110 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.5, n.2, p. 103-116, Jul./Dez., 2019
AMARAL, B. C. C.
de clínica psiquiátrica, pautou-se pelos ensinamentos de Séguin; depois tomou conheci-
mento do trabalho de Itard em viagens.
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[...] todo esse trabalho é assimilado pela Escola
Nova, inclusive a ênfase nas diferenças individuais. Quando penetrou o Brasil, já veio
com esses elementos, repetidos do ideário escolanovista. Em 1911, no ensino paulista já
se introduziu o método de intuição analítica [...] (JANNUZZI, 2012, p. 55).
Nos anos 1920, seguindo o ritmo da modernização, da urbanização e
da industrialização, vários Estados brasileiros promoveram reformas educacionais
inspiradas nos princípios da Pedagogia Nova. Intelectuais como Anísio Teixeira,
Fernando Azevedo, Lourenço Filho e Francisco de Campos destacaram-se nesse
ciclo. Esse movimento enfatizava os “métodos ativos” de ensino-aprendizagem,
valorizava a criança e os seus interesses, incentivava atividades que envolvessem
trabalhos manuais nas escolas, inseria a criança como centro do processo edu-
cacional e valorizava estudos de psicologia experimental (GHIRALDELLI JÚ-
NIOR, 1994). Dois nomes se destacam na difusão de laboratórios de Psicologia
Experimental no Brasil: Ugo Pizzoli (1863-1934) e Clemente Quaglio (1872-
1948). Pizzoli era um médico italiano, livre-docente em Psicologia Experimental
pela Universidade de Modena. Dedicou parte de sua vida a relacionar medicina e
educação. Inaugurou na Itália em 1899 um Laboratório de Pedagogia Cientíca.
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O laboratório tinha por nalidade a preparação técnica dos professores para a realização
de exames em seus alunos e, de certa forma, esperava-se que eles promovessem alguma
revolução no ensino, aprendendo de forma experimental a avaliá-los. A expectativa era
que o professor cientista fosse psicólogo, antropólogo, siólogo e higienista. Os cursos
de Pedagogia Experimental por eles organizados se tornaram uma referência para os
educadores italianos (CENTOFANTI, 2006, p. 35).
Pizzoli chegou em São Paulo em 1914, segundo Centofanti (2006), seu
ingresso bem como o da Pedagogia Cientíca veio por intermédio do imigrante
italiano Clemente Quaglio um desconhecido professor primário da cidade de
Amparo-SP. Quagliio destacou-se e ganhou notoriedade por ter adotado no Brasil
os mesmos passos de Pizzoli na Itália. Esse professor esteve diretamente relaciona-
do à criação do Laboratório de Pedagogia Cientíca. Em 1911, a pedido de Oscar
ompson, Quaglio esteve à frente de fato inédito em São Paulo: a investiga-
ção do desenvolvimento da infância anormal. Para tanto, utilizou-se de diversas
“A educação dos anormais começara com os médicos Jean Gaspard Itard e Edouard Séguin, se se quer tomar
a França como exemplo, pois lá está o endosso do discurso corrente em 1913, entre nós. O primeiro, em 1800,
médico-chefe do Instituto Nacional dos Surdos-Mudos de Paris, encarregado de educar uma criança, Victor,
que fora abandonada nos bosques de Aveyron, desenvolvera com ela uma metodologia de trabalho impregnada
do empirismo sensualista de Condillac. Posteriormente, Séguin, a partir de 1840, com jovens anormais de
inteligência do Hospício dos Incuráveis de Bicêtre, continuara o trabalho de Itard, procurando principalmente
acentuar a atividade do aluno.” (JANNUZZI, 2012, p. 55)
“Do ponto de vista conceitual, o projeto da Pedagogia cientíca italiana pode ser entendido como um des-
dobramento do positivismo naquele país, cuja história difere da expressão que teve no Brasil. O positivismo
italiano foi um movimento cientíco, antes de ser um movimento losóco, e teve o evolucionismo como
modelo.” (CENTOFANTI, 2006, p. 32).