Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.5, n.2, p. 51-58, Jul./Dez., 2019 53
Formação para o desenvolvimento humano no ensino superior Artigos/Articles
A classe de trabalhadores não pode mais ser vista apenas como opri-
mida, pois diversos níveis intermediários de atuação transformam proletários em
representantes e defensores do capital, justicando e intensicando as formas de
exploração em troca de acesso a alguns bens de consumo. Diversas classes in-
termediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo, mas
sobretudo com a migração da mão de obra para o setor de prestação de serviços
as formas de contratação e organização em microempresas transformaram classes
unidas em competidores.
Em seu mais recente livro, o professor Ricardo Antunes detalha essas
relações entre trabalhadores e empresas e mostra como a classe média que recebeu
a promessa de ascensão foi enganada, está sendo substituída por computadores ou
máquinas automatizadas e transformada em prestadora de serviços sem nenhuma
forma de proteção trabalhista.
Ao contrário da eliminação completa do trabalho pelo maquinário informacional-di-
gital, estamos presenciando o advento e a expansão monumental do novo proletariado
da era digital, cujos trabalhos, mais ou menos intermitentes, mais ou menos constantes,
ganharam novo impulso com as TICs, que conectam, pelos celulares, as mais distintas
modalidades de trabalho. Portanto, em vez do m do trabalho na era digital, estamos
vivenciando o crescimento exponencial do novo proletariado de serviços, uma variante
global do que se pode denominar escravidão digital. Em pleno século XXI. (ANTUNES,
2018, p. 35).
Vivemos em uma sociedade de informação onde o conhecimento é
escasso. Se considerarmos a realidade brasileira que tem um abismo social entre as
classes, o acesso ao conhecimento além do senso comum é praticamente irrisório.
Para manter esse estado de disparidade sem que haja revoltas se faz necessário o
avanço da dominação ideológica entre os operários.
Os proletários são estimulados a adquirir “formação intelectual” para
sair da condição de recebedores de ordem e passar a compor a “gestão da produ-
ção”. Assim o capital oferece uma ilusão de conhecimento através do aprendizado
de técnicas de execução de procedimentos na produção de bens de consumo. O
trabalhador que domina as técnicas para executar o que o manual dos equipa-
mentos “ensina” percebe-se como mão de obra especializada e deixa de se reco-
nhecer como proletariado para se colocar como intelectual ao lado do patrão na
produção. Assumindo a posição de capataz da empresa, esse técnico responsável
pela produção ganha a possibilidade de ser opressor no chão de fábrica, enquanto
sobre ele deixam de recair ordens, substituídas por metas.
Nesta sociedade em que o “conhecimento prático” é ultravalorizado, o
status de intelectual e os postos de prestígio antes ocupados por cientistas e lóso-
fos passa a ser ocupado por engenheiros e gestores, uma vez que esses contribuem
ativamente para a sociedade, segundo os patrões. Nesse contexto é fundamental