Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.5, n.1, p. 91-108, Jan./Jun., 2019
A período entre 1946-1964 no Brasil, tido como democrático, signi-
ficou o retorno das instituições do Estado burguês. Instituições reguladas pela
Constituição de 1946. Nesse quadro, os partidos foram legalizados, exceto o Par-
tido Comunista Brasileiro que após um breve período de legalidade, novamente
é posto na clandestinidade pela Justiça do Estado burguês.
Entre 1946 e 1964, os partidos entraram na cena política novamente: o
Partido da Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) eram
de inspiração varguista; a União Democrática Nacional (UDN) de oposição a Vargas
e de cunho liberal e antipopulista, o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Entretanto,
o PCB teve um curto de período de legalidade. Esses partidos tinha uma base ideoló-
gica definida, ao contrário do Partido Social Progressista (PSP), o Partido Democrata
Cristão (PDC), Partido Socialista Brasileiro (PSB), o Partido de Representação Po-
pular (PRP), o Partido Republicano (PR), o Partido Libertador (PL). Segundo Netto
(2014), esses eram partidos de inserção mais regional que nacional.
Nesse curto período, as instituições do Estado capitalista funcionaram
sob a pressão das lutas políticas e sociais internas e externas. No plano externo
o governo do general Eurico Gaspar Dutra, alinhou-se à ordem internacional
norte-americana, assimilando uma receita liberal e atuação estatal para que se in-
crementasse a atuação burguesa nacional e internacional. Entretanto, a eleição de
Vargas em 1950, realinha o projeto nacionalista em primeira instância, sem com
isso realizar nem uma mudança revolucionária. O que acontecia era que o capi-
tal estatal exerceria monopólio sobre determinadas áreas de recursos naturais, a
exemplo dos minérios e petróleo, contrariando o capital internacional, principal-
mente o norte-americano. Um período de coordenada ação política para desgas-
tar o governo e um espectro de golpismo que rondava as Forças Armadas, criaram
um ambiente político que levaram Vargas ao suicídio. A ação dos golpistas fora
abortada por setores da política, das forças militares e a pressão de partidos de-
fensores da ordem democrática, freou-se o movimento golpista (NETTO, 2014).
Após relativa estabilidade com a posse de Juscelino Kubitschek, seu go-
verno reforçou a associação entre capital externo, capital nacional subdivido entre
Estado e indústria. Ao fim desse ciclo as tensões entre os segmentos políticos au-
mentaram. Tanto é que em 1961, o que ficou conhecido como golpe branco, após
a renúncia de Jânio Quadros, eleito presidente democraticamente. Legalmente o
Vice-presidente eleito era João Goulart
4
,
No entanto, João Goulart só tomou posse na condição de aceitar o
regime parlamentarista. Isso significava a ruptura da legalidade estabelecida pela
Constituição de 1946. Para Netto (2014, p.31), “o golpe branco, sendo um frus-
4 De acordo com a Constituição de 1946, a eleição para os cargos de Presidente e Vice-presidente se dariam de
forma independente, isto é, poderiam ser votados tanto o Presidente de uma chapa quanto o Vice-presidente de
outra. Portanto, nas eleições de 1960 foram eleitos Jânio Quadros para Presidente, candidato do da UDN. Para
Vice-presidente saiu vitorioso João Goulart do PTB, partido de base político varguista. Diante da renúncia de
Jânio Quadros, os governistas, encabeçados pela UDN se movimentaram para impedir a posse de João Goulart.