RIBEIRO, A. I. M.; PONCIANO, J. K. .
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.4, n.1, p. 9-24, Jan./Jun., 2018
as condições da mulher no país, além de ofertar possibilidade de agrupamentos
coletivos femininos, relacionados à partidos de esquerda (SARTI, 2013, p. 41).
A partir dos anos de 1980, o movimento feminista brasileiro se intensi-
ficou e radicalizou, nesta época o feminismo se delineava e estruturava no sentido
de consolidar-se enquanto grande força política emergente no Brasil. Com toda
a história de ruptura e reconstrução traçada pelo movimento das mulheres bra-
sileiras, é possível notar ao longo de todo o século XIX que, em muitos aspectos,
as lutas femininas, no sentido de desconstrução dos padrões hegemônicos de assi-
metrias de gênero, ainda eram árduas, pois o patriarcado instaurava-se com gran-
de força na cultura nacional, e aqui interessa-nos particularmente sua repercussão
nas músicas populares do século XIX no país.
As representações patriarcais situam-se na antiguidade ocidental, suas
origens historiográficas contemplam lendas e mitos de origem divina, criados por
diferentes povos para justificar questões inexplicáveis, dentre elas, aquelas que
dizem respeito ao modo de organização social das relações cotidianas, atribuin-
do-lhes sentido e lógica, para que o pacto social não seja desfeito pelos membros
subjugados.
Dentre as justificativas míticas, a origem do imperativo e da autoridade
patriarcal tem registros na Bíblia Sagrada, no livro Gênesis, a mulher é concebida
a partir do homem, atuando como subordinada e produto dele. Anterior a essa
narrativa, e pouco difundido pela cultura cristã, o mito de Lilith apresenta de
modo ainda mais explícito a subordinação da mulher ao patriarca, uma vez que,
após demonstração de insubordinação, Lilith é castigada e expulsa do paraíso
por Deus em virtude de sua desobediência à Ele e ao seu marido Adão (BRAGA;
PONCIANO; RIBEIRO, 2015).
À medida em que Lilith é punida e castigada, a Virgem Maria é venera-
da enquanto modelo de feminilidade, pois aceitou de forma submissa e resignada
os desejos de Deus, que a elegeu para gerar seu filho. A imagem da Virgem Maria
atribuí ao feminino sua importância máxima através da maternidade, da humil-
dade e da subserviência ao masculino (Deus) (NARVAZ, 2005, p. 15).
Essas referências corroboram com a assertiva de Sardenberg e Costa
(1994), de que a opressão das mulheres, promovida pelo patriarcado, figura como
primeira forma de opressão da história da humanidade, e se perpetua contem-
poraneamente através da manutenção dos papéis de gênero (SARDENBERG &
COSTA, 1994, p. 81). Nesse sentido, é necessário rever discursos que dissemi-
nam representações estereotipadas e negativas sobre as mulheres, uma vez que,
como advoga Expósito et. al. (2005), uma das principais causas da violência de
gênero reside no conjunto simbólico que determina papéis de gênero onde mu-
lheres são educadas para a fragilidade, submissão e resignação e aos homens se
destina a agressividade, atividade, violência e dominação (2005, p. 20).