Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.4, n.2, p. 19-32, Jul./Dez., 2018
acesso ao saber erudito, ao saber sistematizado e, em consequência, para expressar
de forma elaborada os conteúdos da cultura popular que corresponde aos seus
interesses.” (SAVIANI, 2012a, p. 70). Assim sendo em face de tantas objeções, a
Pedagogia Histórico-crítica permanece como a possibilidade de se articular uma
proposta pedagógica cujo ponto de referência, cujo compromisso, seja a transfor-
mação da sociedade e não a sua manutenção, a sua perpetuação.
Contudo, no caso do Brasil, o autor acredita que vivenciamos três gran-
des problemas/desafios na questão na materialidade da ação pedagógica o que
tem dificultado uma educação efetiva e emancipatória. A grande questão seria
a ausência de um sistema de educação onde teria entravado o avanço prático da
teoria. Saviani defende que “[...] a não preocupação com a implantação de um
sistema nacional de ensino, no nosso país acabou por gerar um déficit histórico
imenso e secular, de tal que o Brasil ainda é um dos países com os maiores índices
de analfabetismo.” (SAVIANI, 2012a, p. 94). Outro grande desafio diz respeito à
divergência entre a teoria vivenciada e a formulada, ou seja, a estrutura educacio-
nal do nosso país é estruturada em uma base teórica vulnerável e imediatista onde
rapidamente outra teoria é posta em prática sem se oferecer as bases materiais para
que ela se efetive na prática. Para o autor,
[...] um aspecto fundamental da área educacional é organizar o espaço pedagógico, o
campo de atuação, de tal modo que se constitua um ambiente de intenso e exigente
estímulo intelectual. À medida que o espaço é organizado dessa maneira, os que se envol-
vem com os trabalhos se estimulam, passam por exigências, mas são, ao mesmo tempo,
levados a vencê-las, e nesse sentido progride-se, quer dizer, a educação avança, a educação
produz frutos. (SAVIANI, 2012a, p. 107).
O terceiro e último grande problema da nossa educação diz respeito a
questão da descontinuidade uma vez que, para a aprendizagem acontecer, é neces-
sária uma certa continuidade; aprender requer tempo suficiente para provocar um
resultado irreversível, o qual, sem ser atingido, os objetivos da educação não serão
atingidos; requer fugir do imediatismo que vem sendo apregoado na educação
brasileira, em que apenas números interessam.
Então, necessitamos rever a práxis pedagógica e perceber se está a con-
tento para uma educação na perspectiva crítica que contribua para a formação do
ser humano completo, como explicita Saviani (2012a, p. 13): “Para a Pedagogia
Histórico-crítica, educação é o ato de produzir, direta e intencionalmente em
cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente
pelo conjunto dos homens.”
Em História das Ideias Pedagógicas no Brasil (2007), como o título in-
dica, o autor propõe uma síntese sobre as ideias pedagógicas do Brasil que se
tornaram hegemônicas em determinados períodos, influenciando certas práticas
educacionais. O professor é seu principal destinatário. Saviani sustenta-se teorica-
mente em Gramsci – (conceito de hegemonia e de intelectual orgânico) e Marx