Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.64-84, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
puderam se desenvolver, sem um
conjunto plural de atores, de origens e
natureza diversa e portadores de
interesses específicos (contraditórios
ou não).
Não se tratou, portanto, tão-
somente de um incremento das
intervenções estatais ou
governamentais. A partir dos anos
1930 e sobretudo depois da Segunda
Guerra Mundial, elas não só ganharam
sistematicidade e respaldo técnico e
político, como passaram a ser
modeladas por uma pluralidade de
atores e num ambiente impregnado de
direitos e prerrogativas. A própria
intervenção pública adquiriu grande
capacidade de planificação e
planejamento, inexistente até então,
passando a se fazer com base em
estruturas administrativas pesadas e
numa expressiva burocracia pública. A
ordem política se democratizou e
ganhou consistência republicana, ou
seja, valorização da dimensão pública,
reconhecimento e vigência de direitos
de cidadania, sufrágio universal,
independência dos poderes,
mecanismos explícitos de controle
social e incentivos à participação
social. Com isso, a definição das áreas
de risco social, a formatação de uma
agenda de prioridades, a alocação de
recursos e a fixação de metas
passaram a ser definidas
politicamente, a partir da ampliação da
capacidade coletiva de participar das
decisões públicas.
As políticas públicas e sociais,
assim, ingressaram com força no
terreno em que se decide a dinâmica e
a direção do poder político: tornaram-
se fatores de distribuição e de
exercício do poder, produtos de uma
sempre mais complexa interação entre
Estado e sociedade. Será precisamente
nessa interação que se definirão, a
partir de então, as situações sociais
tidas como problemáticas, bem como
as formas, os conteúdos, os meios, os
sentidos e as modalidades da
intervenção estatal. Passará a ser
devidamente considerado o peso de
diferentes aspectos da economia, da
estrutura social, do modo de vida, da
cultura e das relações sociais. Em
suma, as políticas públicas passarão a
ser vistas e tratadas como “uma
intervenção estatal, uma modalidade
de regulação política e um expediente
com o qual se travam lutas por direitos
e por distribuição” (DI GIOVANNI &
NOGUEIRA, 2015, p. 19).
Converteram-se, assim, em
uma forma específica de ação política.
Tornaram-se manifestações avançadas
da racionalidade dialógica e
democrática que tipifica o mundo
moderno, contrastando, nesse
particular, outras formas e estruturas,
que deitam raízes nas particularidades
históricas de cada sociedade, como é o
caso do mandonismo, do coronelismo,
da filantropia e do populismo, por
exemplo. Podem conviver com essas
outras formas e até mesmo
combinarem-se com elas, mas são algo
particular, dotado de lógica própria.
No sentido rigoroso do termo,
as políticas públicas avançam em
conformidade com a existência de um
ambiente cívico, ético-político e
cultural que seja receptivo a elas e lhes
dê sustentação. Dependem de certos
patamares de crescimento econômico,
ou seja, de diretrizes capazes de
planejar a expansão da economia, a
geração de receitas fiscais e
tributárias, a criação de empregos. A
partir dos anos 1940, “a adoção de
políticas econômicas inspiradas no
keynesianismo e centradas na ideia de