Educação em direitos humanos na perspectiva de gênero e sexualidades
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.2, n.2, p. 9-30, Jul./Dez., 2016
uso classificatório, para separar elementos em grupos utilizando-se de critérios
específicos, ou seja, compreendido como a divisão, a partir de características em
comum, em conjuntos, espécies ou agrupamentos. É à vista disto que Campo-
Toscano (2009, p. 22) afirma que gênero traz “A reiteração de termos como
‘categoria’, ‘classificação’, ‘divisão’, ‘características’, ‘estilo’, [...] inscrito como uma
categoria de classificação [...]”.
Assim, no período da Antiguidade, sobretudo, greco-latina, tal
concepção de gênero é predominante entre os povos antigos, principalmente para
a categorização das artes: os gêneros teatrais, literários, musicais, etc. Da mesma
forma, gênero que pode referir-se à técnica utilizada para a criação de tais obras,
por exemplo, entre os gêneros na pintura, estão o figurativista, o retrato e o nu
artístico, assim como nos gêneros musicais, como o clássico, o jazz e a ópera, entre
outras técnicas. Apesar desta concepção prevalecente nas sociedades da época, é
neste mesmo período que gênero adquire um novo conceito, ainda no sentido de
classificação, no que diz respeito à retórica e à natureza do discurso.
Segundo Plebe (1978) foi a partir do filósofo grego sofista Protágoras
de Abdera (490 a.C. − 415 a.C.) que gênero adquiriu a significação da divisão
e classificação dos discursos, a formação dos substantivos em três naturezas:
masculino, feminino e neutro. Os gêneros masculino e feminino para serem
usados na linguagem e escrita ao reportar-se à seres animados do sexo masculino
e feminino, e o gênero neutro para ser usado ao referir-se à seres inanimados,
nem masculino ou feminino. Com relação a este último Lucchesi (2009, p.
295) ressalta que: “Na formação das línguas românicas, verifica-se a passagem
de um sistema tripartido encontrado no chamado latim clássico para um sistema
fundado na oposição entre o masculino e o feminino, com o desaparecimento do
neutro.”, assim, mesmo que ainda exista certos resquícios do gênero neutro na
língua portuguesa, sua presença no idioma foi extinta.
Diante de sua conjuntura conceitual, o termo gênero, desde aquela
época, foi associado ao sexo biológico das pessoas, exercidos como sinônimos, por
conta destas implicações na linguagem e comunicação, ou seja, referenciando-se
aos homens e mulheres, consequentemente, à ideia de sexo masculino e feminino.
Todavia, este conceito de gênero permaneceu por muito tempo, somente
durante a primeira metade do século XX que surgem as primeiras abordagens
pelos estudos, em diferentes perspectivas e ambientes de atuação, das Ciências
Humanas e Sociais para com as relações sociais constituídas entre os homens e as
mulheres cultural e historicamente, assim, que originariam um novo conceito de
gênero, doravante, agora como uma categoria social fecunda e, mais adiante, útil,
para analisar historicamente a natureza de tais relações.
Como relembra Suárez (1995), estas abordagens, que antecedem sua
conceituação, iniciaram-se, principalmente, no âmbito da Antropologia dos
anos de 1930 em diante, com destaque aos antropólogos Bronislaw Malinowski