Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.9, n.1, p. 87-108, Jan./Jun., 2023.
do curso em questão apresentou alternância pedagógica
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como elemento
formativo que se daria a partir da alternância de tempos-espaços educativos,
que consiste no processo de alternar, articular e integrar diferentes momentos
e atividades de formação na própria escola (atividades de estudo, oficinas
pedagógicas, sessões de vídeo, palestras, visitas, experimentação agrícola,
festejos, lazer, etc.) e nas comunidades (experimentações, diagnósticos,
estágios, leituras, etc.): o Tempo-Espaço Comunidade caracterizado por ser
o momento de pesquisa, experimentação e ressignificação dos conteúdos
escolares e dos saberes-práticas próprios dos agricultores familiares, com
proposta de ocorrer no lote da família do discente, na comunidade a
que
pertence esse aluno, e o Tempo-Espaço Escola em formato de semi-
internato nas dependências do CRMB (IFPA, 2009).
A alternância pedagógica estabelecida no curso permite aos
educandos visualizarem a importância da autonomia na construção do
conhecimento, tendo a pesquisa diretamente em seus lotes como princípio
educativo e, partindo dessa premissa, a possibilidade de desenvolver uma
investigação da realidade, dos problemas do ambiente em que vivem, suas
relações sociais e de produção. No momento em que retornam para a
escola, a sistematização e socialização das ações realizadas na comunidade
permitem o contato com diferentes realidades vivenciadas nas distintas
comunidades rurais (MARINHO, 2016).
O curso foi construído na perspectiva de um currículo integrado
que contemplasse o cotidiano dos povos do campo, inserindo os tempos
e as práticas escolares conforme o tempo, modo de vida, cultura, saberes
e demandas da realidade camponesa. Assim, a composição curricular se
constituiu em três partes: Base Nacional Comum, Parte Diversificada e
Parte Técnico-Profissionalizante. Onde a carga horária de atividades se
dividia em: sessão escola e sessão família. As sessões escola correspondiam
a 70% da carga horária total da formação, enquanto as sessões família
correspondiam a 30% (IFPA, 2009).
As atividades letivas do curso iniciaram no mês de outubro do
ano de 2009, contando com a participação de dez educadores, sendo
que, deste total, um possuía cargo comissionado e os outros nove foram
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A alternância de tempos e espaços tem sido vista como uma forma de enfrentar, na organização do currículo, a
articulação entre teoria e prática e o envolvimento dos próprios estudantes como responsáveis pela sua formação.
Não se trata de alternar ou de buscar integrar tempos e espaços de teoria e de prática, ou mesmo de aprendizados
diferenciados que podem ser complementares na formação. A integração aqui, que deve ser cuidadosamente
pensada, precisa garantir a articulação entre as práticas e as discussões teóricas destas mesmas práticas, em ambos
os tempos e espaços. Pensando no objetivo da formação profissional, a alternância a ser garantida é aquela entre
períodos ou situações de trabalho escolares, no sentido de criadas pelo curso, ou seja, práticas de campo, está-
gios, situações de trabalho real, da inserção dos estudantes em processos de trabalho que existem e os envolvem
independentemente do curso, mas que o curso pode potencializar na formação,através do seu acompanhamento
e pela formalização ou reflexão sobre os conhecimentos ali produzidos (CALDART, 2010, 96).