Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília,
v.2, n.1, p. 78-89, jan./jun. 2016. ISSN: 2447 – 780 X
do pastor Sílvio, da Igreja Batista Missionária, também não
resolviam. Durante as crises, eu sabia quem, em Kunanã, falava
mal de Francisco. Eu e minha mãe tomávamos cuidado para
falar com carinho sobre o Francisco, porque se alguém lhe
quisesse mal, seria pior para ele. Um dos três espíritos me disse
que deixaria o Francisco para ela porque, em suas andanças
para matar, nunca tinha encontrado pessoas com tanto amor e
carinho. A condição que o espírito impôs foi a de não abandoná-
lo, caso contrário voltaria para matá-lo. Neste momento, entrou
um espírito bravo e disse para o seu irmão: “seu frouxo, nunca
pensei que tivesse um irmão tão frouxo”. Esse espírito bravo
disse que o irmão apanharia muito por ter dito que deixaria
Francisco para mim, e que levaria Francisco embora no quinto
dia de qualquer maneira. Durante esses cinco dias, Francisco
não comia nada. Ele dizia: “já me trouxeram muita comida”.
Como estava muito fraco, eu decidi amarrá-lo. Mesmo
amarrado, os espíritos, através de Francisco, me chamavam e
diziam: “se você pensa que ele está amarrado, ele não está não”.
Eu olhava para as cordas e elas estavam frouxas, embora as
tivesse amarrado firmemente. Já sem opção, fui pedir ajuda um
velho branco, muito católico, e casado com uma índia. Fui a
remo com minha irmã trazer o velho para dar uma olhada no
Francisco. Antes mesmo de chegar à aldeia onde ele morava, eu
o encontrei em uma das curvas do rio remando em direção à
aldeia do Kunanã. Disse a ele que precisava da ajuda porque
havia uma pessoa muito doente na aldeia. Então, ele me disse
que já sabia, e prosseguiu: “onde há um irmão precisando eu vou
dar uma ajuda”. Na aldeia do Kunanã, o velho senhor se benzeu,
fez uma oração, entrou na casa de Francisco, pegou a Bíblia, e
disse a todos que estavam na casa para irem para suas casas. Ele
ficaria com o pastor e com Francisco. Com Francisco amarrado,
ele sentou-se à cabeceira da cama com a Bíblia. Eu e os familiares
tínhamos ido dormir em outra casa. Pela manhã do dia seguinte,
o velho senhor me chamou e disse a Francisco: “Francisco, olhe
para Fátima, não quero que você nunca a esqueça, ela te ajudou
muito”. Mário mandou chamar também o meu padrasto para
ajudar a desamarrar Francisco. Desamarrado, ele levantou-se
bem. Então, foi levado pela aldeia para que todos vissem que
estava bem. À beira do lago, o velho senhor batizou Francisco
novamente. Deu-lhe um copo d’água para beber dizendo que
daquele dia em diante seria aceito ali, e ali seria o seu lugar.
Seria como se fosse o seu pai e