Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.5, n.2, p. 93-102, Jul./Dez., 2019 95
A convergência dos modelos pedagógicos Artigos/Articles
2016, p. 36). Seu método inuenciou a Escolástica mudando algumas concep-
ções autoritárias da Igreja e posteriormente, no século seguinte, o lósofo Tomás
de Aquino utilizou dessa metodologia para buscar a verdade através de debates,
questões e possíveis soluções como observamos na sua obra máxima Suma Teoló-
gica. Esse método que acabou estimulando as Universidades da Europa, como a
de Paris, por exemplo.
O método apresentado por Tomás proporcionava ao aluno, compreender e buscar so-
luções/respostas através dos debates (disputatio) sobre as diculdades enfrentadas pela
sociedade na época, por isso o mestre respondia e fazia observações com base na exposi-
ção/dúvidas dos alunos a m de que eles elaborassem hipóteses, possíveis argumentos e
contra-argumentos. (TEIXEIRA, 2916, p. 43).
Podemos aqui antecipar uma comparação do pensamento de Tomás
com o de Paulo Freire ao percebermos uma promoção da educação com uma pe-
dagogia em sintonia com a modernidade e em resposta aos desaos da sociedade
de seu tempo (JOSAPHAT, 2016, p. 23). Ambos advêm de um pensamento a
frente do seu tempo, buscando entender os desaos do seu tempo e respostas que
encontravam ao longo de suas caminhadas. Cada um a seu modo, Tomás abalan-
do a cristandade medieval e Paulo revolucionando o processo de ensino-aprendi-
zagem com sua crítica a escola tradicional (JOSAPHAT, 2016, p. 34).
Tomás recebe grandes contribuições dos escritos losócos aristotéli-
cos e dos árabes, buscando uma harmonização com a revelação cristã. Tenta ao
mesmo tempo, cultivar uma teologia bíblica, mas recorrendo aos lósofos pagãos
e muçulmanos para elaborar sua teologia (LUAND, 1999, p. 2-3). Mesmo com
a declaração do papa Gregório IX à Universidade de Paris, em 1228, advertindo
dos riscos de novas ideias, que seria a rejeição da losoa aristotélica na cristan-
dade
4
, pois a que vigorava era a corrente losóca platônica e neoplatônica. Mas
Tomás não se abateu e manifestou seu carisma na lucidez dessa nova losoa,
fatores culturais esses decisivos para a civilização
5
, sua complexidade e pluralidade
de ideias, viabilizando o estudo e a oportunidade da instituição destinada a ela, a
universidade (JOSAPHAT
, 2016, p. 45).
“Aliás, antes mesmo da queda de Roma, o pensamento aristotélico era visto pelos cristãos como algo estra-
nho e alheio à resta doutrina: parecia demasiado ‘materialista’ em comparação com o espiritualismo de Platão,
em aparência mais próximo do cristianismo. Foram somente os hereges nestorianos que cultivaram as teorias
aristotélicas, e quando o Concílio de Éfeso condenou a cristologia de Nestório, em 431, os seus seguidores –
agrupados principalmente em torno da escola de Edessa, na Síria – refugiaram-se na Pérsia, levando consigo as
obras de Aristóteles e outros textos de matemática, medicina e outras ciências gregas.” (LAUAND, 1999. p.13).
“A Cristandade – há séculos sitiada pelo Islã e, agora, ameaçada pelas hordas asiáticas – encontra-se na condi-
ção de ser um pequeno grupo no meio de um imenso mundo não-cristão. Não se trata só de limitações bélicas
ou de fronteiras: há muito tempo o mundo árabe se tinha imposto, não só pelo poderio político-militar, mas
também por sua losoa e ciência. Estas, mediante traduções, tinham penetrado na Cristandade e em seu centro
intelectual: a Universidade de Paris. Se essa losoa e ciência não eram, em boa medida, muçulmanas, eram, ao
menos, algo novo, estranho, perigoso, pagão”. (LAUAND, 1999, p.5)