Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.5, n.2, p. 171-184, Jul./Dez., 2019 177
O desencantamento do mundo e o processo de coisicação do homem Artigos/Articles
ra de Alexandre. O mármore em si, não possui signicado em si, apenas potência
de se tornar alguma coisa. A estátua de Alexandre, que antes existia apenas em
potência no mármore, torna-se realidade, torna-se ato na estátua, anteriormente
potência no mármore. A causa nal da estátua é cultura a memória, enaltecer
os grandes feitos, relembrar as gerações futuras das conquistas passadas, enfeitar
um jardim. Foi a materialização da potência estátua no ato estátua que permitiu
a causa nal, atributos da lembrança, operar sobre a causa material e formal. O
escultor é a causa eciente, aquilo que foi necessário para que a potência viesse
a se manifestar em ato, estátua, a manifestação do devir, operando sobre a causa
material para que ela ganhasse forma e operasse um m.
Para Aristóteles seria a mais importante manifestação da matéria. Tudo
tem um m especíco, uma causa nal, um objetivo, um propósito especíco.
Tudo tem uma causa que o constitui, um telos, uma missão de existência, que
para Aristóteles seria a causa de todas as coisas, o primeiro motor imóvel que deu
origem e movimentou tudo que se forma e que se desforma na existência. Alguns
de seus comentadores irão atribuir o conceito de deus ao primeiro motor, mas
Aristóteles não operava o conceito de deus monoteísta que possuímos na mo-
dernidade. A teoria Aristotélica preconiza que o movimento causado pela causa
eciente é determinado pela causa nal. Aristóteles tece uma crítica consistente a
teoria platônica de metafísica, introduzindo a ideia de movimento. A atração de
que todas as coisas sofrem pelo primeiro motor Imóvel, explicam por que o devir
torna-se eterno. “As coisas naturais nunca poderão alcançar o que desejam, isto é,
a perfeição imutável.” (CHAUÍ, 2011, p. 237).
as cOnsequências da revOluçãO científica para O prOcessO de desencantamentO
Na contramão da concepção de que Deus estaria acima de tudo, os
renascentistas introduzem uma nova concepção de realidade, de arte e de conhe-
cimento inserindo o homem no centro do universo, ativo no processo de conhe-
cer em contraposição a losoa medieval. Segundo Chauí (2011, p. 55), essa
nova concepção, “[...] propunha o ideal do homem como artíce de seu próprio
destino, tanto por meio dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), como
por meio da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura,
engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, poesia, teatro).”
Essa nova concepção foi o motor que desencadearia na idade moderna
a negação das explicações metafísicas clássicas e o desencantamento do mundo.
Mesmo com acirrada resistência às mudanças e meios empregados pela
Igreja Católica Apostólica Romana para impedir a disseminação de maneiras di-
ferentes de pensamento, por meio das inquisições e do tribunal do santo ofício,
instrumentos criados para coibir o livre pensamento que confrontasse os dogmas
ociais, pensadores como Galileu, Newton, Copérnico, confrontaram, mesmo