Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.2, n.2, p. 65-86, Jul./Dez., 2016
mentos repetitivos e inteligência bovina, mas não tem como explicar mudanças;
não tem como lidar com elementos de funcionalidade, intencionalidade, linguis-
ticalidade, consensualidade, normatividade e estrategicidade, formadores da rea-
lidade; mas tão somente com os aspectos da funcionalidade que não requeiram
motivação ou discricionariedade por parte dos agentes envolvidos. Assim, qual
seria a vantagem na troca de um irrealismo teórico por outro? E o que dizer das
projeções de equilíbrio, parcial e total? Mesmo a Física, origem da ideia, e a Ma-
temática, base metodológica, têm abandonado crescentemente as possibilidades
de
aplicação. Esse, o campo do abstrato.
Comparativamente ao campo das práticas, em D’Ascenzi (2015) en-
contramos um dado primário de pesquisa, quando um informante de uma em-
presa pesquisada responde à provocação de que a atividade de programação de
softwares fosse muito automática:
Teve, no passado [...] se falava muito como conceito, né, em “crise de software”, por quê?
Por que dá pra você fazer um prédio tão grande e você vai fazer um software grande e
tem tanta dor de cabeça? [...] então, isso, foi motivo de estudo de muita gente, empírico
ou não. Os caras chegaram a algumas conclusões, que hoje a gente tem, na verdade,
meio que um guarda-chuva, que tem várias denominações, mas basicamente, o pessoal
denomina Ágil, mas tem influência também do modelo Toyota [...] Na verdade, não
dá pra automatizar que nem uma linha de produção [...] Isso é uma falácia [...] assim,
grande parte dos problemas, na realidade, vem dos aspectos, assim, humanos [...] esse
tal de Ágil que eu estava falando, que é uma resposta [...] tem os princípios [...] Mas
quando você fala de automatizar, principalmente software, eu acho que tem de entender
bem o que é... tem que definir os termos. Você consegue delimitar um processo ali
ou algumas práticas [...] existem pessoas fazendo software e elas funcionam melhor em
certos ambientes [...] você para de tratar as pessoas como máquina, aí o negócio começa
a andar [...] por exemplo, uma das críticas severas à CMMI[
3
] é que ela simplesmente
esquece que tem gente que faz as coisas, parece que são um bando de robôs, entendeu?
Você passa pra pessoa uma certificação, [e diz:] “Esta certificação está certa, cara! Tem
que fazer”; e não funciona assim na prática, nunca funcionou, sabe? As vezes que deram
certo é porque teve alguém que deu o sangue em algum ponto (p. 200).
E ainda noutra situação:
É que, na verdade, não é só a parte técnica, né? Tem a parte de processo também. Quer
dizer, como é que se desenvolve; como é que você coloca um bando de pessoas...? A
princípio... né? Como é que faz pra eles andarem pro mesmo lado e, no final, meio que
por mágica, sai um produto rodando né? E rodando, quer dizer, que eu nem precise
rever; o conceito de pronto, né? [...]. Mas, de qualquer forma, a gente sempre tem
interação muito grande com as pessoas do projeto, assim... às vezes, não é tão agradável,
né? Porque às vezes tem que... as outras pessoas não mudam.
Por definição, as pessoas
sempre seguem. a inércia, né? Sempre tem a inércia, as pessoas só querem fazer: ah,
não, eu estou acostumado a fazer isso. Então, assim, a gente sempre tem que quebrar
um pouco ali o pau, vamos falar assim, mas é. , mas, assim, eu, pessoalmente, assim, eu
interajo com a pessoa que trabalha com a mesma gama de tecnologia, eu interajo muito,
assim, tipo, a tal ponto de eu chegar assim, meio do nada, chegar lá: o que que você está
3Em 2009, a softwarehouse em questão era certificada nível 2. Detalhes em www.cmmiinstitute.com.