Escuta feminista e a revelação de violências invisíveis
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 17-28, Edição Especial 2, 2022.
FFC-Marília), respondido de forma anônima e teve um tipo de amostragem aleatória
e não-estruturada. Dessa forma, a pesquisa pretendeu revelar a percepção das pessoas
envolvidas no corpo universitário, com relação à atuação da Ouvidoria Local e à ocorrência
de violência nesse campus.
Observou-se com relação ao perfil das pessoas que responderam ao
questionário, que a maioria era discente do curso de Ciências Sociais (39,7%), seguido dos
de Fonoaudiologia (20,7%), Pedagogia (9,9%), Relações Internacionais (8,3%), Terapia
Ocupacional (6,6%), Biblioteconomia (5%), Filosofia (4,1%), Fisioterapia (3,3%) e
Arquivologia (2,5%). A idade dos respondentes da pesquisa corresponde à maioria com
ou entre 21-25 anos (54,5%), seguida das faixas de 17-20 anos (28,1%), 26-30 anos
(12,4%), 31-35 anos (2,5%), 41 anos ou mais (1,7%) e 36-40 anos (0,8%). As respostas
de
98 estudantes do gênero feminino, 22 do masculino e 1 não-binário, demonstram que
a maioria (66,1%) tem conhecimento sobre a existência do canal da Ouvidoria na
UNESP de Marília. Contudo, somente 5% afirma ter utilizado algum serviço desse órgão
institucional.
Dos 121 estudantes que responderam à pesquisa, 63,6% já presenciou ou soube
de comportamentos ou atitudes machistas no campus de Marília, 58,7% de assédio moral/
psicológico, 56,2% da ocorrência de alguma situação de prática de abuso de poder, 38%
da prática de assédio sexual, 29,8% de comportamentos ou atitudes LGBTQIA+fóbicas,
28,1% de comportamentos ou atitudes racistas e 23,1% nunca presenciou ou soube desses
abusos. A subnotificação dos casos de violência de gênero na UNESP está expressa ao
analisarmos que entre 2019 e 2020, a Ouvidoria Geral acatou 449 denúncias, na medida
em que somente no campus de Marília, 121 estudantes presenciaram ou souberam de
algum caso de violência apresentadas 332 vezes.
A pesquisa quantitativa possibilita analisarmos, categoricamente, a presença de
práticas de violência na UNESP de Marília. Ressalta-se que a percepção do corpo estudantil
com relação ao que ocorre nos próprios ambientes de estudo, convivência e lazer é alarmante,
dado que a maioria já soube ou presenciou algum tipo de comportamento inadequado
dentro das relações estabelecidas nesse campus universitário. Em face desse estudo, observa-
se a falta de compromisso, amparo e responsabilidade das instituições de ensino superior e
seus respectivos instrumentos legais, no apuramento e na investigação dos casos de violência
em seus ambientes. Isso acontece quando a violência, que é dirigida mais para alguns corpos
do que para outros, torna-se tangível, mas o silêncio institucional prevalece.
Observando o cenário apontado neste artigo, a pesquisa revela que, apesar de
algumas iniciativas por parte da Ouvidoria Geral e da UNESP, como a instauração da
Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade
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, as universidades, segundo
Ahmed (2018, p. 132), necessitam adotar, além desses compromissos simbólicos, normas
institucionais que, de fato, transformarão as condições de vivência em seus espaços.
As demandas e percepções estudantis são claras, ao converterem-se em
ativismos digitais, coletivos e movimentos feministas, assumindo a vanguarda na
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Para saber mais, conferir no site: https://www.culturaegenero.com.br/avancos-na-unesp-em-2022-direitos-e-
-equidade-garantidos/