Os instrumentos do trabalho didático
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.5, n.1, p. 61-74, Jan./Jun., 2019
dos textos didáticos difundidos nas matérias de seu plano de estudos.” O domínio
ao qual se refere o autor perdurou até praticamente as primeiras décadas do século
XX, resultado direto de mudanças na organização econômica e social brasileira.
Em um plano mais geral, desde 1850 o país buscava modernizar-se
(FAUSTO, 1995). Ainda nas últimas décadas do século XIX, ocorreu uma sé-
rie de acontecimentos relevantes no Brasil. Como; a abolição da escravatura em
1888; a Proclamação da República em 1889 e; a consolidação do café como nosso
maior produto de exportação
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, que evidenciam uma reestruturação social e eco-
nômica no país. Após o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em mea-
dos da década de 1920, o novo cenário econômico, cultural e político decorrente
do pós-guerra, praticamente “forçou” o Brasil a se reorganizar socialmente, o que
se expressou no campo intelectual, entre outras coisas, no radicalismo proposto
nas temáticas da Semana de Arte Moderna de 1922
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e, na produção intelectual
de vários pesquisadores, a citar: Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre,
Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior. Segundo Cruz (1997, p. 264):
Os ensaístas como Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de
Holanda, Caio Prado Junior, entre outros, se constituem nos chamados ‘explicadores’ do
Brasil, sendo que Caio Prado Júnior, destaca-se dos demais, por buscar uma interpre-
tação com base no materialismo histórico, o que lhe confere uma posição pioneira por
pensar o presente, resgatando o passado e imaginando o futuro.
Contudo, as mudanças mais significativas só se efetivaram a partir da
década de 1930. A década de 1930 foi marcada no Brasil, pela revolução que
resultou em um golpe militar, que levou ao poder Getúlio Vargas. A partir de
então, começa a ser colocado em prática no país, um Programa de Reconstrução
Nacional, que, diante das novas necessidades brasileiras, decorrentes da crise do
café
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, do processo de urbanização e industrialização, buscava adequar e inserir o
país na dinâmica de mundo da época. De acordo com Centeno (2007, p. 16), o
Programa de Reconstrução Nacional:
[...] segundo o discurso oficial, visava a aumentar a presença do Estado em todos os se-
tores da vida nacional, para superar o grave desequilíbrio econômico causado pela queda
de preços do café, prevenir o país contra outras possíveis crises e, sobretudo, integrar a
nação e defender a sua soberania.
8 Produto este que só perderia força no final da década de 1920 em decorrência da quebra da bolsa de valores
de Nova York em 1929, dando início ao período conhecido na história dos EUA como “grande depressão”, que
só se findaria com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, momento que a economia norte-americana
voltaria a crescer.
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“A Semana de Arte Moderna de fevereiro de
1922, realizada em São Paulo, é importante referencial para re-
flexões
estéticas e para a crítica de arte do país. Essa manifestação é potencializada pelo contexto em que ocorre. As
questões associadas ao nacionalismo emergente do pós-Primeira Guerra Mundial e à industrialização que se
estabelece, especialmente em São Paulo, motivam intelectuais e jovens artistas entusiasmados a reverem e
criarem novos projetos culturais.” (AJZENBERG, 2012, p.25).
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Sobre a relação do Brasil com os efeitos da crise de 1929, Hobsbawm (1995, p. 97) pontuou: “O Brasil tor-
nou-se um símbolo do desperdício do capitalismo e da seriedade da depressão, pois seus cafeicultores tentaram
em desespero impedir o colapso dos preços queimando café em vez de carvão em suas locomotivas a vapor.”