 100
parlamentares mais habilidosos “para elaborar, interpretar, debater ou dominar
regras e normas do processo decisório, bem como para manipular recursos de
poder, de tal modo que suas preferências, ou do grupo que lideram, prevaleçam
no
conflito político” (QUEIROZ, 2019, p. 08). Lidando com estas habilidades,
os
“cabeças” são capazes de criar seu papel e o contexto para desempenhá-lo”
(QUEIROZ, 2019, p. 10), atuando como “operadores-chave” na Câmara dos
Deputados.
Para proceder a esta classificação, como dito anteriormente, o DIAP
adotou critérios qualitativos e quantitativos que incluem aspectos posicionais:
o vínculo formal ou o posto hierárquico ocupado na estrutura da organização;
reputacionais: a percepção e o juízo que outras pessoas têm ou fazem sobre de-
terminado deputado; e decisionais; a capacidade de liderar e influenciar escolhas.
os aspectos da não-decisão são caracterizados por ações de bastido-
res destinadas a ocultar ou criar barreiras ou obstáculos à exposição do conflito,
evitando que matérias com potencial explosivo ou ameaçador sejam incluídas na
agenda política. A não-decisão envolve a manipulação de regras, procedimentos,
instituições, mitos, valores etc. Assim, exerce este tipo de influência, por exemplo,
o deputado que “consegue evitar que o processo de coleta de assinaturas para a
instalação de uma CPI seja concluído ou mesmo iniciado” ou aquele cuja sim-
ples não-manifestação sobre um determinado assunto pode ser decisivo para que
este sequer seja aventado” (QUEIROZ, 2019, p. 10).
Como esclarece Mills, o fato dos integrantes das elites tomarem ou
não decisões é menos importante do que o fato de ocuparem posições centrais.
Com isso, “el que se abstengan de actuar y de tomar decisiones es en mismo
un acto que muchas veces tiene consecuencias más importantes que las decisio-
nes que adoptan, porque tienen el mando de las jerarquías y organizaciones más
importantes de la sociedad moderna” (MILLS, 1989, p. 12).
Com base nos critérios descritos acima, o DIAP faz entrevistas com
senadores e deputados federais; assessores do Congresso; jornalistas, cientistas
e analistas políticos. Além disso, é promovido, em relão a cada parlamentar,
um exame exaustivo de vários indicadores: atividades profissionais; vínculos com
empresas ou organizações econômicas ou de classe; formação e vida acadêmi-
ca; pronunciamentos; frequência com que é citado na imprensa; cargos públicos
exercidos dentro e fora do Congresso; relatorias de matérias relevantes; forças ou
grupos políticos de que faça parte etc.
A partir desta metodologia, de 2003 a 2018, foram 1600 políticos refe-
rendados como membros da elite parlamentar brasileira. Destes, 1070 são depu-
tados federais, com uma média de 66,8 deputados federais por ano (Tabela 09).
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Tabela 09
Elaboração própria. Fonte: DIAP
Em relação ao número de indicações de deputados evangélicos entre
os mais influentes, temos um total de 50, ou seja, uma média de 3,13 deputados
por ano. Isso significa que dentro do universo analisado temos um percentual de
4,67% (Tabela 10).
Tabela 10
Elaboração própria. Fonte: DIAP
O total de deputados evangélicos entre os mais influentes a cada ano
avaliado não se altera muito ao longo do período, mantendo-se entre 1 e 5 indica-
BARBALHO, A.; BARBOZA, G.
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dos, contudo, percentualmente, observa-se uma melhora na performance destes
deputados na Câmara a partir de 2012, quando diminui a quantidade total de
deputados entre os parlamentares mais influentes, mas permanece a mesma mé-
dia entre os membros da BE (Tabela 11).
Tabela 11
Elaboração própria. Fonte: DIAP
Contudo, estratificando estes dados, constatamos que, na realidade,
trata-se de onze deputados ocupando essas posições e que destes, quatro concen-
tram 78% das indicações: Onyx Lorenzoni, Eduardo Cunha, Linconl Portela e
Walter Pinheiro (Tabela 12).
Tabela 12
Elaboração própria. Fonte: DIAP
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CONCLUSÕES
A pesquisa buscou analisar se os deputados da BE se encontram situa-
dos na elite parlamentar brasileira. Para tanto, buscamos indicadores tanto a par-
tir da abordagem posicional, observando os lugares ocupados por estes deputados
na hierarquia da Câmara Federal, bem como, a partir de uma abordagem com-
binada utilizada pelo DIAP na pesquisa sobre os “cabeças”do Congresso. Nossa
hipótese era a de que os deputados desta Bancada, pelo seu tamanho e exposição
midiática, conseguiriam se impor neste seleto grupo da política nacional.
Contudo, a discussão dos dados nos leva a concluir pela não confir-
mação da hipótese. Ainda que alguns destes parlamentares ocupem esse espaço,
ele não é relevante em sua totalidade. Apenas 12% de deputados evangélicos
ocuparam cargos nas nove mesas diretoras ao longo do período analisado, sendo
que apenas um foi presidente. O restante assumiu, majoritariamente, cargos mais
baixos na hierarquia, como os de suplente.
Quanto às Comissões, esse foi o quesito em que os deputados evan-
gélicos se saíram melhor: 42 (10,8%) foram eleitos presidentes para 21 das 25
Comissões, inclusive da mais importante, a Comissão de Constituição e Justiça e
de Cidadania, que teve por duas vezes sob comando de um parlamentar da BE.
Até porque observamos um crescimento entre 2015 e 2018 de 119% com 25
presidentes evangélicos eleitos no período.
No que diz respeito aos “cabeças” do Congresso, apenas 50 vezes
(4,67%) os parlamentares da BE foram incluídos lista. Soma-se a esse baixo de-
sempenho, o fato de quatro deputados são responsáveis por quas a totalidade
(78%) das indicacões. O que indica que pouca ou nenhuma renovação ou
recrutamento de novos nomes entre os membros da Bancada. Assim, a força de
arregimentação e mobilização dos deputados evangélicos ainda é pequena.
Um desdobramento da pesquisa aponta para o entendimento deste des-
compasso entre o tamanho e a visibilidade da BE e sua baixa presença na elite
parlamentar. Uma resposta possível talvez esteja na característica, apontada por
Quadros e Madeira (2018) e Borges (2009), da heterogeneidade e, como decor-
rência, da falta de uma forte identidade da BE. Outra questão que se coloca é
observar o comportamento desta Bancada ao longo do governo Bolsonaro, favo-
rável às pautas evangélicas, se ela vai responder a este desafio e ampliar seu poder
na Câmara dos Deputados ou se ela vai se acomodar à parte do “baixo clero” e a
pautas específicas.
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Submetido em: 11/03/2020
Aprovado em: 09/11/2020