Autoformação Cooperada e a Política de Formação de Professores
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.2, n.2, p. 31-42, Jul./Dez., 2016
O primeiro princípio apregoa que a construção do conhecimento ocorre
pela “consciência do percurso da própria construção” (NIZA, 1997, p. 33), ou seja, é a
partir da reflexão sobre a ação que a verdadeira aprendizagem ocorre. A comunicação,
destacada na segunda orientação, é o que dá sentido social à aprendizagem e ajuda
a estruturar o conhecimento, assim como nos processos de validação e regulação
da aprendizagem. Já a terceira orientação diz respeito à “[...] necessidade de uma
construção e reconstrução pessoal dos conhecimentos e habilidades técnicas
enquanto práticas individuais ou grupais pontuadas por apoios reflexivos ou teóricos
proporcionados pelos pares e pelos formadores.” (NIZA, 1997, p.33).
Os projetos são considerados peças fundamentais para a autoformação
cooperada, e como “princípio estratégico central para a formação” (NIZA, 2009,
p.354). De acordo com o autor, o uso de projetos nas ações formativas envolve
três condições: que os formandos façam parte do planejamento do projeto a ser
desenvolvido, que este projeto seja aplicado e aperfeiçoado progressivamente e
que o trabalho realizado por meio do projeto seja configurado e acordado como
processo de formação colaborativa entre os participantes do processo.
É através dos projetos que de dá a autoformação cooperada, o que
possibilita a participação ativa e colaborativa por parte dos sujeitos em formação,
organizando-se como uma prática de produção cultural durante a formação
(FOLQUE, 2011; SERALHA, 2006). Desta forma,
[...] o projecto surge como sentido, como cultura, e esse sentido é o de organizar o olhar,
a escuta, as energias, os sujeitos e as acções para responder a desejos e aspirações que são
sempre necessidade de desenvolvimento inter e intrapessoais. Projectos que comprometem,
descobrem os obstáculos e procuram os meios de os vencer. Esta cultura de projecto remete
o acto de educar para outro paradigma: já não transmissão de informação sem ligação
como o vivido, mas o aprender como meio de compreensão e acção sobre os quotidianos,
orientado para a resolução dos problemas e das dificuldades, provocando novas e mais
intensas questões para nos fazermos todos (educadores e educandos, animadores e
animados) mais cultos e melhores cidadãos. (PEÇAS, 1999, p.58).
A autoformação cooperada é estruturada pelo MEM a partir de atividades
desenvolvidas regionalmente e em contexto nacional, que contemplam sócios e
não sócios, nos quais os instrumentos de trabalho pedagógico são construídos e
compartilhados, as práticas são partilhadas e teorizadas, assim como os materiais
teóricos utilizados para fundamentar os debates. Tais atividades buscam promover
o modelo pedagógico, por meio da reflexão e o aprofundamento interno sobre a
pedagogia do MEM. As atividades do MEM são geridas e reguladas por Comissões
Coordenadoras existentes em cada núcleo regional, em reuniões mensais.
O
MEM
,
CONSTRUTIVISMO SOCIAL
,
VIGOTSKI
:
AS IMPOSSIBILIDADES DESTA RELAÇÃO
Toda teorização de Vigotski (2004) foi para a construção de uma
psicologia marxista, baseada no materialismo histórico dialético, e, portanto,