Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 7
Apresentação
A
“Para que la violencia del golpe, la violación, el acoso, el ataque incestuoso
existan, es necesario que una sociedad haya, previamente, inferiorizado,
discriminado, fragilizado al grupo social que es el objeto de violación. Sólo
se victimiza a aquel colectivo que es percibido como inferior; de este modo se
legitiman todos los actos de discriminación
1
(Ana María Fernández -Las lógicas sexuales: amor, política y violencias,
Nueva visión, Buenos Aires/AR, 2013).
O presente DOSSIÊ I, abordando a temática da “Violência de Gênero
na Universidade” tem por objetivo divulgar a produção acadêmica fruto de
experiências de pesquisas qualitativas e estudos realizados sobre o tema que ainda
não detém signicativos resultados e publicações uma vez que as investigações e
os trabalhos são recentes. No entanto na conjuntura político-social e acadêmica
a questão vem sendo alardeada na grande imprensa, desde 2015, com casos
frequentes de assédio e comportamentos abusivos no espaço acadêmico o que
contribuiu para despertar o interesse de estudantes de Iniciação Cientica/IC,
da Pós Graduação da FFC – UNESP, campus de Marilia e de pesquisadoras de
Universidades do pais
2
e do exterior.
3
“Para que a violência do golpe, a violação, o assedio, o ataque incestuoso exista é necessário que uma sociedade te-
nha previamente inferiorizado, discriminado, fragilizado o grupo social que é o objeto de violação. Somente se viti-
miza o coletivo que e visto como inferior e desde modo legitima-se todos os atos de discriminação” ( tradução livre).
O Projeto da UFSCAR “O assedio dentro da universidade e os caminhos para combate-lo” vem sendo desen-
vovido desde 2020 em parceria com o Coletivo de Mulheres da uuniversidade.. https://www.informasus.ufscar.
br/o-assedio-dentro-da-universidade-e-os-caminhos-para-combate-lo/?fbclid=IwAR2bs7pEyHTcRy_pLS3dR-
ZwhL_xf-oRC4c_AZ2RO4yWFEnKNwaeVWj0kZFs; Projeto “Violência contra as mulheres na universidade:
uma análise nas instituições de ensino superior no Amazonas” Acesso : 02/06/22
 University of Missouri /USA, Universidad Nacional Autónoma de Mexico.
http://doi.org/10.36311/2447-780X.2022.v8esp2.p7
8 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022.
POSSAS, L. M. V.
O Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero/LIEG,
UNESP
4
vem dedicando-se à questão desde 2017 através do projeto intitulado
“Sobrevivência(s) e violência de gênero no espaço acadêmico: avanços,
ambiguidades e perspectivas/CNPq (2017- 2019) que foi desenvolvido com vários
sub projetos de Iniciação Cientica, com bolsa PIBIC e FAPESP já concluídos
5
..E
devido à complexidade do tema e a publicização dos casos de assedio demos
continuidade com um novo projeto intitulado “Violência e Diversidade na
Universidade: legitimando o lugar de fala e enfrentando as formas de assédio
e discriminação (2020 -2023) que possui com sub projetos PIBIC
6
e a tese de
Doutorado “ Descolonizando o olhar – Representações Visuais e subjetividades
nos coletivos universitários contra a violência de gênero- 2020-2022. UNESP,
USP e UNICAMP defendida em junho de 2022.
Com base nos resultados dos subprojetos concluídos e as experiências
vivenciadas no âmbito na UNESP bem como em outras universidade públicas
brasileiras propusemos a organização da coletânea , com artigos inéditos,
abordando as relações de gênero e as práticas de violência, de assédio sexual que
vem ocorrendo, sistematicamente, nas instituições acadêmicas e, que diante das
resistencias que exigem a propositura de uma politica de enfrentamento para
com o sexismo associado as práticas machistas de uma sociedade patriarcal,
que tem gerado efeitos nocivos nas relações internas da Academia como um
todo. As permanências dos atos abusivos ocorrem devido a impunidade e são
recorrentes, principalmente entre professores e alunas gerando conitos no
cotidiano acadêmico e movimentos reativos de enfrentamento às situações de
O Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero da UNESP , foi criado em 2010 junto a Faculdade de
Filosoa e Ciência /FFC, campus de Marilia. É um espaço de trabalho interdisciplinar formado por pesquisado-
ras/es da Graduação quanto da Pós-Graduação da UNESP e de outras Universidades, inclusive internacionais.
Desenvolve pesquisas nanciadas por agências como FAPESP e CNPq. Mantêm parcerias acadêmicas com
outras universidades e associações, como o Latin American Studies Association (LASA) por meio do Gender
Section e com o GT Gênero ANPUH Nacional. O LIEG veio agregar-se ao Grupo de Pesquisa Cultura e Gê-
nero/CNPq www.culturaegenero.com.br em 2010 atuando através de múltiplas atividades de estudos coletivos,
presenciais e virtuais, trabalhando com a produção de publicações, propostas de eventos acadêmicos e pesquisas.
Mantêm cronogramas semestrais de discussões de textos, apresentações de livros, autores e perspectivas e, ulti-
mamente cursos de extensão com convidadas /os. O LIEG e o Grupo de Estudos Cultura & Gênero mantêm in-
terfaces com outras áreas das humanidades, embora a prioridade maior se assenta para o estudo de mulheres, das
relações de gênero, identidades e feminismos na América latina . História de vida e oralidade são os principais
caminhos metodológicos vinculados aos estudos decoloniais e, portanto, com uma ruptura epistemológica na
produção historiográca.
Foram eles : como : Violência de gênero no espaço acadêmico: uma análise dos trotes e festas. 1999 -2016.
(8/2017 – 7/2018); Gênero e Representações no Espaço Acadêmico: um olhar através da imprensa e mídias
digitais (8/2018-7/2019); O espaço acadêmico. A Ouvidoria/Ouvidorias – “o ouvir especializado” (7/2019-
8/2020) e A Universidade rompendo fronteiras: construindo subjetividades individuais e coletivas na prevenção
ao assédio sexual” (7/2020 - 3/2021) além de papers apresentados e publicados em eventos acadêmicos nacio-
nais e internacionais.
“Enfrentamento de Violência de Gênero na Universidade : situações de Assedio e parcerias necessárias para
além das fronteiras” e - Enfrentar o Assedio, a presença da diversidade no espaço acadêmico: reclamar, captar
historias a partir de uma pedagogia feminista . ambos com bolsa PIBIC – 2020-2022
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 9
Apresentação
constrangimento que exigem soluções!! Os coletivos estudantis
7
tem se organizado
para apoiar as vitimas e criar redes de solidariedade.
Reconheço, que no panorama nacional, casos e mais casos de assedio,
estupro são denunciados, a cada momento. Como exemplo, cito o Disque
Denuncia SP , junto à Coordenadoria Geral da União e as Ouvidorias das
Instituições, inclusive Universitárias, porém a ação é morosa apesar da Lei 10.224,
de 15 de maio de 2001, que tipicou oassédiosexual como crime e que completa
20 anos, sendo considerada, ainda um “ estorvo “ jurídico , pelas interpretações
que protegem o assediador.
O acolhimento às vitimas, seja juridico ou institucional, atraves de
investigações assumem os procedimentos legais, porém ainda são letra morta.
Mesmo com a criação de comissões e sindicâncias, a maioria dos casos são
arquivados e caem no esquecimento. A CGU- Coordenadoria Geral da União
arma que além das subnoticações, de cada 2 entre 3 processos por assedio
sexual, na esfera publica federal, terminaram sem qualquer penalidade.(FOLHA,
04/07/22),
8
Nesse 1º semestre/22 foram registrados 10.164 denúncias de estupro
no Disque Denúncia, que não é a única fonte de denúncias no Brasil. (Gênero e
Numero, 13/07/22)
9
.
No entato, vivemos um momento ímpar, de grande visibilidade e
comoção junto à opiniao publica. Seriam outros tempos, onde a violência de
gênero e as praticas abusivas no âmbito das instituições publicas como bancos
10
,
Assembléia Legislativa
11
, escritorios
12
e hospitais
13
, além das Universidade
não são mais tolerados e as vitimas passam a dar queixas, apesar do medo e de
Os Coletivos Estudantis são movimentos não homogêneos de resistência no interior das Universidades. Sur-
giram em meados de 2010, no caso da UNESP, assumindo ora bandeiras feministas, ora na defesa de minorias
identitárias e contra qualquer tipo de violência de gênero. Agem atraves das redes sociais e possuem a transito-
riedade dos cursos de Graduação. POSSAS, 2021; Godinho, 2022.
Ver “ Dois terços dos processos por assedio, na administração federal, terminam sem punição”. https://www1.
folha.uol.com.br/mercado/2022/07/dois-tercos-dos-processos-por-assedio-sexual-na-administracao-federal-
-terminam-sem-punicao.shtm Acesso : 07/2022
 Ver no site www.generonumero.media.13/07/22.
10
Presidente da Caixa Econômica Federal foi exonerado do cargo , após denúncia de assedio de funcionária.
29/06/22. https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2022/06/29/acusado-de-assedio-sexual-presi-
dente-da-caixa-deve-deixar-o-cargo-nesta-quarta-feira.ghtml
11
Deputada Isa Penna /PSOL, discorre a respeito de sua denúncia de assédio contra deputado da Alesp, que foi
afastado pela Comissão de Ética. ALESP, 03/02/21. https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=417496
12
Assédio contra advogadas inclui intimidações e ofensas e entra na mira da OAB. FOLHA, 8/03/22. https://
www1.folha.uol.com.br/poder/2022/03/assedio-contra-advogadas-inclui-intimidacao-e-ofensas-e-entra-na-
-mira-da-oab.shtml
13
dico é afastado do hospital após denúncia de assédio sexual. Vídeo mostra o momento que medico aneste-
sista estupra gravida no Rio de |Janeiro. Metrópoles, 11/07/22. https://www.metropoles.com/brasil/video-mos-
tra-momento-em-que-medico-anestesista-estupra-gravida-no-rj
10 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022.
POSSAS, L. M. V.
serem mal compreendidase até perseguidas. Observo que as mulheres , no caso
estudantes, criaram redes de acolhimento e ganham força junto às comunidades
univesritárias. Muitas delas aderem como testemunhas oculares e fortalecem o
sentido de que ´”Violar nossos corpos é crime!!!”
Um caso recente ocorreu na UNESP, campus de Bauru, no inicio do
mês de julho de 2022, onde as estudantes zeram a denúncia de assedio de um
professor e organizaram uma manifestação envolvendo outros cursos do campus,
recebendo apoio dos colegas dos campi da UNESP, em repudio ao comportamento
abusivo
14
praticado pelo docente literatura, que em entrevista aos jornais , negou
o ocorrido.
A Direção da Faculdade de Arquitetura, Arte, Comunicação e Design/
FAAC emitiu em sequência, uma manifestação de repúdio e a instalação de uma
Comissão de Sindicância, com prazo de 60 dias para a apuração:
A Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) informa
que na manhã desta quarta-feira (06), a pedido da Comissão de Sindicância
instituída para investigar as acusações de assédio sexual que recaem sobre um
docente da universidade, após discussão sobre os fatos e documentos que
instruem o processo, deliberou pelo afastamento preliminar ocial do referido
servidor pelo período de 180 dias, conforme legislação em vigor. O prazo para a
conclusão das atividades da Comissão é de 60 dias, assegurados o contraditório
e a ampla defesa. Por oportuno, A FAAC reitera que toda e qualquer prática de
assédio não é tolerada e ressalta a importância da formalização de denúncias,
nos vários canais, como a Ouvidoria da Unesp. (Instagran: https://www.
instagram.com/p/CfrOrPHue4-).
Segundo Francois Vergè (2021, p26) “a escassez de pesquisas sobre
violências sexuais e sexistas perpetradas contra mulheres e homens, principalmente
racializados, obscurece o fato que elas, as violências, estão disseminadas e a
recorrência dos estupros das mulheres são como arma de dominação racial e
virilista e estão indissociáveis do imperialismo e do racismo”.
Vergè, ao dar um exemplo, quando em 2017 foi convidada por uma
universidade da Costa leste dos Estados Unidos, para conduzir um seminário,
relata que havia um contraste entre o excesso de discursos sobre os mecanismos
14
O fato ocorreu no dia 02/07/22. A noticia circulou com ampla divulgação na imprensa local e nacional.:
EDUCAÇÃO do R7, ( 02/07/22) Estudantes da Unesp impedem professor acusado de assédio de dar aula
em Bauru. https://noticias.r7.com/educacao/estudantes-da-unesp-impedem-professor-acusado-de-assedio-de-
-dar-aula-em-bauru-02072022?amp .Acesso em 04/07/22. O Jornal da Cidade /JCNET, com manchete de
1ª pagina informava: “Aluna da Unesp acusam professor de assedio e realizam manifestação “ Banner com
mensagens de cunho sexual , supostamente enviadas pelo docente à alunas foi exposta no campus: professor
nega. 02/07/22. https://www.jcnet.com.br/noticias/geral/2022/07/807263-alunas-da-unesp-acusam-professor-
-de-assedio-e-realizam-manifestacao.html Acesso em 04/07/22. A Unesp de Bauru, afasta professor acusado de
assedio. FOLHA, 07/07/2 https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/07/unesp-de-bauru-afasta-profes-
sor-acusado-de-assedio-sexual.shtml - Acesso:08/07/22
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 11
Apresentação
de segurança do campus, a proteção para as estudantes, com a presença da polícia
privada que oferecia uma ostentação visual em contraste com os relatos das suas/
seus estudantes, aquelas/aqueles que usavam véu, negras/negros, queer, latinas/
latinos que não se sentiam em segurança.
A presença do assedio no mundo universitário é hoje uma realidade
comprovada. Graduandas e pós graduandas são levadas a evadir-se, mudar de
orientador e até renunciar a cargos /empregos, uma vez que as promoções, na
maioria das vezes, estão vinculadas às relações sexualizadas.
Os testemunhos de sobrevivência aos assédios físicos, morais e
psicológicos nos campi das universidades apresentam-se variadas e nuançados
pelas formas de aproximação, toques íntimos, elogios e convites individuais e
íntimos , na maioria , sem o devido consentimento. O contexto atual é mais
favorável, e as vítimas começaram a ter a coragem, em um primeiro momento,
de denunciar, fazer queixa, reclamar junto aos setores existentes, no caso as
Ouvidorias locais. No entanto, essa coragem inicial, logo se desfaz diante das
omissões, silenciamentos institucionais. Logo sentem-se marginalizadas e acuadas,
sentindo-se muitas vezes como culpadas por terem provocado as aproximações,
gestos e convites indesejáveis.
Reverbera cada vez mais o percentual das denúncias nas universidades
brasileiras
15
diante da diversidade discente que com a possibilidade de acesso
através de vagas por cotas, oriundos de escolas públicas pluralizou as demandas
e, por efeito exacerbou o racismo, a homofobia frente às vivências identitárias
e subjetividades de gênero no espaço acadêmico. (MALDONADO-TORRES,
2007; AMARAL e NAVES. 2020)
Analisar cada caso, foi alvo de pesquisas e que nos motivou a realizar
essa proposta de publicar coletivamente uma antologia de artigos de nível
académico de modo a permitir que possamos coletivamente partilhar, sentir
e reetir as experiências vivenciadas pelas estudantes que deram seus relatos e
zeram pesquisa rsobre o tema. Partimos de uma metodologia que garantisse não
o lugar de fala (RIBEIRO, 2017), mas o entendimento de uma conjuntura
circunscrita latino-americana, onde a herança colonial, sobretudo a colonialidade
de gênero (LUGONES, 2014), nos impele a indagar sobre a permanência de
diversas formas de assédio e violência reproduzidas por aparatos sócio-políticos
15
Professor da UDESC acusado de assediar alunas é demitido da instituição - 24/02/2022; Professor da USP é
demitido após denúncias de assédio sexual – 31/12/2021- FOLHA. Professor universitário do Rio é acusado de
cometer abusos morais e sexuais nos últimos 14 anos – 13/12/2021- Fantástico/TV GLOBO.; ‘Cai em depres-
são’, arma estudante afroindígena que denunciou assédio moral sexista e racista de professor da PUC-Rio –
15/12/2021- O GLOBO; Universidade demite professor que perguntou se aluna vai levar lubricante ‘quando
for estuprada’ - 26/11/2021- UNIFAMZ.
12 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022.
POSSAS, L. M. V.
e históricos existentes enquanto relações de ser, saber e poder hegemônicos
integrados ao sistema-mundo capitalista colonial-moderno (ASSIS, 2014)
Ao assumir a presença de uma abordagem decolonial (SANTOS, 2022;
VÈRGES, 2021)
16
impulsionou -nos na proposição de debruçarmos sobre as
reclamações/queixas, como nos sugere AHMED( 2021)
17
em sua metodologia
de captar os movimentos reativos existentes nas instituições( no caso nas
Universidades) para propor alternativas de enfrentamento no âmbito acadêmico.
Temos observado situações de constrangimento, de conitos, de processos
de resistência à persistência de uma estrutura rígida, moldada na concepção
heteronormativa, racista e LGBTQIA+fóbica que deslegitima outras formas de
existir e de viver, outras corporalidades (BUTLER, 2020).
Como feministas e estudiosas de gênero, compete-nos liderar e abraçar
uma “pedagogia feminista” que nos permita ser as estragaprazeres institucionais
que Ahmed tão bem descreve e procura animar em seu Living a Feminist Life
(2017) agora em português Viver uma Vida Feminista
18
.
O trabalho prossegue, buscando espaços outros de atuação, como cursos
de extensão, rodas de conversa diálogos com centros universitários nacionais e da
América Latina
19
que, cientes do mesmo problema, vem exigindo a propositura
de protocolos, portarias e regulamentos internos de prevenção e enfrentamentos
à toda situação de violência de gênero, racismo e homofobia. È possível observar
algumas mudanças nesse sentido, principalmente no âmbito jurídico
20
..
O trabalho do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero/
LIEG no âmbito da UNESP é colaborar com as pesquisas realizadas, sensibilizar
gestores , formar parcerias e propor alternativas de superação para todo e qualquer
caso de discriminação e comportamentos abusivos
21
.
16
A abordagem decolonial refere-se ao conjunto heterogêneo de contribuições teóricas e investigativas sobre
a colonialismo-colonização/colonialidade, no anos 90. Detêm-se sobre a necessidade de revisões histo-
riográcas, os estudos de caso, a recuperação do pensamento crítico latino-americano, as formulações (re)
conceitualizadoras, como as revisões das indagações teóricas. O pensamento decolonial afasta -se da lógica
de um único mundo possível (lógica da modernidade capitalista) e se abre para uma pluralidade de vozes e
caminhos. Busca o direito à diferença e a uma abertura para um pensamento diversicado de modo a colocar
luz para outros sujeitos, atores que foram silenciados. UGONES, 2008; GONZALEZ (1988)
17
Em seu livro Complaint! (2021 a autora sugere um trabalho de pesquisa a partir d elaboração de um mapea-
mento de circulação das denúncias nos órgão hierárquicos internos, bem como o tempo das decisões em cada
um deles e as sugestões oferecidas e a coleta de relatos orais, das .s testemunhas, das/dos sobreviventes
18
Viver uma Vida Feminista , pela Ubu Editora , 1ª edição, em 28 março 2021.
19
ZANELLO, V.; ALMEIDA, T.M. C. de .Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasilei-
ras e latino americanas. Editora da OAB Nacionale UNB/Brasília. 17 de janeiro de 2022. https://www.oab.org.
br/publicacoes/pesquisa?termoPesquisa=panoramas#
20
A RESOLUÇÃO No 351 de 28 DE Outubro de 2020, do Conselho Nacional de Justiça, instituiu, , no
âmbito do Poder Judiciário, a Política de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral, do Assédio Sexual e da
Discriminação. https://atos.cnj.jus.br/les/original192402202011035fa1ae5201643.pdf Acesso: 12/01/2021
21
Em 27/07/2022 foi aprovada na UNESP a Portaria de n.68 que Institui a Política Educativa de Enfrentamen-
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 13
Apresentação
Nesse Dossiê I, contamos com os seguintes artigos:
Escuta feminista e a revelação de violências invisíveis: análise dos
movimentos estudantis na FFC/UNESP Marília, no período 2013
– 2019 que foi marcado pelo crescimento no número de acusações
e denúncias de violência registradas na Ouvidoria da Unesp e,
concomitantemente ao recrudescimento das agressões, da atuação
dos movimentos estudantis de resistência coletiva e a falta de apoio
e suporte nas agendas de prioridade da instituição;
Decolonizando o olhar – análise de imagens criadas pelos coletivos
contra a violência de gênero na universidade, evidenciando como a
universidade tem se mostrado um local de violências relacionadas
ao gênero de alunas, alunos e alunes, alvos constantes de abusos
físicos, morais e psicológicos por parte de colegas, professores
e funcionários e dar visibilidade a essas agressões, através de
mobilizações de estudantes com os coletivos em redes sociais
digitais onde compartilham posts cujo intuito é revelar sua luta em
construir espaços acadêmicos livres de preconceitos e violências de
gênero e suas interseccionalidades;
Experiências femininas na Universidade: violência de gênero e
resistência feminista. Neste ensaio, o objetivo foi reetir sobre
violência de gênero e resistência feminista na Universidade por
meio de metodologias autobiográcas, a m de relatar experiências
em dois contextos, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” , campus de Franca e na Universidade Federal
da Bahia.
A gente não vai acreditar nessa neguinha! Violência sexual, de
gênero, raça e classe na universidade, com objetivo de evidenciar
a relevância do tema da violência de gênero no ambiente
universitário, pontuando as possibilidades de análise a partir
da interseccionalidade e dos marcadores sociais da diferença,
em um estudo comparativo entre instituições universitárias do
Brasil e Chile;
E para nalizar temos o artigo “Todavía cargando este fardo:
Situación actual de la violencia de género en las universidades en
EE.UU” que trata de uma outra realidade e nos oferece uma visão
panorâmica dos casos de violência de gênero nas universidades
to ao assédio moral, assédio sexual, importunação sexual, formas de discriminações e preconceitos em relação
à origem, cor, gênero, orientação sexual, religião ou crença, nível sócio-econômico, condição corporal física ou
psíquica no âmbito da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP. https://www.feb.
unesp.br/#!/ouvidoria/legislacao-complementar/ Acesso:05/08/22
14 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022.
POSSAS, L. M. V.
estado-unidenses, a partir das denúncias divulgadas no
documentário e Hunting Ground [El Coto de Caza, en español-
2015)] até o presente .Assume como fundamentação as proposições
teóricas de Sara Ahmed em Complaint! (2021), apresentando
quais são os impedimentos para enfrentar a violência de gênero
nas universidades estado-unidenses e a necessidade imperativa de
reformar o atual sistema,
Com objetos, espaços e abordagens distintas o tema Violência de
Gênero na Universidade, é analisado a partir de múltiplos olhares, de experiências
vivenciadas em espaços e cursos distintos, tendo como denominador comum
a violência de gênero e a academia bem como propostas de enfrentamento e
superação de um cotidiano acadêmico muitas vezes hostil.
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Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022. 15
Apresentação
POSSAS, Lidia M.V. A Universidade e as relações de Poder: os Coletivos Estudantis e as
estratégias de sobrevivência. IN: BANDEIRA, A; POSSAS, L. e NASCIMENTO, A. Gênero;
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16 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 7-16, Edição Especial 2, 2022.
POSSAS, L. M. V.