Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.3, n.2, p. 53-62, Jul./Dez., 2017
Segundo Kant, necessário se faz um ato de coragem para se libertar desse
estado de menoridade, e partir em busca da autonomia da razão (KANT, 1974).
A liberdade, no entanto, se conquistada, pode ser o caminho para o Aufklãrung.
O grande problema, no entanto, aponta Kant, dessa forma de pensar
e do Iluminismo como um todo, é que essa atitude seja encarada como atitude
individual, pois assim o fazendo o homem individual se revoltaria contra todo
tipo de tutor e passaria a um estado de despotismo pessoal levando ao mesmo
resultado final da antiguidade de trevas: massas de pessoas aprisionadas em
preconceitos, destituídas de pensamento.
Pensar a relação do homem com a liberdade e a cultura, implica
considerar aspectos complexos, uma vez que, Segundo aponta Gelamo (2009),
essas questões estão vinculadas a uma condição de humanização.
Poderíamos dizer que a submissão às leis e à cultura não direciona o homem para a
autonomia e a liberdade, porque o aprisiona e o condiciona. Ainda que essa problematização
faça sentido, para Kant, a autonomia e a liberdade só podem se efetivar quando o homem
se torna humanizado, ou seja, quando passa pelo processo de humanização e pela
aprendizagem do uso livre e autônomo da razão enquanto oposição ao aprisionamento
face à vontade selvagem e irracional em que vivia anteriormente. Desse modo, aquilo
que poderia ser um indicativo de limitação da liberdade e da autonomia é, para Kant, a
condição necessária para a sua efetivação. (GELAMO, 2009, p. 42).
A autonomia e a liberdade, no entanto, são pressupostos do homem
ideal, consistem numa reorientação do espírito do povo, da filosofia e de seu
caráter educativo. Desse ponto de vista é possível perceber que no pensamento de
Kant Filosofia e Educação são indissociáveis, pois o esclarecimento consiste em
ver a filosofia como forma de ensino, de educação.
Em outras palavras, colocar
o esclarecimento apenas do ponto de vista empírico, do homem individual,
levaria ao individualismo total, comprometendo a sociabilidade e destino da
humanidade. Assim, Kant foca a questão principal do esclarecimento, o livre uso
da razão, para um campo teórico transcendental. É aí que funda sua filosofia: na
transcendentalidade das ideias.
O equilíbrio entre essas duas posições, a liberdade de uso da razão e a
obediência às regras instituídas, leva Kant a fazer distinção entre dois conceitos:
uso público e uso privado da própria razão. Uso público da própria razão é “aquele
em qualquer homem, enquanto sábio, faz dela diante do grande público letrado”,
enquanto o uso privado é “é aquele que só o sábio pode fazer de sua razão em
certo cargo público ou função a ele confiado” (KANT, 1974, p.104). Para Kant,
existem certas profissões que, pela sua natureza pública, os profissionais devem,
em seu desempenho, colocar a ordem coletiva acima de seus pensamentos e
opiniões. Em sua vida particular, esses profissionais podem e devem fazer o pleno
e livre uso da razão para contestar, reformar, corrigir o que for necessário no
intuito de conduzir ao esclarecimento. O libertar-se da menoridade e pensar de