Da formação docente tecnológica às práticas de letramentos
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DA FORMAÇÃO DOCENTE TECNOLÓGICA ÀS PRÁTICAS DE
LETRAMENTOS EM UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA.
F
ROM TECHNOLOGICAL TEACHING TRAINING TO PRACTICES OF LETTERS
IN A SCHOOL OF THE PUBLIC NETWORK.
Francisco Jeimes de Oliveira Paiva
1
R
ESUMO
:
Este estudo e decorrente do projeto de pesquisa O uso de mídias digitais por professores
de Língua Portuguesa no Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio (PNEM). Detemo-nos agora
a apresentar algumas reflexões acerca das práticas de (multi)letramentos nos (des)dobramentos
das ações e/ou atividades, decorrentes da linha de pesquisa: Ensino e Linguagens, do Programa
do Mestrado Interdisciplinar em História e Letras (MIHL), da Universidade Estadual do Ceará.
Optamos, por razões metodológicas, pela observação e análise das práticas discursivas e interacionais
mediadas pelas TDICs no desenvolvimento de pesquisas de letramentos ltiplos com um grupo
de professores do ensino médio de uma escola da rede pública estadual, E.E.M. Egídia Cavalcante
Chagas. Nesse contexto educacional, discutimos como tais projetos de (multi)letramentos podem
constituir-se em estratégias da prática docente que possibilitem ampliar os conhecimentos
linguísticos, discursivos e tecnológicos quanto à leitura e à escrita de gêneros textuais/discursivos
multimodais em ambientes virtuais de aprendizagem, sobretudo nas aulas e práticas no laboratório
de informática (LEI). Concluímos a posteriori que, muitas vezes, os professores sabem muito pouco
sobre o que os alunos conhecem acerca das tecnologias digitais, em sala de aula, e, ainda, quanto ao
uso de textos multimodais e multissemióticos nos vários contextos de construção da linguagem na
era das tecnologias digitais de comunicação e informação (TDICs), na atual sociedade tecnologizada
e globalizada.
P
ALAVRAS
-C
HAVE
: Multiletramentos. Multimodalidade.neros Discursivos. Formação Continuada
Docente. TDICs.
A
BSTRACT
:
In this study, which was the results of the research project: The Use of Digital Media by
Portuguese Language Teachers in the Pact for the Strengthening of Secondary Education (PNEM).
We now present some reflections on (multi) of the actions and / or activities, resulting from the
line of research: Teaching and Languages, of the Interdisciplinary Master’s Program in History
and Letters (MIHL), of the State University of Ceará. We opted, for methodological reasons, for
the observation and analysis of discursive and interactional practices mediated by TDICs in the
development of multiple literacy research with a group of high school teachers from a state public
school, E.E.M. Egídia Cavalcante Chagas. In this educational context, we discuss how such (multi)
literacy projects can be constituted in strategies of teaching practice that allow to increase the
linguistic, discursive and technological knowledge regarding the reading and writing of multimodal
textual / discursive genres in virtual learning environments, especially in classes and practices in the
1
Mestrando em História e Letras pela Feclesc/Uece. Atualmente é professor efetivo de Língua Portuguesa da
rede Estadual do Ceará e Professor Coordenador da Área de Linguagens (PCA). E-mail: Jeimespaivauece@
yahoo.com.br.
http://doi.org/10.33027/2447-780X.2018.v4.n2.09.p97
PAIVA, F. J. O.
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computer lab (LEI). We conclude that teachers often know very little about what students know
about digital technologies in the classroom and about the use of multimodal and multisemiotic
texts in the various contexts of language construction in the age of the digital technologies of
communication and information (TDICs), in the current technological and globalized society.
K
EYWORDS
:
Multiletramentos. Multimodality. Discursive Genres. Continuing Teacher Education.
TDICs.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
É crucial partirmos neste momento, de uma reflexão docente crítica
e perspicaz, no liame interdisciplinar das interconexões, pelo menos, das poucas
pesquisas sobre (multi)letramentos, discursos/textos multimodais e tecnologias di-
gitais na educação brasileira hoje, tendo em vista tantas transformações advindas
da globalização, dos novos arranjos socioculturais e linguísticos nas sociedades da
pós-modernidade.
É nesta ótica que o Programa de Mestrado Acadêmico Interdisciplinar
em História e Letras (MIHL) da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do
Sertão Central FECLESC, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), surgiu
da necessidade de uma demanda social por profissionais qualificados a fim de
construir e desconstruir essa interconexão entre os fenômenos contemporâneos
unidos pelas pesquisas das ciências humanas e das linguagens, visando formar
à nível de pós-graduação stricto sensu, profissionais mestres competentes para o
ensino de línguas, de literatura e de história numa perspectiva do conhecimento
acadêmico, científico e interdisciplinar.
Esse projeto, mesmo tendo pouco tempo de implementação, objetiva
em uma linha voltada para o ensino e linguagens: possibilitar uma formação aos pro-
fessores apropriada quanto a utilização das tecnologias digitais de informação e comu-
nicação (TDICs), em suas práticas sociais, atividades de pesquisa, produção científica
e, especialmente, no ensino de língua portuguesa, literaturas e suas tecnologias
no âmbito dos multiletramentos indispensáveis à formação tecnológica, integral e
humanizadora, sobretudo nos estratos sociais ligados as classes dos trabalhadores
que são fortemente aviltados em seus direitos e garantias fundamentais à educa-
ção plena e com excelência de qualidade.
Atualmente, quanto a definição termológica do que seja letramento em
especial no âmbito escolar, Lima (2013) assegura que além de se valorizar os le-
tramentos das culturas locais, os professores incluiriam seus alunos nas esferas de
participação das atividades sociais e provocariam a mudança efetiva de paradig-
mas, porque promoveriam o deslocamento do modelo
2
autônomo de letramento
2
Em suma, Lima (2013, p.28-29) faz uma diferença conforme Street (1984) sobre os modelos autônomo e
ideológico, sendo que “o primeiro modelo apresenta uma concepção equivocada e parcial de que as práticas
subjacentes resultantes da escrita pressupõem apenas uma maneira de desenvolvimento do letramento; no
modelo de letramento ideológico, as práticas são social e culturalmente determinadas”.
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para um modelo de letramento de teor mais ideológico (STREET, 1984), com-
preendendo não somente o evento de letramento, mas também a relação existente
entre as práticas, a cultura e as relações de poder presentes em uma sociedade.
Nessa perspectiva, a acepção de letramento produziu vários debates em
função das variedades de contextos em que o fenômeno acontece, sendo, assim, os
conceitos de letramento tornaram-se desiguais em espaços e/ou épocas diferen- tes.
Contudo, hoje cada esfera de produção acadêmica, por meio de seus pesqui-
sadores, quanto a uma conceituação de letramento, expressam a “necessidade de
atribuir-lhe uma concepção que se justifica, dentre outros motivos, para facilitar
a avaliação dos indivíduos ou grupos sociais por parte dos órgãos oficiais, a fim de
direcionar as políticas públicas educacionais.” (PINHEIRO, 2013, p. 16).
Quanto as políticas de formação continuada do professor no Brasil3,
um dos grandes desafios para o Plano Nacional de Educação 2001/2010 foi à
qualificação do pessoal docente. A implementação de políticas públicas de forma-
ção continuada dos profissionais da educação é um instrumento e um elemento
para melhorar científico e tecnologicamente no Brasil e, assim, para o desenvol-
vimento do País, posto que a cultura do conhecimento e a construção de no-
vas tecnologias pendem do nível e da qualidade do aperfeiçoamento das pessoas
(BRASIL, 2001).
Luckesi (1994), também esclarece que durante século XIX, a formação
dos professores aconteceu essencialmente nas primeiras escolas normais. Tinha
como baliza a formação moral e, no viés metodológico, conforme o caráter disci-
plinador e modelador do professor atualmente. Incumbia a esse, em sua prática,
a função de reportar os conteúdos livrescos, porque a educação tinha à função de
“redentora da sociedade” diante da adaptação do indivíduo à sociedade.
Santana (2015, p. 23) acentua que “hoje, mais do que em qualquer
outro momento histórico, exige-se que o professor seja um pesquisador, por exce-
lência, não apenas um transmissor de conhecimentos.” Busca-se, assim, resgatar a
importância de se considerar o professor em sua própria formação, num processo
de autoformarão, onde seus saberes vão se constituindo a partir de uma reflexão
na e sobre a prática.
A ênfase dada a pratica docente sinaliza a relação existente entre a qua-
lificação docente e a construção da identidade profissional, dos saberes específicos
da profissão, abordados em situações reais de aprendizagem da profissão.
Essa autora deixa claro à necessidade de novas práticas de formação de
professores aliadas a concepções pautadas em pesquisa, articulação teoria e prá-
3
Para Nóvoa (1995, p.30), “a formação continuada deve estar articulada com desempenho profissional dos
professores, tomando as escolas como lugares de referência. Trata-se de um objetivo que adquire credibilidade
se os programas de formação se estruturarem em torno de problemas e de projetos de ação e não em torno de
conteúdos acadêmicos”.
PAIVA, F. J. O.
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tica, colaborando na defesa do professor como profissional reflexivo e na adoção
da escola como espaço de atuação e de formação continua e o fortalecimento de
tendências investigativas centradas no pensamento do professor.
Fundamentalmente, quanto aos gêneros textuais/discursivos e o ensino
de língua portuguesa no Brasil, para melhor compreensão do fenômeno gêneros
e ensino de Língua Portuguesa no Brasil foram buscados subsídios teóricos traba-
lhados por Rojo (2006); Schneuwly e Dolz (1999), Marcuschi (2005) e, especial-
mente, Bakhtin (2003 [1952, 1953]), o qual é referenciado pelos demais autores,
citados. Inicialmente o gênero será teoricamente abordado, considerando-se
especialmente as contribuições de Bakhtin.
Sendo assim, faz-se necessário uma breve revisão de literatura acerca de
como se compreende hoje o ensino de Língua Portuguesa como disciplina escolar,
com base, especialmente, em Soares (2002); Possenti (2003); Geraldi (2010),
entre outros. Em tempos do Brasil Colonial, três línguas coexistiam no país: “lín-
gua geral”, português” e “latim”. A “língua geral” era utilizada no dia a dia pelos
jesuítas na comunicação com os índios e pelos próprios índios na comunicação
entre si isso porque havia diferentes línguas indígenas.
Este trabalho objetiva apresentar uma reflexão sobre as práticas de
(multi)letramentos nos (des)dobramentos das ações e/ou atividades, resultantes
da observação e análise das práticas discursivas e interacionais mediadas pelas
TDICs no desenvolvimento de pesquisas de letramentos múltiplos com um gru-
po de professores do Ensino Médio de uma escola pública cearense em processo
de formação continuada pelo Pacto de Fortalecimento do Ensino Médio (PC-
NEM) (BRASIL, 2014, p. 47).
Assim, apontamos que os projetos, apesar das limitações teóricas, pro-
duzidos pelos professores adaptaram-se como estratégias da prática docente que
possibilitaram um alargamento dos conhecimentos linguísticos, discursivos e tec-
nológicos nas aulas de Língua Portuguesa que focaram à leitura e à escrita de
gêneros textuais/discursivos multimodais em ambientes virtuais de aprendizagem
no laboratório de informática (LEI).
Tudo isso de forma crítica, ideológica e emancipatória, visando propor-
cionar uma educação integral, atraente e interconectada com as necessidades efeti-
vas de comunicação, informação e produção textual/discursiva em segmentos so-
ciais em que esses sujeitos pós-modernos estejam multissemioticamente integrados.
MATERIAL E MÉTODOS
Quanto as travessias desta pesquisa na formação continuada no Pacto
pelo Ensino Médio (PNEM), na investigação científica, a metodologia constitui-
-se em uma preocupação instrumental que trata das formas de se fazer ciência,
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isto é, cuida dos procedimentos, das ferramentas e dos caminhos para se chegar a
um possível resultado (DEMO, 1999).
Esse possível resultado é alcançado pelos procedimentos de análise, pois
“o essencial [em pesquisa] é que se tenham presentes, sempre, os objetivos da in-
vestigação e que em todos os casos se ande bem calçado por uma teoria de base.
O perigo maior não está propriamente na metodologia adotada e sim na falta de
uma perspectiva teórica definida.” (OLIVEIRA, 2005, p. 47).
Pelo exposto acima, entende-se que a primazia da pesquisa é ter um
embasamento teórico que ofereça suporte às hipóteses, análises e/ou resultados
conseguidos. Isto denota dizer que quando esse referencial é adquirido, temos
por efeito direto um procedimento com possibilidades fidedignas de aplicação e
de obtenção de resultados reais. E essa é a nossa vontade, tanto que, nesta seção,
apresentaremos nossas escolhas e instrumentos de análise que darão base ao nosso
estudo (SILVA, 2013, apud OLIVEIRA, 2013. p. 76-89).
Numa empreitada metodológica, fizemos análise das práticas de (mul-
ti)letramento em ambientes digitais realizados por professores nas atividades do
Pacto, a partir das aulas observadas em que aplicamos os questionários aos profes-
sores nos encontros, constatou-se que os professores ao trabalharem diretamen-
te com os conceitos, propósitos comunicativos, estruturas/estilos e audiências
que constituem os gêneros textuais, possibilitando entender a importância da
construção multissemiótica e da multimodalidade4 de novos formatos textuais
recontextualizados em ambientes virtuais de aprendizagem usados pelos alunos
em diversos contextos de comunicação tecnológica na sociedade e na sala de aula.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esses profissionais da educação e cursistas desta formação do
PACTO apontaram que essa formação implicou em resultados pedagógi-
cos exitosos em sala de aula, porque:
1. A atividade oriunda do Pacto de Forta-
lecimento do Ensino Médio nos motivou a explicar aos alunos a importância do uso das
novas tecnologias de ensino e letramento. (Professor A). 2. Contribuiu em nossa
atualização quanto ao contexto atual pelas práticas de escrita e leitura no ambiente
virtual, usando os hipertextos: e-mail, blog, facebook, a exemplo. (Professor B). 3.
Conseguimos nosso objetivo que é: fazer com que o aluno adquira suporte em letra-
mento digital de forma proficiente pelo uso dos recursos da escrita/leitura de gêneros
digitais. (Professor C).
Na maioria das vezes, os professores metodologicamente consegui-
ram organizar seu tempo de aula, objetivando com o uso de vários recursos
tecnológicos em sala trabalhar as estruturas composicionais e linguísticas dos
4
“Multimodalidade seria, portanto, a integração de modalidades no mesmo texto com fim de materializar os
diversos discursos ali veiculados”. (ROSA, 2011, p.7, apud LIMA & PINHEIRO, 2015, p. 335).
PAIVA, F. J. O.
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seguintes textos/gêneros em ambientes digitais (e-mail, facebook, whatsapp,
blog, instagram etc)
5
, possibilitando que os alunos pudessem compreender as
facilidades do uso do computador, da internet, da escrita digital, dos hiper-
textos em uma unidade temporal, mesmo não tendo uma maior compre-
ensão sobre o que seja suporte textual ou gêneros discursivos em ambientes
digitais em algumas atividades de produção discursiva.
Os professores-cursistas deixaram claro que é preciso considerar,
a tela digital seja de computadores, smartphones, tablets etc, como um novo
espaço da escrita e o novo espaço que surge nas formas de interação entre
escritor e leitor. A partir disto, foi enfatizado nessas atividades em sala que
os alunos busquem cada vez mais a atualização e inserção constante na era
das mídias digitais, sobretudo acerca destas novas práticas de letramen-
to social, visando exporem suas opiniões, fatos e argumentos com o uso
necessário desses recursos digitais na era da globalização e comunicação
virtual.
Isto ficou claro nessa apresentação feita pelos alunos a partir das
orientações do professor em sala de aula. Essas atividades apresentadas na
escola fortalecem o trabalho com as tecnologias usadas pelos professores
em atividades produtivas de textos em sala de aula (
SOUSA; MOITA; CAR-
VALHO, 2011) é de se esperar que a escola, tenha que “se reinventar”, se
desejar sobreviver como instituição educacional. Dessa forma, é essencial
que o professor se aproprie de gama de saberes advindo com a presença
das tecnologias digitais da informação e da comunicação, para que estes
possam ser sistematizados em sua prática pedagógica.
Em consonância com os postulados acima, os professores entre-
vistados nesta fase inicial desta pesquisa corroboram que
a aplicação e me-
diação que o docente faz em sua prática pedagógica do computador e das ferramentas
multimídia em sala de aula, depende, em parte, de como ele entende esse processo de
transformação e de como ele se sente em relação a isso, se ele todo esse processo como
algo benéfico, que pode ser favorável ao seu trabalho, ou se ele se sente ameaçado e
acuado por essas mudanças. (Professores de LP)”.
Dessa forma, essa inserção com as mídias digitais nas aulas de
LP,
amenizou muitos problemas de compreensão leitora dos alunos, a partir
do que os professores perceberam, está no fato deles não usarem
com
eficácia as estratégias de leituras que são mais adequadas para a lei-
tura de
textos que possuem certos padrões de similaridade, linguagem,
estilo,
audiência e composição linguístico-textual que o caracteriza den-
5
Xavier (2005) argumentam que no ambiente virtual há diversos neros emergentes, como: e-mail, chats, en-
trevistas e blogs. Estes gêneros possuem estreita ligação com gêneros textuais existentes em outros ambientes,
porém estão reconfigurados para o discurso eletrônico, apresentando características particulares e próprias da
mediação presente nos ambientes virtuais.
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tro do domínio discursivo em que eles estão inseridos (SILVA, 2013, apud
OLIVEIRA, 2013. p. 76-89).
C
ONCLUSÃO
(
ÕES
)
Diante dos resultados e discussões advindas desta pesquisa, finalizamos
enaltecendo que no âmbito da sala de aula, os multiletramentos tornam-se orien-
tação diretiva para “a formação de um leitor/navegador com condições de com-
preender e usar a língua(gem) mediada pelas tecnologias digitais”, ressaltando,
portanto, que é preciso que o professor seja “um leitor/escritor conhecedor das
novas formas de representação de sentido proporcionadas por essas tecnologias”
6
.
Neste trabalho, notou-se que, muitas vezes, que os professores sabem
muito pouco sobre o que os alunos conhecem sobre as tecnologias digitais acerca
do uso de textos multimodais e multissemióticos nos vários contextos de constru-
ção da linguagem na era da comunicação e informação numa sociedade globaliza-
da. Por isso, este estudo se mostrou relevante, porque, a princípio, surgiu do fato
de termos poucas pesquisas sobre o assunto em tela.
Em segundo lugar, porém não menos importante, é a possibilidade de se
abrir espaço para que os professores-cursistas, protagonistas principais desta in-
vestigação, avaliem o referido programa em relação à sua organização e estrutura-
ção pedagógica. Surge, pois, a contínua necessidade de os professores trabalharem
as concepções de gêneros discursivos em ambientes digitais com esses alunos em
relação ao letramento digital e suas práticas discursivas.
Dessa forma, os professores precisam, em primeiro momento, verificar
quais os conhecimentos que esses discentes possuem sobre gêneros discursivos no
contexto digital, e, sobretudo que estratégias mais adequadas podem ser utilizadas
durante esse processo. A escola pode também avaliar como eles desenvolvem essa
atividade, detectando falhas e dificuldades, para que se possa traçar caminhos que
levem o aluno a desenvolver a competência linguística de maneira satisfatória no
ambiente virtual que tem exigido novas formas de comunicação humana.
Com os resultados obtidos, percebemos que nas práticas de letramento
em sala de aula trabalhadas pelos professores fazem com que os alunos na maioria
das vezes conheçam o conteúdo temático, estilo, propósitos comunicativos, es-
trutura composicional e audiência utilizados nas práticas de interação social e hu-
mana. Constata-se que até os professores não se veem como usuários das mídias
digitais de forma efetiva. Nesse sentido, a formação continuada dos professores da
rede estadual pública cearense requer ainda mais ações na relação tecnologia
digital e educação.
6
LIMA; PINHEIRO, 2015, p.331.
PAIVA, F. J. O.
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Esta pesquisa, portanto, com professores no contexto das práticas de
letramentos em laboratório de informática em processos formativos continuados,
possibilitou uma maior aprofundamento e atenção enquanto profissional/pesqui-
sador sobre o trabalho com os multiletramentos nas aulas de língua portuguesa
mediados pelas TDICs.
Por fim, foram utilizados em laboratório de informática escolar os re-
cursos midiáticos e multissemióticos, entendendo como os professores trabalham
e percebem o texto/discurso multimodal em vários contextos sócio-historicamen-
te de ensino e aprendizagem constante, tendo consciência da complexidade desse
processo, para que mais adiante, os professores possam desenvolver atividades
mais criativas, dinâmicas e adequadas as necessidades de formação de um usuário
competente, crítico, reflexivo que compreenda com coerência esse novo contexto
de recontextualização linguística e tecnológica em atividades de interação social e
humana de comunicação atual.
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Submetido em: 23/07/2018
Aprovado em: 26/08/2018
PAIVA, F. J. O.
106
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