Educação em tempos de crise
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.4, n.2, p. 45-58, Jul./Dez., 2018
na criação de diversas universidades públicas (destacamos aqui a criação da UNI-
LAB-Universidade da lusofonia afro-brasileira
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) e centenas de Institutos Federais
espalhados por cidades que até então estariam distantes de oferecer uma educação
de ensino superior. Razões estas que colocam o poder da classe dominante em
perigo e repercute na luta ilegal e astuta pela retomada do poder.
Traz-se à tona a seguinte relação dos movimentos conservadores que
estiveram por trás do golpe e a perseguição à docência
Com efeito, o golpe tem sua gênese e sustentação nas confederações e institutos privados
que representam os grupos detentores do capital local e mundial; na grande mídia mono-
polista empresarial, parte e braço político e ideológico destes grupos; em setores e figuras
do Poder Judiciário, inclusive na mais alta Corte, uma cínica expressão do torto direito e
da justiça; em setores do Ministério Público e da Polícia Federal; em parte nas diferentes
denominações religiosas, especialmente aquelas que tornaram “deus” uma mercadoria
abstrata, explorando monetariamente a fé simples de fiéis; em universidades onde, como
temia Milton Santos, estão se formando, especialmente nos cursos de mais prestígio
econômico e social, deficientes cívicos. No campo da educação, o núcleo empresarial
golpista e seus intelectuais aninham-se sob a aparência cívica do “Todos pela Educação”
e do “Escola sem Partido”. (FRIGOTTO, 2017, p. 23).
O apartidarismo do Escola Sem Partido também é um fator bastante
equivocado, como bem destaca Ramos (2017, p. 85) “O nome ‘sem partido’
também não é inocente: sob a roupagem de se defender que a escola não ‘tome
partido’”, conclui-se a relevância das palavras do autor a partir do momento em
que percebe-se que a grande maioria de indivíduos que estão por trás do movi-
mento do projeto de lei, são nada menos que políticos ligados a direita, como o
deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ), Izalci (PSDB/DF), Antônio Carlos
Martins de Bulhões (PRB/SP), o senador Magno Malta (Partido Republicano
Brasileiro-PRB/ES) e outros, que não por acaso também defenderam o afasta-
mento da presidenta Dilma Rousseff justificando a razão do voto; não em dados
que comprovassem corrupção ou improbabilidade administrativa cometida por
esta, mas que sustentaram seus votos através do signo “Deus, Família e a Pátria”
(FRIGOTTO, 2017, p. 22).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos como Paulo Freire (2005) que:
É na diretividade da educação, esta vocação que ela tem, como ação especificamente
humana, de endereçar-se até sonhos, ideais, utopias e objetivos, que se acha o que
venho chamando de politicidade da educação. A qualidade de ser política, inerente à
sua natureza. É impossível, na verdade, a neutralidade da educação. E é impossível,
não porque professoras e professores “baderneiros” e “subversivos” o determinem.
A educação não vira política por causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é
política [...] (FREIRE, 2005, p. 110).
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Essa que já foi duramente atacada por ter disciplinas que valorizassem as culturas negra e afro-brasileira, como
a disciplina de “Pretagogia”, por exemplo.