A análise do conto “a menor mulher do mundo” de Clarice Lispector
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Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.4, n.1, p. 65-78, Jan./Jun., 2018
A ANÁLISE DO CONTO A MENOR MULHER DO MUNDO DE
CLARICE LISPECTOR: CONTEÚDO E FORMA NO MATERIALISMO
DIALÉTICO
THE ANALYSIS OF THE TALE THE LITTLE WOMAN OF THE WORLD BY
CLARICE LISPECTOR: CONTENT AND FORM OF DIALECTICAL MATERIALISM
Andressa Cristina Molinari
1
Ana Claudia Bazé de Lima
2
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
3
Daniele Aparecida Russo
4
Rosângela Miola Galvão de Oliveira
5
Sandra Aparecida Pires Franco
6
R
ESUMO
:
O objetivo do texto é analisar o conto “A menor mulher do mundo” de Clarice Lispector
sob a vertente do Materialismo Histórico e Dialético, em específico, as características do feminino
no conto e sua relação com a categoria dialética conteúdo e forma. A Literatura em seu processo
histórico-social demonstra por meio de suas personagens as transformações sociais de pensamentos,
comportamentos, que refletem os anseios e as necessidades da sociedade em momentos pontuais. Na
literatura brasileira esse processo também ocorre e pode servir de alicerce histórico e social ao leitor.
No caso das personagens femininas, as transformações podem evidenciar o caráter discriminatório
sofrido pela figura da mulher em diferentes âmbitos: social, político, religioso, cultural, psicológico,
econômico, histórico. A análise do conto busca evidenciar o papel social da mulher no contexto
de produção da narrativa, tendo como parâmetro o todo dialético de Marx, cuja transformação
da realidade prima pela compreensão da totalidade na qual está inserido o conto e suas inter-
relações com a produção da personagem de Clarice Lispector. Para tanto, primeiro, faz-se necessária
a compreensão dos conceitos de conteúdo e forma na perspectiva do materialismo histórico e
dialético para o real entendimento do conto que se apresenta escrito na língua portuguesa e na
inglesa. Em segundo, a apresentação do contexto histórico e social de produção da história. Para em
terceiro, analisar o papel feminino no conto da personagem principal, articulando os conceitos de
1
Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Educação pela UEL, (PR). Professora colaboradora na mesma
Universidade no curso de Letras-Inglês e professora da Rede Básica de ensino. dessinha_molinari@hotmail.com
2
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação pela UNESP FFC- Marília (SP). anabazetl@hotmail.
com
3
Livre-Docente em Leitura e Escrita. Professora na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Educação
pela UNESP FFC- Marília (SP). cyntiaunespmarilia@gmail.com
4
Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Educação pela UNESP FFC- Marília (SP). danirusso1@
hotmail.com
5
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UEL. rmgalvao2012letras@gmail.com
6 Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEL. sandrafranco26@hotmail.com
http://doi.org/10.33027/2447-780X.2018.v4.n1.06.p65
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conteúdo e de forma, em comparação com a tradução de trechos da obra em inglês. A análise do
conto nessa perspectiva teórica proporciona ao leitor o entendimento dos conceitos de conteúdo
e forma, de maneira que se evidencia a importância do contexto histórico e social de produção
para a compreensão da essência do conto. Percebe-se pela análise do feminino, que apesar das
conquistas sociais atuais da mulher no país, ainda encontramo-nos subjugadas ao papel subalterno
e coadjuvante no que concerne à transformação social, e, estando a margem do processo, nos cabe
apenas a imagem romântica de símbolo de amor incondicional.
P
ALAVRAS
-
CHAVE
:
Conteúdo e forma, Feminino, Materialismo histórico e dialético.
ABSTRACT: The purpose of the text is to analyze the tale “The Lesser Woman of the World” by
Clarice Lispector under the heading of Historical and Dialectical Materialism, specifically, the
characteristics of the feminine in the tale and its relation to the dialectical category content and
form. Literature in its historical-social process demonstrates through its characters the social
transformations of thoughts, behaviors, which reflect the yearnings and needs of society in specific
moments. In Brazilian literature this process also occurs and can serve as a historical and social
foundation for the reader. In the case of the female characters, the transformations can show the
discriminatory character suffered by the woman in different spheres: social, political, religious,
cultural, psychological, economic, historical. The analysis of the story seeks to highlight the
social role of women in the context of the production of the narrative, having as a parameter the
dialectical method of Marx, whose transformation of reality excels by the comprehension of the
totality in which the tale is inserted and its interrelations with production the character of Clarice
Lispector. First, it is necessary to understand the concepts of content and form in the perspective
of historical and dialectical materialism for the real understanding of the story that is written in
Portuguese and English. Second, the presentation of the historical and social context of production
of history. Thirdly, to analyze the female role in the tale of the main character, articulating the
concepts of content and form, compared to the translation of excerpts from the work in English.
The analysis of the story in this theoretical perspective gives the reader the understanding of the
concepts of content and form, in a way that shows the importance of the historical and social
context of production for the understanding of the essence of the story. We can see from the analysis
of the feminine that, despite the current social achievements of women in the country, we still find
ourselves subjugated to the subordinate and supporting role in social transformation, and being the
margin of the process, we only have the romantic image of unconditional love symbol.
K
EY WORDS
: Content and form, Female. Historical and dialectical materialism.
P
ALAVRAS
I
NICIAIS
Na literatura, a personagem feminina exerceu por muito tempo um
papel secundário, normalmente era relacionada com as atividades cotidianas, que
forneciam a base para a sobrevivência da prole. As carências, os incômodos, a
perturbação do ser feminino ficavam em segundo plano, cabia ao autor ressaltar
um ser maternal e romântico, que em suma, aflorava a condição subalterna
conferida à mulher na sociedade.
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No entanto, o fazer feminino não sucumbiu à opressão do sistema, ao de
ser coadjuvante, mas buscou mostrar sua existência nas mais variadas esferas,
dentre elas as artes, e é isso o que Clarice Lispector apresenta em suas obras, a mu-
lher como um ser aparentemente frágil, ou ainda, inerte ao que ocorre a sua volta,
que ao transformar-se, como uma fênix, passa de um estágio de obscuridade para
outro de total liberdade de visão da realidade. Portanto, tendo a figura feminina
como estrela principal de suas histórias, Lispector busca nas profundezas do pen-
samento feminino a resposta para suas ações como sujeito social. Para compreen-
der a imensidão dos fatores que regem o conteúdo explorado pela escritora, faz-se
necessário o uso de formas que façam com que o leitor construa interação com as
mensagens introspectivas de Lispector.
Assim, unir a análise do feminino em uma obra de Lispector, com a im-
portância do trabalho docente junto a conteúdo e forma, torna-se um desafio às
autoras, e ao mesmo tempo, uma necessidade ao leitor, para que tenha a compre-
ensão da totalidade de conhecimentos que envolve a temática. Para isso, o artigo
apresenta as considerações de autores do materialismo histórico-dialético sobre
o conceito de “conteúdo e forma”, de modo a caracterizar o tema. Em seguida,
busca, mediante resgate histórico, o papel da mulher na literatura, de maneira a
caracterizar a realidade vivenciada pela mulher como sujeito social; e, por último,
finaliza com a análise histórico e social da personagem principal do conto “A me-
nor mulher do mundo” de Clarice Lispector.
CONTEÚDO E FORMA NO MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO
[...] a história é como o veículo de todo signo produzido, funcionando como a transpor-
tadora de signos ditos ao encontro de signos ainda não ditos. A cada novo acontecimento,
a cada nova produção ideológica a história se recompõe, reescreve-se, atualiza-se. (GEGE,
2013, p. 56).
A história pode ser considerada como motor propulsor das transfor-
mações sociais do homem. Ela apresenta as diferentes fases nas quais o trabalho
possibilitou a ascensão do homem em relação a outros animais. Para entender esse
processo, o materialismo histórico e dialético considera o trabalho a chave mestra
do desenvolvimento humano. Com o trabalho, o homem transforma a natureza
de acordo com as suas necessidades, mas ao fazê-lo também se transforma, assim,
o homem está em constante transformação, o que resulta no desenvolvimento
do pensamento humano. Nota-se que essa dinamicidade se reflete no trabalho
gerando diferentes formas de reali-lo e fazendo surgir modos de produção dife-
renciados, tais como o capitalismo. O surgimento e a ascensão do capitalismo são
momentos históricos que nos permitem observar as transformações do trabalho
humano, nas quais o homem passa de conhecedor do processo integral de pro-
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dução do objeto, no feudalismo, para mero reprodutor de fragmentos do fazer,
alienando-se, dessa forma, no capitalismo.
O trabalho educativo não está isento das interferências da história e da
alienação do fazer docente, aliás, constitui-se como alicerce para a luta de clas- ses
e a transformação da realidade e formação do sujeito crítico (MARX, 2011;
GRAMSCI, 1979; MÉSZÁROS, 2007; SAVIANI, 2011). Para que a instituição
escolar, mais especificamente o educador, oportunize a formação humana é preci-
so o trabalho com os conceitos de conteúdo e forma, de maneira que os docentes
possam abdicar do papel de transmissores do saber, para o de mediadores do co-
nhecimento. A função de mediador transcende o ensino metódico e reprodutivo,
ele leva o estudante a ascender continuamente o conhecimento, pois permite ao
aluno partir de um patamar de conhecimentos e chegar a outro pela síntese, al-
cançando maior entendimento, e por conseguinte, o fará sucessivamente em sua
vida, ganhando autonomia na condição de ser social, pois passa a compreender
a dinâmica do conhecimento, que é histórico e social, ou seja, modifica-se de
acordo com as necessidades da sociedade em determinado momento histórico
(VIGOTSKI, 2010; MARTINS, 2011).
Assim como o conhecimento, o conteúdo e a forma também não são
estanques. Eles inter-relacionam-se na constituição do objeto, fato ou fenômeno.
Pode-se considerar que o conteúdo é distinto do significado de essência, pois a
essência é inerte, estável, no entanto, o conteúdo é dinâmico, mutável. Pode-se
considerar que o conteúdo é formado pelo principal e por uma estrutura, não
fragmentada, mas em constante interação com o principal, sendo as partes: o
principal - o elemento fundamental, e a forma - a estrutura, a ponte estabelecida
para o entendimento do conteúdo. Portanto, essas partes são indissociáveis para a
compreensão do objeto, entretanto sofrem a dinâmica da transformação que ora se
manifesta em uma ou em outra parte. Assim sendo, define-se como especifici- dade
para o conteúdo a capacidade de “refletir o conjunto dos processos próprios à
coisa”, e da forma, o “refletir o laço entre os elementos”, ou seja o conteúdo seria o
conhecimento em si, e a forma, a maneira como transformá-lo em conhecimen-
to
para si (CHEPTULIN, 2004, p. 254) processo fundamental na ação educa-
tiva
desenvolvente que leve cada sujeito a adquirir para si as qualidades humanas.
Na visão de Lefebvre (1991), o movimento do pensamento a princípio é
abstrato e indetermina o conteúdo, considerando-o como o nada, pois ainda não
está configurado em suas concepções que buscam na tentativa de compreensão da
totalidade estabelecer um conteúdo e uma forma ao objeto, fato ou fenômeno.
Na contradição do ser em relação ao nada abstrato, que não foi estabelecido no
pensamento, está a necessidade de um conteúdo, da materialidade, introduzindo
o novo, o desconhecido. Na análise do novo ao pensamento, o conteúdo adquire
aspectos, qualidades, quantidade em um processo que envolve as contradições
presentes e dão movimento ao conhecimento do ser, o sujeito constitui o novo.
Assim, a contradição não exclui o desconhecido, mas o incorpora, no qual cada
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termo contraditório “[...] é aquilo que nega o outro; e isso faz parte dele mesmo
[...]” fornecendo ao sujeito a realidade concreta e determinando o conteúdo e a
forma do objeto, fato ou fenômeno (LEFEBVRE, 1991, p. 178).
A compreensão do objeto, fato e ou fenômeno pelo sujeito consiste no
trabalho com o conteúdo e com a forma, e assim, no desvelar dessa dicotomia,
ou ainda, na contradição estabelecida para o entendimento do novo. Portanto, o
trabalho desvinculado, do conteúdo e da forma, impossibilita o pensamento, e
consequentemente o conhecimento.
Ao compreender o mecanismo que une conteúdo e forma, podemos
relacionar o processo de transformação e conhecimento do signo na linguagem.
O signo constitui-se em uma parte material que é o significante e uma parte
abstrata que é o significado (BAKHTIN, 1988), no entanto, as partes são indis-
sociáveis para a constituição da palavra, do signo. Para compreender a palavra em
sua totalidade se faz necessária a junção entre o significado e o significante, que
sofrem a influência histórico e social, pois modificam-se historicamente como
se pode observar, por exemplo, no uso da palavra “senhora” no Brasil: à época
da escravidão representava um status social, mulher de dono de escravos, patroa
com muitas terras, e em sua maioria eram senhoras as mulheres brancas. Com o
decorrer dos anos, a palavra passou a representar respeito pelas mulheres casadas,
donas de casa. Atualmente, a palavra “senhora” é pouco utilizada por estabelecer
na mulher uma denotação de velha.
Desde este ponto de vista, vejamos os signos em Clarice Lispector.
CLARICE E AS MULHERES DO MUNDO
A representação honesta da perspectiva feminina na literatura, ainda
que com algumas exceções, é fato muito recente, especialmente na história li-
terária do Brasil. Como afirma Schmidt (1995, p. 183), durante muito tempo
ocorreu em nossa literatura uma verdadeira “negação da legitimidade cultural da
mulher como sujeito do discurso exercendo funções de significação e represen-
tação”, isso tanto no âmbito da autoria quanto no âmbito da caracterização da
mulher como personagem ficcional. Essa configuração se deu especialmente pela
dificuldade das mulheres em penetrar em um universo marcadamente masculino,
no qual a crítica especializada insistiu duramente em uma ideia de inferioridade da
mulher e sempre [...] se recusou a ouvi-la quando ela não falou (e escreveu) do
ponto de vista do universal, isto é, do ponto de vista masculino.” (SCHMIDT,
1995, p. 185). Deste modo, a perspectiva feminina não conseguia se inserir na
literatura e, quando o fazia, era sumariamente descartada dos registros históricos.
Ainda segundo a autora, essa visão prevaleceu até a década de 70, quando apenas
três escritoras haviam vencido a barreira sexista na literatura brasileira: Raquel de
Queiroz, Cecília Meireles e Clarice Lispector. Muito à frente de seu tempo, essas
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escritoras superaram um contexto histórico altamente desfavorável e prepararam
terreno para que, também com o desenvolvimento do movimento feminista, ou-
tras escritoras e críticas literárias pudessem se estabelecer no cenário nacional.
Percebe-se, assim, que seria um trabalho inglório tentar situar Clarice
Lispector em acordo com as visões de feminino do seu tempo ou mesmo com
os questionamentos do movimento feminista que se desenvolveu em sua época.
Como a escritora e pensadora de vanguarda que era, Clarice problematizou a
questão da mulher na sociedade de um modo que viria a se popularizar por
volta da década de 90, com a terceira onda do movimento feminista. Com a
conquista de direitos básicos como o sufrágio, sedimentados nas décadas de 40
e 50, as mulheres passaram a buscar cada vez maior espaço político e cultural,
denunciando a opressão masculina em diversos aspectos da vida social. Ocorre, no
entanto, que essa luta se resumia a uma visão branca e de classe-média do que
era
ser mulher. Somente muitos anos depois da morte de Clarice, ocorrida em
1977, é que se disseminaria o ideal de um movimento feminista plural e mais
autocrítico. “A menor mulher do mundo”, publicado pela primeira vez em 1960,
em Laços de família, é, assim, um conto que trata do feminino a partir de uma
posição que denuncia tanto a opressão sofrida pelas mulheres em uma sociedade
patriarcal, quanto a reprodução exercida por essas mesmas mulheres de ideais que
diminuem e inferiorizam sua própria condição de mulher, bem como outras que
seriam menos mulheres ou menos humanas que elas.
O conto, que trata da expedição de um explorador francês a uma lon-
gínqua tribo de pigmeus no Congo, descreve o insólito encontro do homem
branco civilizado com a menor mulher do mundo, negra, selvagem, grávida. Uma
foto é então tirada do pequeno ser que o homem, Marcel Pretre, apelidara de
Pequena Flor por sentir “necessidade imediata de ordem, e de dar nome ao que
existe.” (LISPECTOR, 1990, p. 88). Essa foto é publicada em tamanho real em
um jornal de domingo e o narrador interrompe a descrição da interação entre
Pretre e Pequena Flor para apresentar as diferentes reações de leitores, com grande
destaque para a experiência feminina, ao se deparar com a imagem da pequena
pigmeia. Mantendo esse jogo com o foco narrativo que tem claras intenções com-
parativas, o contato entre descobridor e descoberta é ainda retomado e o conto se
encerra, enfim, com um retorno a uma personagem urbana.
Dos aspectos temáticos da obra, o primeiro a chamar atenção é o mito
do homem branco conquistador que se manifesta na figura do explorador Mar-
cel Pretre. A palavra “explorador”, aliás, como observa Peixoto (1994), pode ser
entendida a partir de dois sentidos: aquele que pesquisa e estuda algo novo ou
aquele que se beneficia às custas de outros. Claramente, não é por acaso que
Clarice estabelece o confronto entre uma personagem masculina travestida de toda
a autoridade que uma sociedade falocêntrica lhe confere e uma personagem
feminina despida de qualquer conhecimento sobre o funcionamento do mundo
dito civilizado. Marcel Pretre representa o senso de superioridade masculina e
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inferioridade feminina tão forte à época em que o conto fora escrito e ainda
muito presente em nossa sociedade. O modo como o explorador a pigmeia,
como uma criatura misteriosa e simplória a ser domada, com direito a nomeá-la
a partir de convicções próprias, é o mesmo modo pelo qual a estrutura patriarcal
enxergou as mulheres ao curso de todo o seu domínio na sociedade.
Acontece, porém, que essa noção é subvertida no momento em que
Pequena Flor coça-se “onde uma pessoa não se coça” (LISPECTOR, 1990, p.
89). Além do indicativo de ausência de civilidade, o ato da pigmeia é, também,
uma afronta a uma visão de mundo que nega à mulher o direito ao gozo e ao
desejo sexual, predominante no Brasil da década de 60. Mais ainda, se “hoje
é permitido às mulheres que escolham se querem, ou não, se casar, ter filhos,
ter um parceiro fixo, ou zapear por diversos parceiros” (PATRASSO; GRANT,
2007, p. 140), as opções das mulheres da época eram muito mais limitadas
e giravam em torno de uma lógica do sacrifício e não da realização pessoal.
Pequena Flor, dessa maneira, representa uma mulher livre das amarras sociais
que
reprimem seus desejos e lhes relega a uma humanidade secundária, infe-
rior,
como veremos na inevitável comparação entre a selvagem e as mulheres
urbanas,
civilizadas, que se deparam com sua fotografia no jornal. A foto de
Pequena
Flor desperta nessas mulheres seus desejos mais íntimos, mas também seus
temores esquecidos, expõe as scaras que elas tiveram de assumir para se
adequar à sociedade em que vivem.
Tanto o é dessa maneira que a primeira mulher a ser apresentada,
de forma muito breve, sente-se aflita ao ver a imagem da pigmeia e se recusa a
olhar mais atentamente, possivelmente por ver ali algo de si mesma que ela não
tenciona aceitar. Em outra casa, um menino “esperto”, como coloca o narrador,
deseja tomar Pequena Flor como um brinquedo. A atitude aparentemente ino-
cente denuncia um grande problema que perdura ahoje em nossa sociedade:
a objetificação da mulher. Como afirmam Lourenço, Artemenko & Bragaglia
(2014, p. 4), a objetificação “pode tornar o corpo feminino suscetível a desres-
peito por parte de alguém, sem que isso pareça errado.” O menino não mal
algum em tratar como brinquedo aquela criatura da fotografia porque, intuiti-
vamente levado por sua construção social, ele a considera inferior a si, assim
como muitos homens adultos que violentam e abusam de mulheres assumem
como justificativa para seus atos a ideia de que esse comportamento faz parte
de sua natureza. Clarice evidencia que é na infância que esse pensamento se
estabelece na identidade masculina.
A mãe se assusta com a propensão do filho a esse “amor” violento, mas
se assusta ainda mais com a ideia de que isso tenha sido herdado dela mesma.
Ao invés de educá-lo para que não trate assim outro ser humano, no entanto, ela
pensa em comprar-lhe um novo terno, em mantê-lo sempre limpo, em ocultar
com toda a civilidade possível os sentimentos mais obscuros de seu rebento, assim
como os fazia com os próprios:
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Então, olhando para o espelho do banheiro, a mãe sorriu intencionalmente fina e polida,
colocando entre aquele seu rosto de linhas abstratas e a cara crua da Pequena Flor, a
distância insuperável de milênios. Mas, com anos de prática, sabia que este seria um do-
mingo em que teria de disfarçar de si mesma a ansiedade, o sonho, e milênios perdidos.
(LISPECTOR, 1990, p. 92).
A mulher branca, urbana, de classe média se recusa a se identificar com
uma mulher negra, pobre e rural, mesmo que tenha de se sacrificar para isso, mes-
mo que a identificação pudesse ser o passo necessário para superar a própria alie-
nação. Esse sentimento se revela também em outra passagem, quando uma moça,
piedosamente, mostra o retrato de Pequena Flor para a mãe, afirmando que ela
é “tristinha”. A mãe, por sua vez, “[...] dura e derrotada e orgulhosa”, responde
que é “tristeza de bicho, não é tristeza humana.” (LISPECTOR, 1990, p. 90). A
desumanização de Pequena Flor é uma maneira de justificar a superioridade com
que essa mãe se coloca em relação a ela, do mesmo modo que a objetificação da
mulher justifica a superioridade do homem. A mulher, assim, acaba por reprodu-
zir e fortalecer os mesmos mecanismos que conduzem sua própria opressão. Isso
ocorre, tamm, em outra passagem, quando uma mulher, ao ver a fotografia,
cobiça Pequena Flor para trabalhar como serviçal em sua casa. É um desejo de
posse, a posse de uma “coisa rara”, como ela mesma afirma, mas não mais que
uma coisa, algo inferior, inumano.
E em se falando de opressão, lembramos mais uma vez da repressão
sofrida pela mulher em relação a seu desejo sexual com o trecho em que
uma senhora sente “[...] perversa ternura pela pequenez da mulher africana.”
(LISPECTOR, 1990, p. 90). De acordo com Mcavey (1998), essa passagem
sugere um desejo homossexual sobre o qual o próprio narrador faz comentários
homofóbicos, posto que, àquela época e ainda hoje em setores conservadores e
fundamentalistas de nossa sociedade, a homossexualidade era considerada uma
perversão. Ainda segundo a autora, esse tom homofóbico se dissipa antes do fim
da passagem, quando o narrador retrata essa mulher como uma pessoa oprimida,
solitária e perturbada por um desejo que esconde até de si mesma face a uma
sociedade que o condena.
Há, ainda, três momentos do conto que abordam o amor egoísta. Um
deles retrata uma menininha de cinco anos de idade que se choca, frente à ima-
gem de Pequena Flor, com a realização de que não é mais o menor ser humano
do mundo, condição essa que lhe garantia os maiores carinhos da família. Os
outros dois momentos utilizam a ideia do amor egoísta para derrubar um gran-
de mito que cerca o universo feminino: o mito da boa mãe, do amor maternal
incondicional, inerente à mulher. Logo no início da história, o narrador afirma
didaticamente, sem qualquer emoção, que os likoualas, tribo de Pequena Flor,
não cuidam de um filho como a civilização ocidental o faz, “a liberdade lhe é dada
quase que imediatamente” (LISPECTOR, 1990, p. 88) após o nascimento. Esse
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distanciamento, ou indiferença, é chocante para uma cultura que crê no amor
incondicional e inevitável de uma mãe pelo filho. Clarice questiona uma ideia
que na atualidade começa a ser discutida e que leva muitas mães a sentir-se
más e cruéis por não conseguir gerar um sentimento sobre o qual elas não têm o
menor controle. durante a cena dae cujo filho gostaria de brincar” com Pe-
quena Flor, ela rememora uma história que lhe fora contada por uma cozinheira,
do tempo em que esta última esteve em um orfanato. Uma das meninas faleceu,
mas o cadáver fora escondido da freira a fim de que as outras meninas pudessem,
na ausência de bonecas, brincar com o corpo. E é justamente isso que elas fazem,
tratando a menina como uma filha, a qual elas banham, alimentam, castigam e
consolam. É uma clara crítica à cultura maternal imposta às mulheres desde a in-
fância, “a cruel necessidade de amar” (LISPECTOR, 1990, p. 91) e, mais ainda,
de amar um filho.
Finalmente, retornando ao encontro entre Pretre e Pequena Flor, o ex-
plorador é surpreendido por um riso quente da menor mulher do mundo, um
riso que causa desconforto no homem por acreditar que ela esteja rindo dele. En-
tretanto, revela o narrador onisciente de Clarice, Pequena Flor ria porque estava
viva, por não ter sido devorada pela tribo dos bantos que caça e come os seus, ria
porque “[n]ão ser devorado é o sentimento mais perfeito. Não ser devorado é o
objetivo secreto de uma vida” (LISPECTOR, 1990, p. 94). Metaforicamente, a
pequena mulher goza de sua liberdade, de seu não condicionamento a uma pos-
tura dolorosamente civilizada tal qual as personagens urbanas que lhe são postas
em contraste. E é por isso que, quando Marcel Pretre lhe pergunta se é bom ter
sua própria árvore para morar, a pigmeia responde que sim e o narrador denuncia
seu sentimento de que “é bom possuir”. “O amor, como Pequena Flor o conhece,
é a combinação de satisfação sensual, do alívio de estar segura, ainda que tem-
porariamente, da ameaça dos bantos, e do conforto e autonomia de possuir um
lar-árvore (teto?) todo seu” (WILLIAMS, 1998, p. 179)
7
. Pequena Flor goza, na
realidade, do grande prazer negado a tantas mulheres de ter autonomia, de ter
independência, de possuir a si mesma.
LISPECTOR, BISHOP E A PERDA DE SIGNIFICADO
Nota-se na tradução de Elizabeth Bishop para o conto “A menor mu-
lher do mundo”, originalmente publicada na revista The Kenyon Review, em
1964, uma busca por representar com fidelidade as ideias de Clarice Lispector
e, principalmente, manter o ritmo e a fluidez da narrativa. Algumas nuances do
texto, no entanto, são sacrificadas seja pela falta de correspondência entre os sig-
nificados das palavras em português e inglês, seja justamente por abandonar tra-
7 Love, as Pequena Flor experiences it, is a combination of sensual satisfaction, the relief of being safe, if
temporarily, from the threat of the bantus, and the comfort and autonomy of possessing a three-house (room?)
of
her own.
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ços característicos da escrita de Lispector em prol do fluxo da linguagem, o que
nos permite relacionar que o conteúdo expresso no texto literário pode não ser
o mesmo quando a mudança da forma, ou seja, da escrita do texto em língua
inglesa. Vejamos.
Uma questão que logo de início salta aos olhos e que foi abordada
nesse trabalho, de acordo com o que pontua Peixoto (1994), é o duplo significa-
do, em português, da palavra “explorador”. Enquanto em nossa língua podemos
utilizar a mesma palavra para tratar de um indivíduo que se aventura na busca por
inovações e descobertas, bem como de um indivíduo que obtém vantagens sobre
outro alguém, a língua inglesa não permite essa mesma compreensão. Em inglês,
temos uma palavra para cada significado, sendo utilizada para o primeiro o termo
explorer e para o segundo o termo exploiter. Considerando que, no conto, a ideia
de exploração humana se mantém subentendida e que não seria plausível a perda
do sentido literal assumido pela palavra “explorador” no texto, não haveria outro
caminho para a tradução senão aquele tomado por Bishop. Isso não significa que
se torne impossível a leitura de Marcel Pretre como um exploiter a narrativa
indica esse sentido em diversos momentos , mas é inegável que uma parte im-
portante da força dessa leitura se perde com a ausência do significado.
Caso mais complicado, com perda de sentido não explicitamente re-
cuperada pela narrativa, se ainda no primeiro parágrafo da história onde, em
português, se lê: “menor povo ainda existia além de florestas e distâncias.”(LIS-
PECTOR, 1990, p. 87). Na tradução de Bishop temos o seguinte: a still smaller
people existed, beyond forests and distances.(LISPECTOR, 1964, p. 501). En-
quanto a palavra “ainda” pode ser lida tanto pelo viés da gradação quanto pelo
viés da permanência, a palavra still carrega somente a primeira acepção. Não é um
caso, como com explorer, de ausência de significado, posto que a palavra still
possui, em inglês, os mesmos significados que a palavra “ainda” em português.
Ocorre, no entanto, que o modo como a frase foi escrita em inglês impede um
segundo significado. Se tomarmos em consideração que Clarice poderia ter es-
crito a sentença de diversas maneiras, incluindo “ainda menor povo” ou “povo
ainda menor”, que dariam um único sentido à frase, não seria leviano assumir
que a escolha da autora foi cuidadosamente deliberada. Justamente por tratar da
exploração realizada pelo homem branco e, como se sabe, essa exploração levou
à destruição de inúmeras culturas e à extinção de muitos povos ao longo da His-
tória , o sentido de permanência reverbera profundamente no texto. Os likoualas
permaneciam ainda porque permaneciam intocados, porque permaneciam livres
da devastação que caminha junto ao explorador.
Mais uma questão de transformação do significado encontramos com
a tradução da palavra “inconfortável” no trecho que trata das digressões da e
cujo filho gostaria de ter Pequena Flor como seu brinquedo: “Assim olhou ela,
com muita atenção e um orgulho inconfortável, aquele menino que já estava sem
os dois dentes da frente, a evolução, a evolução se fazendo, dente caindo para
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nascer o que melhor morde.” (LISPECTOR, 1990, p. 91, grifo nosso). De acordo
com o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, a palavra “inconfortável” significa
“não confortável” e remete àquilo “que não se pode confortar; inconsolável”, mas
também àquilo “que não proporciona comodidade, conforto físico, bem-estar”, que
é “desconfortável” (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1066). Visto que a pala- vra
“desconfortável” é mais corrente na língua portuguesa e sinônimo daquela
empregada por Clarice, fica evidente que esse termo atua no texto com uma fun-
ção específica que seu sinônimo não poderia desempenhar. Enquanto a palavra
“desconfortável” remete somente àquilo que não possui conforto ou que é/causa
incômodo, a palavra “inconfortável” nos remete àquilo que não pode ser confor-
tado, que é impossível de confortar.
Um adjetivo como esse, claramente, não se aplica ao sentimento de
orgulho, seja ele de simples satisfação ou de arrogância; não se conforta orgulho.
Mas essa ligação de palavras aparentemente contraditórias é um artifício típico da
literatura de Clarice Lispector e visa, justamente, gerar um desconforto no leitor
e aludir a uma sensação que é difícil nomear, mas que o leitor compreende bem.
Clarice atribui ao orgulho um significado doloroso, difícil de suportar, como a
percepção da aptidão para a violência que os dentes afiados de um filho provo-
cam. É desconfortável manter-se orgulhosa diante disso e é também inconfortável
esse desconforto posto que a autora ironiza nas entrelinhas é impossível não
sentir orgulho de um filho. Deste modo, notamos que a tradução de Elizabeth
Bishop, que traz a expressão uncomfortable pride (LISPECTOR, 1964, p. 504),
captura somente um espectro do que buscava dizer Clarice, a ideia de descon-
forto. Em inglês, a noção de “algo que não pode ser confortado” seria melhor
representada pela palavra inconsolable, inconsolável, mas seria perdido, assim, o
sentido de desconforto.
ainda na tradução outros termos que geram similares diferenças de
significado, no entanto, tendo em vista que mencionamos um traço estilístico
de Lispector, passaremos à análise de dois outros aspectos típicos da escrita da
autora que foram e dessa vez, possivelmente, por escolhas puramente estéticas
modificados por Bishop. Um deles é a repetição, quase que imediata, de frases
e palavras. Essa repetição, que se nota em inúmeros trabalhos de Lispector e que
Barbosa & Moraes (2007, p. 83) consideram uma tentativa de “tirar o máximo de
significância da palavra até o seu esvaziamento, podendo provocar assim, parado-
xalmente, a geração de novos significados”, está muito presente na versão original
de “A menor mulher do mundo”. Já na tradução, embora muitas repetições sejam
mantidas, algumas delas foram “polidas” pela tradutora.
Vejamos um trecho em que Clarice se utiliza do recurso: “Enquanto
isso, na África, a própria coisa rara tinha no coração quem sabe se negro também,
pois numa Natureza que errou uma vez não se pode mais confiar , enquanto
isso a própria coisa rara tinha no coração algo mais raro ainda” (LISPECTOR,
1990, p. 93). A tradução de Bishop traz da seguinte forma: In the meanwhile, in
MOLINARI, A. C.; LIMA, A. C. B.; GIROTT, C. G. G. S.; RUSSO, D. A.; OLIVEIRA, R. M. G.; FRANCO, S. A. P.
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Africa, the rare thing herself, in her heart and who knows if the heart wasn’t black,
too, since once nature erred she can no longer be trusted the rare thing herself had
something even rarer in her heart(LISPECTOR, 1964, p. 505). Percebe-se que
uma repetição, mas que funciona somente como retomada do pensamento
após a digressão do narrador, muito diferente da repetição desnecessária” que
encontramos no original. E é justamente essa suposta ausência de função que
proporciona o esvaziamento de sentido e geração de novos significados de que
falam Barbosa & Moraes (2007). Pelo fato de a repetição da frase “enquanto
isso” não exercer um papel objetivo na comunicação da ação, ela e tudo o que
a ela se segue adquire um significado subjetivo, levando o leitor a repensar suas
impressões e convicções tomadas antes da observação irônica e intrusiva realizada
pelo narrador dentro dos travessões.
E falando em travessões, chegamos ao segundo aspecto estilístico de
Lispector a ser modificado por Bishop: a pontuação. Em todos os contos que
compõem Laços de família, possivelmente por se tratar de uma literatura altamen-
te introspectiva, nota-se uma tendência a uma clara distinção entre os usos de tra-
vessões e aspas no que tange à demarcação de atos de enunciação das personagens.
Travessões são utilizados, geralmente, para indicar alguma interação verbal direta
entre as personagens. as aspas são reservadas para memórias, pensamentos, sen-
timentos e sensações, para aquilo que não se pretende objetivo, mas que é fruto da
perspectiva individual de cada um sobre a realidade. Na tradução de Bishop, por
sua vez, aspas são utilizadas indistintamente para qualquer uma dessas situações.
Devido a isso, a distinção entre objetivo/subjetivo embaraça-se e perde-se alguns
matizes acerca da vida interior das personagens, tão fundamental no universo
literário de Clarice Lispector.
Naturalmente, embora tenhamos mantido enfoque especificamente em
questões de perda de sentido entre original e tradução, isso não significa que a
tradução de Bishop não possua pontos fortes ou mesmo que o que chamamos de
perda de sentido possua necessariamente um caráter negativo. Elizabeth Bishop
obtém grande êxito, como dissemos anteriormente, em proporcionar ao leitor de
língua inglesa uma linguagem fluida e agradável, bem como agrega ao texto uma
visão própria ao fazer as escolhas que fez. A perda de alguns significados intro-
duzidos por Clarice Lispector em seu texto não representa, de forma alguma, o
extermínio da significação, mas a atribuição de novos significados que poderão
ser compreendidos a partir de um estudo da perspectiva literária da própria Eliza-
beth Bishop. Trata-se então de uma nova forma para o texto literário em análise.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho no qual o homem transforma o meio em que vive e ao
realizá-lo transforma-se a si mesmo, contribui para a evolução de conceitos de ob-
jetos, fatos e ou fenômenos, da mesma maneira que dinamiza a forma, ou seja, o
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processo e ou modo de trabalho para o entendimento dos conteúdos. Nesse mo-
vimento, do qual resulta o conhecimento, está o docente no papel de mediador.
No caso da linguagem, mais especificamente, da literatura, as obras
literárias se tornam meio pelo qual o autor expressa com o uso das palavras suas
intencionalidades, e ainda, o conteúdo histórico social vivenciado pela sociedade
em momentos pontuais. O discurso do autor permeado de significados, muitas
vezes é incompreensível ao interlocutor, pois quem recebe a informação necessita
de um arcabouço cultural, além dos conhecimentos do contexto de produção,
para interpretar a mensagem literária.
A forma, no caso, a tradução, analisada nesse artigo, traz considerações
que servem de alerta ao docente no momento de eleger uma obra para leitura de
seus alunos, pois pode levar o estudante a ter uma visão distorcida das intencio-
nalidades da autora. Os cuidados com a escolha de obras traduzidas, também se
transferem para a escolha de filmes, vídeos, curta-metragem, documentário, qua-
drinhos, resumo de obra, que muitas vezes, pouco contribuem com a veracidade
“polissêmica” da leitura.
O entrelace entre conteúdo e forma, no caso do ensino, devem propor-
cionar a compreensão do estudante do saber que se tornará base para sua forma-
ção humana, por isso a necessidade da forma ser eclética, flexível e dinâmica, de
refletir a influência do movimento histórico-social de construção do trabalho, do
conhecimento. Dar oportunidades ao aluno de desenvolver-se como ser humano
é contribuir para um sujeito capaz de transformar a sociedade em um mundo
mais igualitário.
FONTE
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Submetido em: 01/06/2018
Aprovado em: 30/07/2018