Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.4, n.1, p. 79-88, Jan./Jun., 2018
De maneira geral nosso sistema educacional nos ensina a isolar os ob-
jetos, separar os problemas, gerando um raciocínio que impossibilita a visão do
“todo” como horizonte para os fatos. “A hiperespecialização impede que se veja o
global (que ela fragmenta em parcelas), assim como o essencial (que ela dissolve).”
(PENA-VEJA e ALMEIDA, 2001, p.149), e em relação aos problemas que se
destacam nos últimos anos, os já citados no primeiro tópico da discussão, pode-
mos perceber que todos apresentam um caráter planetário, portanto, mesmo para
se pensar localmente é preciso pensar globalmente. Nesta medida, o pensamento
sistêmico e analítico é um dos elementos, mas não o único, de uma reforma do
pensamento, buscando não a valorização do todo em detrimento das partes, nem
do conhecimento das partes para a compreensão do todo. Considerando que seria
impossível conhecer o todo sem conhecer especialmente as partes, ou seja, surge
a exigência de um “pensamento em vai-vém”.
É interessante, para compreendermos o que caracteriza um sistema,
entender o sentido complexo desta palavra, vislumbrando que o todo é mais que a
soma das partes, e percebendo que desta interação nascem qualidades emergentes,
que são observadas também no nível dos indivíduos. Observar este movimento é
perceber que “não somente cada parte está no todo como o todo está também em
cada parte: o indivíduo, na sociedade, mas também a sociedade enquanto todo,
no indivíduo.” (PENA-VEJA e ALMEIDA, 2001, p.150).
Um ser vivo só pode ser conhecido em sua relação com o seu meio, de
onde extrai energia e organização, formamos nossa experiência inexoravelmente,
inseparavelmente, neste triplo aspectos: biológico, psicológico (individual) e so-
cial, tendo como substância deste material o planeta que nos abriga. “O paradoxo
é o seguinte: vivemos numa época em que tudo no mundo está inter-relacionado,
e não há nenhuma consciência pertinente que seja válida se não tiver pelo menos
o mundo como horizonte para todos os grandes problemas.” (MORIN e WULF,
2003, p.27).
Pensar em uma escola capaz de formar pessoas aptas a questionar e
refletir sobre o mundo, e a nossa condição de habitante nele, é pensar em proje-
tos pedagógicos com matérias distintas, mas não isoladas, que percebem a emer-
gência do homo sapiens como espécie, que apresenta o fenômeno da cultura, da
linguagem e do pensamento, permitindo-nos “descobrir que todos os seres vivos
são da mesma matéria que os corpos psicoquímicos e que diferem deles apenas
por sua organização.” (PENA-VEJA e ALMEIDA, 2001, p.151). Estas conexões
bioantropológicas demonstram com maior elucidação que o homem é 100% bio-
lógico e 100% cultural, portanto destaca-se a importância não só de aprender,
mas de aprender a aprender (deuteroaprendizagem).
Deste modo, é importante vislumbrarmos a educação ao mesmo tempo
separando e juntando, analisando e sintetizando, considerando causas e efeitos,
para compreender causalidades mútuas, inter-relacionadas, circulares (retroativas