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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA
EXPERIÊNCIA DE ENSINO JUNTO AO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS
DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID)
Ana Maria Falcão Filgueira
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas -
UNESP-FRANCA-SP. falcaofilgueira@bol.com.br
Vânia de Fátima Martino
2
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de História, Direito e Serviço Social
de Franca, Departamento de Educação Ciências Sociais e Política Internacional. Vice- coordenadora e
orientadora de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas
Públicas (Mestrado Profissional) da FCHS- UNESP de Franca e professora assistente doutor junto ao
curso de História, responsável pelas disciplinas de História da Educação e Didática.
vaniamartino@uol.com.br
RESUMO
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) foi criado em 2007 pelo
Ministério da Educação e implementado pela CAPES/FNDE com a finalidade de valorizar o
magistério e aproximar os estudantes ainda na graduação com o ambiente escolar. O projeto
foi instituído na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava (FFCL), no ano
1
Reside na cidade de Ituverava-SP, na Rua: Coronel Cipriano de Almeida Coelho, 765, Centro, Cep: 14500-000.
2
Possui graduação em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1986) / Campus de
Franca, Mestrado em História do Brasil Colonial pela Universidade Estadual Paulista lio de Mesquita Filho
(1993) e Doutorado em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999). É líder
do grupo de pesquisa CNPq intitulado: Políticas Públicas para o Desenvolvimento Social e Líder do grupo de
pesquisa CNPq intitulado: Políticas públicas e democratização do ensino no Brasil: a implementação das
propostas educacionais: mudanças e permanências. É avaliadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. É Membro Efetivo Externo PIBIC/CNPq da UNI-FACEF - Franca. Tem experiência na área de
Educação e desenvolve pesquisas e orientações no campo de Políticas Públicas Educacionais, História da
Educação e Ensino de História.
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de 2012, com a proposta de seis subprojetos de licenciaturas: Matemática, Pedagogia,
Ciências, Letras, História, e a inclusão do interdisciplinar que é composto por alunos de
Pedagogia e História. O objetivo deste trabalho é apresentar um relato de experiência de
ensino de Ciências realizado pelos bolsistas participantes do Programa abordando de forma
ampla a temática da formação dos professores e sua relação direta com as políticas públicas
educacionais no Brasil. Desta forma, este trabalho perpassará, de forma sucinta por
programas instituídos pela Nova Capes, Programa de Consolidação das Licenciaturas
(Prodocência), Programa Institucional de bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), Programa
Observatório da Educação (Obeduc) e o Plano Nacional de Formação de Professores da
Educação Básica (Parfor), que oferecem formação inicial e continuada aos professores da
educação básica. O intuito não é de relatar experiências vivenciadas através destes
programas, mas sim evidenciar a relevância que têm para a formação e capacitação de
professores. Tanto o relato quanto a abordagem do tema levou em consideração que as
políticas públicas para formação de professores devem atingir o interesse das universidades,
para que estas promovam parcerias com as escolas.
Palavras Chaves: Políticas Públicas; PIBID; Parfor; Obeduc; Prodocência.
ABSTRACT
The Institutional Program Initiation grant from the Teaching (PIBID) was created in 2007 by
the Ministry of Education and implemented by CAPES/FNDE investments with the aim of
enhancing the magisterium and approximate the students still in graduation with the school
environment. The project was established at the Faculty of Philosophy, Sciences and Letters
of Ituverava (FFCL) in the year 2012, with the proposal of six sub-projects of undergraduate
courses: Mathematics, pedagogy, Sciences, Literature, History, and the inclusion of
interdisciplinary approach that is composed of students of Pedagogy and history. The
objective of this work is to present a report on experience of teaching of Sciences conducted
by stock market participants of the program by addressing widely the theme of training
teachers and their direct relationship with the educational public policies in Brazil. In this way,
this work theme, succinctly by programs established by the new Capes, program of
consolidation of the Degrees (Prodocência), Institutional Program initiation scholarship of
the Teaching (PIBID), Program of Education (Obeduc Observatory) and the National Plan for
the training of teachers of the Basic Education (Parfor), that offer initial and continuing training
for teachers of the basic education. The aim is not to report experiences lived through these
programs, but highlight the relevance that have for the training and qualification of teachers.
Both the report and the approach to the theme took into consideration that the public policies
for the training of teachers should achieve the interest of universities, to which these promote
partnerships with schools.
Keywords: Public Policies; PIBID; Parfor; Obeduc; Prodocência.
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INTRODUÇÃO
O atual cenário da educação cada vez mais se distancia de uma discussão que nos
permite pensar criticamente a respeito da relação entre escola e sociedade. Nesse contexto,
os profissionais da educação têm buscado atender as exigências das políticas impostas nas
escolas, e enfrentar os diferentes problemas do cotidiano escolar, mas infelizmente é uma
realidade cada dia mais distante.
Estamos vivendo em uma sociedade que não se prioriza os interesses coletivos, mas
sim com as individualidades, e isso nos faz vivenciar um tempo de desconstrução de saberes
fundamentais no universo escolar.
Segundo Tardif (2007, p.53):
[...] a prática pode ser vista como um processo de aprendizagem por meio
do qual os professores retraduzem sua formação e a adaptam à profissão,
eliminando o que lhes parece inutilmente abstrato ou sem relação com a
realidade vivida e conservando o que pode servir-lhes de uma maneira ou
de outra.
Ainda segundo outros pesquisadores:
A formação inicial dos professores pode se dar a partir da aquisição da
experiência dos formados (ou seja, tomar a prática existente como referência
para a formação) e refletir sobre ela.O futuro profissional não pode constituir
seu saber-fazer senão a partir de seu próprio fazer. Não é senão sobre essa
base que o saber, enquanto elaboração teórica se constitui. Freqüentando
os cursos de formação, os futuros professores poderão adquirir saberes
sobre a educação e sobre a pedagogia, mas não estarão aptos a falar em
saberes pedagógicos. Esses saberes podem colaborar com a prática,
sobretudo, se forem mobilizados a partir dos problemas que a prática coloca,
pois, relação de dependência entre a teoria e a prática. (BURCHARD;
SARTORI, 2011, p.8)
De acordo com o que dizem os autores, torna-se evidente a importância de programas
de formação inicial de professores durante a graduação, pois é através da prática que será
adquirida a experiência para o exercício futuro da docência.
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As instituições de ensino superior vêm formando uma grande quantidade de
professores, que saem da graduação e entram no mercado de trabalho sem preparo, pois na
maioria das vezes não há o contato com a sala de aula e tão pouco com a realidade escolar no
decorrer de sua formação, ou ocorre poucos contatos, via de escassos e seletivos programas
do governo, levando a vivências significativas com o ambiente escolar.
Preocupada com a problemática descrita acima, a Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ituverava FFCL no ano de 2012 aderiu ao Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação a Docência (PIBID), com a proposta de seis subprojetos de licenciaturas: Matemática,
Pedagogia, Ciências, Letras, História, e a inclusão do interdisciplinar que é composto por alunos
de Pedagogia e História.
Desde então, o PIBID nesta instituição, vem se consolidando como uma importante
ação do país cujo objetivo maior é a formação inicial de professores. Neste sentido o programa
pode ser identificado como “uma nova proposta de incentivo e valorização do magistério e
possibilitando aos acadêmicos dos cursos de licenciatura a atuação em experiências
metodológicas inovadoras ao longo de sua graduação” (BRAIBANTE; WOLLMANN, 2012,
p.167).
Dentro dessa perspectiva, o subprojeto-ciências pertencente ao PIBID/FFCL foi
coordenado e supervisionado por professoras da IES e da escola parceira, e desenvolvido por
um grupo de cinco bolsistas de diferentes períodos da licenciatura em ciências biológicas. O
subprojeto desenvolveu atividades em uma escola da rede municipal de ensino da cidade de
Ituverava-SP, com turmas de e ano.
O objetivo do subprojeto teve como foco a alfabetização cientifica e a ampliação do
conhecimento dos alunos da escola, colocando-os em contato com o universo da ciência.
Nesse contexto nosso trabalho será apresentar a experiência de ensino de Ciências
realizado pelos bolsistas participantes do Programa, abordando de forma ampla a temática da
formação dos professores e sua relação direta com as políticas públicas educacionais no Brasil.
Este trabalho perpassará, de forma sucinta por programas instituídos pela Nova Capes,
Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), Programa Observatório da
Educação (Obeduc), Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
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(Parfor), que oferecem formação inicial e continuada aos professores da educação básica, e
de forma mais abrangente pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência
(PIBID).
UM BREVE HISTÓRICO E CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO
BRASIL
Em princípio faremos uma pequena digressão sobre a formação de professores no
Brasil, localizando o tema no contexto da História da educação no Brasil. A formação de
professores em cursos específicos, foi proposta pela primeira vez no final do século XIX,
através das escolas normais, e em seguida pelo ensino secundário no século XX. Sua criação
tem uma relação direta com a necessidade de formação de futuros educadores para atuarem
nas escolas, principalmente públicas em expansão em todo o território neste período.
Segundo Saviani (2009, p. 144):
No Brasil a questão do preparo de professores emerge de forma explícita
após a independência, quando se cogita da organização da instrução popular.
A partir daí, examinando-se a questão pedagógica em articulação com as
transformações que se processaram na sociedade brasileira ao longo dos
últimos dois séculos, podemos distinguir os seguintes períodos na história da
formação de professores no Brasil: 1.Ensaios intermitentes de formação de
professores (1827-1890). Esse período se inicia com o dispositivo da Lei das
Escolas de Primeiras Letras, que obrigava os professores a se instruir no
método do ensino mútuo, às próprias expensas; estende-se até 1890,
quando prevalece o modelo das Escolas Normais; 2.Estabelecimento e
expansão do padrão das Escolas Normais (1890-1932), cujo marco inicial é a
reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola-modelo.
3.Organização dos Institutos de Educação (1932-1939), cujos marcos são as
reformas de Anísio Teixeira no Distrito Federal, em 1932, e de Fernando de
Azevedo em São Paulo, em 1933.4.Organização e implantação dos Cursos de
Pedagogia e de Licenciatura e consolidação do modelo das Escolas Normais
(1939-1971). 5.Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de
Magistério (1971-1996). 6.Advento dos Institutos Superiores de Educação,
Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de Pedagogia (1996-
2006).
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Décadas após, em 1986 o Conselho Federal de Educação criou um Parecer
3
que
permitia aos cursos de pedagogia além de formar técnicos em educação, oferecer habilitação
para a docência de 1ª a série, antes limitada ao magistério.
Em 1996 com a instituição da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (n°
9.394-96), tornou-se exigência a educação de nível superior para professores de Educação
Básica da rede de ensino público e privado.
Em 2003 o Conselho Nacional de Educação reafirma o que havia sido estabelecido pela
LDB (9.394-96), e emite Resolução
4
de esclarecimento confirmando a obrigatoriedade do
diploma de nível superior para a docência na Educação infantil e séries iniciais, e em 2006
saem às diretrizes curriculares para a Pedagogia.
De acordo com Scheibe (2010, p.989):
O atual enquadramento legal da formação de professores, a partir da
LDB/1996, traz pressupostos e orientações para a organização e
desenvolvimento dos cursos de licenciatura que rompem com uma tradição
iniciada no país em 1934, quando foram criados os primeiros cursos
superiores de formação de professores, por meio do modelo denominado de
“3 + 1” (três anos de conteúdos específicos da respectiva área do
conhecimento e um das chamadas disciplinas pedagógicas). Esta concepção
encontra-se ainda impregnada nos processos de formação de professores,
com base na crença de que esta se esgota no domínio de conteúdos
específicos da disciplina que o professor irá lecionar.
Ainda segundo Scheibe (2010), os professores estão envolvidos no processo de
formação acadêmico dos futuros educadores, e isso não garante sucesso, pois estes convivem
com a insatisfação de que não basta conteúdos pedagógicos, pois a prática educativa deve
fundamentar o processo da formação docente.
Diante do exposto, embora em uma breve análise, percebe-se que diversas foram as
mudanças que a formação de professores percorreu, e hoje frente a um quadro de contínuas
transformações é possível observar uma descontinuidade no processo, porém não uma
ruptura.
3
Parecer CFE n°161/86.
4
Resolução CNE/CEB 01, de 20/08/2003
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Segundo Scheibe (2008, p. 49),
A demanda de formação inicial e continuada de profissionais do magistério
da educação básica no país requer hoje novas interfaces na formação e
estratégias de integração entre os estados, os municípios e o Distrito Federal
e as instituições de ensino superior. São requeridas iniciativas de caráter
tanto conjuntural como emergencial. Este é o desafio que cabe à recente
reestruturação do Ministério da Educação e da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior), que passa a ser a agência
reguladora dos cursos de formação de professores para a Educação Básica; e
ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais - REUNI.
Diante do exposto sabe-se que a formação de professores vem ganhando cada vez
mais espaço no campo de pesquisas educacionais, mais ao mesmo tempo, todavia estes
avanços ainda são modestos, visto a precariedade, por vezes, das políticas formativas e
programas de educação inicial e continuada, de não se preocuparem em estabelecer um
padrão mínimo ou mais rígido de exigência na preparação dos docentes, frente aos
problemas educacionais e da realidade em constante transformação que Brasil tem
enfrentando.
ALGUNS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES INSTITUÍDOS PELA NOVA CAPES
De acordo com o que consta no site
5
, a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior), foi fundada pelo Ministério da Educação, com o papel de expandir
e consolidar a pós-graduação stricto sensu.
Em 2007, a CAPES passou a atuar também na formação de professores da Educação
Básica, ampliando o alcance de suas ações.
A diretoria de Formação de Professores da Educação Básica DEB ainda de acordo com
o que consta no site
6
atua em duas linhas de ações:
5
http://www.capes.gov.br/historia-e-missao
6
http://www.capes.gov.br/educacao-basica
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1. na indução à formação inicial de professores para a Educação Básica, organizando e
apoiando a oferta de cursos de licenciatura presenciais especiais, por meio do Plano Nacional
de Formação de Professores da Educação Básica Parfor.
2. no fomento a projetos de estudos, pesquisas e inovação, desenvolvendo um conjunto
articulado de programas voltados para a valorização do magistério.
O conjunto dos programas busca articular três vertentes, que é a formação de
qualidade, a integração entre pós-graduação, formação de professores e escola básica, e
produção de conhecimento.
Afim de melhor entender o conjunto destes programas apresentamos um breve relato
desses programas que se encontram em destaque:
Inicialmente o PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação
Básica), que foi criado em 2009 em regime de colaboração entre a CAPES, os estados,
municípios, o Distrito Federal e as Instituições de Educação Superior. O programa tem como
objetivo induzir a oferta de educação superior gratuita para professores que atuam na rede
pública de ensino, para que estes possam estar em acordo com os dispositivos da LDB
(9.394/96), contribuindo para melhorias na educação básica do país.
Um segundo programa é o PRODOCÊNCIA (Programa de Consolidação das
Licenciaturas), criado em 2006, tendo por objetivo inovar e elevar a qualidade dos cursos de
formação inicial para Educação Básica, visando assim, a valorização da carreira docente.
Na sequência o programa OBEDUC (Observatório da Educação), criado também em
2006, com o intuito de fomentar estudos e pesquisas na área de educação, que utilizem a
infra-estrutura disponível das instituições de educação superior. O programa objetiva articular
pós-graduação, licenciaturas e escolar de educação básica, visando aumentar a produção
acadêmica, em nível de mestrado e doutorado.
Deixo para apresentar por último o programa PIBID (Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação a Docência), ao qual irei relatar uma experiência. O Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) foi criado em 2007 pelo Ministério da Educação e
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implementado pela CAPES/FNDE. Alguns dos principais objetivos do PIBID de acordo com o
site
7
são:
Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica;
contribuir para a valorização do magistério;elevar a qualidade da formação inicial de
professores nos cursos de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e
educação básica;inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação,
proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências
metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que
busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-
aprendizagem;incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores
como coformadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de
formação inicial para o magistério; e contribuir para a articulação entre teoria e prática
necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos
cursos de licenciatura.
O programa tem a finalidade de valorizar o magistério e aproximar os estudantes
ainda na graduação com o ambiente escolar.
Nós consideramos que todos esses programas contribuem para a elevação da
qualidade da educação superior e educação básica do país, e que todos eles incrementam a
produção acadêmica, visto que na maioria dos casos os resultados das pesquisas
desenvolvidas são publicados em revistas e anais de eventos nacionais e internacionais.
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O PIBID SUBPROJETO-CIÊNCIAS
Como foi dito, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência foi criado
pelo Ministério da Educação e implementado pela CAPES/FNDE no ano de 2007, com a
finalidade de valorizar o magistério e aproximar os estudantes ainda na graduação com o
ambiente escolar. Com esse intuito é que tem inicio o PIBID na Faculdade de Filosofia,
7
http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid
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Ciências e Letras de Ituverava- FFCL no ano de 2012 com os subprojetos de Pedagogia,
Ciências, Letras, História e Matemática, desenvolvidos em duas escolas na rede municipal de
ensino de Ituverava, uma delas de ensino fundamental I e II, e outro que compreende a
educação infantil. No ano seguinte o projeto passou a contar também com o subprojeto
interdisciplinar, que compreende o curso de história e pedagogia, e transformando o
subprojeto de ciências em Biologia. O programa tem se expandido e compreende atualmente
60 bolsas para alunos dos cursos de licenciatura, 11 bolsas para professores supervisores
(docentes da educação básica), 07 bolsas para coordenadores de área (docentes da IES), e
uma bolsa para coordenador institucional (docente da IES).
Um grupo de cinco alunas do curso de ciências biológicas e pertencentes a diferentes
períodos da graduação desenvolveu, sob coordenação de uma professora coordenadora
pertencente à IES, o subprojeto-ciências em uma escola da rede municipal de ensino da cidade
de Ituverava-SP, com turmas de e ano. O objetivo do subprojeto foi através da
alfabetização cientifica ampliar o conhecimento dos alunos da escola, colocando-os em
contato com o universo da ciência, bem como sua relação com a vida dos alunos.
Utilizamos a expressão “Alfabetização Científica” alicerçadas na idéia de Paulo Freire:
[...] a alfabetização é mais que o simples domínio psicológico e mecânico de
técnicas de escrever e de ler. É o domínio destas técnicas em termos
conscientes. [...] Implica numa autoformação de que possa resultar uma
postura interferente do homem sobre seu contexto. (FREIRE, 1980, p.111).
Outros pesquisadores afirmam:
Tornar a aprendizagem dos conhecimentos científicos em sala de aula um
desafio prazeroso é conseguir que seja significativa para todos, tanto para o
professor quanto para o conjunto de alunos que compõem a turma. É
transformá-la em um projeto coletivo, em que a aventura da busca do novo,
do desconhecido, de sua potencialidade, de seus riscos e limites seja a
oportunidade para o exercício e o aprendizado das relações sociais e dos
valores. (DELIZOICOV et al., 2009, p. 153)
Nesse contexto, também foi proposto articular teoria e prática, dando um suporte para
a professora supervisora em sala de aula, e ao mesmo tempo praticando a ação docente, e
conhecendo o ambiente escolar ao qual pertence ao futuro das bolsistas.
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O subprojeto-ciências foi desenvolvido por esse grupo de cinco bolsistas no período de
agosto de 2012 a dezembro de 2013, distribuídos em cinco horas semanais, e vinte mensais.
As bolsistas trabalharam em duplas, sendo responsáveis por turmas diferentes, mas
seguindo o mesmo objetivo.
Nesse período foram desenvolvidas atividades no laboratório de informática,
experiências no laboratório de ciências, e diversas atividades em sala de aula como, por
exemplo, júri simulado, jogo do autódromo, confecção de cartazes, gincana com bexigas.
Em relação ao contato com os coordenadores e supervisores, este foi mantido através
de reuniões quinzenais, e uma reunião mensal que compreendia todos os envolvidos no
projeto PIBID, de todos os subprojetos.
Durante o desenvolvimento do subprojeto-ciências as alunas participaram de eventos
como Semana de Letras e Pedagogia, ministrando palestra sobre o PIBID, seminário realizado
em outra Universidade sobre o PIBID, feira de profissão organizada pela IES, e também criaram
uma página em uma rede social, ao qual postavam todas as atividades realizadas, para que
outras pessoas conhecessem o projeto, e os próprios alunos da escola do município pudessem
ver o resultado das atividades em que participaram.
No decorrer da realização do projeto o grupo de alunas bolsistas do subprojeto refletia
e discutia nas reuniões pedagógicas sobre as contribuições do PIBID para a sua formação
docente, compartilhando suas vivências. Dentre as reflexões do grupo, sem dúvida alguma, o
destaque foi à importância deste contato antecipado com o ambiente escolar, pois mesmo
que o subprojeto tivesse o intuito de aproximar os alunos ao universo da ciência, articular
teoria e prática, o objetivo maior estava no exercício prático da docência, como fator
fundamental para a sua formação como educador. Os alunos bolsistas apontaram durante
toda a realização do projeto a significativa oportunidade de conhecer antecipadamente, e
principalmente de atuar no ambiente escolar no decorrer de sua formação.
Entendemos ainda, trazer para este trabalho algumas reflexões dos bolsistas
participantes do subprojeto-ciências, obtidas no decorrer do ano junto ao projeto:
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-O PIBID foi uma grande experiência, pois com ele eu pude vivenciar a
realidade de uma sala de aula. Contribuiu para uma visão diferente da sala
de aula, e para saber como devo atuar em sala de aula, promovendo
melhorias na educação. (Ex-bolsista- A
8
)
- Participar do PIBID foi uma experiência única, pois foi possível ver antes
mesmo de me formar como seria estar em uma escola, participar de
atividades, avaliar os alunos, enfim tudo que depois de formada e
possivelmente lecionando encontraria pela frente. O programa trouxe uma
visão do quanto é necessário ser criativo e dinâmico para dar aulas, vejo que
professores se apegam demais no uso de livros, giz e apagador, o que torna
as aulas cansativas e desinteressantes para os alunos, pois quando se usa
aulas dinâmicas, com jogos, vídeos e brincadeira os alunos aprendem de
forma lúdica e se interessam em participar. (Ex-bolsista- B)
-Participei do PIBID por três anos consecutivos, nunca imaginei que
influenciaria tanto em minha vida. O programa me mostrou a realidade
hoje em dia dentro das escolas blicas, uma forma mais prazerosa de
ministrar aulas, as dificuldades e oportunidades que podemos ter dentro da
sala de aula, e que os alunos necessitam de estímulo para obter melhores
resultados. É preciso que o professor ministre aulas mais interessantes,
utilizem todos os recursos disponíveis nas escolas, e os eduquem como seus
próprios filhos. Os professores precisam além da rigidez, ajudar seus alunos
nas dificuldades. O PIBID me marcou muito, e levo todo o aprendizado para
a sala de aula, foi uma das melhores oportunidades que tive na minha vida.
(Ex-bolsista- C)
-Como todo aluno da Biologia, ou praticamente todo, entramos no curso de
biologia sem a pretensão de nos tornar professores, a palavra Biólogo soa
melhor aos ouvidos. E comigo não foi diferente! No entanto, ao decorrer
deste percurso, me apaixonei pela licenciatura principalmente por ter tido a
oportunidade de participar desse excelente programa de incentivo a
docência: O PIBID.
Essa oportunidade me trouxe o prazer pelo cotidiano da sala de aula de
uma escola pública e consequentemente os seus desafios. Estar ali
vivenciando o cotidiano dos alunos me fez perceber o quanto o ensino
brasileiro apresenta déficits para o sucesso da aprendizagem, nesse caso, de
ciências. Porém, também me fez enxergar o quanto temos recursos
disponíveis para mudar esse quadro. O que precisamos é justamente o que
o programa oferece oportunidade de compreender na prática as
necessidades do nosso ensino, e juntamente com a teoria da faculdade
encontrar meios para tais problemas. Durante o período em que estive
participando do programa, pude entender que não existe um modelo ideal de
aluno e nem de docência, como estudamos na teoria.
8
Utilizamos letras alfabéticas para preservar o nome dos bolsistas.
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Quando estive diante desse cenário de uma escola pública, senti a vontade
de entender ainda mais esse universo, como funciona as políticas do nosso
país e o que tem sido feito para melhorar. Quis estar ali todos os dias, mesmo
não me sentindo preparada para essa realidade e compreendendo de perto
todos os desafios que os professores enfrentam dia após dia. Sendo que,
também pude perceber, o quanto são despreparados, infelizmente.
Em resumo, a maior contribuição que o programa trouxe para minha
formação foi exatamente essa, um conhecimento baseado na experiência, na
prática! Me proporcionou a oportunidade de reonhecer que não existe
modelos prontos para lecionar, o trabalho de um professor é construído
durante a jornada e cada classe de alunos possui uma peculiaridade a ser
traballhada. Foi muito gratificante! (Ex-bolsista- D)
Julgamos fundamental trazer estas reflexões para ilustrar o significado do PIBID, bem
como suas contribuições para estes bolsistas, e também evidenciar a importância deste
programa no processo de formação dos licenciandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que como todo programa e toda política pública implementada, o PIBID
carece de aprimoramento, bem como de avaliações por parte dos educadores e dos seus
elaboradores, todavia os resultados iniciais têm demonstrado uma efetiva mudança no
processo de formação dos futuros professores. A possibilidade de contato, em diferentes fases
da graduação com a realidade educacional, o acompanhamento e orientação por parte dos
coordenadores e parceiros das instituições parceiras, tem proporcionado outro olhar sobre a
licenciatura, tanto por parte dos alunos quanto da própria universidade.
Ainda, vale ressaltar ao final deste relato, que a aproximação com o ambiente escolar,
a experiência de criação de projetos educacionais via prática de docência, durante o período
da graduação é fundamental, não apenas para formar professores experientes, mas para no
futuro dar um novo olhar a respeito da carreira docente, seja pela sua valorização, por
melhores condições de trabalho ou pela melhoria da qualidade da educação no Brasil.
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.2, n.1, p. 63-77, jan./jun.
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Submetido em: 03/03/2016
Aprovado em: 28/08/2016