Rosângela Teixeira Gonçalves
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.3-25, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
instituição total todos os aspectos da
vida são realizados no mesmo local e
sob uma mesma autoridade,
controlados por uma organização
burocrática. A tendência ao fechamento
que as instituições colocam entre o
internado e o mundo externo constitui a
primeira mortificação do eu. Ao entrar
em uma instituição total, o indivíduo é
imediatamente despido das disposições
sociais que possibilitavam a concepção
de si, através de rebaixamentos,
degradações, humilhações e
profanações do eu. O processo
caracterizado como admissão nas
instituições totais, como obter uma
história da vida, tirar fotografia,
enumerar os bens pessoais, dar banho,
cortar cabelos, distribuir uniformes, dar
instruções quanto às regras, tem como
objetivo modular suavemente o
internado através da rotina. Como o
internado é despojado de seus bens,
outros são providenciados, mas são
geralmente de um tipo barato, mal
ajustado, muitas vezes velho e igual
para a maioria dos internados, como
relatou Wellington: “o loco senhora tem
que reclamar de tudo aquilo lá não é...
como que você vai tomar banho com
sabonete glicerinado, não tem nem
cheiro” (Wellington). Ao ser admitido
em uma instituição total, o indivíduo é
despido de sua aparência usual, bem
como dos equipamentos e serviços com
os quais se mantém, o que provoca a
desfiguração pessoal (GOFFMAN, 2002).
Além dos jovens internados
manterem posições humilhantes em
relação ao corpo, como a posição de
formação e encaixe na CASA, eles
também são obrigados a se reportar
verbalmente a equipe técnica e
dirigente por “senhor e senhora”, assim
como pedir licença a todo o momento
(GOFFMAN, 2002). Nas instituições
totais queixas a alimentos sujos, locais
em desordem, sapatos e roupas
impregnados com o suor de quem os
usou e instalações sujas são comuns,
assim como os quartos ou celas lotadas,
como pode ser observado na narrativa:
Perfume não tem é normal.
Desodorante tem mais é sem
cheiro, normal, neutro, shampoo
tem também, mas é um, tudo o
mesmo cheiro, sabonete
glicerinado, todo glicerinado,
saboneteira, bucha normal, tinha
mais básico, bem básico mesmo,
escova de dente era aquelas de
silicone ainda e acostumei depois
que eu escovei aqui fora com uma
normal machucou tudo a minha
gengiva, machucou bastante.
Pasta de dente não é tipo aquelas
Colgate, era só coisa ruim. Tinha
mais não era tênis assim não
senhora, era tênis normalzinho
aqueles de jogar futebol de quadra
baixa, chinelo. Cueca eles também
dava mais não era tipo boxe, era
tudo azul, tudo da mesma cor, era
aquelas que você começa a usar
ainda criancinha, era ruim,
horrível, aquelas cueca e a gente
vai engordando vai ficando tudo
apertada
(Wellington).
Goffman (2002) descreve que ao
mesmo tempo em que o indivíduo é
despojado de seus bens e o processo de
mortificação se desenvolve, o internado
começa a receber instruções a respeito
do que ele denominou de sistema de
privilégios, que consiste em três
elementos básicos. Primeiro são as
regras da casa, “um conjunto
relativamente explicito e formal de
prescrições e proibições que expõe as
principais exigências quanto à conduta
do internado” (GOFFMAN, 2002, p. 50).
Na unidade nas mãos dos funça
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, as
regras e o condicionamento a saída da