Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.5, n.1, p. 109-126, Jan./Jun., 2019
Enquanto a versão tradicional da concepção liberal de educação pôs o acento na forma-
ção da pessoa moral, isto é, o cidadão do Estado Burguês, a versão moderna (escolano-
vista) pôs o acento na formação do indivíduo egoísta independente, membro ajustado
da sociedade burguesa. É está educação básica, geral e comum que a burguesia foi capaz
de propiciar à humanidade em seu conjunto.
Quando observamos princípios de Alfabetização do Programa, depa-
ramos com concepção burguesa, expressa por Saviani, a qual parte do princípio do
“Aprender a aprender”, do “protagonismo”, espaço onde qualquer indivíduo,
voluntário a cumprir as Regras do Programas e centrar sua ação na “Pratica”, pode
ensinar, dentro dos princípios da alfabetização, parametrizados pelo programa:
“PRINCÍPIOS: Protagonismo para as redes, Formação centrada na prática, for-
mação docente realizada em serviço.” (BRASIL, 2017, p.16).
Esses princípios caminham contra o modelo de educação emancipado-
ra, a qual defendemos para a classe e os filhos dos trabalhadores. Esse princípio
de
“Formação centrada na prática”
é adverso ao que os neoliberais denominam
“educação conteudista”. De acordo com Duarte (2016, p. 48):
Uma crítica feita com muita frequência aos currículos escolares é a de que eles seriam
constituídos por “conteúdos prontos e acabados”, coisas mortas, inertes desconectados
da
vida dos alunos e opostos ao caráter ativo que deveria ter a aprendizagem. É nessa
direção que educação escolar recebe o adjetivo de conteudista e em contraposição, é
defendida uma educação pautada na vida, nos processos de construção do conhecimento
e na realização de atividades voltadas para questões do cotidiano.
Observamos assim uma concepção unilateral, de cunho polissêmico,
trabalhando pontualmente em métodos e procedimentos, com a ideia de for-
mação apenas pela prática, excluindo-se, totalmente, a reflexão crítica e estudos
teóricos do trabalho docente, anulando-se todo e qualquer relação de conteúdos
científicos, artísticos e filosóficos, expressando a hegemonia da classe empresarial
no processo de organização e produção da “Política de Alfabetização” (2017), na
qual surge o Mais Educação.
Segundo Saviani (2003), o domínio da escrita, é o que marca o desen-
volvimento pleno da espécie humana. Porém, não é essa concepção posta por
meio do PMALFA, uma vez que sua concepção de alfabetização cumpre ação as-
sistencialista de educação. “Finalidades: a prevenção ao abandono, à reprovação,
à distorção idade/ano, mediante a intensificação de ações pedagógicas voltadas ao
apoio e fortalecimento do processo de alfabetização. (BRASIL, 2018, p. 5).
Logo, essa alfabetização não corresponde, como afirmam Dangio e
Martins (2018), ao processo de alfabetização omnilateral. Na concepção da Peda-
gogia Histórico-Critica:
Alfabetização deve estar estreitamente ligada a processos educativos desenvolventes, que
cumpram seu papel de instrução das convenções da língua e da comunicação, como uma
condição para integração de todos na vida social e profissional, promovendo a humani-
zação das funções psíquicas em sua conversão em funções culturais, isto é, superiores.
(DANGIÓ, MARTINS, 2018, p. 59).