CAMACHO, A. C. D.; BARBOSA, M. V.; DUMONT, T. V. R.
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.5, n.1, p. 25-36, Jan./Jun., 2019
coisa mudou, mas não é possível ainda reconhecermos em que profundidade ou
qual a dimensão dos impactos dessa transformação. Ao mesmo tempo em que
esse sentimento nos inquieta e desnorteia, convida-nos (se não nos conduz) a
pensar sobre este movimento de inflexão, em que nos temos mergulhado.
Entendemos, desse modo, que a educação escolar deve ser instrumento
para produção de formas e materiais para suprir as necessidades humanas, pois ela
é uma das formas de “atividade humana” e, por excelência, a socialmente res-
ponsável pela sistematização desse processo (SERRÃO, 2006). É a possibilidade
de existência de indivíduos autônomos e emancipados, sendo assim, estabelecida
relações entre sujeito e práxis, conhecimento e consciência, subjetividade e ob-
jetividade, pensamento crítico etc. Sendo assim, é necessário aos sujeitos sociais
(professores e alunos) da escola o entendimento sobre o seu papel dentro da so-
ciedade. Para Fernandes (1989, p. 38) é necessário:
[...] ao professor compreender que “ensinar a ensinar” é uma “atividade de ensino”,
que pressupõe: a necessidade da apropriação de determinados conhecimentos; inten-
cionalidade, manifesta nos objetivos estabelecidos; o desencadeamento de ações, me-
diadas por estudantes, professores e por instrumentos materiais e ideais, para que tais
objetivos sejam atingidos; e, finalmente, operações que ofereçam as condições para a
realização dessas ações.
O desafio que se coloca, portanto, entre tantos, é pensar formas de tra-
balho que possam estar rompendo com a lógica alienante, isto é, buscar explorar
as contradições presentes na escola e revertê-las em possibilidades concretas de
apropriação do conhecimento por aqueles que são insistentemente classificados
como incapazes de aprender. Para tanto, uma nova perspectiva é necessária para
apreender a escola numa óptica que considere a multiplicidade cultural dos agen-
tes sociais envolvidos, as tramas de suas relações cotidianas, onde há uma disputa
permanente de projetos. Para, Libâneo (2004, p. 5):
Ante as necessidades educativas presentes, a escola continua sendo lugar de mediação
cultural, e a pedagogia, ao viabilizar a educação, constitui-se como prática cultural in-
tencional de produção e internalização de significados para, de certa forma, promover
o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos indivíduos. O modus faciendi dessa
mediação cultural, pelo trabalho dos professores, é o provimento aos alunos dos meios de
aquisição de conceitos científicos e de desenvolvimento das capacidades cognitivas e
operativas, dois elementos da aprendizagem escolar interligados e indissociáveis. Com
efeito, as crianças e jovens vão à escola para aprender cultura e internalizar os meios cog-
nitivos de compreender e transformar o mundo. Para isso, é necessário pensar - estimular
a capacidade de raciocínio e julgamento, melhorar a capacidade reflexiva e desenvolver as
competências do pensar. A didática tem o compromisso com a busca da qualidade cogni-
tiva das aprendizagens, esta, por sua vez, associada à aprendizagem do pensar. Cabe-lhe
investigar como ajudar os alunos a se constituírem como sujeitos pensantes e críticos, ca-
pazes de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver problemas, diante de dilemas
e problemas da vida prática.
A razão pedagógica está
também associada, inerentemente, a
um
valor intrínseco, que é a formação humana, visando a ajudar os outros a se educarem,
a
serem pessoas dignas, justas, cultas, aptas a participar ativa e criticamente na vida social,
política, profissional e cultural.