20 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.5, n.2, p. 9-24, Jul./Dez., 2019
ARAÚJO, A. A.
para a sobrevivência de quatro pessoas, tendo em seu seio sete pessoas. O dese-
quilíbrio seria por falta. Em outro caso, quando for distribuído a quantidade ne-
cessária para a sobrevivência de sete pessoas, as duas famílias receberem a mesma
quantidade, haveria um desequilíbrio por excesso, no qual a família com quatro
componentes receberia bem mais do que o necessário, caracterizando, novamente
uma injustiça com relação à família com amis indivíduos.
“A justiça, portanto, é compatível com desigualdade, mas uma desi-
gualdade de iguais. Ela é, desse modo, uma virtude política, pois, está referida aos
indivíduos que estão numa relação de simetria nas relações políticas de mando e
obediência.” (CANDIOTO, 2010, p. 41). Porque, na escola, haveria injustiça e
desequilíbrio, tanto por falta, quanto por excesso? Que motivações impulsiona-
riam o tratamento desigual para com os indivíduos? Àqueles que mais necessitam,
seria dado menos? “Aqueles que menos necessitam seria dado mais? Alunos com
desvios de comportamento; não se relacionam de forma equilibrada, tanto no
que diz respeito à falta, quanto ao excesso. Como distribuímos, ou redistribuímos
atenção, dedicação, afeto, amizade? Fica a questão.
Com relação à amizade, ela é o fundamento político e moral, uma vir-
tude por excelência, a qual sustenta todas as relações numa comunidade. A amiza-
de é o motor da boa convivência, dos atos virtuosos, com vistas ao bem, do amigo
e da própria pessoa,
[...] a verdadeira amizade é, pois, a dos bons, como tantas vezes dissemos. Efetivamente,
o que é bom ou agradável no sentido absoluto do termo parece estimável e desejável, e
a cada um se agura ser o que é bom e agradável para ele; e por ambas essas razões o
homem bom é estimável e desejável para o homem bom. Ora, dir-se-ia que o amor é um
sentimento e a amizade é uma disposição de caráter, porque se pode sentir amor mesmo
pelas coisas inanimadas, mas o amor mútuo envolve escolha, e a escolha procede de uma
disposição de caráter. E os homens desejam bem àqueles a quem amam por eles mesmos,
não por efeito de um sentimento, mas de uma disposição de caráter. E nalmente, os
que amam um amigo amam o que é bom para eles mesmos; porque o homem bom, ao
tornar-se amigo, passa a ser um bem para o seu amigo. Cada qual, portanto, ao mesmo
tempo que ama o que é bom para ele, retribui com benevolência e aprazibilidade em
igualdade de termos; porque se diz que amizade é igualdade, e ambas são encontradas
mais comumente na amizade dos bons. (ARISTÓTELES,1996, p. 263).
Na escola, o vínculo de amizade é, senão o primeiro, uns dos primeiros
momentos no processo de escolarização e de relacionamento, a acontecer no meio
educacional. Ao chegar na escola, pela primeira vez, ou numa nova turma, “em
seu primeiro dia de escola, o menino não pensa no que será a matemática ou na
lição de português. Ele quer saber quem será sua professora, mas, sobretudo, quer
encontrar um amigo ou fazer amigos. A escola seria tanto para o menino, quanto
para a menina, essencialmente, isso: o seu primeiro espaço de amizades. (CAR-
VALHO, 2010, p. 60). E, neste, suas interações de amizade vão aumentando em
quantidade e qualidade, a tal ponto de a vivência se tornar parte do cotidiano
do aluno e, também, de professores. A preocupação com o bem estar do amigo,