42 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.5, n.2, p. 41-50, Jul./Dez., 2019
BESSA, I. V. T.
introdução
Compreender a multimensionalidade da arquitetura enquanto arte,
linguagem e lugar privilegiado dos afetos dentro do espaço habitado individual e
coletivo pode nos ajudar a pensar como o processo de subjetivação se exterioriza.
O ato de habitar revela as origens ontológicas da arquitetura, lida com as dimensões pri-
mordiais de habitar o espaço e o tempo, ao mesmo tempo em que transforma um espaço
sem signicado em um espaço especial, um lugar e, eventualmente, o domicílio de uma
pessoa. O ato de habitar é o modo básico de alguém se relacionar com o mundo. É fun-
damentalmente um intercâmbio e uma extensão; por um lado, o habitante se acomoda
no espaço e o espaço se acomoda na consciência do habitante, por outro, esse lugar se
converte em uma exteriorização e uma extensão de seu ser, tanto do ponto de vista físico
quanto mental. (PALLASMAA, 2017, p. 7 e 8).
Na medida em que a obra arquitetônica se torna um transito infor-
macional essa contextualização gera a qualicação do espaço e sua identicação
social, acontece uma relação entre objetos, edifícios, pessoas e processos.
Ocorre uma produção de pontos de vista quando um espaço é utili-
zado, visto que o mesmo é usufruído por mais de uma maneira e por diferentes
pessoas e em tempos diferentes, ele torna-se um produtor de sentido, um espaço
criado para criar.
Sabemos que o espaço gera a possibilidade do encontro e das experiên-
cias, precisamos então nos deixar afetar pelo que o ele nos proporciona e compre-
ender que ele só existe e funciona em relação ao conjunto no qual esta situado,
ou seja, não só com suas divisões e subdivisões, mas também por aqueles que a
frequentam... Pelos sons, cheiros, sinais, pássaros, árvores e innitas coisas.
Percepto é o processo de pensamento que não se tem exatidão, pois não
se pode esperar descrever o que se sente, vê ou ouve, exatamente como se sente, vê
ou ouve. As imagens xam de modo instantâneo. Acaba sendo uma relação com
o receptor e seu universo num momento de descoberta e encantamento. Deleuze
nos esclarece em sua entrevista à Claire Parnet no Abecedário,
Há os conceitos, que são a invenção da Filosoa, e há o que podemos chamar de per-
ceptos. Os perceptos fazem parte do mundo da arte. O que são os perceptos? O artista
é uma pessoa que cria perceptos. Por que usar esta palavra estranha em vez de percep-
ção?Porque perceptos não são percepções. O que é que busca um homem de Letras, um
escritor ou um romancista? Acho que ele quer poder construir conjuntos de percepções
e sensações que vão além daqueles que as sentem. O percepto é isso. É um conjunto de
sensações e percepções que vai além daquele que a sente. Vou dar alguns exemplos. Há
páginas de Tolstoi que descrevem o que um pintor mal saberia descrever. Ou páginas de
Tchekov que, de outra maneira, descrevem o calor da estepe. Há um grande complexo
de sensações, pois há sensações visuais, auditivas e quase gustativas. Alguma coisa entra
na boca. Eles tentam dar a este complexo de sensações uma independência radical em
relação àquele que as sentiu. Tolstoi também descreve atmosferas. As grandes páginas de
Faulkner! Os grandes romancistas conseguem chegar a isso. Há um grande romancista
americano que quase disse isso. Ele não é muito conhecido na França, e gosto muito
dele. É omas Wolfe. Ele descreve o seguinte: ‘Alguém sai de manhã, sente o ar fresco,