Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.4, n.2, p. 59-68, Jul./Dez., 2018
experiências significativas. “Um traço de uma longa história de ausências e de
ocultamentos dos coletivos sociais segregados” (ARROYO p.137). Em síntese,
podemos assentar que os currículos da educação básica são pobres de experiên-
cias porque desconsideram e negam o lugar efetivo dos sujeitos da classe popular
enquanto objetos e campos de estudo rico em saberes, aprendizados, práticas e
vivencias que merecem lugar expressivo nas diversas disciplinas e materiais didáti-
co-
pedagógicos. No tocante a esta ideia, Arroyo (2013, p. 139) assevera:
Pertencemos a uma tradição política e cultural extremamente segregadora dos coletivos
humanos. De um lado os poucos autodefinidos como racionais, civilizados, cidadãos
curtidos na ética do esforço e do trabalho, previdentes, empreendedores, dirigentes; de
outro lado a maioria, os outros, inferiorizados como irracionais, primitivos, incultos,
preguiçosos, os coletivos indígenas, negros, pobres, trabalhadores, camponeses, favela-
dos, subempregados e subcidadãos.
É prudente acrescentar a esses coletivos as pessoas com deficiência, que
igualmente aos demais grupos marginalizados que compõem a classe popular,
também são subjugados em seus saberes e experiências, estando igualmente
inseridos neste contexto em que Arroyo (2013) caracteriza como sendo marcado
pela concentração de coletivos, de racionalidades, de éticas e de culturas, que
por sua vez, marcam profundamente a polaridade em que são hierarquizadas e
segregadas as experiências, os conhecimentos, as culturas e as capacidades mentais
e intelectuais dos sujeitos no sistema de ensino e consequentemente nos currículos.
Constatamos assim, uma forte indiferença, desconsideração, deslegitima-
ção e desprestigio quanto à bagagem social e cultural trazida por crianças e jovens
que chegam às escolas públicas, muitas vezes marcadas pelas fortes vivencias da
pobreza e desigualdade social, sendo submetidos a adequar-se a essa cultura escolar
que se mostra indiferente as suas experiências sociais de luta, resistência, trabalho,
condição social, etc. Arroyo (2013) nos aclara que as concepções de conhecimento
e currículo com que somos formados estão impregnadas dessas dicotomias hierar-
quizantes, que segregam experiências, conhecimentos, coletivos humanos e profis-
sionais. No que diz respeito a esse aspecto, Leite (2015, p.20) afirma que:
Os conteúdos, organizados de forma compartimentada nas disciplinas, passam a ser os
únicos aspectos considerados nessa organização. E, para avançar em determinados con-
teúdos, é preciso vencer os chamados “pré-requisitos”. O resultado disso é a reprovação
e a exclusão escolar de muitas crianças e muitos (as) jovens que não se reconhecem nes-
sa escola, nesse currículo, nesses materiais. Jovens originários (as) dos coletivos pobres,
excluídos (as) dos espaços públicos e do direito de ver sua cultura retratada nos livros
escolares, nos materiais didáticos.
Como nos explica essa autora, o sentimento de exclusão surge pela falta
de reconhecimento e familiaridade com o ideal formativo com o qual esses alunos
se deparam na escola, que por sua vez, se corporifica na evasão escolar de muitos
desses estudantes. Evidencia-se com isso, a indiscutível desvalorização com que são