Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022. 39
A gente não vai acreditar nessa neguinha! Artigos/Articles
A gente não vAi AcreditAr nessA neguinhA! violênciA sexuAl,
de gênero, rAçA e clAsse nA universidAde.
You wont believe this nigga! race, gender and class: sexual
violence in the universitY.
Carolina dos Santos Bezerra
1
RESUMO: O objetivo principal deste artigo é apresentar a relevância do tema da violência de gênero
no ambiente universitário, pontuando as possibilidades de análise a partir da interseccionalidade
e dos marcadores sociais da diferença. Realizarei a interpretação e estudo de caso de um relato de
pesquisa, pontuando como no engendramento de diversas opressões, as instituições reproduzem
graves violações de direitos. Dessa forma, as violências institucionais direcionadas ao corpo das
mulheres negras e racializadas, para além de terem uma raiz histórica nas tensas relações étnico-
raciais, de gênero e sexualidade que existem na sociedade, adquirem no espaço acadêmico
mecanismos perversos que impactam na saúde, criatividade, formação, pleno desenvolvimento e
permanência desses corpos na universidade. Como se trata de narrativas delicadas, complexas e
fortes, serão garantidos o sigilo e o anonimato das/os interlocutoras/es de pesquisa, assim como
nenhuma instituição ou pessoa será identicada. A metodologia utilizada para a análise desse
fenômeno tão complexo, se ancora na articulação entre academia e movimentos sociais, valendo-se
da produção das feministas negras e decoloniais (CRENSHAW, 2002; DAVIS, 2016; hooks, 2019;
VIGOYA, 2009 e 2016; CARNEIRO, 1996 e 2005; GONZALES, 2019 e 2020, NASCIMENTO,
2007 e 2019; COLLINS, 2016; LORDE, 1984; KILOMBA, 2019, ANZALDÚA, 1998 e 2016 e
SPIVAK, 2010), congruentes com a metodologia da “reclamação” proposta por Sara Ahmed (2018
e 2021).
Palavras-chave: Gênero, sexualidade, violência sexual, violência de gênero, direitos humanos.
ABSTRACT: e central objective of this article is to present the relevance of the theme of
gender violence in the university environment, pointing out the possibilities of analysis from
intersectionality and social markers of dierence. I will perform the interpretation and case study
of a research report, pointing out how, in the engendering of various oppressions, institutions
reproduce serious violations of rights. In this way, the institutional violence directed to the body
Pós-Doutoranda pelo Departamento de Antropologia da USP. Vice-Líder do grupo de pesquisa GENI –
Gênero e Interdisciplinaridade da UFJF. Integrante do NUMAS-USP. Doutora em Educação pela USP. Docente
do C. A. João XXIII da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Membro do
Coletivo Marielle Franco – UFJF.
http://doi.org/10.36311/2447-780X.2022.v8esp2.p39
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BEZERRA, C. S.
of black and racialized women, besides having a historical root in the tense ethnic-racial, gender,
and sexuality relations that exist in society, acquire in the academic space perverse mechanisms that
impact the health, creativity, training, full development, and permanence of these bodies in the
university. As these are delicate, complex, and strong narratives, the condentiality and anonymity
of the research interlocutors will be guaranteed, and no institution or person will be identied. e
methodology used to analyze this complex phenomenon is anchored in the articulation between
academia and social movements, making use of the production of black and decolonial feminists
(CRENSHAW, 2002; DAVIS, 2016; hooks, 2019; VIGOYA, 2009 and 2016; CARNEIRO, 1996
and 2005; GONZALES, 2019 and 2020, NASCIMENTO, 2007 and 2019; COLLINS, 2016;
LORDE, 1984; KILOMBA, 2019, ANZALDÚA, 1998 and 2016 and SPIVAK, 2010), congruent
with the “claim” methodology proposed by Sara Ahmed (2018 and 2021).
Keywords: Gender, sexuality, sexual violence, gender violence, human rights.
APresentAção
O objetivo principal deste artigo é apresentar a relevância do tema
da violência de gênero no ambiente universitário, pontuando as possibilidades
de análise a partir da interseccionalidade e dos marcadores sociais da diferença.
Trata-se de um recorte dos dados preliminares da pesquisa de Pós-Doutoramento
intitulada “Violência de gênero no ambiente acadêmico: um estudo comparativo
entre Brasil e Chile” que se encontra em andamento no Departamento de
Antropologia da FFLCH-USP, sob a supervisão da Profª Drª Heloisa Buarque
de Almeida.
O tema da violência de gênero no ambiente acadêmico tem ganhado
uma visibilidade notável nos últimos anos, não só no Brasil, como em vários
países
2
. Diversas hipóteses são aventadas e as análises e pesquisas sobre esse tema
vão produzindo uma conuência de constatações que nos apontam possibilidades
de caminhos e de perspectivas teórico-metodológicas que nos permitam produzir
ações e encaminhamentos que ao mesmo tempo articulem o ensino, a pesquisa
e a extensão nas universidades, e concebam políticas institucionais ecazes
para combater o racismo institucional, a violência de gênero, o preconceito e a
discriminação existentes contra alguns corpos que circulam no espaço acadêmico,
onde antes não eram visibilizados e compreendidos como produtores de
conhecimento.
O sexismo, o machismo, a lgbttifobia, o capacitismo, o elitismo e o
racismo, vão se articulando e interseccionando, compondo o cenário de um
ambiente que para além de reproduzir os problemas e desigualdades estruturais da
sociedade contemporânea, operam na reatualização de estereótipos que articulam
os diferentes marcadores sociais da diferença para praticar a violência e a exclusão
que revelam padrões e mecanismos especícos criados e agenciados nesse espaço.
(AKAZAWA, 2018; ARAÚJO, 2017; ELIÁS, 2018; CRUZ, 2018; GAMA, 2016; HIRSCH, 2017; INS-
TITUTO AVON, 2015; KRAKAUER, 2016; NASH, 2015a e 2015b; VILLEGAS, 2017; BELLINI, 2018;
BATTY, 2017; UNICAMP, 2018, USP MULHERES, 2018 e ZAVOS, 2018)
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Isso vem sendo por mim percebido em diferentes espaços de atuação:
como gestora, como participante de um coletivo de mulheres e atualmente como
pesquisadora do tema, como já apresentei em outros artigos
3
.
A utilização da interseccionalidade como ferramenta política, teórica
e metodológica é fundamental para a compreensão das disputas presentes nas
relações intelectuais de poder e hierárquicas nas universidades.
A sociabilidade e a dimensão da subjetividade articulada ao fenômeno
da violência de gênero nesse espaço/território têm um impacto sobre a produção
do conhecimento, das trocas intelectuais, bem como na transformação das
epistemologias e paradigmas.
No exercício de articular todas essas questões, realizarei a análise,
interpretação e estudo de caso de um relato de pesquisa. Como se trata de
narrativas delicadas, complexas e fortes, serão garantidos o sigilo e o anonimato
das/os interlocutoras/es de pesquisa, assim como nenhuma instituição ou pessoa
será identicada.
Para a compreensão desse fenômeno que ultrapassa fronteiras, línguas,
classes sociais e pertencimentos étnico-raciais, necessitamos de epistemes que
nos possibilitem pensar outros recursos metodológicos ecazes para a análise
dessa complexidade, como, além da interseccionalidade, os feminismos negro e
decolonial
4
, congruentes com a metodologia da “reclamação” proposta por Sara
Ahmed (2018 e 2021).
Acesso e PerMAnênciA no ensino suPerior
A violência de gênero constitui-se em uma das principais formas de
violação dos direitos humanos, atingindo as pessoas em seus direitos à vida, à
saúde, ao direito de ir e vir, ao poder sobre seus corpos e à integridade física e
mental. Trata-se de tema central em nossos dias, que vem mobilizando esforços
no ambiente acadêmico em caráter multidisciplinar.
Com as transformações contemporâneas oriundas dos meios de
comunicação, das redes sociais e da modicação no padrão de comportamento
social e cultural existente nas relações e performatividades de gênero (BUTLER,
2019), observamos que as denúncias vêm se tornando cada vez mais frequentes.
No entanto, apesar da relevância de todos esses aspectos estudados, temos poucos
estudos sobre o impacto que essa realidade tem quando vários sistemas de opressão
se articulam (VIGOYA, 2016; PRESTES, CARNEIRO, 1996).
 BEZERRA, 2020; BEZERRA, 2021 e ROCHA, 2021.
(CRENSHAW, 2002; DAVIS, 2016; hooks, 2019; VIGOYA, 2009 e 2016; CARNEIRO, 1996 e 2005;
GONZALES, 2019 e 2020, NASCIMENTO, 2007 e 2019; COLLINS, 2016; LORDE, 1984; KILOMBA,
2019, ANZALDÚA, 1998 e 2016 e SPIVAK, 2010),
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BEZERRA, C. S.
É sabido que o espaço acadêmico, tradicionalmente, não foi criado
nem muito menos pensado para a circulação do corpo das mulheres e menos
ainda das mulheres negras, basta que analisemos a história da educação brasileira
para vermos que inicialmente esse espaço era predominantemente masculino
e branco. No entanto, com as transformações oriundas das reivindicações
históricas dos movimentos sociais por acesso à educação, articuladas ao processo
de democratização do país, pós-ditadura, a garantia dos direitos civis, políticos e
humanos foi se desenvolvendo por meio de uma base legal (Constituição, Estatuto
da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, etc),
e se consolidando nos anos 90 e início do século XXI.
A possibilidade de um governo mais progressista no início dos anos
2000, com acesso e investimento no Ensino Superior, ampliou, por meio de
políticas públicas na área da educação, como o REUNI (Programa de Apoio aos
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), o PROUNI
(Programa Universidade Para Todos), a adoção do SISU (Sistema de Seleção
Unicada), bem como as políticas de cotas sociais e étnico-raciais, a entrada de
diversos grupos subalternizados da sociedade que antes não circulavam por esses
espaços.
Observo, portanto, que, além do acesso à universidade, é fundamental
que pensemos também a permanência desses corpos. A violência de gênero tem
crescido e trazido à baila a necessidade de ações no campo das políticas públicas,
dos direitos humanos e das ações armativas, evidenciando a importância
de fomentarmos nas universidades uma formação prossional ética, pautada
no respeito à diversidade, à igualdade de gênero, a uma formação e educação
antirracista e antissexista, que combata o capacitismo, a aporofobia, LGBTTIfobia
e toda e qualquer forma de preconceito e discriminação.
violênciA de gênero e rAcisMo institucionAl:
QuAndo As oPressÕes se encontrAM.
Em uma universidade brasileira, uma jovem negra, que nesse artigo
para preservar a sua identidade chamarei de Esperanza
5
, vai até o gabinete do
Reitor com o seu pai. A estudante de baixa estatura, tímida, magra, visivelmente
Escolhi esse nome por causa da grande beleza, doçura e graciosidade da jovem que teve a generosidade e
coragem de me narrar a sua história, ainda que esse processo tenha sido doloroso e difícil, pois relembrar e
recontar é ativar memórias que não sentimos só racionalmente, e sim pelo corpo todo. Esse artigo é dedicado
a ela, que durante um processo que se realizou de forma muito cuidadosa e atenta, decidiu rememorá-lo com
o intuito que a sua história possa auxiliar outras mulheres e sensibilizar gestores/as, docentes, pesquisadores/as
e funcionários/as das universidades brasileiras e de outros países. Esperanza Spalding é uma cantora e violon-
celista negra estadunidense que tem uma beleza e talento incríveis, assim como essa jovem. Esperanza também
é esperança em espanhol. Então a escolha do nome é uma homenagem pela qualidade que vejo também nela,
como também uma esperança de que cada vez menos as mulheres negras passem por essas situações no espaço
que deveria celebrar a sua presença.
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constrangida, olha ao redor de si e encontra o olhar da gestora, uma mulher
negra que atua no órgão recém-criado na universidade, para tratar dos temas de
diversidade, inclusão e ação armativa. Esperanza relata que está sendo perseguida
por um jovem do seu curso que desde o primeiro dia de aula a abordou. O rapaz
branco, jovem, se apresentou como seu veterano, segundo o relato , colocando-
se em posição de superioridade. Nesse mesmo dia, ele se declara dizendo estar
apaixonado por ela, rme e contundente em sua intenção de namorá-la, investe
insistentemente sobre Esperanza que se esquiva, diz não e de forma veemente
deixa manifesto que não deseja esse relacionamento.
Prosseguindo no relato corporalmente retraída, com os ombros
encurvados, aperta nervosamente as mãos sobre o colo, enquanto o seu pai a ta
de forma plácida e acolhedora, quando ele ergue a voz para falar, diz que não
sabe mais o que fazer, que Esperanza não quer ir para a faculdade, tem faltado
e que ele não tem mais condições de levá-la e car esperando. Desde que os
assédios começaram, Esperanza contou com ajuda de amigas/os e colegas que a
acompanham pelos trajetos da universidade. Ainda assim, desde o primeiro dia
o jovem passou a assediá-la cotidianamente nas dependências da universidade,
insistindo em que ela aceitasse um relacionamento forçado, ao qual as opções que
ele dava eram “car ou namorar”. Também lhe dava presentes e sempre levava
ores, incomodando a jovem, constrangida e atemorizada com sua abordagem
insistente.
Em virtude de suas inúmeras negativas, um ano depois que Esperanza
ingressara na universidade, o jovem se tornou mais violento e agressivo.
Demonstrando a diculdade em aceitar um não, ser “rejeitado”, pois a construção
de masculinidades ensinadas desde crianças, são a de que os homens são sujeitos,
ativos, incontroláveis e podem conseguir tudo o que querem, e as mulheres
passivas, submissas e se sujeitam às vontades dos outros (ALMEIDA, 2019a e
2019b; CRUZ, 2018).
Quando se trata de mulheres negras, a situação se agrava e se intersecciona
além do sexismo/machismo, com o racismo estrutural construído historicamente
a partir da nossa herança colonial e escravocrata, na qual a corporeidade dessas
mulheres se inscrevia no espaço/ação de servir, cuidar, obedecer, realizar as tarefas
braçais e se subordinar, inclusive sexualmente, ao senhores e “sinhás” da Casa
Grande. Não é por outro motivo que vemos, até os dias atuais, o reexo que
a representação hipersexualizada dos corpos das mulheres negras adquiriu no
imaginário da sociedade brasileira e se materializou como parte da “cultura
6
brasileira por meio de suas diferentes instituições e elementos simbólicos:
educação, ciência, mídia, meios de comunicação, manifestações artístico-
culturais, religiosas, etc.
Aqui utilizo cultura entre aspas, fazendo uma menção à Manoela Carneiro da Cunha e seu livro “Cultura com
aspas” da Editora UBU, 2017.
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Acompanhada de abordagens mais violentas, a situação de desrespeito
também foi se agravando. O jovem passou a assediá-la nos corredores, a agarrava
à força, tentava beijá-la, passava a mão em seu corpo e puxava seus cabelos. Esses
acontecimentos acabaram por intensicar o seu medo, inclusive de caminhar
sozinha pela universidade, ferindo o seu direito de ir e vir com liberdade em seu
espaço de formação.
Observo que quando não há uma intervenção precisa e pontual em
alguns casos de abuso e assédio sexual e moral no ambiente acadêmico, as medidas
paliativas vão tornando a situação mais difícil e complicada. No presente caso, a
saída encontrada pela jovem frente ao medo, foi a de aumentar a dependência
constante da companhia de amigos e amigas, como forma de vigilância às
investidas do assediador. O que tenho observado, em diferentes casos, é que
quando não se implementam políticas institucionais articuladas, as vítimas/
denunciantes/sobreviventes
7
, vão sendo colocadas cada vez mais em uma situação
de vulnerabilidade física, intelectual, psíquica e emocional, gerando agravamento
de situações que poderiam ter sido evitadas, pela proposição de ações institucionais
relativamente simples.
Na universidade, portanto, essa violência passa a apresentar outras
características, pois trata-se de um espaço de poder com formas de interações
especícas, relações intelectuais, teóricas, práticas e hierárquicas entre docentes,
docentes e alunas/os/es, docentes e funcionárias/os/es, como também entre
alunos/es e alunas e entre o corpo discente e funcionários/as/es.
Essa violência, consequentemente, articula o racismo institucional,
com o menosprezo intelectual às mulheres racializadas, que reitera estereótipos e
um imaginário negativo e sexualizado do corpo negro, destituído dos marcadores
sociais de civilidade, decência e moralidade. Interseccionam-se, dessa forma,
padrões e normatividades de gênero que operam de maneiras distintas a partir
dos pertencimentos étnico-raciais, de classe social, dos dispositivos sexuais, e se
apoiam no julgamento do comportamento social e sexual pregresso das vítimas/
denunciantes/sobreviventes.
O lugar em que nos situamos determinará nossa interpretação sobre o duplo
fenômeno do racismo e do sexismo. Para nós o racismo se constitui como
a sintomática que caracteriza a neurose cultural brasileira. Nesse sentido,
veremos que sua articulação com o sexismo produz efeitos violentos sobre a
mulher negra em particular. (GONZALES, 1984, p.224)
A utilização das denominações “vítimas, denunciantes e sobreviventes”, busca ampliar o escopo de análise para
contemplar as diferentes categorias utilizadas nos diferentes países e contextos acadêmicos. No Brasil a bibliogra-
a trata dos/as universitários/as/es que sofreram assédio sexual ou violência de gênero como “vítimas”, no Chile
utilizam a categoria “denunciantes” e as universidades americanas utilizam “sobreviventes”.
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Mesmo com o apoio de uma rede de amigos/as, o ano seguinte culminou
em mais uma atitude de violência extrema do agressor. Em uma festa
8
realizada
na unidade de estudo de Esperanza, quando ela se dirigia ao estacionamento do
local, o agressor sorrateiramente a atacou pelas costas e depois tentou empurrá-
la na frente de um carro, felizmente ela não foi atingida. Após esse episódio,
lançou-a contra a parede e tentou beijá-la novamente à força, a interrupção do
ato violento só cessou graças à intervenção de um colega, que passava pelo local.
Dois outros estudantes, que também estavam na festa e que não a
conheciam, foram ao seu auxílio e ajudaram-na, segurando e barrando o agressor
de se aproximar dela e a tirando de perto dele
9
. Esperanza relata que passou a
madrugada inteira muito abalada emocionalmente, tremendo, chorando e com
crise de ansiedade, sem conseguir dormir por dias seguidos. Temendo novas
investidas, não restou alternativa a ela a não ser procurar auxílio policial para
relatar os fatos e, então, foi lavrado boletim de ocorrência na delegacia local.
Quatro meses depois, por ocasião de outra festa, realizada em outra
unidade acadêmica, o agressor abordou-a mais uma vez violentamente e
infelizmente a estuprou. Dessa vez, ameaçou não só a Esperanza, como a sua
amiga e outros amigos que a encontraram em choque, dizendo que estava
andando armado e que eles estavam marcados para morrer. Novamente Esperanza
passa por mais outro trauma e desgaste. Frente à negligência institucional, que
não conseguiu construir caminhos efetivos de acolhimento e orientação, vai até
a delegacia uns dias depois e lavra outro boletim de ocorrência que termina por
gerar um processo criminal
todos os Pretos e todAs As Mulheres são iguAis:
discriMinAção e Preconceito nAs relAçÕes de
Poder nA universidAde
Como é característico em muitos casos, as pessoas afetadas por
situações de assédio/abuso e violência de gênero no ambiente acadêmico têm
muita diculdade em relatar o ocorrido, formalizar a denúncia e reportar a
queixa institucionalmente (CRUZ, 2018; ALMEIDA, 2019a; ROCHA, 2021 e
BEZERRA, 2020 e 2021). Existem vários temores com relação a sua exposição
e revitimização por meio da desgastante repetição do episódio traumático para
diferentes agentes e prossionais, além das perseguições e possíveis revides dos/as
Como pesquisas anteriores referenciam (USP MULHERES, 2018; ALMEIDA, 2019a e 2019b), as festas
universitárias, no ambiente acadêmico ou não, são um dos espaços onde as violências de gênero tornam-se
numerosas e frequentes.
A falta de uma intervenção institucional acaba agravando situações de violência entre alunos/as; em muitos
momentos Esperanza narrou-me que o assediador foi agredido sicamente por outros estudantes que o conhe-
ciam e sabiam de vários casos.
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agressores/as/abusadores/as, já que na maioria das denúncias as instituições não
garantem um espaço de segurança emocional.
Com Esperanza não foi diferente, quando ela e seu pai procuram
diretamente a Reitoria da Universidade, alguns meses depois de começar a ser
importunada, é porque não houve na sua unidade, por meio das coordenações
de curso e direção, nenhuma forma de encaminhamento satisfatório para o seu
caso, nem antes e nem depois do processo de denúncia formal. Desse modo, essa
atitude é um pedido de socorro a um espaço hierarquicamente superior, com o
intuito de que providências sejam tomadas.
Nesse momento Esperanza é ouvida e acolhida pelo reitor, assim como
pela gestora que estava presente, que havia sido convocada para acompanhar o
caso de perto. Desse modo, a administração superior se compromete a dialogar
com os/as gestores/as da unidade e pensar em políticas institucionais que garantam
o direito das pessoas afetadas de terem encaminhamentos que as protejam e não
as revitimizem ainda mais. Era urgente que algo fosse feito, já que o caso da
Esperanza não era o único na instituição.
Olhando para toda a possibilidade de desenvolvimento daquela jovem
mulher negra, todo o potencial de vida e de esperança de um corpo que naquele
momento se apresentava tão frágil, com seus chinelos de dedo, que contrastava
com a arquitetura, móveis e decoração daquele espaço imponente, assim que
Esperanza e seu pai saem daquele gabinete, a gestora decide, apoiada pelo reitor da
universidade, a conversar pessoalmente com o diretor da unidade para saber quais
atitudes e procedimentos foram tomados pela unidade para acompanhamento e
andamento do caso
Quando a gestora, uma mulher negra, se dirige até a unidade, assim
que entra na secretaria para solicitar uma reunião, encontra com o diretor que
olha para ela e, antes mesmo de proferir qualquer palavra, se apresentar ou dizer
a ele o que estava fazendo ali, ele dispara: “Ei! Que bom que você chegou, eu
ia mesmo mandar te chamar, vem cá, vem pegar aqui esses livros para você
levar à biblioteca”. A gestora olha estarrecida para ele e o adverte que ele a está
confundindo com alguém, ao que o gestor responde: “Ué! Você não é a fulana de
tal que trabalha na biblioteca? ” A gestora responde que não, educadamente se
apresenta pelo nome e localiza a sua unidade de atuação, também lhe recorda que
eles já se conheciam de uma outra demanda prossional, na unidade de origem
da gestora.
Nesse momento o diretor não pede desculpas, não se retrata e como se
estivesse ordenando, repete para ela ir até lá que ele quer falar algo sobre aquele
espaço que ela coordenava, ela responde que não está mais nesse cargo, que está
em outro, mas a postura que articula, o sexismo, o machismo, o racismo, o
elitismo olha para o corpo de uma mulher negra, como se ele não pudesse ocupar
determinados espaços de poder e de decisão dentro de uma universidade.
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A branquitude (BENTO, 2002) enxerga o mundo a partir de um
prisma, aprendido, introjetado e reiterado que foi ideológica e simbolicamente
construído, mas que dicilmente é questionado. Quando algo é estabelecido,
não produz reexão sobre si mesmo e a sua percepção da realidade e do mundo
apenas reitera sua própria imagem narcísica, produzida alheia à percepção do
lugar que ocupa, dos seus privilégios e status, termina por alimentar o ciclo de
perpetuação de estereótipos, preconceitos e atitudes discriminatórias. No espaço
acadêmico a sua posição de educador, o coloca como agente de uma estrutura que
se vale das relações sociais, hierárquicas e de poder a serviço da perpetuação de
desigualdades, não produzindo uma educação libertadora e emancipatória, como
pontua Freire (1996).
Novamente, com a paciência e a polidez de quem é confrontada
cotidianamente com situações desse tipo, a gestora diz que atualmente ocupa um
cargo ligado diretamente à Reitoria e que gostaria de conversar com ele. Dirige-
se até a sua sala, o diretor sempre com a mesma postura, fecha a porta e diz a
ela, que bom que esteja ali, porque tinha essas coisas aí da lei 10.639/03 que
precisava implementar. Começa a inquiri-la sempre buscando dominar a situação
e o direcionamento da conversa. Ainda meio atônita com a situação, a gestora
diz que sim, que podiam conversar sobre isso em outra oportunidade, mas que no
momento ela estava ali para tratar de uma outra situação.
Narra o caso de Esperanza e da sua ida com seu pai à reitoria, que
gostaria de entender e compreender quais eram os encaminhamentos que a
unidade estava fazendo. O diretor então faz uma pausa, diz um “Veja bem” e passa
a questionar de forma contundente as queixas de Esperanza, que precisávamos ver
se era realmente verdade, se o rapaz tinha feito aquilo mesmo, que não era bem
assim, que esta era uma acusação muito grave, que isso poderia estragar a vida
e a trajetória de um aluno, que não podíamos expor o rapaz, enm, temos que
vericar se ele realmente fez o que ela arma.
A gestora rebate a sua argumentação armando que a bibliograa sobre
esse tema tem nos alertado que desacreditar a vítima é um fator que acaba por
gerar mais revitimização. Os dados são contundentes de que a palavra da vítima
quase sempre é posta em dúvida, ao contrário da palavra do agressor, e ainda
que as pessoas que pratiquem esse tipo de violência não considerassem ou não
compreendessem as suas atitudes como violência de gênero, abuso ou assédio,
cabe à instituição não só realizar esse papel formativo e educativo de informá-los,
mas fundamentalmente acolher e ouvir as denunciantes.
Prossegue a argumentação dizendo a ele que os dados apontam que
é muito mais improvável que uma vítima reporte uma série de abusos sem ele
ter acontecido, do que o contrário, pois quando uma pessoa afetada decide
falar, signica que se sente tão acuada por estar experienciando uma situação
insustentável, que ultrapassa o receio de ser novamente revitimizada ou sofrer
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BEZERRA, C. S.
represálias por queixar-se. Evidentemente o mais comum é que as vítimas se
recolham e se retraiam e não contem a ninguém o que viveram.
Ao sair daquela situação constrangedora, a gestora reete sobre as
diculdades em lidar com esse tema em um espaço que tradicionalmente tem uma
atitude de silenciamento e negação. Existe um tabu muito grande com relação
a falar sobre o assunto, quiçá encaminhar essas ocorrências institucionalmente.
Outra constatação é a de que, se o gestor agiu daquela maneira com uma pessoa
hierarquicamente superior a ele, ainda que estivesse respaldada com o aval do
reitor, como ele não trataria uma estudante negra?
As ações institucionais da administração superior
10
além do
reconhecimento público da existência do assédio/abuso sexual no contexto
da universidade foram implementar campanhas educativas e a realização de
eventos para a criação de grupos de trabalho, com a presença de especialistas e
pesquisadores/as de outras universidades e organizações com vasta experiência
sobre o tema.
Após tentar todos os caminhos possíveis para a realização de uma
queixa, no ano seguinte ao início das importunações sofridas, Esperanza recorre
novamente à direção de sua unidade para formalizar a denúncia de assédio e
abuso sexual, com a nalidade de obter orientações e solicitar que providências
sejam tomadas para garantir o seu livre trânsito e permanência segura na
universidade, restabelecendo assim a frequência regular às aulas e o cumprimento
dos compromissos acadêmicos imprescindíveis à sua formação. A denúncia gerou
a abertura de um processo de sindicância. Infelizmente até a data de realização
dessa entrevista, Esperanza não conseguira ter acesso às cópias do processo.
A Sindicância durou mais de um ano, e terminou por agravar ainda
mais um quadro depressivo que se iniciou com o assédio. Infelizmente, como
já analisamos em outros momentos (BEZERRA, 2020; BEZERRA, 2021 e
ROCHA, 2021), os processos administrativos e sindicâncias, assim como os
processos na justiça comum (CORRÊA, 1983), acabam por revitimizar ainda
mais a pessoa afetada, com procedimentos e conduções que escancaram as
desigualdades raciais, de classe e de gênero, presentes nas nossas instituições.
Quando o processo foi aberto, o agressor foi ouvido primeiro e somente
depois Esperanza. Não obstante o agressor ter podido apresentar testemunhas,
Esperanza não foi instruída corretamente de que também teria o mesmo direito.
Em seguida, adotaram um procedimento contraindicado nesses casos, chamaram
os dois para depor na mesma sala, o que a constrangeu, gerando gatilhos que a
impossibilitaram de conseguir relatar tudo que viveu, por conta dos traumas e
medos que a presença do agressor lhe acarretava.
10
Essas foram as únicas ações realizadas no contexto citado, logo depois houve mudança de gestão na reitoria e
outras políticas institucionais foram implementadas.
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022. 49
A gente não vai acreditar nessa neguinha! Artigos/Articles
Outrossim, houve uma exposição muito prejudicial de Esperanza. Ela
ouvia o seu caso e relatos sendo constantemente comentados nas dependências da
sua unidade como “o caso do fulano
11
”, tanto por alunos/as como por professores/
as de vários departamentos. Alguns movimentos sociais e estudantis, ainda que
com o intuito de fomentar a discussão e a conscientização sobre casos de assédio/
abuso moral e sexual entre discentes, docentes e funcionários/as na universidade,
começaram a propagar informações da situação de forma descuidada, sem preparo
e sem preservá-la.
O despreparo da instituição em conduzir o processo, não conseguindo
garantir o sigilo das informações, a sua proteção e muito menos a sua circulação
nas dependências da unidade enquanto o mesmo transcorria, terminou por
afetar psicologicamente e vulnerabilizar Esperanza ainda mais. No decorrer
do processo ela foi convidada a ir na sala do diretor da unidade diversas vezes,
quando transitava pelos corredores e espaços de convivência. Quando cavam a
sós o diretor a informava sobre a presença do agressor na unidade naquele dia e
a aconselhava a voltar para sua casa a m de evitar o encontro entre ambos. Tal
atitude foi se tornando praxe, assegurava livre trânsito ao agressor e restringia o
direito de Esperanza ir às aulas, de cumprir seus deveres acadêmicos e de circular
pela universidade de forma segura.
Busca-se dar visibilidade a processos de discriminação indireta que ocorrem no
seio das instituições, resultantes de mecanismos que operam, até certo ponto,
à revelia dos indivíduos. A essa modalidade de racismo convencionou-se
chamar de racismo institucional, em referência às formas como as instituições
funcionam, contribuindo para a naturalização e reprodução da desigualdade
racial. O racismo institucional, tal como o denem Silva et al. (2009), não se
expressa em atos manifestos, explícitos ou declarados de discriminação (como
poderiam ser as manifestações individuais e conscientes que marcam o racismo
e a discriminação racial, tal qual reconhecidas e punidas pela Constituição
brasileira). Ao contrário, atua de forma difusa no funcionamento cotidiano de
instituições e organizações, que operam de forma diferenciada na distribuição
de serviços, benefícios e oportunidades aos diferentes segmentos da população
do ponto de vista racial. Ele extrapola as relações interpessoais e instaura-se
no cotidiano institucional, inclusive na implementação efetiva de políticas
públicas, gerando, de forma ampla, desigualdades e iniquidades. (LÓPEZ,
2012, p.127)
Cada vez mais desprotegida, desamparada e impedida de exercer seus
direitos, a sua saúde foi sendo impactada. As violências física, moral, sexual e
institucional a impeliam a se ausentar e a temer a ida à universidade, um local
que se tornou cada vez mais inseguro para Esperanza. Passado mais de um ano
de apuração da denúncia formal, com alterações constantes dos membros da
comissão da sindicância – o que inevitavelmente ampliava o conhecimento do
11
Utilizavam o apelido do agressor, que nesse artigo preferimos também manter no anonimato.
50 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022.
BEZERRA, C. S.
seu caso entre professores/as e funcionários/as –, os resultados da apuração foram
inconclusos. Ao assediador não foi dada nenhuma punição, nem mesmo nenhum
tipo de advertência ou medida socioeducativa.
A Instituição não atentou para a gravidade dos fatos, não se informou
sobre a divulgação de casos de denúncias no ambiente acadêmico não só no
Brasil, como também em diversas universidades do mundo, nem mesmo para
uma produção bibliográca
12
e circulação de protocolos, comissões parlamentares
de inquérito, implementações de políticas institucionais e movimentos sociais e
feministas que reivindicavam ações e medidas cabíveis para a garantia dos direitos
humanos das mulheres nas universidades, visando garantir assim a permanência
das mesmas.
A despeito das inúmeras diculdades, Esperanza insistiu em dar
continuidade aos seus estudos, mas era muito difícil manter atenção nas aulas,
pois além de encontrar com o agressor com frequência nos corredores da
unidade, após a abertura do processo de sindicância, a perseguição e a ameaça
com palavras de ódio que sofria, se intensicaram. Emocionalmente abalada e
com muito medo de mais agressões físicas, morais e institucionais, sentindo-se
desprotegida e sozinha na universidade, Esperanza foi diminuindo a frequência e
o seu rendimento acadêmico caiu drasticamente.
A negligência da instituição foi tamanha que nem mesmo orientada
a recorrer à legislação que rege as normativas e regimentos das universidades
ela foi. Desse modo, Esperanza não sabia que poderia solicitar o tratamento
excepcional, garantido a qualquer acadêmica/o que esteja passando por situações
extraordinárias, como era o seu caso.
Ao contrário do que se espera de qualquer instituição ou dos seus/suas
gestores/as, essa orientação veio somente três anos após o início do processo de
sindicância, quando já no seu limite psicológico, inclusive com uma tentativa
de suicídio, Esperanza recorreu ao auxílio de uma rede/coletivo feminista da
universidade, que, além de realizar acolhimento e escuta, a orientou quanto aos
seus direitos, como também a solicitar formalmente junto à universidade, além
do tratamento excepcional, um pedido de dilatação de prazo para a conclusão
do curso, que após tantas violências foi aceito pela coordenação do curso e pela
universidade.
resiliênciA e soBrevivênciA de Mulheres negrAs no
AMBiente universitÁrio
Mesmo com todas as situações narradas e o medo decorrente de
voltar àquele espaço, Esperanza prosseguiu tentando não abandonar o curso,
12
Já citadas nesse artigo.
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022. 51
A gente não vai acreditar nessa neguinha! Artigos/Articles
mas depois de muitas crises e surtos, teve que recorrer à sua família
13
e iniciar
um tratamento psiquiátrico, no qual foi diagnosticada com síndrome do
pânico e outros adoecimentos psíquicos acarretados pelos traumas. Em diversos
momentos ao longo desses anos, precisou ser internada e prossegue até hoje com
acompanhamento terapêutico e psiquiátrico.
Essa situação torna patente o quanto as pessoas afetadas pela violência
de gênero no ambiente acadêmico terminam por ter a sua saúde mental, sua
trajetória acadêmica e a sua vida prossional comprometidas e afetadas. Quando
tratamos da violência dirigida especialmente às mulheres negras, percebemos
que todo o potencial criativo e intelectual que pode ser mobilizado para que se
desenvolvam plenamente, termina por ser desviado para que possam lidar com
os processos defensivos e retraimentos causados pelo ambiente hostil no qual
interagem.
Existe uma vasta bibliograa que aponta a diculdade de permanência
da população negra no sistema educacional brasileiro (ROMÃO, 2005), portanto,
quando uma mulher negra consegue atravessar todo o processo de exclusão e
expulsão que os corpos negros sofrem nas escolas e chega no ensino superior,
necessita minimamente encontrar políticas que auxiliem a sua permanência, e
não terem que exercitar a sua resiliência lidando com o racismo institucional, com
o assédio/abuso moral e sexual.
As situações conituais traumatizantes, nocivas e perigosas, existentes
nas relações étnico-raciais brasileiras, são encaradas por muitos/as pesquisadores/
as como uma situação de risco,
Esses processos que se constituem em função da diculdade do exercício
natural do campo de mediação e transicionalidade fazem com que a criança,
e futuramente o jovem e o adulto negro, em lugar de ter o direito de poder
naturalmente acionar sua capacidade de criar, de transformar, de continuar
a ter esperança, precise primeiro direcionar seus investimentos psíquicos no
sentido de encontrar formas defensivas de solucionar situações de invasão
ao self, para então se dedicar a investimentos criativos. O esforço psíquico
investido nesse processo, que é dispendioso, injusto e desigual, onera o
psiquismo, abre caminho para uma situação conitual traumatizante e pode
trazer como decorrência possíveis adoecimentos psíquicos, psicossomáticos e
psicossociais. Particularmente na mulher negra a função de escoar e elaborar a
tensão psíquica que tem o espaço potencial adquire uma sobrecarga. Além do
papel histórico que o racismo e a discriminação imprimem na vida cotidiana
da população negra, a esse papel se sobrepõe a ideologia sexista de homens
e mulheres brancos e, muitas vezes, do homem negro. (GUIMARÃES &
PODKAMENI, 2008, p. 128)
13
Observo que muitas vítimas/denunciantes/sobreviventes tem muita diculdade em comunicar à família o
assédio/abuso sexual sofrido. Muitas delas não comentam com ninguém, outras com amigos/as, em muitas
entrevistas e acolhimentos realizados, era a primeira vez que estavam narrando o caso para alguém.
52 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022.
BEZERRA, C. S.
Ao focar nas narrativas sistematicamente silenciadas nesse espaço,
procurei dar voz, vez e protagonismo a partir do lugar de fala de Esperanza. Acredito
que ao possibilitar cada vez mais a escuta e o registro dos relatos, experiências e
situações de violências vividas por essas mulheres, descortinamos possibilidades de
compreender quais interseções e marcadores sociais da diferença problematizam,
complexicam e agudizam as violências a partir dos pertencimentos de gênero,
de classe, étnico-racial, etc. Essa compreensão permite o mapeamento de mais um
dispositivo de exclusão e expulsão desses corpos, principalmente tendo em vista
que a formação universitária no Brasil acaba sendo, ainda hoje, uma das poucas
formas de mobilidade social, a qual, a duras penas, as mulheres negras conseguem
alcançar, representando visibilidade, ascensão econômica e social.
considerAçÕes FinAis
Trata-se, portanto, de compreender que as políticas educacionais
devem garantir além do acesso ao ensino superior, a construção e implementação
de estratégias que promovam uma permanência saudável, ou seja, a criação de um
espaço de promoção da saúde coletiva de toda a comunidade universitária, que
tenha como valores civilizatórios centrais a boa convivência e uma coexistência
digna. Isso signica que não se trata de lidar com os/as agressores/as a partir de
uma ótica e uma lógica punitivistas, como já pontuamos em outros trabalhos
(BEZERRA, 2020; BEZERRA, 2021 e ROCHA, 2021), mas encontrar um
equilíbrio entre não ser conivente/cúmplice e nem execrar/abominar aquele que
praticou a violência.
As medidas socioeducativas de precaução, prevenção, conscientização
e formação sobre o que é violência de gênero, seus diferentes tipos e o que
atualmente entendemos por consentimento, assédio e abuso sexual e moral, são
fundamentais nesse processo para garantir que as universidades se tornem um
espaço em que haja a livre circulação de ideias, corpos, potenciais de criação,
realização e pulsão de vida e não de violência e pulsão de morte. Assim, decidir não
aplicar nenhuma advertência, medida socioeducativa, nem mesmo realizar algum
encaminhamento psicológico/psiquiátrico a depender do caso, é uma atitude
muito grave que revela o quanto as normativas institucionais estão defasadas em
relação aos saberes constituídos sobre as relações de gênero, sexualidade e étnico-
raciais, assim como promover escrachos, exposição, humilhação, intimidação dos
agressores é responder com violência a uma situação que necessita de intervenções
educativas que consolidem a construção da esfera pública com a garantia das
liberdades individuais e dos direitos humanos, através do reconhecimento dos
limites que devem ser respeitados.
Compreendo a dimensão da saúde coletiva como um processo de
educar e cuidar de todos os afetados com a violência de gênero, não somente
das denominadas vítimas/denunciantes/sobreviventes, mas também daqueles
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022. 53
A gente não vai acreditar nessa neguinha! Artigos/Articles
que praticaram a ação violenta, denominados agressores/as, abusadores/as,
assediadores/as e todos os envolvidos. A comunidade universitária como um todo
também sofre os efeitos e as reverberações de toda essa situação, criando uma rede
que afeta e mobiliza muitas pessoas.
Enquanto nalizo esse artigo, Esperanza ainda não conseguiu concluir
o seu curso. Ao narrar todo o processo de violência que sofreu, percebo que
foi afetada por muitas coisas, algumas das quais não consegue sequer nomear,
quando perguntei a ela se havia sentido que sofrera algum tipo de preconceito ela
respondeu: “Sim, com certeza eu sofri racismo, eles tratavam o agressor como se
estivesse acima de qualquer suspeita e quando olhavam para mim eu via nos seus
olhos que estavam pensando: ‘Ah, tá! A gente não vai acreditar nessa neguinha!’
Se eles tivessem me ouvido, se tivessem apurado ou simplesmente checado na
delegacia, saberiam que ele já havia sido acusado de estupro e assédio por outras
mulheres e que tinha antecedentes”.
A partir dos boletins de ocorrência nas delegacias descobriu-se que o
agressor que a perseguia há tanto tempo, já tinha passagem pela polícia e era
acusado de outros estupros e assédios. Isso foi algo que nunca foi checado pela
instituição, evidenciando que a palavra de um corpo branco e masculino tem
passe livre e presunção de inocência. Com o decorrer do processo criminal e com
a intimação do réu, Esperanza teve informações que ele não havia comparecido às
audiências. Como a situação se tornou insustentável na universidade e na cidade
onde ele estava, o agressor mudou-se
14
e, infelizmente, voltou a reincidir em novos
casos de abuso sexual e violência de gênero com outras mulheres.
Esperanza me relatou, com um profundo pesar, que as últimas
informações que teve foram de que ele havia falecido. Apesar do estupro e da
violência sofrida ela não desejava que um homem tão jovem tivesse a sua vida
interrompida. Consternada com o desfecho desse caso, analiso que nós jamais
saberemos o que realmente aconteceu com o rapaz, se a causa desse comportamento
se devia a algum adoecimento, se tratava-se de um caso patológico ou se a causa
era social e comportamental devido à misoginia, ao racismo, sexismo, machismo,
discriminação e preconceito que afeta homens e mulheres na nossa sociedade.
Atualmente transcorridos sete anos desde que Esperanza fez a primeira
queixa que não foi apurada como deveria, e seis anos depois que teve início um
processo de sindicância, observo que se algo tivesse sido feito, talvez o desfecho
dessa história tivesse sido outro. Minha interpretação é que a falta de ações pontuais
e de atenção ao que realmente estava ocorrendo, acarretaram no estupro que
ocorreu após as primeiras queixas. Qualquer medida restritiva que fosse tomada:
14
Observamos que esse tipo de comportamento acaba se tornado um padrão, devido à falta de implementação
de medidas coercitivas, punitivas ou socioeducativas mais ecazes, pois em muitos casos a falta de encaminha-
mento tem levado aos agressores, sejam eles/elas docentes ou alunos/as a mudarem de cidade e instituição quan-
do se torna insustentável permanecer naquele espaço (BEZERRA, 2020; BEZERRA, 2021 e ROCHA, 2021).
54 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p.39-58, Edição Especial 2, 2022.
BEZERRA, C. S.
punição, sanção, ou até mesmo advertência, que deixasse óbvio que o agressor
não poderia agir daquela forma, teria sinalizado não só a ele, como também a sua
família e a toda a comunidade universitária que atitudes dessa natureza não seriam
admitidas no espaço acadêmico e que havia algo errado no seu comportamento
que não poderia ser socialmente aceitável, muito menos tolerado. Em suma, em
uma perspectiva de saúde coletiva, todos, todas e todes são cuidados e educados.
Não posso armar veementemente que se os desdobramentos tivessem sido
outros, a situação seria outra, o que aconteceu é fato, nós não podemos mudar o
passado, mas podemos utilizar a dor, o sofrimento e a capacidade de resiliência da
Esperanza como exemplo, para que histórias como essa nunca mais se repitam.
Nós precisamos cuidar e proteger da violência de gênero as futuras gerações que
se formam, vivem e circulam no ambiente universitário.
As denições e discussão sobre resiliência trouxeram a contribuição de que
resiliência é mais que a ausência de comprometimentos, signica passar por
grandes adversidades, com efeito menos devastador que o constatado em
situações semelhantes, onde a pessoa, ao invés de sucumbir, acessa recursos e
suportes e alcança superação e transcendência. (PRESTES, 2013, p.81)
Nossa esperança é que Esperanza se forme, e se torne uma excelente
prossional, um ser pleno, livre e feliz, e que seu corpo possa habitar em segurança,
qualquer lugar que ele quiser.
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